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CRÔNICAS DE UM IMAGINÁRIO SOCIAL: POSSIBILIDADESDE LEITURA

SANDRA Idade 27 anos

Instituição Escolar

Ensino Médio (público)

Pai Fundamental Incompleto Mãe Fundamental Incompleto Irmãos Possui três irmãos

63 Experiências essas que abraça com bastante entusiasmo: “Eu adorei, fui aprendendo as coisas, pegando o “macetizinho”.

Até que a convocação para o exercício da função de agente de saúde provoca o desligamento com as experiências de estágio: “Eu tive que sair por queprestei um concurso fiquei excedente. Aí eu ficava sempre ligada para ver se me chamavam. Eu estava cansada de trabalhar em comércio! Trabalhar em comércio! Trabalhar em shopping! Eu queria fazer concurso. Era o meu objetivo”.

Assumir uma posição estável no mercado significa a tranquilidade financeira a qual almejava visto que mora sozinha e é responsável por seu próprio sustento. Conforme as suas próprias palavras, uma situação provisória até que se estabeleça a oportunidade de atuar na mesma área de formação e com a mesma estabilidade financeira que tem hoje. “Por enquanto esse negócio de funcionário público agente de saúde não é coisa para mim, não. Não é vida para mim não. Eu quero mudar. Eu não sou do tipo de fazer curso por fazer não. Para ter só um canudinho na estante. Eu quero exercer a minha função”.

Com base no relato da jovem nota-se algo já observado por Coulon (2008) ao destacar que as experiências individuais, no caso do trabalho, por exemplo, marcam as diferenças na maneira de viver a condição estudantil e essas distinções tendem a influenciar positiva ou negativamente os percursos acadêmicos. O que se confirma pela forma como vem sendo construída a caminhada de Sandra na universidade.

Ponderar sobre o trabalho

Mesmo atuando em área distante da pedagogia é curiosa a sensibilidade da estudante para questões relacionadas ao processo formativo na graduação. Ao fazer referência à importância de contribuir nas discussões em sala de aula e partilhar experiências decorrentes dos estágios, além do valor atribuído ao próprio curso.

Cabe pensar como se vem construindo o seu percurso como estudante. Para tanto não se pode cindir essa análise as atividades de trabalho que exigem uma carga horária “puxada”, tanto que as atividades de acadêmicas limitam-se as atividades de sala de aula e ao cumprimento das obrigatoriedades. “Eu dou essa importância porque eu dependo do trabalho (...). também eu tento não me cobrar muito nessas outras questões, nesses outros aspectos. Acho que você tem que ter foco em alguma coisa. E acaba deixando as outras de lado. É complicado”.

64 Nas outras questões, as quais se refere, inclui-se a maneira como se dedica à vida universitária. A jovem aponta o trabalho como prioridade e a formação fica em segundo plano. As tarefas acadêmicas são cumpridas de acordo com as reais possibilidades e o percurso se desenha no curso das ações.

Chama atenção a possível influência que as diferentes aprendizagens ocorridas no ambiente universitário tocam a acadêmica. O diploma é de grande valia por abrir espaço para novos espaços de atuação, entretanto, de acordo com as suas próprias palavras, a experiência universitária permite muito mais. De maneira a autorizar além de aquisição de competências técnica e profissional, um, desdobramento que se estende a vida do sujeito.“A maioria das disciplinas que eu peguei a gente leva para a vida (...). Eu acho que tem muita coisa assim que a gente estuda que não é só o assunto específico (...). E isso você vai pegando e fazendo pontes e interligando com a sua vida. Com a sua vivência”.

65 CONSIDERAÇÕES

Enveredar no universo de jovens acadêmicas vinculados ao curso de pedagogia conduziu à tentativa de captura das representações assumidas ao pensar o trabalho, o curso, como o sujeito caminha nesse desenrolar de trabalhador-estudante, nas ofertas da universidade capturadas nas lentes de quem a vive seja como ambiente de passagem, como trampolim para novos projetos.

A pesquisa realizada permite elucidar alguns achados referentes a diferenças e semelhanças nos percursos acadêmicos das jovens envolvidas na pesquisa. A própria condição de estudante-trabalhadora-estagiária ou estudante-trabalhadora do serviço público carrega exigências diferenciadas. Não só devido à carga horária que muda de acordo com a função, como também a ligação entre os universos trabalho e estudo não se configura como atividades excludentes na ótica das estagiárias.

Por outro lado, é importante destacar que a sintonia trabalho-estudo não determina que as perspectivas das estudantes estejam correlacionadas ao desejo de atuar na mesma área de formação. Simultaneamente, o exercício da atividade laboral que se desenvolve em paralelo à graduação, pode ser uma alternativa provisória para que se viva a trajetória universitária até que surja a oportunidade de seguir carreira como profissional da educação.

As jovens possuem um perfil similar quando se trata de pensar a origem socioeducacional, são oriundas de famílias que não possuem uma cultura acadêmica, isto é, famílias que não prolongaram a escolaridade e, portanto, muitas vezes, elas se defrontam com uma realidade escolar diferente das gerações anteriores, o que em algumas situações podem gerar situações de tensão familiar.

Analisando as entrevistas observamos que a família pode funcionar tanto como agente mobilizador na trajetória acadêmica das jovens, seja pelo apoio financeiro que eventualmente ofereça, seja por meio do valor simbólico atribuído á escolarização dos filhos.

As famílias podem valorar a escolarização visando aos filhos melhores oportunidades de trabalho e condição de vida. Todavia, esse interesse grosso modo esbarra na tarefa de financiar um processo de escolarização mais longo, caso da graduação. Nesse caso, as considerações dos sujeitos a respeito do próprio percurso acadêmico podem dirigir-se de acordo com as condições objetivas e no movimento que os próprios desenvolvem, tendo em vista, as suas proposições de futuro. Tal qual um

66 jogo em que o atilamento do jogador é fundamental, uma vez que suas chances de movimento são reduzidas. A ação por ele perpetrada constrói um jogador nato se se quer seguir o curso, concluí-lo e galgar oportunidades outras geradas pela graduação.

Nas falas das estudantes nos aproximamos de um ideário vinculado ao curso de Pedagogia, de como os sujeitos podem ou não vestir uma imagem relacionada ao curso, visto na representação de uma trajetória mais longa, iniciada na graduação e que vislumbra mais adiante o empreender de uma carreira acadêmica, caso da jovem Bárbara, desde a percepção do curso como trampolim a gerar oportunidades variadas, como sugere, Paula.

Encerrando para começar: longe de querer explicar e apresentar generalizações quanto ao curso de Pedagogia, esta pesquisa imiscui no universo de jovens que orientam reflexões sobre um ideário de curso, representação para aquela que o vivem e lógicas compreensivas de juventude-trabalho-educação em que se desenham perspectivas dos sujeitos, ofertas da graduação e relações profissionais.

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73 ANEXO A

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