• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5. DESVELAR DOS FIOS: apresentação, análise, discussão dos

5.2 Apresentação dos resultados obtidos e análises, segundo Tardif e colaboradores

5.2.4 Saberes da experiência

Ao inquiri-los sobre quais os saberes fundamentais para alicerçar a disciplina Bioética? é possível identificar em algumas falas que a construção da disciplina Bioética está alicerçada em saberes que os professores categorizam como fundamentais, como: a necessidade de fundamentação teórica, de considerar e avaliar as experiências e de formação continuada. No rol dos respondentes destaca-se que somente um professor diz ter essa formação em Bioética.

“Acredito que o saber experiencial é um dos saberes mais importante dentro de uma disciplina de bioética, onde os alunos devem pesquisar e tentar conhecer casos reais para que criem uma visão crítica sobre o tema.”

(Questionário – Professor 4). Grifo da pesquisadora.

“Indiquei a seleção de saberes fundamentais, em meio ao repertório que me é familiar que está indicado na bibliografia do plano de curso.”

(Questionário –Professor 1). Grifo da pesquisadora.

“Conhecimentos teóricos, experienciais e pedagógicos.” (Questionário –

Professor 2). Grifo da pesquisadora.

“Filosofia, sociologia, psicologia, direito, política e economia.”

152

“Conseguir instigar o aluno para que este tenha a curiosidade de pesquisar e tentar viver o tema abortado, levando-o a estimular seu senso crítico e consequentemente o seu saber experiencial.” (Questionário – Professor 4).

Grifo da pesquisadora.

“Filosofia, sociologia, psicologia, direito, política, saúde e economia.”

(Questionário – Professor 5). Grifo da pesquisadora.

Mais uma vez emergem como saberes fundamentais, professores e as suas experiências, complementadas pelo aporte teórico e, este complexo conjunto, Tardif (2011, p.13) explicita “o que um professor sabe depende também daquilo que ele não sabe, daquilo que se supõe que ele não sabia, daquilo que os outros sabem em seu lugar e em seu nome, dos saberes que os outros lhe opõem ou lhes atribuem” e assim, do professor é exigida uma competência na articulação do conhecimento e de sua aplicação no contexto social.

Tomando como referencial as proposições de Tardif (2011, p. 109) sobre as quais, o “saber experiencial é um saber ligado às funções dos professores, e é por meio da realização dessas funções que ele é mobilizado”, os professores de Bioética, tanto nas respostas ao questionário e, posteriormente nas entrevistas, apresentam esses saberes especificando as principais ações que realizam no exercício de sua prática docente.

Observa-se que os professores não limitam as suas ações apenas à sala de aula, mas as estendem nas coordenações de projetos educacionais e orientações de pesquisas realizadas pelos alunos, com participação em reuniões periódicas de prática docente e em formação continuada, o que demonstra que os professores realizam a construção de saberes ligados às funções exercidas, como confirmado em seus relatos:

“Planejamento e desenvolvimento de aulas; Coordenação de projetos

educacionais e de formação de professores (PIBID6); Orientação de

alunos da graduação e pós-graduação; Desenvolvimento de pesquisa na área de ensino de Ciências e Biologia.” (Questionário – Professor 2). Grifo

da pesquisadora.

“[...] em um primeiro momento fiz um esquema das aulas mais teóricas, as outras aulas foram seminários apresentados pelos alunos, os alunos como eram da área de formação de professor, sala de ciências biológicas de licenciatura, eu queria que em um primeiro momento eles explanassem sobre o assunto, e depois eles desenvolvessem uma dinâmica com os

6 PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência. O Pibid é uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. O programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por Instituições de Educação Superior (IES) em parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>.Acesso em: 25 de ago. 2014. Página atualizada em: 01 agosto 2014.

153

alunos que permitissem a discussão sobre o tema, e a discussão poderia assumir diferentes formatos. [...].” (Professor 2 – Entrevista reflexiva).

Grifo da pesquisadora.

“Ministro aulas; [Faço]reuniões periódicas de práticas docentes; Participação em Formação Continuada; Elaboração de Planos de Ensino, Ementas e Procedimentos Metodológicos;Elaboração de Atividades de Estudos Orientados;Participação de seminários e de estudos interdisciplinares; Participação de reuniões com o corpo docente do CCB.” (Questionário – Professor 6).Grifo da pesquisadora.

