• Nenhum resultado encontrado

PARTE 1 – ESCULTURA DE SÃO JOÃO BAPTISTA

2. Estudo da temperatura e humidade relativa do espaço de exposição da escultura de São

2.1. Sacristia

A sacristia da igreja de Santa Eulália – vd. Fig. 18, é um espaço de acesso reservado apenas a algumas pessoas.

Fig. 18 – Vista do interior da sacristia: vista orientada para Oeste e vista orientada para Este. Fonte: de

elaboração própria.

A construção da sacristia corresponde a um corpo adoçado à parede Norte da igreja. Apresenta assim duas paredes de pedra voltadas para o exterior (paredes Norte, Este) – vd. Fig. 19. A parede Sul fica voltada para um espaço fechado, fazendo a separação entre a sacristia e o interior da igreja. E a parede Oeste fica voltada para uma divisão do espaço, que corresponde a uma sala destinada à arrumação de vários tipos de objetos.

Fig. 19 – Vista exterior da igreja: Vista geral da cabeceira e vista com corpo adossado na parede norte, correspondente à sacristia. Fonte: de elaboração própria.

A iluminação do espaço, por luz natural, é constante e é favorecida por uma janela voltada para Este; esta luz é, no entanto, dispersa devido às dimensões, e à própria moldura, da janela. Por vezes, a iluminação provém de algumas lâmpadas incandescentes distribuídas por todo o perímetro da sala (luz artificial), também esta um pouco precária. Concluindo, na maior parte do tempo, a única luz no espaço é natural e as imagens que aí se guardam estão colocadas em peanhas dispostas acima da janela – vd. Fig. 20, fazendo com que a luz nunca incida directamente sobre as esculturas.

Fig. 20 – Peanha na qual estava colocada a escultura. Fonte: de elaboração própria.

No que respeita às condições de T ºC e HR %, estas são relativamente estáveis, verifica-se alguma inércia térmica por parte do edifício, que acompanha as variações exteriores, mas o ajustamento dos valores é mais lento56. Para uma melhor perceção das

variações que ocorrem no interior e exterior da sacristia, realizaram-se duas medições57

semanais, uma correspondendo a um período mais frio e outra a um período mais quente do

56 Vd. CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL – Inércia Térmica [Em linha]. Sintra, Portugal: Construção Sustentável – Big cities big challenges. [Consult. 7 Out. 2016]. Disponível em WWW: <URL: http://www.construcaosustentavel.pt/index.php?/O-Livro-%7C%7C-Construcao-Sustentavel/Eficiencia- Energetica/Inercia-Termica>.

57 Para as medições interiores utilizou-se um aparelho portátil que regista a temperatura e humidade relativa: USB Temperatuer and Humidity Data Logger, Modelo Nº: DS102.

As medições de temperatura e humidade relativa exteriores foram obtidas diariamente, com base nos dados registados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera online para o distrito de Viana do Castelo. – Vd. INSTITUTO PORTUGUÊS DO MAR E DA ATMOSFERA – Resumo horário – Rede de estações

Meteorológicas: Viana do Castelo [Em linha]. Portugal: IPMA. [Consult. 23 Jun. 2016]. Disponível em

ano. Os valores foram tratados em gráficos que comparam a média diária das variações exteriores e interiores, de forma a tornar mais fácil a comparação entre valores.

Gráfico 1 – Temperatura (°C): média, diária, registada no exterior e no interior da sacristia durante uma semana (período frio). Fonte: de elaboração própria.

Na medição da temperatura – vd. Gráfico 1, realizada para um período do ano frio e chuvoso (mês de Abril), verificou-se que a variação máxima (considerando médias diárias) foi de cerca de 1ºC no interior da sacristia, enquanto no exterior a variação foi de 4ºC. Percebe-se assim que a variação exterior é significativamente maior que a interior. Pode tomar-se como exemplos as variações mais acentuadas: no dia 1 de Abril, no interior da sala a temperatura média rondava os 12ºC, enquanto no exterior era de 10,3ºC; no dia 6 de Abril, a temperatura exterior subiu para os 14,3ºC, enquanto no interior a temperatura manteve-se próxima dos 12ºC, aumentando apenas 0,2ºC em comparação com o dia anterior (em que a temperatura exterior era próxima da interior – 12,9ºC no exterior e 12,5ºC no interior).

10,3 10,0 11,9 11,9 12,9 14,3 12,2 12,0 12,2 12,4 12,5 12,7 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0

01-abr 02-abr 03-abr 04-abr 05-abr 06-abr

Tem p e ratu ra C)

Tempo de medição (dias)

Exterior Interior

Gráfico 2 – Humidade relativa (%): média, diária, registada no exterior e no interior da sacristia durante uma semana (período frio). Fonte: de elaboração própria.

No que respeita à variação da humidade relativa – vd. Gráfico 2, a variação é mais acentuada que no caso da temperatura. No entanto, verifica-se a mesma situação: enquanto no exterior a variação média da semana foi de cerca de 19%, no interior verificou-se uma variação média semanal de cerca de 9%. As variações verificadas no interior são graduais, tendo uma variação máxima de 2%, enquanto no exterior a variação máxima atingiu os 8%. Verificaram-se dois dias em que a variação é mais acentuada, tanto no interior como no exterior. Entre o dia 1 e 2 de Abril, verificou-se uma diferença de 5,2% na média da HR% interior e de 19% na exterior. As variações voltaram a ser elevadas do dia 4 para o 5 de Abril. Estas variações explicam-se pelas condições atmosféricas verificadas na semana, isto é entre os dias 2 e 4 de abril verificaram-se dias de chuva e por isso a humidade relativa exterior aumentou 19% no dia 2 (o que fez aumentar 5,2% no interior da sacristia) em comparação com a média de HR % verificada no dia 1. O período de chuva cessou no dia 4 e por isso no dia 5 verificou-se uma diminuição de 13% nos valores médios de HR % exterior, que fez com que no interior se verificasse também uma descida na média de HR % registada (6,6% em comparação com o dia anterior). Com o cessar dos dias de chuva a humidade estabilizou e do dia 5 para o dia 6 verificou-se uma variação de 1%, que no interior se refletiu numa variação de 0,2%. 70,0 89,0 81,0 86,0 73,0 72,0 74,8 80,2 81,0 79,2 72,6 72,4 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0

