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1691 1784 1807 Sala de Santa Clara (escritório)

Ante sala Sala principal Sala do oratório

Ante sala sobre a porta principal Sala do arco Sala Ante sala Cozinha Despensa Ante sala Sala da torre

Sala de Santa Clara Segunda sala

Segunda sala de visitas Segunda sala do deão Primeira sala do Aljube Segunda sala do Aljube Sala do deão

Sala dos espelhos Quarta Sala

Quarto de Santo António do deão Sala da chita

Sala do gabinete por cima do arco Sala dos espelhos

Sala que serve de tribuna à capela Sala das chitas

Sala imediata à tribuna Sala das visitas de Vandoma Sala de Santa Clara, de visitas Sala de São Gregório Quarto

Sala dos santos Águas furtadas Sala da despensa Sala da copa Quarto dos moços Casa da tulha Cavalariças Cozinha Despensa Quarto da livraria

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto nos Séculos XVII e XVIII, ob. cit., pp. 33-34.

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto na Época Moderna, ob. cit., p. 65.

A.M.P., H. B A.M.P., H. B.co 9º n.º 31

A abertura da passagem para a Capela de Vandoma, e a aquisição do Aljube, levaram a que alguns espaços fossem remodelados ou tivessem as suas funções alteradas, dando origem às duas salas do aljube e à sala que servia de tribuna à capela. Também o local destinado a escritório mudaria da sala de Santa Clara (1691), para a sala por cima do arco (1807). Pelo contrário, outros compartimentos do piso nobre parece terem mantido as mesmas características a nível decorativo, ao longo de vários anos (1784-1807): a sala dos espelhos e a sala da chita.

1482

BASTO, Artur de Magalhães – Sumário de antiguidades da mui nobre cidade do Porto recopiladas

O documento de 1784, de 21 de Dezembro, de paga e quitação feito entre D. Ana de Távora e Noronha Leme Cernache e a sua filha D. Ana Rosa de Noronha Leme Cernache1483, além de indicar os vários compartimentos da casa, tem também o registo dos móveis e outras peças que se encontravam em cada um deles.

Constata-se que não havia uma grande variedade de peças de mobiliário, o que está de acordo com o que era hábito nos interiores portugueses setecentistas, sobretudo na primeira metade do século. No inventário lavrado em Janeiro de 17061484 dos bens do Paço da Bemposta, que tinham pertencido à rainha de Inglaterra D. Catarina de Bragança, foram apontados poucos móveis1485. Ao longo do século esta situação foi-se alterando, de forma lenta, sobretudo a partir do reinado de D. José I1486, com o aparecimento de uma maior diversidade de móveis1487. No entanto, na Casa de Vandoma a tradição ainda persistia em 1784; bem como no Paço dos Bispos do Porto 18091488.

Se a variedade de mobiliário era ínfima, entre as peças registadas o que mais se destaca são os vários jogos de cadeiras. Estavam agrupadas em conjuntos que variavam entre quatro e dezoito. Na generalidade cada sala tinha um jogo de cadeiras, excepto a segunda sala que dispunha de três. O facto de uma sala ter um número elevado de cadeiras, indica tratar-se de um espaço amplo, destinado a receber1489.

Como era costume, as cadeiras ficavam encostadas às paredes da sala, umas a seguir às outras1490. Sendo considerados os melhores lugares do aposento, aqui se sentavam as visitas mais importantes, enquanto o dono da casa ficava num tamborete em frente aos convidados. O espaço central da sala era destinado a diversas actividades como a dança, o jogo, ou a conversação1491. Nestas ocasiões, para maior comodidade, os criados traziam móveis de assento, ou deslocavam os que estavam junto das paredes,

1483

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto nos Séculos XVII e XVIII. Introdução ao seu Estudo, ob. cit., p. 52.

1484

RAU, Virgínia – Inventário dos bens da Rainha da Grã-Bretanha D. Catarina de Bragança. Coimbra: Biblioteca da Universidade, 1947, p. 9.

1485

IDEM, Ibidem, p. 20. 1486

SOUSA, Maria da Conceição Borges de Sousa – Ob. cit., p. 32. 1487

IDEM, Ibidem, p. 34. 1488

SMITH, Robert C. – O Antigo Recheio do Paço dos Bispos do Porto. Sep. do Boletim Cultural. Porto: Câmara Municipal do Porto. Vol. XXXI, Fasc. 3-4 (1968), p. 10.

