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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.2 Salinidade e sodicidade no perfil do solo

Amostras de solo foram coletadas no início (setembro de 2012) e no final da 1ª soca (agosto de 2013) para avaliação da salinidade e sodicidade. Observou-se, após realizar a análise de variância, que não houve interação significativa entre os dois fatores avaliados (profundidade do tubo gotejador e qualidade de água) para pH, CE, PST e RAS em cinco profundidades avaliadas no início da 1ª soca (item 9.2, Tabela 30). Já no final da 1ª soca foram observadas duas interações na camada de 0-0,2 m de solo, demonstrando que o pH apresentou-se menos ácido após aplicação de ARS (água de reservatório superficial) com emissores instalados a 0,4 m de profundidade e o PST (porcentagem de sódio trocável) foi maior quando se aplicou EET (efluente de esgoto tratado) com emissores instalados a 0,2 m de profundidade (Tabela 15). Além disso, nas poucas vezes onde foram observadas diferenças entre os níveis dentro de cada fonte de variação, o EET sempre apresentou as maiores médias, exceto para o parâmetro pH na camada de 0,2-0,4 m no final da 1ª soca (item 9.2, Tabela 30). Esses resultados demonstram uma tendência de aumento da sodicidade do solo como o uso de EET.

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Tabela 15. Porcentagem de sódio trocável (PST, %) e pH do solo em função da qualidade de água empregada (efluente de esgoto tratado – EET, e água de reservatório superficial – ARS) e da profundidade de instalação do tubo gotejador (0,2 e 0,4 m) no final da 1ª soca da cana-de-açúcar em Latossolo Vermelho distroférrico, Campinas-SP.

Qualidade Profundidade 0,2 0,4 0,2 0,4 --- pH --- --- PST --- EET 5,47 aA (1) 5,40 bA 0,097 aA 0,047 aB ARS 5,43 aB 5,67 aA 0,057 aA 0,073 aA (1)

Médias seguidas da mesma letra minúscula nas colunas e maiúscula na linha não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Em seguida, foram comparados os tratamentos irrigados com a testemunha (Tabela 16), os quais não diferiram estatisticamente tanto no início quanto no final da 1ª soca, exceto para pH e CE (condutividade elétrica) na camada de 0,2-0,4 e 0,8-1,0 m, respectivamente, ambos no final da 1ª soca. Na Tabela 16 é apresentada a classificação do solo quanto aos critérios para solos sódicos e salinos (RICHARDS, 1954), demonstrando que o solo permanece classificado como normal mesmo após sucessivas irrigações com EET ou ARS durante dois ciclos de cana-de- açúcar.

Ao observar os dados de CE no início e final da 1ª soca (Tabela 16) percebe-se redução das concentrações de sal presentes no solo, independente da qualidade de água utilizada (EET ou ARS). Essas observações estão em conformidade com Leal et al. (2009b), que notaram redução da CE em função da não continuidade da irrigação para maturação final da cana e, com isso, acúmulo de açúcar. Assim, nota-se que o solo apresentou capacidade de suportar a aplicação dos sais presentes no EET (CE ≈ 1,0 dS m-1

), não elevando seu grau de salinidade, o qual permaneceu classificado como normal.

De forma geral, ao considerar os limites de tolerância estabelecidos por Ayers e Westcot (1994), a cana-de-açúcar não foi afetada pelos limites CE observado no extrato de saturação do solo (< 1,7 dS m-1) e na água de irrigação (< 1,1 dS m-1), podendo representar 100% da produção potencial.

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Tabela 16. Parâmetros sódico-salinos e classificação do solo segundo critérios estabelecidos por Richards (1954) para início e final da 1ª soca da cana-de-açúcar, Campinas-SP.

(Continua)

Tratamento Início do ciclo Final do ciclo

pH CE (1) PST (2) RAS (3) Classif. (4) pH CE PST RAS Classif.