01-abr 02-abr 03-abr 04-abr 05-abr 06-abr

H u m id ad e ( % )

Tempo de medição (dias)

Exterior Interior

Gráfico 3 – Temperatura (°C): média, diária, registada no exterior e no interior da sacristia durante uma semana (período quente). Fonte: de elaboração própria.

Na medição de temperatura – vd. Gráfico 3, realizada para um período mais quente, verificou-se a mesma situação que durante a medição do período mais frio. Na média semanal, os valores da temperatura variaram cerca de 1ºC e no interior variam cerca de 0,8ºC. É evidente que o interior não é alheio às variações que ocorrem no exterior, mas também se percebe que apresenta alguma capacidade para “contrariar” os valores de variações exteriores. Por exemplo, no dia 11 de Maio a temperatura média baixou dos 14,1ºC (registados no dia 10), para os 13,1ºC, enquanto no interior da sacristia a variação foi de apenas 0,2ºC (descendo dos 16,4 para os 16,2ºC).

14,6 14,1 13,1 14,1 14,7 14,1 16,7 16,4 16,2 15,9 16,0 16,3 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0

09-mai 10-mai 11-mai 12-mai 13-mai 14-mai

Tem p e ratu ra C)

Tempo de medição (dias)

Exterior Interior

Gráfico 4 – Humidade relativa (%): média, diária, registada no exterior e no interior da sacristia durante uma semana (período quente). Fonte: de elaboração própria.

No que concerne às médias diárias de humidade relativa registadas durante uma semana – vd. Gráfico 4, os elevados valores de humidade relativa registados justificam-se pela ocorrência de precipitação durante os dias de medição. A variação máxima durante a semana de medição foi de 8% no exterior e 6% no interior da sacristia. Considerando os valores médios registados por dia, verificou-se que de dia para dia as variações não são acentuadas, acompanham as variações exteriores, mas de uma forma mais lenta. Por exemplo, no dia 11 de Maio a registou-se uma diferença de 16,3% entre o valor médio exterior e o valor médio interior. Do dia 10, para o dia 11 de Maio verificou-se um aumento do valor médio da HR % de cerca de 7%, enquanto no interior se verificou a diminuição de 0,4%. Esta variação inversa dos valores pode estar associada ao uso do desumidificador que estava na sacristia.

É a partir desta diminuição que se dá conta de um problema: o uso não controlado do desumidificador. Ou seja, ao verificarem a humidade elevada pela constante precipitação durante a semana, as pessoas que frequentam a sala resolveram ligar o desumidificador para tentar baixar a percentagem de humidade e tornar o espaço mais confortável. No entanto, o depósito do desumidificador estava cheio e começou, com o próprio aquecimento do

87,0 79,0 86,0 85,0 85,0 84,0 71,1 70,1 69,7 71,6 73,7 74,9 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0

09-mai 10-mai 11-mai 12-mai 13-mai 14-mai

H u m id ad e ( % )

Tempo de medição (dias)

Exterior Interior

aparelho a libertar vapor de água para o espaço58, o que fez com que até ao final da medição

(enquanto os valores de humidade relativa exterior começaram a diminuir) a variação de HR % interior começasse a aumentar.

Em conclusão, admite-se que os valores registados são insuficientes para uma boa caracterização das condições de T ºC e HR % da sacristia. Contudo, a construção da sacristia data do século XVII e a existência de “uma escultura de São João Baptista com cerca de 50 cm de altura” 59 já é descrita em várias fontes bibliográficas locais, como estando exposta nesse espaço. Embora existam duas esculturas de São João Baptista com as características descritas, a descrição pode corresponder à imagem em estudo. Se assim for, esta, já se encontra naquele ambiente há mais de 300 anos. Considerando o seu bom estado de conservação, percebe-se que ela está habituada às condições da sala e, portanto, tentar alterá- las poderia aportar consequências negativas, não só para a escultura em estudo mas também para as restantes esculturas aí expostas. No entanto seria conveniente rever a questão da humidade, uma vez que o desumidificador não está a ser corretamente utilizado e por isso está a fazer exatamente o oposto ao que se pretende com a utilização do mesmo, que é a redução da humidade relativa do espaço.

58 A constatação do uso do desumidificador com pouco controlo foi verificada, por duas vezes em visitas ao espaço posteriores às medições. Numa primeira visita, verificou-se apenas humidade no pavimento em pedra, tendo-se pensado que o uso do desumidificador se devesse à deteção dessa humidade e numa tentativa de a eliminar. Numa segunda visita, percebeu-se que a humidade verificada no pavimento era resultado do transbordo da água recolhida no recipiente do desumidificador, uma vez que este estava ligado e a verter água sobre o pavimento que já estava completamente molhado.

59 Vd. ALVES, Lourenço – Caminha e Seu Concelho, Monografia. 1ª Ed. Portugal: Câmara Municipal de Caminha, 1985. p .323.

Documentos relacionados