Complementando esses relatos, buscamos em Sacristán (1999, p.70) a afirmação de que toda a ação humana incorpora criatividade e, de certa forma, deixa vestígios e assegura descrição de e para as ações posteriores. Essas ações do sujeito incorporam a experiência passada e gera a base para as seguintes, o que para os professores desta pesquisa, não é diferente. Suas ações sempre poderão abarcar experiências já vividas e suscitar novas articulações de saberes.

Deste modo, sabe-se que toda a proposta de ensino deve possibilitar ao aluno aquisição de competências nas dimensões do saber (domínio teórico-conceitual), do saber fazer (habilidades básicas para o exercício da prática profissional), do saber ser (desenvolvimento de atitudes necessárias para o relacionamento humano e ético da prática) e do saber conviver, com os avanços tecnológicos e com as mudanças do mundo do trabalho. (IOCHIDA; BATISTA, 2002).

Com a intenção dos professores revelarem como desenvolvem as reflexões acerca de suas práticas docentes com vistas a ampliar sua visão crítica sobre os saberes: de formação profissional, disciplinares, curriculares (desenho curricular) e experienciais, os mesmos relatam: que a reflexão sobre a prática pauta-se na relação com os alunos, colaborando também neste processo a construção do conhecimento por meio de leituras e pesquisa.

“Reflito sempre sobre a prática docente com base nas respostas dos alunos às atividades e ao nível de envolvimento e aproveitamento dos mesmos sobre o tema.” (Questionário – Professor 1). Grifo da pesquisadora.

“Por meio de leituras e produções de textos acadêmicos e pela participação em grupos de pesquisa que se dedicam aos estudos de questões relacionadas ao ensino e à aprendizagem de Ciências.” (Questionário –

Professor 2). Grifo da pesquisadora.

“Minhas reflexões têm se concentrado nestes últimos anos (pelo menos nos três últimos) em manter vivo (e isso quer dizer relação corpo e alma) o contato com os alunos. Um saber não se constrói apenas na transmissão de conhecimento ou na preparação do aluno para uma prática específica, mas

154

o aluno precisa ser considerado enquanto ser humano e enquanto ser-no- mundo [...] precisa sentir-se como parte da sua atividade, como se seu corpo fosse uma extensão do seu ofício, isto é, sentir/ser/fazer são pilares indissociáveis que constituem a formação de um futuro profissional.”

(Questionário –Professor 3). Grifo da pesquisadora.

“Procuro saber o que os alunos estão achando da disciplina e tentando melhorar nos pontos em que houve críticas.” (Questionário – Professor 4).

Grifo da pesquisadora.

“Faço reflexões sobre as aulas ministradas, converso com os alunos e leio os textos ligados às revistas científicas que assino e dos sites que acesso, tais como da Sociedade Brasileira de Bioética e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo – CREMESP.” (Questionário – Professor 5). Grifo

da pesquisadora.

“Sempre pautando em e nas aplicações de casos reais e concretos; principalmente advindos das novas realidades: éticas, morais, culturais, religiosas, filosóficas e técnicas em torno dos avanços da biomedicina, das ciências médicas e biológicas e da biotecnologia; e sempre preservando, garantindo o direito de liberdade de expressão e de ideias fundado no bom senso e no direito essencial e fundamental à vida em todas as suas formas de manifestações e expressões, tentando no possível, através de uma reflexão ampla que abarque a dimensão da universalidade da prática inter e multi disciplinar dos saberes.” (Questionário – Professor 6). Grifo da

pesquisadora.

Com base no pensamento de Berlinguer (1993) afirma-se que todas essas iniciativas proporcionam reflexões sobre a Bioética. Mas, tais reflexões pressupõem algumas questões relacionadas ao ser humano e ao ser professor que, nem sempre estão incluídas nos currículos universitários.

Tardif (2002,p.228) propõe que olhemos o “professor como um ator competente e sujeito ativo”, possuidor de saberes e fazeres, fruto de suas experiências e capaz de desempenhar suas funções de forma integrada com os alunos e para os alunos.Portanto, os saberes mais evidenciados pelos professores participantes da pesquisa, em suas construções pedagógicas são os saberes da experiência e os saberes disciplinares.

Desta feita, salientamos a seguir, as concepções de prática dos professores da disciplina Bioética: o saber-saber; saber-fazer e saber-ser.

155

5.2.5 Práticas dos professores da disciplina Bioética

Documentos relacionados