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Samba, Tradição e Sociabilidade: as rodas de samba paulistas

Samba da antiga

Vem pra roda menina Mexer com as cadeiras vem samba Vem mexer com as cadeiras vem sambar Vem mexer com as cadeiras vem sambar

Esse samba é da antiga De gente amiga vem sambar Vem mexer com as cadeiras vem sambar Vem mexer com as cadeiras vem sambar

A idade não importa A cor da sua pele não me interessa Se tem pernas tortas Se tem pernas certas O que vale é saber se tem samba na veia

O samba veio de longe Hoje está na cidade Hoje está nas aldeias Nasceu no passado e está no presente Quem samba uma vez Samba eternamente.134

4.1 - Grêmio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro das Pedras

"Amor e respeito a velha guarda"135

Desde sua fundação oficial em 29 de abril de 2001 enquanto "projeto cultural" voltado para a prática da roda de samba aberta a comunidade, o Morro das Pedras conforme os espaços que ocupou passou pelo que estamos definindo como duas fases em sua trajetória. Uma primeira fase de formação e fundação com sede própria; e outra de consolidação de seus objetivos e ideais, e também de readaptação e reestruturação a partir de duas mudanças nos locais das atividades. Essas mudanças aconteceram por razões externas a organização do grupo, não sendo intencionais, por isso geraram um certo nível de desestabilização e necessária reorganização posterior.

O Morro das Pedras nasce da iniciativa de sujeitos com diferentes graus de envolvimento com o samba, e níveis sócio-culturais diversos que em determinado momento sentem a necessidade

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Conforme apresentado no item: Atividades de Pesquisa, foram selecionados para serem estudados, dois grupos voltados à realização de rodas de samba. Baseados em observação participante e em coleta de depoimentos com alguns líderes, reconstruiremos a seguir a trajetória e a prática dos grupos escolhidos.

134 "Samba da Antiga" música de Antônio Candeia Filho – L.P: Samba da antiga. Faixa 1. R.J. WEA, 1975. 135Dizeres presentes no estandarte do grupo e em diversos materiais impressos e distribuídos durante as rodas.

de criação de um ambiente dentro do qual a sociabilidade estivesse baseada em outros princípios que não os difundidos pelos meios de comunicação, ou seja, um local em que as interações humanas estivessem baseadas numa prática cultural não mediada por esses veículos de comunicação.

(...) a gente se sentia órfão, era uma época onde tava no rádio o "Raça Negra" essas coisas e a gente se sentia... Pôxa aonde nós vamos cantar o nosso samba? A gente precisava de um lugar pra gente cantar aquilo ali, a gente necessitava de um espaço...136

Essa necessidade de criação de um espaço em que esses sujeitos se sentissem representados e onde pudessem dar vazão às suas formas de expressão, naquele momento, parece se mostrar como uma vontade de diversos grupos que se formaram nesse período. O final dos anos 90 era um momento em que outros projetos estavam surgindo e formando novos espaços de sociabilidade em torno do samba. Juntamente com outras iniciativas o Morro das Pedras surge neste contexto, como um modo de organização coletiva de um determinado grupo de pessoas que ao longo do tempo vinham formando uma bagagem relacionada a essa manifestação e assim começavam a gerar uma identidade coletiva, o que os leva a uma busca de organização para que as idéias pudessem ser colocadas em prática.

Vamos tentar sempre fazer um trabalho gratuito, montar uma coisa que não existe... Já existiam outros projetos, mas nenhum passava nem perto da minha idéia do que eu queria fazer. Pelo menos os que eu conhecia até então, nada... Não tinha absolutamente nada. Eu queria construir como se fosse uma nova sociedade dentro do grupo em que esse grupo primeiro se transformaria e depois esse grupo passaria a transformar. E aí começou aquela coisa, então vai ser uma agremiação? Uma agremiação. Sentamos eu o Alexandre e o Ivson, aí fizemos uma reunião com trinta pessoas numa sala. Mas como é que vai ser, quem que vai ser o Presidente? E aí alguém falou o Roberto, e aí foi unânime, todo mundo (apontou) o Roberto. O Ivson vai ser o vice-presidente. Então falei, o Alexandre (vai ser) o diretor cultural. Vamos pegar esse princípio pra gente se organizar...137

