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Capítulo I Abordagem à Satisfação no Trabalho

1.6 Satisfação no Trabalho e Legislação Nacional

Tal como foi referido anteriormente, a satisfação no trabalho pode ser influenciada, em algumas dimensões, por determinantes organizacionais. Desta forma, os trabalhadores têm direitos e deveres, expressos legalmente, que podem contribuir para a sua satisfação no trabalho, nomeadamente as condições laborais, a remuneração, o sistema de recompensas e progressão na carreira, a proteção da saúde, entre outros.

Em 2005 foi aprovada a sétima revisão constitucional, com a Lei Constitucional n.º 1/05 de 12 de agosto. Salienta-se o artigo 59º, que aborda os direitos dos trabalhadores e que foi completado desde a Constituição da República Portuguesa em 2 de abril de 1976 (antigo artigo 53º). Refere que todos os trabalhadores, sem qualquer distinção, têm direito:

a) À retribuição do trabalho, segundo a quantidade, natureza e qualidade, observando-se o princípio de que para trabalho igual salário igual, de forma a garantir uma existência condigna; b) À organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da actividade profissional com a vida familiar; c) A prestação do trabalho em condições de higiene, segurança e saúde; d) Ao repouso e aos lazeres, a um limite máximo de jornada de trabalho, ao descanso semanal e a férias periódicas pagas; e) À assistência material, quando involuntariamente se encontrem em situação de desemprego; f) A assistência e justa reparação, quando vítimas de acidente de trabalho ou de doença profissional (p. 4651).

O estabelecimento de direitos dos trabalhadores, suportados com cariz legal, permite consolidar as relações trabalhador-empregador, assegurando condições de trabalho que contribuem para a satisfação profissional.

A legislação referente tanto ao setor público como ao setor privado não aborda a satisfação no trabalho de forma direta, mas enuncia cláusulas que contribuem para a sua avaliação pelo trabalhador. De acordo com a Lei n.º 59/08 de 11 de setembro, que aprova o regime de contrato de trabalho em funções públicas, surgem como deveres da entidade empregadora:

a) respeitar e tratar com urbanidade e probidade o trabalhador; b) pagar pontualmente a remuneração, que deve ser justa e adequada ao trabalhador; c) proporcionar boas condições de trabalho, tanto do ponto de vista físico como moral; d) contribuir para a elevação do nível de produtividade do trabalhador (…); e) respeitar a autonomia técnica do trabalhador (…); f) possibilitar o exercício de cargos em organizações representativas dos trabalhadores; g) prevenir riscos e doenças profissionais, tendo em conta a proteção da segurança e saúde do trabalhador (…) (p. 6538).

É também assumido o princípio geral de que ambas as partes devem “colaborar na obtenção da maior qualidade de serviço e produtividade, bem como na promoção humana, profissional e social do trabalhador” (Lei n.º 59/08, p. 6538), e é garantido o direito ao desenvolvimento da carreira profissional. Nesta sequência surgem como proibições do empregador público:

a) Opor-se, por qualquer forma, a que o trabalhador exerça os seus direitos, bem como despedi-lo, aplicar-lhe outras sanções ou tratá-lo desfavoravelmente por causa desse exercício; b) Obstar, injustificadamente, à prestação efectiva do trabalho; c) Exercer pressão sobre o trabalhador para que actue no sentido de influir desfavoravelmente nas condições de trabalho dele ou dos companheiros; d) Diminuir a remuneração, salvo nos casos previstos na lei; e) Baixar a categoria do trabalhador, salvo nos casos previstos na lei; f) Sujeitar o trabalhador a mobilidade geral ou especial, salvo nos casos previstos na lei; g) Ceder trabalhadores do mapa de pessoal próprio para utilização de terceiros (…), salvo nos casos especialmente previstos; h) Obrigar o trabalhador a adquirir bens ou a utilizar serviços fornecidos pela entidade empregadora pública ou por pessoa por ela indicada; i) Explorar, com fins lucrativos, quaisquer cantinas, refeitórios, economatos ou outros estabelecimentos directamente relacionados com o trabalho, para fornecimento de bens ou prestação de serviços aos trabalhadores; j) Fazer cessar o contrato e readmitir o trabalhador, mesmo com o seu acordo, havendo o propósito de o prejudicar em direitos ou garantias decorrentes da antiguidade (Lei nº 59/08, p. 6538)

No que concerne ao setor privado, a Lei n.º 7/09 de 12 de fevereiro, que aprova a revisão do Código do Trabalho, alterada pela Lei n.º 47/12 de 29 de agosto, acrescenta aos deveres enunciados para o setor público, o dever de atenuar o trabalho monótono ou cadenciado em função da atividade e reforça o dever de proporcionar condições de trabalho que favoreçam a conciliação da vida laboral com a vida pessoal e familiar.

Uma vez que a satisfação no trabalho poderá ser influenciada pelas próprias condições de trabalho, importa consultar o Dec. Lei n.º 133/99 de 21 de abril, que contém os princípios que visam promover a segurança, higiene e saúde no trabalho, aplicado, salvo algumas exceções, a todos os ramos de atividade do setor público e aos trabalhadores que exercem funções públicas, e que foi inicialmente legislado pelo Dec. Lei n.º 441/91 de 14 de novembro. Segundo este último documento, as condições de segurança, higiene e saúde contribuem para a qualidade de vida no trabalho e consequentemente para o desenvolvimento da realização pessoal e profissional. É ainda salientado que “todos os trabalhadores têm direito à prestação de trabalho em condições de segurança, higiene e de protecção da saúde” (Dec. Lei n.º 441/91, p. 5827), sendo esta uma obrigatoriedade do empregador, mas tendo o trabalhador um papel ativo, nomeadamente no que se refere ao cumprimento de prescrições,

utilização segura de infraestruturas e equipamentos, cooperação na melhoria do sistema implementado e comunicação de anomalias ou defeitos detetados.

Para o setor privado ou cooperativo e social, trabalhadores por conta de outrem e trabalhadores independentes é aplicada a Lei n.º 102/09 de 10 de setembro, que regulamenta o regime jurídico da promoção e prevenção da segurança e da saúde no trabalho. Os direitos e deveres, tanto do empregador como do trabalhador, coincidem com os aplicados ao setor público.

A necessidade de avaliação permanente da satisfação dos profissionais de saúde é referida na Lei n.º 48/90 de 24 de agosto, alterada pela Lei n.º 27/02 de 8 de novembro, que sugere, a par de outros parâmetros, a importância de colher informação sobre o nível de satisfação dos profissionais de saúde.

Sendo a satisfação no trabalho influenciada por diversos fatores, alguns dos quais protegidos a nível legislativo, cabe ao trabalhador zelar pelos seus direitos, mas também cumprir os seus deveres de forma a desfrutar das melhores condições de trabalho e assegurar altos níveis de satisfação profissional.

Após abordar o termo e os conceitos relacionados com a satisfação no trabalho, analisar as correntes teórias mais proeminentes e integração da temática na área da saúde e a nível legal, o próximo capítulo retrata a natureza e atuação dos Cuidados Continuados Integrados, que surgem como um novo contexto de trabalho nos cuidados de saúde.

Capítulo II

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