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4. Resultados Fiscais nos Estados

4.3. Sanções Impostas pela LRF

Desde a edição da LRF em maio de 2000, União, Estados, incluindo o Distrito Federal e os Municípios brasileiros vêm seguindo as regras estabelecidas pela nova legislação, considerando as sanções previstas para o caso do descumprimento de seus dispositivos.

Cumpre ressaltar que essa sistemática de punição para os maus gestores vem sendo testada no Brasil desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, mas sem sucesso.

Mas o que garante que as regras impostas pela LRF venham a surtir efeito? O que diferencia o sistema de fiscalização da Lei de Responsabilidade Fiscal de outras normas legais é, em primeiro lugar, a definição de uma instituição responsável pela sua fiscalização: os Tribunais de Contas. Por outro lado, juntamente da LRF, no mesmo ano de sua publicação, foi editada a Lei nº 10.028, de 16 de outubro de 2000, conhecida por Lei de Crimes Fiscais. Essa legislação alterou o Código Penal brasileiro (Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940), além de outras normas que tratam de sanções aos administradores públicos como a Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, e o Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967. A Lei nº 10.028 de 16/10/2000 qualificou como crime o descumprimento de algumas regras definidas na LRF, como por exemplo, a não observação dos limites referentes à dívida pública e aos gastos com pessoal, conforme visto anteriormente.

Além das sanções pessoais, que incidirão sobre os agentes públicos, o desrespeito às normas da LRF impedirão os governos estaduais e municipais de realizarem de convênios e receberem de transferências voluntárias, além do impedimento de receberem garantias da

União para a contratação de empréstimos externos5. Nesse caso, as sanções recairão não

apenas sobre o agente público, mas também sobre o ente estadual ou municipal (sanção

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Organismos internacionais como o BID e o BIRD exigem o aval da União Federal para empréstimos concedidos aos entes subnacionais.

63 institucional). Para o controle e operacionalização desse dispositivo, a STN criou cadastro próprio (CAUC) onde estão identificados aqueles entes públicos que estão cumprindo, bem como aqueles que estão descumprindo a LRF e que, nesse caso, estão impedidos de assinar convênios e receber aval da União Federal.

As novas regras para as Finanças Públicas envolvem ainda a confecção de Anexo de Metas Fiscais, obrigatório para todos os entes públicos, onde União, Estados e Municípios deverão demonstrar (junto da LDO anual) o esforço fiscal para o pagamento da dívida a cada ano, ou seja, o Superávit Primário. Essas regras vêm ao encontro dos objetivos da LRF na elaboração de normas de Finanças Públicas voltadas para a responsabilidade fiscal e que envolve os seguintes postulados:

¾ Ação planejada e transparente.

¾ Prevenção de riscos e correção de desvios que afetem o equilíbrio das contas públicas.

¾ Garantia de equilíbrio nas contas, por meio do cumprimento de metas de resultado.

A observação de normas de finanças envolvendo metas fiscais, observação de limites para gastos e endividamento público, conforme asseverado reflete uma visão gerencialista da gestão pública no Brasil, após a edição da LRF. No entanto, tais medidas fiscais não representam a garantia de que o Setor Público esteja cumprindo de forma justa e eficiente seu papel social. Questões relativas à transparência na gestão pública juntamente do estímulo a participação popular durante a elaboração e discussão dos planos de governo (conforme previsão da própria LRF), demonstram que ainda existe um longo caminho a ser percorrido.

Já a padronização contábil e a publicação periódica de relatórios fiscais com informações sobre o desempenho das contas públicas representam instrumentos úteis para a gestão pública e para o controle social. Nesse caso, o descumprimento a essas regras gerais de gestão pública pode comprometer toda a sistemática trazida pela Lei Fiscal, o que levou o legislador a criar sanções objetivas para o caso do descumprimento da LRF. Descumprir as normas estabelecidas para as Finanças Públicas passa a ser crime no Brasil, definido pela Lei de Crimes Fiscais. O quadro a seguir apresenta alguns exemplos de infração e as sanções estabelecidas para cada caso.

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Quadro II – Infrações à Lei de Responsabilidade Fiscal Tipo de Infração de Acordo com a LRF Sanção/Penalidade Deixar de adotar as medidas previstas na lei,

quando a Despesa Total com Pessoal ultrapassar o limite máximo do respectivo Poder ou órgão (LRF, art. 23).

Cassação do mandato (Decreto-Lei nº 201, art. 4º, inciso VII).

Expedir ato que provoque aumento da Despesa com Pessoal em desacordo com a lei (LRF, art. 21).

Nulidade do ato (LRF, art. 21);

Reclusão de um a quatro anos (Lei nº 10.028/2000, art. 2º)

Deixar de adotar as medidas previstas na lei, quando a Despesa Total com Pessoal ultrapassar o limite máximo do respectivo Poder ou órgão (LRF, art. 23).

Reclusão de um a quatro anos (Lei nº 10.028/2000, art. 2º).

Deixar de reduzir o montante da Dívida Consolidada que exceda o respectivo limite, no prazo previsto em lei (LRF, art. 31,§1º).

Detenção de três meses a três anos, perda do cargo e inabilitação para a função por cinco anos (Lei nº 10.028/2000, art. 4º, inciso XVI).

Proibição de realizar operação de crédito, enquanto perdurar o excesso. Obrigatoriedade de obtenção de resultado primário, com limitação de empenho (LRF, art. 31, § 1º).

Exceder o refinanciamento do principal da dívida mobiliária do exercício anterior (LRF, art. 29, § 4º).

Cassação do mandato (Decreto-Lei nº 201, art. 4º, inciso VII).

Não obter o resultado primário necessário para recondução da dívida aos limites (LRF, art. 31,§1º, inciso II).

Multa de 30% dos vencimentos anuais (Lei nº 10.028/2000, art. 5º, inciso III e § 1º). Realizar Operação de Crédito com outro ente da

Federação, ainda que sob a forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente (LRF, art. 35).

Detenção de três meses a três anos, perda do cargo e inabilitação para a função por cinco anos (Lei nº 10.028/2000, art. 4º, inciso XVI).

Inscrever, em Restos a Pagar, despesa que não tenha sido previamente empenhada ou que exceda o limite estabelecido na lei (LRF, art. 42 e art. 55, inciso III, alínea “b”).

Detenção de seis meses a dois anos (Lei nº 10.028/2000, art. 2º, inciso XVI).

Aplicar Disponibilidade de Caixa dos regimes de previdência social em títulos estaduais ou municipais, ações e outros papéis de empresas controladas e conceder empréstimos aos segurados e ao Poder Público (LRF, art. 43, § 2º).

Cassação do mandato (Decreto-Lei nº 201, art. 4º, inciso VII).

Aplicar Disponibilidade de Caixa em desacordo com a lei.

Cassação do mandato

Fonte: Nascimento e Debus, 2002

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