1489

MADUREIRA, Nuno Luís – Ob. cit., p. 158. 1490

OATES, Phyllis Bennett – Ob. cit., p. 104. 1491

agrupando-os no centro da sala, junto a uma janela, ou à volta de uma mesa de chá. Posteriormente, eram colocados nos lugares respectivos1492.

Os assentos da Casa de Vandoma eram de couro, ou estofados com damasco, veludo, lã de camelo, ou cabaia. De influência francesa são os assentos estofados1493. Do século XVII, provém o frequente uso do couro lavrado no mobiliário de assento português1494, hábito que foi desaparecendo ao longo da primeira metade do século XVIII1495, embora ainda se encontrem exemplares na segunda metade1496.

Microcosmos do Portugal setecentista, onde havia uma estreita relação com as colónias, na Casa de Vandoma encontravam-se objectos de luxo que evocavam a América e a Ásia. Do Brasil eram provenientes as madeiras exóticas utilizadas na fabricação das cadeiras, o pau-preto e o pau-amarelo1497. Da Ásia vieram as louças da «Índia», como se costumavam chamar às porcelanas da China1498.

Os objectos mencionados nas salas mais importantes da casa definem um status elevado. Desde o século XVI que a sociedade de elite europeia se rodeou de um número crescente de peças simbólicas1499. Nas habitações portuguesas, o luxo e a quantidade desses objectos espantavam os forasteiros1500. A casa da quinta de Diogo de Mendonça, situada extra-muros de Lisboa, segundo um documento de 1756 tinha algumas das suas salas decoradas com delicadas louças da Saxónia, da China e do Japão, «tais como liões de loiça branca, pratos, canecas, jarras, pagôdes, tigelas, chicaras, bules, garrafas, açucareiros, etc., estando cada peça colocada em sua prateleirazinha»1501. A Casa de Vandoma tinha 97 figuras em louça. Número que devia ser relativamente comum nas famílias da alta nobreza setecentistas, como se pode constatar no inventário efectuado em 1704, após a morte de D. Luís de Lencastre (conde de Vila Nova), ao recheio do seu

1492

OATES, Phyllis Bennett – Ob. cit., p. 104. 1493

SOUSA, Maria da Conceição Borges de Sousa – Ob. cit., p. 31. 1494

IDEM, Ibidem, p. 27. 1495

IDEM, Ibidem, p. 32. 1496

ANTUNES, Manuel Augusto Lima Engrácia – Mobiliário de Assento Civil da Casa Museu Guerra

Junqueiro. Porto: [s.n.], 1998. Edição policopiada da Dissertação de Mestrado em História da Arte

apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, p. 99. 1497

COSTA, P. Agostinho Rebelo da – Ob. cit., p. 266-267. 1498

SMITH, Robert C. – O Antigo Recheio do Paço dos Bispos do Porto, ob. cit., p. 11. 1499

SARTI, Raffaella – Ob. cit., p. 185-186. 1500

SANTOS, Piedade Braga; RODRIGUES, Teresa; NOGUEIRA, Margarida Sá - Ob. cit., p. 24. 1501

LAMAS, Arthur – A Quinta de Diogo de Mendonça no Sitio da Junqueira (Extra-muros da Antiga Lisboa). Lisboa: Edição do autor, 1924, p. 21.

palácio em Santos-o-Velho, onde estão registadas mais de uma centena de figuras de louça1502.

Indispensáveis numa habitação portuguesa eram também as pratas e os tecidos. As peças de prata não são referidas. Quanto aos tecidos, além dos aplicados nas cadeiras, a Casa de Vandoma dispunha de alguns tapetes, cortinas e tapeçarias. Estas, também apelidadas de panos de Arras, só se encontravam em algumas salas. Os tecidos eram de tafetá, damasco e cabaia, e as únicas cores mencionadas são o verde e o amarelo. Quanto aos tapetes, apenas a sala de Santo António os tinha, em número de 10. Num item à parte, são ainda mencionadas as seguintes peças: um cobertor de damasco encarnado, outro liso forrado de baeta, outro de seda com «assento branco», outro com galão de ouro, um cobertor branco de pêlos, uma colcha de linho bordada de seda amarela, e outra azul com ramos.

