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6.3.2 Sambaquis de Santa Catarina

6.3.2.2 Ilha de Santa Catarina

6.3.2.2.1 Sambaqui de Ponta das Almas

O padre jesuíta Alfredo Rohr, em esforço prolífico no estudo e defesa dos Sambaquis, dedicou algumas linhas à descrição mais aproximada da morfologia do sítio, como um monte de seis a oito metros de altura que descende, por sobre a elevação natural no qual se apoia, em direção a uma pequena planície mais rasa; uma área total de 60 metros de diâmetro (ROHR, 1960, p. 8). Prous e Piazza (1977, p. 92), informam que outros montes de conchas existiam por perto, sendo que o escavado é o maior. O sítio se localiza na Ilha de Santa Catarina, dentro da área do município de Florianópolis (BECK, 2007, p. 123).

Estratigrafia

O sambaqui possui três camadas estratigráficas queocupam uma situação especial na literatura, e possui uma espessura de 1,5 metro (BECK, 2007, p. 131).

Na Sondagem nº 3 a estratigrafia revelou a dupla ocupação ocorrida no local. Tal fato foi confirmado pelo tratamento diferencial dado aos mortos pelos dois grupos […]. Porém, embora houvesse elementos comprobatórios dessa dupla ocupação do sítio, em períodos diferentes, os meios de subsistência não sofreram mudanças, mostrando-se idênticas as características quanto aos remanescentes de fauna encontrados. […] No Sambaqui de Ponta das Almas […] encontramos carapaças das espécies Anomalocardia brasiliana (berbigão) e Ostrea sp., além de lentes com conchas fragmentadas de Mytilus perna (mariscos). Esta última espécie ocorre ainda em abundância na área e mesmo no costão sobre o qual o Sambaqui está localizado e que o limita parcialmente (BECK, 2007, p. 131).

O próximo subtítulo trará maiores esclarecimentos.

Sepultamentos

O Sambaqui de Ponta das Almas foi alvo de escavações em três instâncias: a primeira vez, pelo Professor Walter Piazza, que resultou em uma breve publicação

onde sete ossadas foram exumadas e superficialmente descritas (PIAZZA, 1966, p. 14);e a segunda, por Anamaria Beck como parte de sua tese de doutorado, localizou mais quatro sepultamentos; a última, promovida pelo arqueólogo estadounidense Wesley Hurt, logrou exumar quatro indivíduos (BECK, 2007, p. 141-144). O total de indivíduos exumados e descritos é quinze. Os sepultamentos da segunda ocupação eram fletidos e associados a “fossas culinárias” (BECK, 2007, p. 146); já o grupo que habitou o local pela primeira vez, preferia estender seus mortos próximos a pequenas fossas forradas de argila não cozida (BECK, 2007, p. 146-147), similares às encontradas no Sambaqui do Forte Marechal Luz (BRYAN, 1993, p. 83), e aproximada epistemologicamente da tampa de argila crua de um sepultamento duplo de Matinhos (CHMYZ I.; SGANZERLA; CHMYZ J., 2004, p. 21) e outros exemplos similares de covas forradas de argila, do Sambaqui do Rio Tavares (ROHR, 1960, p. 20).

Adicionalmente, seis sepultamentos eram duplos, múltiplos; e nove, individuais. Do total, dois indivíduos eram crianças. Um sepultamento múltiplo era constituído pelas ossadas de dois indivíduos adultos orientados de modo oposto um ao outro (BECK, 2007, p. 144-145, ver Figura 22).

Beck chega a conclusão que as práticas funerárias melhor exemplificam as duas ocupações (ver Tabelas 26 e 27) que construíram o sítio:

Concluindo, podemos resumir a ocupação do Sambaqui de Ponta das Almas […] como efetuada por dois grupos distintos. A primeira ocupação teria ocorrido sobre a parte superior do pontão de pedras, de formação cristalina e dela seriam remanescentes os sepultamentos estendidos aos quais estariam associados às pequenas fossas de argila concrecionada. A segunda ocupação teria ocorrido na parte Sul do montículo, o que está perfeitamente evidenciado no perfil estratigráfico sendo este segundo grupo portador de artefatos confeccionados com técnica de alisamento e polimento além de suas práticas funerárias serem distintas. Os esqueletos estavam em posição fletida e pequenas “fossas culinárias, […], estavam a eles associadas (BECK, 2007, p. 149).

Figura 22 -Croqui esquemático dos Sepultamentos exumados por Piazza no Sambaqui de Ponta das Almas.

Fonte: PIAZZA, 1966, p. 14.

Tabela 25 - Caracterização das práticas funerárias encontradas na Ocupação Superior do Sambaqui de Ponta das Almas, datado do período de 3720-3520AP.

Categoria / Variável Quantidade

Cova 1 Mobília Funerária 0 Ocre 8 Estendido 11 Fletido 0 Combustão 1 Adorno 0 Adulto 10 Criança 1 Masculino 3 Feminino 4 Múltiplo 6

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados de Piazza (1966) e Beck (2007).

Tabela 26 - Caracterização das práticas funerárias encontradas na Ocupação Inferior do Sambaqui de Ponta das Almas, datado do período de 4689-3889AP.

Cova 2 Mobília Funerária 1 Ocre 1 Estendido 1 Fletido 1 Combustão 0 Adorno 0 Adulto 0 Criança 0 Masculino 0 Feminino 0 Múltiplo 0

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados de Beck (2007). Datações

Duas datações deste sítio exemplificam um caso de inversão estratigráfica: a mais antiga 4289 ± 400 AP (SI-222)50, carvões da Camada I, foram retiradas de uma camada superior à datação 3620 ± 100 AP (I-2627)51, produzida por conchas perturbadas pela antiga ação marítima, oriundas da Camada II. Piazza considera que a Camada I

ao apresentar datações mais recentes faz-nos considerar o material como descido do topo do sítio arqueológico [ e ] o encontro de duas datações divergentes do mesmo setor, de posições invertidas na estratificação, é indicador de uma possível perturbação do local (PIAZZA, 1966, p. 18)

Hurtressalta que “since the surface of this site is characterized by intrusive graves which may have churned up materials from lower levels” (HURT, 1970, p. 10). Logo, visto que o sítio possui duas ocupações, utilizaremos ambas datações, corrigindo a inversão estratigráfica, muito embora não possamos localizar os sepultamentos verticalmente no sítio. Assim, eles entram na análise em ambas datações, auxiliando a lidar com a ausência da informação de sua procedência estratigráfica. A Tabela 27 resume estas informações sobre a temporalidade do sítio.

504689-3889 com variação calculada. 51 3720-3520 com variação calculada.

Tabela 27 - Resumo quantitativo das práticas funerárias encontradas no Sambaqui de Ponta das Almas, datado dos períodos de 4689-3889 e 3720-3520AP.

Camada Datação (AP) Número de descrições exumações Número de Fonte principal

Camada I (última ocupação) 3720-3520 (corrigido) 7 (Piazza), 4 (Beck), 2 (Hurt) 14 PIAZZA (1966, p. 14-16); BECK (2007, p.136- 144) Camada II (primeira

ocupação) 4689-3889 (corrigido) 2 (Hurt) 2 BECK (2008, p. 136-144) Fonte: Elaborado pelo autor, com base em dados de Piazza (1966) e Beck (2007).

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