--- Camada 0,0 - 0,2 m --- --- Camada 0,0 - 0,2 m --- T1 5,6 0,410 0,087 0,017 Normal 5,6 0,158 0,063 0,016 Normal T2 5,5 0,354 0,082 0,016 Normal 5,5 0,129 0,099 0,019 Normal T4 5,6 0,313 0,062 0,012 Normal 5,4 0,134 0,047 0,010 Normal T6 5,7 0,264 0,081 0,015 Normal 5,4 0,131 0,058 0,011 Normal T8 5,7 0,305 0,069 0,013 Normal 5,7 0,135 0,071 0,013 Normal Teste F 0,58 ns 0,58 ns 2,68 ns 0,82 ns - 2,02 ns 0,47 ns 2,54 ns 2,50 ns - CV% (5) 3,77 37,62 12,48 38,02 - 2,41 22,09 30,80 33,54 - Média geral 5,6 0,331 0,076 0,014 - 5,5 0,139 0,067 0,013 - --- Camada 0,2 - 0,4 m --- --- Camada 0,2 - 0,4 m --- T1 5,6 0,349 0,089 0,017 Normal 5,6 ab (6) 0,094 0,061 0,014 Normal T2 5,6 0,309 0,097 0,018 Normal 5,5 b 0,090 0,090 0,029 Normal T4 5,6 0,251 0,078 0,015 Normal 5,5 b 0,086 0,050 0,010 Normal T6 5,7 0,223 0,072 0,013 Normal 5,6 ab 0,089 0,068 0,012 Normal T8 5,7 0,229 0,075 0,013 Normal 5,8 a 0,096 0,075 0,012 Normal Teste F 0,18 ns 1,13 ns 1,06 ns 0,82 ns - 4,50* 0,25 ns 1,66 ns 1,62 ns - CV% 3,94 32,14 21,93 33,27 - 1,6 18,32 29,79 70,23 - Média geral 5,6 0,274 0,082 0,016 - 5,6 0,093 0,069 0,014 -

T1= sem irrigação; T2= EET-CN-0,2; T4= EET-CN-0,4; T6= ARS-CN-0,2; T8= ARS-CN-0,4; (1) Condutividade elétrica, dS m-1; (2) Porcentagem de sódio trocável, %; (3) Razão de absorção de sódio, mmolc dm-3; (4) Classificação do solo segundo critérios de Richards (1954); (5) Coeficiente de variação em

porcentagem; * teste F significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns teste F não significativo ao nível de 5% de probabilidade; (6) Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

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Tabela 16. Parâmetros sódico-salinos e classificação do solo segundo critérios estabelecidos por Richards (1954) para início e final da 1ª soca da cana-de-açúcar, Campinas-SP.

(Continuação)

Tratamento Início do ciclo Final do ciclo

pH CE (1) PST (2) RAS (3) Classif. (4) pH CE PST RAS Classif.

--- Camada 0,4 - 0,6 m --- --- Camada 0,4 - 0,6 m --- T1 5,7 0,305 0,099 0,018 Normal 5,6 0,066 0,114 0,020 Normal T2 5,7 0,212 0,113 0,020 Normal 5,6 0,062 0,162 0,029 Normal T4 5,7 0,204 0,079 0,013 Normal 5,5 0,070 0,084 0,016 Normal T6 5,8 0,175 0,076 0,013 Normal 5,6 0,064 0,098 0,016 Normal T8 5,8 0,155 0,085 0,014 Normal 5,8 0,065 0,071 0,015 Normal Teste F 0,24 ns 1,46 ns 1,73 ns 0,84 ns - 1,07 ns 0,30 ns 1,43 ns 1,29 ns - CV% (5) 3,89 39,00 23,35 36,70 - 2,97 13,14 48,18 50,83 - Média geral 5,7 0,212 0,091 0,015 - 5,6 0,067 0,105 0,020 - --- Camada 0,6 - 0,8 m --- --- Camada 0,6 - 0,8 m --- T1 5,7 0,270 0,102 0,017 Normal 5,7 0,057 0,077 0,018 Normal T2 5,6 0,178 0,111 0,020 Normal 5,6 0,061 0,163 0,028 Normal T4 5,7 0,162 0,093 0,016 Normal 5,4 0,062 0,129 0,025 Normal T6 5,8 0,181 0,089 0,015 Normal 5,6 0,057 0,114 0,020 Normal T8 5,8 0,135 0,103 0,017 Normal 5,9 0,050 0,082 0,012 Normal Teste F 0,31 ns 3,05 ns 0,36 ns 0,54 ns - 1,08 ns 0,58 ns 1,27 ns 1,40 ns - CV% 4,16 27,96 25,46 41,14 - 4,85 19,78 47,87 45,48 - Média geral 5,7 0,186 0,100 0,016 - 5,7 0,058 0,114 0,021 -

T1= sem irrigação; T2= EET-CN-0,2; T4= EET-CN-0,4; T6= ARS-CN-0,2; T8= ARS-CN-0,4; (1) Condutividade elétrica, dS m-1; (2) Porcentagem de sódio trocável, %; (3) Razão de absorção de sódio, mmolc dm-3; (4) Classificação do solo segundo critérios de Richards (1954); (5) Coeficiente de variação em

porcentagem; * teste F significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns teste F não significativo ao nível de 5% de probabilidade; (6) Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

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Tabela 16. Parâmetros sódico-salinos e classificação do solo segundo critérios estabelecidos por Richards (1954) para início e final da 1ª soca da cana-de-açúcar, Campinas-SP.

