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1 INTRODUÇÃO

4.3 Das sanções aplicáveis

A Constituição Federal prevê a aplicação de sanções para atos de desonestidade no seio da Administração Pública: “Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível”.

Durante muito tempo não existiu entendimento pacífico com relação à natureza jurídica das sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa. Para a imensa maioria da doutrina, entretanto, possuem elas natureza cível.

A nosso ver a simples interpretação gramatical do dispositivo citado encerra a peleja. Ora, se a aplicação das penalidades previstas na Lei de Improbidade não excluem a ação penal cabível, só podemos concluir que as sanções que prevê possuem natureza cível. Esse também é o entendimento que prevalece na Jurisprudência.

A gradação a que se refere o texto de nossa Lei Fundamental ficou estabelecida no Art. 12 da Lei nº 8.429/92, acrescentando as penalidades de aplicação de multas, proibição de contratar com o Poder Público e o não recebimento de benefícios e incentivos fiscais e creditícios. Leia-se:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente.

A determinação da natureza jurídica das sanções para atos de improbidade administrativa é de suma importância para que se determine a competência para julgamento das ações de improbidade propostas.

No que tange especificamente às fraudes licitatórias, a própria Lei nº 8.666/93 – Lei de Licitações – buscou coibi-las prevendo a aplicação de sanções em seu Art. 90, senão vejamos:

Art. 90. Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação:

Pena – detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa

Assim, o objeto da norma penal é a proteção ao escorreito desenvolvimento da atividade administrativa, e o direito dos concorrentes em participarem de um procedimento licitatório livre de vícios que prejudiquem a igualdade entre os candidatos a contratarem com a Administração Pública. O crime previsto no transcrito Art. 90 da Lei de Licitações visa punir a fraude à competitividade dos processos licitatórios, independentemente do dano ou do prejuízo ao erário. Ressaltamos que, nas situações em que o agente incorrer em condutas previstas em mais de uma conduta prevista na lei deve a sanção mais gravosa ser aplicável, sob pena de bis in idem. Obviamente esta aplicação da pena mais gravosa não exclui a sanção do agente nos âmbitos cível e administrativo, como nos casos previstos pela Lei nº 8.429/92.

Continua o Art. 93 da lei de Licitações: “Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Chamamos a atenção que, para a aplicação das sanções dos atos ímprobos até agora elencados, aplica-se subsidiariamente, a legislação penal, conforme depreende-se da leitura do Art. 12 do Código penal brasileiro: “As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial se esta não dispuser de modo diverso.”

Na âmbito das licitações públicas os atos de improbidade se apresentam principalmente através da fraude licitatória. As licitações públicas, por envolverem contratações de grande monta, tornaram-se um dos meios preferidos para a atuação de agentes públicos desonestos para a obtenção de vantagens ilícitas ou favorecimento de terceiros. Formam-se, na realidade, verdadeiras quadrilhas especializadas em fraudar o processo de escolha das contratações firmadas pelo Poder Público.

Verificada a caracterização de fraude em licitação, deve o agente fiscalizador encaminhar as provas obtidas de sua ocorrência ao Ministério Público para que ajuíze as ações cabíveis a cada caso a fim de que o agente ímprobo seja exemplarmente penalizado.

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