Há nessa fala a concepção de uma busca de organização e atuação cultural como possibilidade de transformação social o que se torna relevante com relação a atividade desses grupos, pois passam a realizar uma prática cultural voltada a uma visão social e política. Embora não se organizem institucionalmente com registros formais de um estatuto ou organograma, este

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Alexandre, Grêmio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro das Pedras. 137

grupo acaba usando uma forma de organização hierárquica representada pela adoção da presidência, vice presidência, e direções de determinados departamentos tais como: departamentos de cultura e de pesquisa. Isto se dá como forma de dividir e organizar as atividades, envolvendo todos os 30 integrantes nas tarefas organizacionais e na elaboração das atividades. Ainda na fala de Robertinho, esse agrupamento surge também para que através do samba essas idéias fossem transmitidas, e assim outras pessoas pudessem se inserir nesse fazer cultural crítico e reflexivo.

A gente tem que fazer uma coisa forte, sustentada, pra transmitir e fazer tudo o que o Candeia dizia, "devolver pro povo o que é do povo" nessa época eu já tinha lido aquele livro do João Batista e o Candeia pra mim era uma referência.138

Há nessa busca de "devolver ao povo o que é do povo",139 uma visão de que a identidade popular e principalmente negra, pode ser reconstruída a partir da recuperação e transmissão da memória que se encontra subjugada ou subterrânea. Assim, pelo conhecimento do passado as pessoas poderiam desenvolver um senso crítico sobre a cultura veiculada pelos meios de comunicação. Nesse sentido, o Morro das Pedras é um grupo que nasce dessa tomada de consciência crítica de seus fundadores sobre a produção da cultura popular e sua inserção nesses meios. Isso se reflete numa tomada de posição dos integrantes no sentido de desejarem passar de uma posição passiva perante a cultura para uma outra em que se inserem como agentes produtores de uma cultura própria e voltada para eles. Isto se concretiza pela organização coletiva de suas atividades, de seus espaços, e na elaboração de um modo de realização da roda de samba baseada nas antigas tradições do "samba de terreiro",140 porém, com um sentido próprio dentro do contexto urbano paulista. Neste sentido, esses grupos realizam uma aproximação com o universo das escolas de samba, buscam desenvolver aquilo que para eles seria o coração dessas agremiações carnavalescas - a ala de compositores juntamente com seus ritmistas, - assim no início da trajetória

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Robertinho

139Essa frase vem de uma idéia formulada pelo poeta negro Solano Trindade. Segundo sua filha Raquel Trindade em apresentação realizada no 1º Ciclo do Samba Paulista - evento realizado pelo Núcleo de Samba Cupinzeiro, dizia ele: "Devemos fazer a pesquisa da cultura popular na fonte e devolver ao povo em forma de arte". Candeia, integrante da Escola de Samba Portela, compositor, sambista e defensor das tradições afro-brasileiras, em discordância com os rumos que o carnaval vinha tomando, no sentido do afastamento do povo dos subúrbios e valorização de elementos alheios ao mundo do samba nos desfiles carnavalescos, funda em 1975 o Grêmio Recreativo de Arte Negra Quilombo. Essa escola tinha o objetivo de valorizar os elementos fundamentais de uma escola de samba, sem competir no sambódromo, saindo em meio a sua comunidade. Eliminou a figura do carnavalesco, desfilando sem alegorias, sem destaques. Em 1878 a escola sai com o samba enredo "Ao Povo em Forma de Arte" dos compositores Wilson Moreira e Nei Lopes, fazendo referência ao poeta Solano Trindade. "Por

isso o quilombo desfila / Devolvendo em seu estandarte / A história de suas origens / Ao povo em forma de arte."