Seguidamente são analisados os compartimentos da residência e respectivas peças: - Sala de Santa Clara - bambinelas de tafetá vermelho, uma tapeçaria do mesmo tafetá, e sete cadeiras de talha dourada com assentos de veludo1503. Provavelmente orientada para nascente, das suas janelas avistava-se o Mosteiro de Santa Clara. Neste compartimento, a influência da arte religiosa estava patente nos vários elementos que a decoravam. O encarnado, a cor preferida na época, era usada nos paramentos eclesiásticos1504, e a configuração das cadeiras, de talha dourada, provém da arte sacra1505.

- Segunda sala - doze cadeiras de braços com assentos de damasco encarnado, um canapé do mesmo conjunto, quatro cadeiras de talha dourada com assentos de veludo, onze cadeiras de braços de pau-preto torneado, uma tapeçaria de damasco de seda, um lampião de cristal, e três quadros grandes com molduras pretas1506. Tratava-se do aposento de aparato mais importante, onde o número de cadeiras é o mais elevado da casa. Nele encontravam-se móveis de assento luxuosos, as cadeiras de talha dourada e

1502

SOUSA, Maria Teresa de Andrade e – Inventário dos Bens do Conde de Vila Nova D. Luis de Lencastre. Lisboa: Abril de 1956, p. 49-53.

1503

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto nos Séculos XVII e XVIII. Introdução ao seu Estudo, ob. cit., p. 52.

1504

CALDAS, João Vieira – Ob. cit., p. 147. 1505

PINTO, Maria Helena Mendes – Artes Decorativas Portuguesas no Museu Nacional de Arte Antiga.

Séculos XV/XVIII. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 1979, p. 64.

1506

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto nos Séculos XVII e XVIII. Introdução ao seu Estudo, ob. cit., p. 52-53.

um canapé, o único mencionado na fonte. Este era um móvel de grande carga simbólica, uma vez que era adquirido apenas pelas pessoas com um estatuto social elevado1507.

- Segunda sala de visitas - dezoito cadeiras de braços com assentos de veludo, sete quadros com molduras pretas, e quatro talhas azuis1508. Este compartimento era menos importante que o anterior, um vez que o número de assentos é inferior. Os jarrões azuis, possivelmente da China, dão um toque de exotismo.

- Segunda sala do deão - catorze cadeiras de braços com assentos de couro1509. Os assentos de couro eram habituais nos interiores portugueses, sobretudo até à primeira metade de setecentos; nesta altura, a casa foi habitada pelo deão João Freire Antão e pelo deão Jerónimo de Távora. O nome dado ao aposento talvez lhe tenha sido atribuído por causa dos móveis, contemporâneos de um dos deões. São os únicos assentos de couro mencionados no documento.

- Sala do Aljube - cinco talhas de cristal grandes e lapidadas, uma cadeira redonda, vinte e três figuras da «Índia», três cortinas de damasco verde e uma tapeçaria de tafetá amarelo1510. Tratando-se de uma sala do antigo Aljube, poderia ser uma das que o deão Jerónimo de Távora de Noronha mandou fazer segundo o extravagante gosto barroco. É de salientar a existência de apenas um móvel de assento, deduzindo-se que este seria assim um aposento que não estava destinado a um grande número de pessoas. As figuras da Índia e as talhas de cristal, atribuíam um carácter mais refinado a esta sala.

- Segunda sala do antigo Aljube – doze cadeiras de pau-amarelo com assentos de cabaia, quatro cortinas de cabaia, uma tapeçaria de tafetá pintado, e um cofre de louça para chá1511. Mais importante que a anterior, uma vez que podia acolher um maior número de pessoas, esta sala também deve ter sido remodelada na época do deão Jerónimo. Tratava-se de um espaço de convívio, onde o chá podia ser servido.

- Sala do deão - quatro leões de louça1512. Seria presumivelmente uma sala de passagem, onde as figuras decorativas eram a nota dominante. Como noutra sala supracitada, algo no aposento aludia a um dos dois capitulares.

- Sala dos espelhos - espelhos e respectivas guarnições, doze cadeiras sem assentos, duas mesas de jogo, um fogão, setenta figuras de louça e um tremó com um caixilho1513.

1507

SOUSA, Jaime Manuel – Mobiliário. In PEREIRA, José Fernandes (dir.) – Dicionário da Arte

Barroca em Portugal. Lisboa, Editorial Presença, 1989, p. 298-299.

1508

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto nos Séculos XVII e XVIII. Introdução ao seu Estudo, ob. cit., p. 53.