(Conclusão)

Tratamento Início do ciclo Final do ciclo

pH CE (1) PST (2) RAS (3) Classif. (4) pH CE PST RAS Classif.

--- Camada 0,8 - 1,0 m --- --- Camada 0,8 - 1,0 m --- T1 5,7 0,305 0,099 0,018 Normal 5,8 0,060 ab (6) 0,130 0,021 Normal T2 5,7 0,212 0,113 0,020 Normal 5,7 0,101 a 0,074 0,023 Normal T4 5,7 0,204 0,079 0,013 Normal 5,6 0,063 ab 0,164 0,030 Normal T6 5,8 0,175 0,076 0,013 Normal 5,5 0,063 ab 0,100 0,019 Normal T8 5,8 0,155 0,085 0,014 Normal 5,8 0,045 b 0,084 0,013 Normal Teste F 0,24 ns 1,46 ns 1,73 ns 0,84 ns - 0,50 ns 5,14* 2,29 ns 2,77 ns - CV (5) 3,89 39,00 23,35 36,70 - 5,82 22,44 38,59 33,21 - Média geral 5,7 0,212 0,091 0,015 - 5,7 0,067 0,110 0,023 -

T1= sem irrigação; T2= EET-CN-0,2; T4= EET-CN-0,4; T6= ARS-CN-0,2; T8= ARS-CN-0,4; (1) Condutividade elétrica, dS m-1; (2) Porcentagem de sódio trocável, %; (3) Razão de absorção de sódio, mmolc dm-3; (4) Classificação do solo segundo critérios de Richards (1954); (5) Coeficiente de variação em

porcentagem; * teste F significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns teste F não significativo ao nível de 5% de probabilidade; (6) Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

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Apesar de não ter sido observada diferença significativa para os parâmetros sódicos (PST e RAS) entre os tratamentos irrigados (T2, T4, T6 e T8) e o sequeiro (T1) (Tabela 16), notou-se aumento da média geral em profundidades maiores que 0,4 m (tanto para PST, quanto para RAS). Por outro lado, o T2 (tratamento com tubo gotejador instalado a 0,2 m de profundidade e uso de EET) apresentou pequeno aumento destes índices na camada de 0-0,8 m, resultando em distribuição de água no perfil do solo e, com isso, maior expansão do íon sódio nos limites da frente de molhamento (periferia do bulbo úmido), inclusive na camada mais superficial do solo (0-0,2 m). Shalhevet (1994) observou que a acúmulo de sais proporcionado pela irrigação localizada se dá na frente de molhamento, podendo ser acumulada, segundo Hanson e May (2011), acima da linha gotejadora (quando a irrigação localizada do tipo subsuperfcial é utilizada).

O fato da aplicação de EET ou ARS não ter influenciado a classificação do solo quanto aos parâmetros sódico-salinos já era esperado, pois ambas as qualidades de água utilizadas apresentavam baixa capacidade de impactar o ambiente, não influenciando as propriedades físico-químicas do solo e o desenvolvimento da planta. Além disso, outros motivos podem ser acrescentados:

1. Altas lâminas de precipitação que atuaram como lâminas de irrigação para lixiviação do excesso de sais (“lavagem do solo”), auxiliando a distribuição no perfil do solo. Segundo Monteiro et al. (2009), a necessidade de lâminas de irrigação para lixiviação do excesso de sais no solo pode ser reduzida na ocorrência de altos volumes de chuva, pois se mostraram eficientes na lavagem natural do perfil do solo;

2. Considerando o ponto de amostragem utilizado nestas avaliações (ponto P0,4 – distante 0,4 m do tubo gotejador) e que havia uma linha de plantas no ponto P0,2 (ponto situado entre o gotejador e o local de amostragem), pode-se inferir que os sais presentes no solo foram absorvidos pela planta, principalmente no final do ciclo/maturação; e

3. Historicamente, a área experimental sempre foi utilizada de forma racional, praticando-se adubação conforme as necessidades e não sendo utilizados resíduos que pudessem proporcionar a ocorrência de salinização ou sodicidade, conforme pode ser comprovado pela caracterização inicial do solo experimental (item 5.2, Tabela 9 e 10).

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