Trecho do referido samba gravado em: Roberto Ribeiro, Roberto Ribeiro. Faixa 5 - Lado B. EMI, 1978. 140Além da definição já apresentada anteriormente, esse termo "samba de terreiro" está ligado também a fase de

instalação do samba originário de espaços rurais em territórios urbanos. Muitos dos compositores reverenciados dentro das rodas do Morro das Pedras produziram sambas dentro desse contexto, ou para serem cantados dentro dos terreiros de suas escolas. Muitos desses sambas foram registrados pela indústria fonográfica chegando aos

integrantes desses projetos paulistas principalmente através do "disco de vinil" ou LPs. Assim, estes grupos reúnem grandes acervos de discos antigos na busca de conhecer e trazer para o momento de suas rodas, os sambas que estão

dessas agremiações carnavalescas seus terreiros eram transformados no espaço de aglutinação e sociabilidade de seus integrantes durante todo o ano.

Na sua fase inicial de fundação o grupo desenvolvia suas atividades em sede própria localizada no bairro de São Mateus (região periférica de São Paulo situada na zona leste), Durante os primeiros dois anos e meio de atividades o Morro das Pedras teve uma sede própria dentro da qual realizava seus encontros em torno do samba. As rodas abertas a comunidade se constituíam como a atividade central a partir da qual convergiam os integrantes do grupo, se tornando o momento de expressão coletiva. A proposta do grupo e as rodas abertas acabaram atraindo freqüentadores que vinham de diversas localidades da cidade, formando o que se pode considerar como uma "comunidade de destino" ou seja, uma aglutinação de pessoas de diferentes lugares e níveis sócio-culturais reunidas em torno de um objetivo comum. Refletindo a própria constituição do grupo realizador das rodas e sua importância social das atividades culturais. Segundo Robertinho, São Mateus foi uma escolha pelo fato de haver integrantes do grupo que residiam nesse bairro, além de ser um local com carência de atividades culturais. Embora não tenhamos realizado um levantamento específico e abrangente sobre o perfil sócio-econômico dos participantes da roda e mesmo dos freqüentadores, nos relatos de seus líderes fica ressaltada a presença de uma diversidade sócio-cultural lida por eles na ampla freqüência de pessoas provindas de diversas regiões da cidade. De certa forma essa leitura feita pelos integrantes do grupo pode estar baseada na constituição multirracial dos freqüentadores e no fato de São Paulo ser uma cidade espacialmente hierarquizada. Algumas experiências educacionais que eram realizadas no passado por integrantes do grupo e em parceria com membros da comunidade nos foram relatadas. Essas eram atividades musicais, de capoeira e de teatro voltadas para as crianças do bairro popular onde estavam sediados. Buscavam realizar um trabalho em que as crianças aprendessem a tocar e cantar músicas dos sambistas por eles reverenciados em suas rodas. Isto se dava como forma de transmissão dessa memória musical e de garantir a continuidade do grupo, visto que estas crianças poderiam vir a integrar a agremiação no futuro. Além disso, as atividades teatrais e de capoeira se voltavam para o trabalho de valorização da cultura afro-brasileira e de transmissão da memória dessas manifestações como expressão do povo oprimido. Na comemoração de três anos da fundação do grupo, a roda de samba teve a presença de um coro de cerca de quinze crianças que se somou ao grupo. Nesta mesma ocasião presenciamos uma roda de capoeira também realizada com crianças a partir da iniciativa de um mestre de capoeira morador da região.

Alexandre coloca a sede como um espaço que permitia amplas possibilidades de atuação comunitária.

Um lugar pra exercer todas as manifestações que a gente acreditava. Que sabe, aquela

coisa de... a gente fazia uma parte cênica do Candeia, a gente acreditava em tudo, a gente acreditava em muito mais que só a roda de samba.141

Este tipo de atividade educacional voltada para crianças, não pôde ser observada em campo pelo fato de termos tido contato com o grupo já numa segunda fase em que a agremiação se encontrava desprovida de espaço próprio, devido a necessidade de deixar a antiga sede. A partir disso a agremiação fica sem espaço fixo e definitivo, tendo que buscar parcerias, o que lhes permite manter apenas as rodas de samba em detrimento de outras atividades. Aquela participação de crianças que presenciamos no aniversário era o resultado do trabalho que havia sido realizado junto a comunidade, mas que já não estava mais tendo continuidade devido ao abandono da antiga sede.

