• Nenhum resultado encontrado

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.4. Discussão dos dados

4.4.3. Satisfação na organização e valores individuais

Com a identificação e a relevância do processo de socialização evidenciadas pelos professores recém-enquadrados no desenvolvimento e realização das suas funções no seio da escola e da sua respetiva comunidade local, a nossa terceira consideração consubstancia- se na relação existente entre os valores e comportamentos individuais e a satisfação face ao trabalho.

Segundo Chiavenato (1993:79), a qualidade de vida no trabalho afeta a atitude dos indivíduos. Logo, o comportamento individual, importante para a produtividade, está intimamente relacionado com a satisfação com o trabalho, a adaptabilidade, a mudança, a criatividade e a vontade inovadora e a participação na vida da organização. Estas circunstâncias acabam por influenciar as respostas a adotar pelos indivíduos na organização sejam elas atitudes positivas, capazes de melhorar e beneficiar a organização sejam elas atitudes negativas, suscetíveis de serem prejudiciais à organização (Bilhim, 2008:337).

Quando a expectativa dos trabalhadores não é levada em consideração, esta pode traduzir-se em atitudes negativas. Os indivíduos manifestam um comportamento inadequado, frustração, que pode afetar profundamente a sua relação com a organização, o seu papel como professor, a relação com os colegas e alunos e com a comunidade, dificultando consequentemente a sua integração e adaptação ao meio escolar ou podem, segundo Bilhim (2008:337), optar pelo abandono ou afastamento.

No caso dos professores entrevistados deste estudo, face à análise e interpretação das suas respostas, entendemos pertinente caracterizar a sua satisfação com o trabalho, seguindo a perspectiva de Hirschman e Rusbult citados por Bilhim, (2008:338), que apresentam opções comportamentais na sua relação com o trabalho.

A primeira é a saída e equivale a uma separação do “turnover” voluntário. A saída é uma forma de abandonar o trabalho quando este dá pouca satisfação. Quem abandona não acredita que a sua situação possa melhorar na organização. No caso da escola em estudo, podemos constatar tal situação através do mapa de efetividade que nos mostra que a escola anualmente é obrigada a recrutar novos funcionários como forma de compensar as saídas e, consequentemente, satisfazer a procura.

A segunda é a voz que consiste em mudar a situação em vez de abandonar. Esta opção traduz-se numa chamada de atenção à hierarquia traduzida nomeadamente em ações de protesto. Esta situação ocorre particularmente em casos de trabalho desfavoráveis antes de sair da organização.

Quando olhamos para os professores entrevistados, verificámos que alguns afirmaram viver numa aparente liberdade, porque as suas vozes eram ouvidas mas não executadas, traduzindo-se numa atitude de conformismo perante a hierarquia da organização escolar.

A terceira opção é a lealdade e tem lugar quando, perante a situação de insatisfação na organização, os membros não optam pela voz e pela saída assumindo uma atitude de vinculação. No caso deste estudo, alguns professores conformaram-se com a situação apresentando-se numa postura passiva e, apesar de tudo, confiante.

Por último, temos a negligência que descreve o comportamento descuidado e desatento entre os trabalhadores. Entre tais comportamentos, podemos identificar a lentidão, o absentismo, os erros, o abandono temporário, a falta de atenção, entre outros. Esta última foi a situação que entendemos mais se verificou no comportamento dos professores recém- enquadrados. Trata-se do desencontro entre os professores, porque muitos não se conhecem mutuamente, exceto entre os professores que trabalham no mesmo dia. Trata-se ainda da fraca participação em atividades escolares e extras-escolares que, na realidade, traduz uma forma de absentismo.

Deste modo, a satisfação na organização depende da relação entre as expectativas e os valores individuais e o tratamento ou a resposta que a organização dá a esta expectativa (Lima et al., 1995:106). Isso significa que a qualidade de vida no trabalho não é determinada somente pelos fatores individuais (necessidades, valores, expectativas) ou situacionais (estrutura organizacional, tecnologia, sistemas de recompensas), mas também pela situação sistémica dessas características individuais e organizacionais (Chiavenato, 1993:236).

Tendo em conta um importante conjunto de respostas dos professores entrevistados, verificámos existir falhas ao nível da articulação entre fatores individuais e organizacionais, o que em síntese se manifestou numa insatisfação, num distanciamento face à organização, à escola. Dito de outro modo, tal como iniciámos a nossa análise e discussão dos dados resultantes das entrevistas com os professores recém-enquadrados, a socialização tem um papel relevante, quer antes quer durante, no processo de inserção na respetiva organização. Como salienta Fichter (1975:37), a socialização é um processo de influência mútua entre os indivíduos que considera não apenas o respetivo contexto organizacional mas também e simultaneamente o contexto da cultura local, comungando com ambos de forma a promover a adaptação e a integração.

Com estas considerações, apresentaremos, de seguida, algumas reflexões finais em jeito de sugestões.

Perante o que mais se evidenciou neste estudo exploratório, as dificuldades de socialização e consequente integração de professores recém-enquadrados em comunidades longe dos grandes centros urbanos, entendemos que seria pertinente criar ou desenvolver algum mecanismo de aproximação à realidade cultural local pela via da descentralização das funções. Isto implicaria que a escola criasse uma equipa multissectorial que assumiria um papel de tutoria com vista a acolher e orientar adequadamente os novos professores, nomeadamente na transmissão de normas de convivência e de trabalho, no respeito das diferenças individuais. Serviria, deste modo, de ligação entre a direção da organização/escola e os novos membros da comunidade escolar.

Acharíamos também pertinente a existência na organização de um caderno de reclamações como meio dos dirigentes da organização/escola se aperceberem das preocupações quer dos professores quer dos alunos. Todos estariam a contribuir para uma

funcionar na sua plenitude quando todas as informações necessárias chegam corretamente até aqueles que desenvolvem determinadas funções e que podem tomar as decisões.

Por fim, dado o papel de inclusão da era digital em que vivemos, independentemente dos níveis de desenvolvimento de cada país, tornar-se-ia vantajoso criar redes informacionais com o objetivo de possibilitar aos futuros candidatos um melhor conhecimento da organização, evitando assim as dúvidas sobre o seu contexto, estrutura e funcionamento. Considerámos ser uma boa ferramenta para garantir aos futuros candidatos a possibilidade e capacidade de se socializarem com a organização e com o seu respetivo meio envolvente, isto é, a comunidade local.