1509 IDEM, Ibidem, p. 53. 1510 IDEM, Ibidem, p. 53. 1511 IDEM, Ibidem, p. 53. 1512 IDEM, Ibidem, p. 53.

Devia tratar-se de um local de convívio mais descontraído do que as salas de aparato, onde se podia jogar, e o fogão criava um ambiente acolhedor nos dias mais frios. Os espelhos, sendo objectos raros em Portugal nos anos oitenta de setecentos, como refere William Beckford1514, conferem a esta sala uma grande singularidade. O tremó, um móvel sumptuoso, era bastante caro o que limitava a sua aquisição às camadas mais elevadas da sociedade. Não tinha uma função utilitária, apenas servia para ser admirado1515. Era em talha dourada, e composto por uma mesa e um espelho1516. As mesas de jogo tinham um grande sucesso. De pequenas dimensões, nelas podia-se jogar às damas ou às cartas1517. Quanto às cadeiras mencionadas na fonte, eram móveis onde os assentos podiam ser retirados e trocados por outros, provavelmente aqueles que estão registados no final do documento. Novamente encontramos figuras de louça, cujo número é bastante alto.

- Quarta sala - candeeiro de cristal, mesa de «pau de fora»1518. Seria uma sala secundária, talvez de passagem.

- Quarto de Santo António «do mesmo deão» - seis santuários de santos de cera, dez alcatifas antigas, três caixões, sendo um de São Jerónimo, outro de Santo André, e outro de São Pedro, de alabastro, outro caixão com seis santos, sendo um de jaspe, e três mangas de vidro1519. Neste compartimento volta a ser aludido o deão. Sendo um dos santos São Jerónimo, talvez o deão fosse Jerónimo de Távora. A quantidade de santos que aqui se encontravam, tornava este espaço um local de culto.

- Sala da chita - dezasseis cadeiras com assentos de camelão, e uma cómoda com pedra mármore1520. O nome atribuído a esta divisão provém do uso de chita, que devia forrar as suas paredes. Era um local de recebimento, como o número de cadeiras indica. Embora a cómoda já fosse conhecida em Portugal na primeira metade de setecentos, só na segunda metade do século se torna habitual nas casas portuguesas. Tratando-se de uma peça requintada, a cómoda estava destinada a ficar encostada a uma parede do quarto ou da sala para ser observada pelas visitas. Constituída por um conjunto de

1513

IDEM, Ibidem, p. 53. 1514

CARITA, Helder; CARDOSO, Homem – Ob. cit., p. 154. 1515

MADUREIRA, Nuno Luís – Ob. cit., p. 225. 1516

PINTO, Maria Helena Mendes – Ob. cit., p. 113. 1517

MADUREIRA, Nuno Luís – Ob. cit., p. 195-196. 1518

FERREIRA-ALVES, Joaquim Jaime B. – A Casa Nobre no Porto nos Séculos XVII e XVIII. Introdução ao seu Estudo, ob. cit., p. 53.

1519

IDEM, Ibidem, p. 53. 1520

gavetas - as mais vulgares tinham três –, os seus pés são curtos e a parte superior é em pedra - como mármore. Servia para guardar os objectos mais preciosos1521.

São ainda mencionados uma cadeirinha de «sahir fora», doze assentos de cadeiras de lã de camelo com flores (talvez sejam os assentos das cadeiras da sala dos espelhos), dois caixões de cabelo, e três de lã.

No documento de 1807, uma sentença de formal de partilhas efectuada após o falecimento de D. Ana de Noronha Leme Cernache, também é mencionado o recheio das salas da habitação. Não se limita no entanto, como o documento antecedente, às mais importantes, uma vez que foram inventariados compartimentos como a cozinha, ou o quarto dos moços. Redigido vinte e três anos depois da fonte anterior, permite constatar as transformações que a Casa de Vandoma sofreu. O documento é rigoroso relativamente ao estado de conservação das peças, havendo várias que se encontravam estragadas, e outras eram consideradas velhas.

No início de oitocentos, a casa dispunha de uma maior variedade de móveis. Desde a segunda metade do século XVIII que na cidade do Porto se encontravam à venda «todo o genero de móveis necessarios para ornar huma casa mais ou menos ricamente, segundo o gosto, posses e qualidade dos compradores, como são as cadeiras, de todo o preço e feitio; mesas de jogo e de comer, catres, canapés, commodas, espelhos, papeleiras»1522. O comércio de mobiliário na cidade invicta foi impulsionado pela alta burguesia portuense, mobiliário este de forte influência inglesa1523.

