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A Santa de Irati

No documento ADRIANO PINTO GODOI (páginas 111-114)

3 A Comunidade e sua História: Os Libaneses em Irati

3.2 Religião

3.2.1 A Santa de Irati

A maioria dos libaneses que desembarcavam no Brasil era de origem pobre e muçulmana79, religião que não cultua Nossa Senhora. Entretanto, um libanês cristão tem destaque em Irati, construindo a ideia e materializando os fatos.

A ideia de se colocar uma Santa iluminando a Serra dos Nogueira é algo que se deve pensar para o nosso cinquentenário. “Si” bem que não seja inédita, pois que temos no Rio de Janeiro o Cristo Redentor, seria esse um excelente motivo de embelezamento a cidade e o local é ótimo, bastante apropriado. (CORREIO DO SUL, 1956, p. 1 In ORREDA, 2007, p. 9)

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A pobreza das áreas rurais continuou desempenhando papel importante ao longo das demais fases da imigração libanesa, em que grande parte do contingente imigratório foi composta por pessoas – especialmente muçulmanos – provenientes das pequenas aldeias do Vale do Bekaa e do sul do Líbano. (GATTAZ, 2012, p. 26)

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Irati viveu a década de 1950 como um dos seus auges políticos e sociais, tinha grande força econômica junto ao Estado com a extração da madeira, foi a primeira cidade do interior do Paraná a ter um cinema, e por vezes pessoas ilustres passavam e chegavam ao município, tais como governadores e Presidentes da República.

Quando o cinquentenário do município se aproximava pensou-se em fazer uma grande homenagem aos moradores. Foi um libanês, professor e morador de Irati, que teve a ideia de construir uma grande imagem de Santa no morro da Serra dos Nogueiras para abençoar a cidade que, na época também sofria bastante com enchentes. Levou sua opinião ao padre Mota que era diretor do colégio São Vicente de Paula e a noticia se espalhou. A população ficou empolgada com a ideia

Quinta Nota: continua a crescer o entusiasmo no seio da população católica iratiense sobre a instalação da imagem de N. S. das Graças no morro. Para tanto já se solicitou auxílio a várias congregações de São Paulo e Rio Grande do Sul. Segundo informamos será a maior santa do mundo a ser erigida em Irati. Somente isso vale para não se conter de satisfação e seguramente o local será mais visitado durante o aniversário da cidade. (CORREIO DO SUL, 1956, p. 1 In ORREDA, 2007, p. 10)

Jorge Garzuze, um dos mentores da proposta, foi fundamental na divulgação das notícias, mesmo aquelas do andamento do projeto, pois era diretor e possuía um espaço no próprio Jornal Correio do Sul no qual divulgava notas acerca do evento. Do mesmo modo foi primordial na arrecadação de fundos para a construção da obra.

Jorge Garzuze fez parte [...] da família Assef Garzuze... Linda Garzuze, uma emérita senhora da sociedade, é... ela participava do Rotary Club de Irati, e o Jorge Garzuze foi meu professor no São Vicente, professor de geografia se não me falha a memória, e era uma pessoa extraordinária. A família dele tinha casa de comércio e também de aviamentos na Rua XV de Novembro, era um casarão de madeira ainda, e a família dele era grande [...] O Jorge foi o idealizador da... ele que soltou a ideia lá no São Vicente também com os padres, da homenagem aos 50 anos de Irati com uma, um símbolo que chamasse atenção e perdurasse pro resto da vida né, e foi-se procurando pra cá pra lá alguma coisa que fosse assim de... é... extrema importância e chegou-se então a uma imagem, e aí então começou-se a procurar onde que essa imagem iria ser feita e foi

111 escolhido então ali o morro da que o hoje a Santa está lá. (José Maria Grácia Araújo80)

Esta era a busca por uma homenagem que enaltecesse uma cidade que na época prosperava, e a ideia de um grande símbolo religioso era algo apreciado, entretanto, custaria um valor monetário alto para os padrões de qualquer cidade, então era necessário buscar fontes.

Aí começou-se a arrecadar donativos e o Lupion foi o primeiro que assinou o livro de ouro com 20 contos de réis, 20 mil réis ou 20 contos de réis, era uma importância! João Mansur foi o segundo e aí foi aquela leva de pessoas foram... e a imagem foi encomendada em Campinas com o escultor de lá, Gioto, Gioto o nome dele, que se propôs a fazer a escultura da imagem, só que ela era pra ser de, aquela Nossa Senhora que tem o menino Jesus, não era Nossa Senhora das Graças, acho que era Nossa Senhora da Luz se não me engano, mas como seria mais delicado fazer o menino Jesus tal, os detalhes, então daí optou-se por Nossa Senhora das Graças [...] Jorge Garzuze então foi um dos idealizadores, é o que fez todo... se envolveu assim de corpo e alma pra que nós tenhamos hoje a maior Imagem de Nossa Senhora das Graças do mundo nos abençoando lá de cima. (José Maria Grácia Araújo)

Figura 10: Nossa Senhora das Graças em 1957

Fonte: ARAÚJO, 2010.

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O prefeito de Irati na época era João Abib Mansur, também de origem libanesa, e fundamental para a concretização da ideia, arrecadação de fundos e conclusão dela. Mansur organizou na cidade a maior festa vista até hoje em comemoração ao aniversário, uma semana inteira de festividades e já com a Imagem de Nossa Senhora construída no morro81. Ele ainda

(...) foi vereador, foi o prefeito do cinquentenário de Irati, 57 ele era o prefeito, fez uma festa de, da... dos 50 anos muito grande, veio o governador do Estado que era Moises Lupion, é... a cidade foram uma semana inteira de festividade, foi construída a imagem da Nossa Senhora das Graças pra esse evento, então foi talvez até agora, das festas comemorativas assim de... é, número de anos cheios assim, 25, 50, 100, até o dos 100 anos não foi tão imponente como do 50 anos, que era sob administração do prefeito João Mansur. E teve alguns filhos dele, irmãos também que atuaram na nossa sociedade com empresas, eles eram madeireiros também, tinham serrarias, tinham comércio também no interior, aí eles tinham casas de comércio, então uma família também bastante, que atuou na política. (José Maria Grácia Araújo)

No documento ADRIANO PINTO GODOI (páginas 111-114)

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