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1. A METODOLOGIA DA PESQUISA

1.1 A P ESQUISA A ÇÃO

1.4.2 Santo Amaro Distrito de São Paulo

Agora vou passar para minha casa, onde nasci. Era a Casa Arlindo, nome do meu pai, um armazém de secos e molhados que ficava na Alameda Santo Amaro. Eu fiz o pré na escola de D. Carmelina e aos oito anos fui para a Escola Paulo Eiró. A Alameda Santo Amaro era tranqüila e passava o bonde que vinha da Praça da Sé e ia até o Largo do Socorro. O nosso bonde era chamado de Camarão, por ser pintado de vermelho. A linha do bonde também serviu para transportar areia, tijolos para a construção da Catedral da Sé. Continuando na Alameda, as casas maiores eram só de residências e as casas comerciais eram o Armazém Arlindo, lojas de tecidos Alfredo, Padaria Hessel, alfaiataria, casa das bananas, botecos, serraria, açougue, Casa Isgasrb de materiais de construção e outros. No Largo da Matriz (atual Largo 13 de Maio) está a Igreja de Santo Amaro, atual Catedral. Em janeiro comemorávamos a festa do padroeiro na Igreja Santo Amaro, com romeiros, procissão e quermesse. Nossa! Como eram divertidas a barraquinha de doces e as bandas de música! Ainda no Largo da Matriz tínhamos a Padaria 15, que era o ponto de encontro de jovens. Tinha a Casa Rex, que vendia frios fabricados pela Indústria Éder e a Santa Casa para atender os doentes que era muito boa, e mas para frente o Colégio Jesus Maria José, que era menor. A Rua Capitão Tiago Luz era nossa Rua Direita, onde tinha a famosa farmácia do José Diniz, lojas de móveis, sapatos, sorveteria, leiteria, cabeleireiro. Mário Genari que ficava em frente ao coreto, o cinema São Francisco e o Grupo Escolar Paulo Eiró. Aos domingos os jovens de Santo Amaro e da redondeza e até Vila Mariana vinham fazer o flerte na Rua Direita que era fechada às 20 horas. Hoje na atual Laborterápica era um chácara de verduras. No Laboratório Organon era uma acivultura com aves de diversos tipos, com galinheiros estilo americano, todas casinhas separadas, e eu costumava ver as aves, pavões, perus e galinhas também macaquinhos. Nesta rua passava a boiada que era comandada pelos boiadeiros que tocavam os berrantes, às vezes os bois escapavam e invadiam as ruas. Uma vez um boi entrou numa feira livre e começou a dar chifradas nas barracas, era só gente correndo e não era brincadeira! Aí, os bois iam para o matadouro, onde hoje é a Escola Municipal Raniere Manzini, vizinha a uma fábrica de veludos Velmac, hoje Shopping Boa Vista. Antigamente, quando uma pessoa morria, o velório era na própria casa e costumava vir à funerária colocar panos pretos nas paredes da sala onde ficava o corpo. Os enterros eram feito a pé e a família não tinha o costume de acompanhar, iam até a igreja e o padre fazia uma oração depois seguiam para o cemitério, que nesta época só existia o de Santo Amaro. Um fato muito interessante foi quando morreu o pobre Bento-Portão, o enterro foi acompanhado pela banda de música e ele teve o maior túmulo feito pelos seus devotos. E assim era o bairro de Santo Amaro. (Sra. Maria de Lourdes Hessel Torres, nascida em Santo Amaro, em 25 de outubro de 1928, morou no bairro até 1976, quando passou a residir na Granja Julieta – SÃO PAULO, s.d - Pesquisa Bibliográfica e Documental na Biblioteca Prestes Maia).

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Na década de 1940, teve início a industrialização na Zona Sul e as indústrias começaram a se instalar em Santo Amaro. 99

Com a foto da Rua Américo Brasiliense, tirada lá pelos anos de 1947, que ainda não era calçada, me lembro das esculturas feitas com o barro que se formava nos dias de chuva e também de que precisávamos trocar de sapatos enlameados quando chegávamos na Av. Santo Amaro, antes de pegar o bonde na parada da Av. Vereador José Diniz. (Sra. Maria Gomes Leite Pereira – SÃO PAULO, s.d.- Pesquisa Bibliográfica e Documental).

Santo Amaro participou desse processo, região abundante de água, com terrenos amplos e baratos junto à várzea do Rio Pinheiros e com vias de transporte – Avenida Santo Amaro, Washington Luís e depois a Marginal Pinheiros, além da estrada de ferro para Santos construída entre 1952 e 1957 que se iniciava na Vila Leopoldina e conectava-se à ferrovia Mairinque-Santos no alto da Serra do Mar (BERARDI, 1981; PÁDUA, 2007 apud A LASCA, s/d.).