Era nas salas de importância secundária que se encontravam peças variadas em maior quantidade. Nas salas de aparato, os móveis de assento continuavam a dominar. Cada sala tinha um jogo de cadeiras, excepto a sala do gabinete com dois, e a sala de visitas de Vandoma com três. Os assentos eram em couro, palhinha, damasco, cabaia, chita e veludo, as cores eram verde, amarelo e vermelho, e as madeiras o pau-amarelo, o pau de caixão1524, o pau-preto, o pinho, a nogueira, o castanho e a gitovia. O pinho, a nogueira e o castanho também são referidos para outros móveis.

Quanto aos tecidos, nos aposentos de aparato apenas estão registados uma tapeçaria, uma alcatifa, e um guarda-porta, além de dois tecidos que cobriam duas mesas. Estava abandonado o antigo hábito de revestir os interiores com tecidos.

1521

MADUREIRA, Nuno Luís – Ob. cit., p. 183-186. 1522

SILVA, Francisco Ribeiro da – O Porto das Luzes ao Liberalismo, ob. cit., p. 166. 1523

PINTO, Maria Helena Mendes – Ob. cit., p. 68. 1524

A expressão «de caixão» provém do aproveitamento que então se fazia da madeira dos caixões que vinham do Brasil, para a realização de peças de mobiliário (SMITH, Robert C. – O Antigo Recheio do Paço dos Bispos do Porto, ob. cit., p. 10).

Outras peças são inventariadas, sem que no entanto nos seja indicado o local onde se encontravam. Roupas brancas: oito novas toalhas de mesa com guarnição, de Guimarães, e várias dúzias de guardanapos. Roupas de cor: dois cobertores encarnados de damasco, um velho reposteiro com um brasão de armas, seis cortinas amarelas de damasco, seis alcatifas de diferentes tamanhos, uma das quais rota, uma mesa de toucador com quatro espelhos e guarnições douradas, e uma cama grande de pau-preto com a sua cabeceira estofada1525.

As figuras de louça, que no documento anterior quase chegavam à centena, agora reduzem-se a quarenta e cinco. Também são referenciadas, no final do inventário, as seguintes peças de louça provenientes de Inglaterra: quatro cestos de fruta, com os respectivos pratos, uma terrina, seis travessas, e duas manteigueiras1526.

Nas próximas linhas são analisadas as várias salas que a casa dispunha neste início de oitocentos:

- Sala do gabinete, por cima do arco - doze cadeiras de pau-amarelo com assentos de damasco verde, doze cadeiras muito usadas de pau amarelo com assentos de cabaia pintada, um canapé de pau-amarelo com o estofo danificado, uma poltrona com assento de damasco amarelo, um pequeno contador de pau-amarelo com duas gavetas e ferragem amarela, dezanove figuras da «Índia», dez pianhas de gesso, um fogão de ferro com os respectivos aparelhos, uma tapeçaria velha de tafetá amarelo1527. Este compartimento servia para receber as visitas em ocasiões festivas, como o demonstram a grande quantidade de móveis de assento. A única poltrona do aposento, sendo um móvel especial, estaria destinada à pessoa mais importante da casa1528. Os contadores são móveis característicos do século XVII1529, acabando por desaparecer no início de setecentos. Assim, o pequeno contador desta sala seria uma peça antiga1530.

- Sala dos espelhos - doze cadeiras de pau-preto com embutidos e assentos de damasco vermelho, duas mesas de pau-preto com embutidos e muito usadas, um lustre com cinco luzes «com suas falhas», um fogão «com todas as suas pertenças com suas faltas», e vinte e seis figuras de louça da «Índia», estando algumas «arruinadas»1531. A

1525

A.M.P., H.Bco.9º n.º 31, Formal de partilhas…, fls. 25-25v., vd. doc. n.º 72 no Apêndice. 1526

IDEM, Ibidem, fls. 19-19v. 1527

A.M.P., H.Bco.9º n.º 31, Formal de partilhas…, fls. 13v-14v., vd. doc. n.º 72 no Apêndice. 1528

MADUREIRA, Nuno Luís – Ob. cit., p. 161. 1529

PINTO, Maria Helena Mendes – Ob. cit., p. 42. 1530

Os contadores de pequenas dimensões, assim como outras peças de mobiliário, eram concebidos para serem colocados nos estrados onde as mulheres se sentavam. O seu pequeno tamanho tornava-os facilmente transportáveis (IDEM, Ibidem., p. 43-44).

1531

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