Esta sede havia sido constituída a partir de um terreno particular, cedido ao grupo através de uma relação de amizade que havia entre o "Tim Maia", um dos integrantes, e o dono do terreno. Isso possibilitou que o projeto se estabelecesse e realizasse suas rodas sem a cobrança de ingressos da população, forma de atuação tida como um dos objetivos visando o acesso irrestrito às atividades do grupo. A busca de recursos financeiros vinha da eventual participação em projetos culturais públicos ou mesmo privados que tivessem uma proposta com a qual o grupo se identificasse. Dentro de seus espaços, uma prática observada mesmo na fase posterior a antiga sede, foi a coleta de alimentos doados voluntariamente pelos freqüentadores, para a distribuição na comunidade de onde o grupo atuava inicialmente, sem vinculação deste com o ingresso dos freqüentadores na roda. Nesta aproximação junto a comunidade local é que se tornavam possíveis o desenvolvimento de outras atividades que iam além da roda de samba num sentido educacional mais direcionado às crianças. Com a necessidade de ocupação do terreno por parte do proprietário, o Morro das Pedras deixa essa sede, tendo que buscar um novo lugar para a realização de suas atividades. A partir da saída da antiga sede, procuram parcerias com outros espaços da cidade. Pelo fato de terem uma diversidade grande de freqüentadores, tiveram contato com integrantes da UNE (União Nacional dos Estudantes) entidade que desenvolvia no Centro Esportivo Raul Tabajara, espaço da prefeitura, uma iniciativa cultural chamada CUCA (Circuito Universitário de Cultura e Arte). Desse contato surge a possibilidade de realizarem suas rodas de samba quinzenalmente no centro esportivo. Nesse local presenciamos a comemoração de três anos da agremiação, além de outras três rodas de samba ainda no ano de 2004. Após alguns meses, a UNE perde o direito de utilização do espaço e assim o Morro das Pedras sofrendo as conseqüências disso tem que buscar novamente outro local para suas atividades.

O atual presidente, Zé Paulo consegue, no início de 2005, estabelecer um contato com a direção de uma antiga "escola operária"142 chamada Nova Cultura, localizada no Belenzinho, bairro

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Alexandre, Grêmio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro das Pedras. 142

Embora não tenhamos encontrado registros formais desse tipo de caracterização escolar no Brasil, a escola aqui referida, é assim considerada por ter sido fundada a partir das necessidades de cuidado e educação dirigida aos filhos

da zona Leste da cidade de São Paulo. Nesse local, o grupo vem atualmente realizando suas rodas de samba e reuniões internas. Durante o ano de 2005 pudemos presenciar uma série de atividades do agrupamento neste local.

Paralelamente ao processo de restabelecimento do local das atividades, o grupo passa por um momento delicado em que se produz um conflito interno. A atividade profissional de alguns integrantes que passam a atuar como músicos inseridos numa lógica mercadológica gerou segundo Alexandre, uma série de discussões a respeito do posicionamento do grupo com relação aos objetivos que o formaram e essa nova questão que se colocava. Segundo o mesmo integrante, presidente que liderava o grupo nesse momento, a partir dessa inserção de alguns membros na mídia ao serem amadrinhados por Beth Carvalho (interprete conhecida nacionalmente), faz com que o Morro das Pedras começasse a ser diretamente associado ao trabalho individual desses integrantes, o que gerou uma incompatibilidade de posturas e de idéias, levando segundo o ex- presidente a uma natural divisão do grupo inicial. Assim, saem alguns antigos integrantes da agremiação que abandonam a proposta original de atuação ao se identificarem com a atividade profissional daqueles integrantes. A discussão que passa a permear a trajetória do grupo traz a oposição entre a adesão ao samba como uma atividade voluntária, conscientizadora e de fruição, versus uma profissionalização que pode levar a ganhos financeiros, mas com perda de autonomia e liberdade na expressão poético musical na visão do grupo remanescente.