Esta foto foi tirada em 1967, de um grupo de crianças que fizeram a primeira comunhão na Igreja do Verbo Divino, na Rua Alexandre Dumas. Como se nota, no pátio era de terra batida. Na época ali eram realizadas as missas e as cerimônias de batizados e primeira comunhão para seus fieis. No fundo de suas dependências funcionava o posto de saúde, com sua construção de madeira, mais tarde mudou-se para a mesma rua na altura do no. 700, onde até hoje nós, do grupo de 3ª. idade nos reunimos. Na época, a Chácara Santo Antonio, que pertence a Santo Amaro, tinha uma farmácia, uma padaria, um açougue e as demais compras fazíamos fora do bairro. Tínhamos que subir até a Avenida Santo Amaro para tomar ônibus. Os bondes já haviam sido tirados da Avenida Vereador José Diniz. (Sra. Neusa, nascida no bairro de Tatuapé, em 18 de dezembro de 1934. Mora no bairro de Santo Amaro desde 12 de dezembro de 1964 – SÃO PAULO, s.d. – Pesquisa Bibliográfica e Documental na Biblioteca Prestes Maia.).

Quem passa pela Avenida Águas Espraiadas, diante do grande movimento de trânsito, não imagina que o progresso acabou com a pequena mata que cobria de verde a região do Vale da Água Espraiada. Conforme relato de antigos moradores do Campo Belo, havia um trem a vapor da Cia. Ferrocarril, que fazia a viagem entre São Paulo e Santo Amaro. Entre Campo Belo e o Brooklin (atual) havia uma parada de trem chamada Parada Volta Redonda. O trem percorria belas paisagens de vegetação variada. (Sra. Diva, natural do Rio de Janeiro e que reside em Campo Belo desde que casou na Igreja Matriz de Santo Amaro e no cartório que ficava na Av. Adolfo Pinheiro. Nasceu em 26 de agosto de 1941 – SÃO PAULO, s.d. - Pesquisa Bibliográfica e Documental na Biblioteca Prestes Maia.).

Depois da década de 1950 de grande desenvolvimento econômico, com verticalização do centro e sua concentração das atividades bancárias, financeiras, de serviços e comerciais; e da expansão horizontal da cidade, em 1960, Santo Amaro tornou-se um dos principais pólos industriais da cidade, com cerca de 447 empresas no período entre 1939 e 1973: a Rolamento INA; a Villares; a Metal Leve; a Walita; a Heine; a Monark; a Gradiente; entre outras; que

99 60% de toda a atividade industrial do Estado concentravam-se em bairros fabris como Mooca, Ipiranga e Brás

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empregavam famílias migrantes, principalmente do nordeste que vieram para Santo Amaro nas décadas de 1950, 1960 e 1970. 100

[Santo Amaro] Abrigou importantes empresas da indústria farmacêutica, como os laboratórios Pfizer e Novartis e também foi um grande polo de fabricação de componentes eletrônicos, entre outros. Tínhamos a Caterpiller, a Metal Leve, a Phillips a Cargil, a Quimbrasil, primeira firma que processou urânio, a Frigor Éder, entre outras (Jaime Soler Baró, um espanhol da Catalunha que chegou ao Brasil em 1950 com 10 anos. Foi Diretor da Distrital Sul da FIESP/CIESP. in: ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SANTO AMARO, 2004, p.32).

Intenso comércio e galpões industriais e pequenas casas operárias passaram a compor o cenário de Santo Amaro, que concentrava o comércio e as indústrias na região.

Havia 400 estabelecimentos comerciais em Santo Amaro, entre eles, pelo menos 15 açougues, 6 alfaiatarias, 15 lojas de tecidos, 60 armazéns, 80 bares. Mas o bairro também se tornou importante pólo industrial, com pelo menos 300 indústrias catalogadas. A região já representou 90% da indústria farmacêutica da América Latina e foi a segunda maior arrecadação de ICMS de São Paulo (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SANTO AMARO, 2004, p.52).

Vários loteamentos ocorreram na zona periférica de São Paulo (...) Ao mesmo tempo, a população de São Paulo crescia constantemente, primeiro pelas migrações estrangeiras e depois pelas migrações internas vindas de Minas e do Nordeste (BERARDI, 1981, p.114).

Em 1963, sua população estimada era de 134.638 habitantes. Tinha 115 escolas primárias, 12 estabelecimentos de ensino médio, várias escolas técnicas [...] 17 hospitais mais a Santa Casa de Misericórdia (Hospital Imaculada Conceição) (BERARDI, 1981, p.119).

A partir da década de 1980, muitas indústrias deixaram Santo Amaro101 e se instalaram

em outras cidades do Estado de São Paulo, ocasionando muito desemprego e a proliferação do comércio informal, que foi organizado com a criação de calçadões (em 1978 e 1991), abrangendo a Praça Floriano Peixoto, o Largo Treze de Maio e as Ruas Herculano Freitas, Senador Dantas e José Bonifácio.