Em depoimento coletado com jovens e recentes integrantes do grupo, Jorge coloca seus anseios com relação a carreira musical antes e após o estreitamento de relação com o agrupamento, o que nos tráz uma visão de como estas questões foram tratadas internamente:

Antigamente, até antes de estudar, eu tinha uma vontade de ser músico de cantar, mas o Robertinho uma vez disse: - o ideal é ter uma profissão paralela, porque amanhã se você optar em viver de música o mercado vai exigir uma coisa que não é do teu perfil, e você pode dizer não para aquilo. Porque muita gente entra no mercado porque é o única profissão do cara. Aí eu voltei a estudar ciência contábil, que eu tinha trancado, pra eu ter uma autonomia pra escolher, é isso que eu quero e é isso que eu não quero.143

Ainda sobre isso o atual presidente, Zé Paulo ressalta:

Quando você coloca a cultura como produto de mercado aí você tem que entrar numa série de sistemas, tem que se adequar a uma série de regras..."144

de proletários, empregados das muitas fábricas do bairro ainda na década de 1950.

143Jorge, Grêmio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro das Pedras 144 Zé Paulo, Grêmio Recreativo de Tradição e Pesquisa Morro das Pedras

Portanto como passamos a observar nas atividades e nos depoimentos coletados, juntamente com a busca de novos espaços, essa conjugação de fatores de reestruturação leva o grupo a uma reafirmação de seus objetivos, e uma necessidade de formação interna de seus integrantes, visto que o grupo agrega novos participantes que precisavam se inteirar da trajetória e de uma bagagem cultural comum desenvolvida pelo grupo ao longo do tempo. Na fala anterior de Jorge, um dos integrantes inseridos no grupo, podemos perceber esse caráter de formação dos novos integrantes através da afirmação de objetivos e ideais formadores da agremiação.

Torna-se relevante notar como esse conflito apresentado com relação à profissionalização do músico e sua relação com o mercado, é capaz de externar uma visão que se apresenta como uma contra tendência dentro da trajetória do samba enquanto gênero musical. Como pudemos discutir em capítulo anterior, durante o período de formação e consolidação dos meios de comunicação de massa no Brasil, principalmente através do rádio, o samba obteve grande destaque estando relacionado a ideais políticos e a uma busca de consolidação da identidade nacional. Isso gerou mesmo que para uma pequena parcela de músicos e compositores uma possibilidade de profissionalização. De certo modo, o sambista passou a ver na inserção de suas músicas no rádio uma possibilidade de ascensão e até mesmo de legitimação e aceitação da identidade negra. Mais recentemente, nos anos de 1980, o samba retomou uma grande visibilidade através de um sub- produto denominado pela mídia de "pagode" vastamente comercializado sendo vinculado à figura do jovem negro, como cidadão bem sucedido pelo sucesso alcançado na vendagem de discos.

Essa nova inserção do samba como produto comercial gera novas expectativas de ascensão para as populações negras e periféricas, que ao serem excluídas, ou ao terem pouca representatividade em outros setores produtivos da sociedade, vêem no pagode, assim como no futebol, um dos os poucos lugares onde o negro ganha visibilidade e reconhecimento.

Portanto, podemos perceber que há um nível profundo de reflexão desses sujeitos organizadores dos agrupamentos aqui estudados, sobre seus papéis, enquanto formadores de seus integrantes, perante as questões sociais que os envolvem cotidianamente.

Em outro trecho do depoimento cedido por Jorge, este descreve uma trajetória de aproximação, formação e criação de identidade com o agrupamento, a partir dessa proposta cultural e reflexiva através da qual o grupo se coloca em suas rodas.

A minha infância foi década de 80, eu nasci em 79. Eu cresci mesmo ouvindo Fundo de