As padarias Alemã 15 e Goa eram célebres, como a Casa de Carnes Rex, propriedade do Frigor Éder. Havia também a Santa Casa, que com muita dificuldade ainda hoje sobrevive; os cinemas Cinemar, Marajá e São Francisco – em frente ao qual o famoso Felipe, o único baleiro da região, deliciava as crianças -, a escola do „seu‟ Amaro, a banca do jornaleiro Lopes e os restaurantes São Paulo, Robbas,

100 “Tipos de indústrias principais – extrativas minerais, 8; minerais não metálicos, 21; metalurgias, 90;

mecânicas, 48; materiais elétricos e comunicações, 46; materiais de transportes, 46; madeiras, 11; mobiliário, 37; papel e papelão, 10; borracha, 7; couro e peles, 4; perfumarias, 4; matéria plástica, 24; têxteis, 15; vestuário, calçados e tecidos, 9; produtos alimentícios, 48; bebidas, 2; editoras e gráficas, 11; diversas, 14. – Total, 496” (BERARDI, 1981, p.127).

101 Atribuída também à Lei Municipal de Mananciais de 1975: “Isso transformou o bairro e, assim, começou a

decadência de sua indústria (...) O bairro deixou de ser interessante para os empresários locais ou multinacionais pois ele não tinham para onde crescer e, portanto, não tinham mais razão de investir. (...) “As industrias se mudaram para o interior e Santo Amaro acabou, mas a lei não impediu seu objetivo principal: o de evitar a formação de loteamentos clandestinos” (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SANTO AMARO, 2004, p.32).

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Amigo Fritz e Joca. Perto da Praça Floriano Peixoto, antigo jardim da região, um vistoso edifício colonial abrigava o Grupo Escolar Paulo Eiró, que foi destruído nos anos 70 por ordem de José Maria Marin, durante a gestão Maluf. Outros edifícios como a Igreja da Matriz, a Casa Amarela e o prédio do antigo mercado, hoje Casa da Cultura de Santo Amaro, perduram até hoje. O comércio do bairro, atualmente transfigurado pelas barracas de camelôs, é lembrado pelas lojas Ykko, Modas Jurucê, a doçaria „Saint Soucy‟ ou o Sete Mesas (ASSOCIAÇÃO SANTO AMARO, 2004, p.76 – Pesquisa Bibliográfica e Documental).

Os galpões industriais e vilas operárias deram lugar a empreendimentos residenciais, edifícios de escritórios, shoppings, faculdades e templos religiosos.

Na matriz de Santo Amaro foi realizado meu casamento no dia 10 de julho de 1971, pelo Monsenhor Antonio Nigro Júnior. A cerimônia aconteceu nessa paróquia porque meu marido residia com a família em uma Vila de seis casas na Rua São Jerônimo, próximo da rua Elias Mafur, da rua Nina Rodrigues e do Largo de São Sebastião que era o ponto final do Bonde Santo Amaro. (Sra. Diva – SÃO PAULO, s.d. – Pesquisa Bibliográfica e Documental na Biblioteca Prestes Maia.).

E Santo Amaro se transformou na segunda maior concentração de comércio e serviços.

No centro de Santo Amaro (Largo 13 de Maio e ruas adjacentes) estão as lojas comerciais e os bancos do bairro, e o local preferido das profissões liberais. Na Rua Capitão Tiago Luz encontramos artigos não padronizados, como vestuário, móveis etc a preços populares. Longe das áreas congestionadas pelo tráfego, encontramos lojas mais elegantes destes mesmo artigos não padronizados: Galeria Borba Gato. No mercado de utilidades, mercearias, farmácias e supermercados, há uma zona centralizada (Largo 13 de Maio) e algumas espalhadas em um raio maior. Junto das zonas comerciais centrais, agrupam-se numerosos estabelecimentos de refeições ligeiras, para atender ao grande número de pessoas que afluem das casas de comércio e dos estabelecimentos bancários, que são 21 no subdistrito (BERARDI, 1981, p. 126).

(...) também no entorno da praça estão instalados os principais equipamentos sociais: Subprefeitura, Santa Casa, Cartório, Bom Prato, Poupa Tempo, Correios e outros (SESC, 2006, p. 75).

Com suas características próprias abrange desde a periferia sempre tão carente de estrutura urbana, de transporte caótico onde o Metrô nunca chega, de invasões de terras e ao mesmo tempo com um imenso potencial econômico, traduzido nos edifícios espelhados da Vila Olímpia, Brooklin, Itaim e Moema. Do maior PIB per capita ao menor, de grandes multinacionais ao comércio de rua, Santo Amaro sempre foi um exemplo da diversidade cultural econômica paulista, e também vitrine dos abismos entre dois mundos que habitam a mesma cidade (Gazeta de Santo Amaro, 2015, s/p.).

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CAPÍTULO 3

1. A PESQUISA-AÇÃO: SEU CONTEXTO, SUA TRAJETÓRIA E ALGUNS DOS

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