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Perspetivando a Satisfação Sexual: da delimitação do conceito à síntese de evidências

3. Satisfação Sexual e respetivos modelos

A satisfação sexual é uma componente integral da saúde sexual e do bem - estar (Henderson, Lehavot, & Simoni, 2009), podendo ser considerada a última etapa do ciclo de resposta sexual (Basson, 2005); é um constructo psicológico complexo, usualmente privado, apesar do pensamento de quando se é sexualmente satisfeito ser autoevidente, com uma cada vez maior pertinência na avaliação da qualidade de vida, refletindo uma multiplicidade de competências pessoais e interpessoais (McClelland, 2010).

Os conceitos acerca da satisfação sexual têm sido diversificados, assim como a das variáveis consideradas nas suas definições, mas, na sua globalidade, todos têm em comum o fator físico e o afetivo.

Maioritariamente, a frequência das relações sexuais e o orgasmo têm sido as variáveis mais estudadas e associadas à satisfação sexual, havendo já estudos que demonstram a importância das variáveis relacionais e afetivas, assim como o prazer e as sensações sexuais (Barrientos & Páez, 2006).

Contudo, para a maior parte dos casais, a satisfação sexual é um aspeto importante do seu relacionamento, uma vez que ambos se preocupam com a qualidade das suas relações sexuais, assim como da sua própria satisfação sexual e a do(a) parceiro(a) (Byers, 1999).

Assim, alguns conceitos referem que a satisfação sexual está associada à qualidade da relação conjugal (Barrientos & Páez, 2006), como sendo um balanço favorável entre custos e recompensas dos aspetos sexuais e não sexuais do relacionamento (Sprecher, 2001), interligado com a qualidade de vida, o bem-estar, a felicidade, pelo que o declínio da satisfação sexual estará relacionado com uma maior probabilidade do divórcio (Sprecher, 2002).

Uma das conceptualizações mais amplamente aceite é o Modelo das Trocas Interpessoais da Satisfação Sexual (IEMSS - Interpessonal Exchange Model of Sexual Satisfaction) proposto por Lawrence e Byers (1995), definindo que uma relação sexual pode ser considerada uma troca interpessoal de recompensas (trocas de satisfação, como sentir prazer durante a atividade sexual) e cus tos (trocas que originam angústia, como um avanço sexual ignorado) (Byers, 1999; Lawrence & Byers, 1995).

De acordo com o IEMSS, são quatro os componentes que determinam a satisfação sexual, nomeadamente, o balanço entre as recompensas e os custos dum relacionamento sexual, a comparação das recompensas e custos reais com os níveis das suas expetativas, a perceção da igualdade das recompensas e custos sexuais entre os parceiros e a qualidade dos aspetos não sexuais da relação (Lawrence & Byers, 1995). Consequentemente, a satisfação sexual é obtida, provavelmente, aumentando, progressivamente, se as recompensas vão superando os custos, se a comparação dos níveis reais com os expectáveis é positiva, se houver uma maior igualdade entre as próprias recompensas e custos e as do(a) parceiro(a), e se a satisfação com o relacionamento for elevada (Byers & Cohen, 2017; Lawrence & Byers, 1995).

Com base em estudos prévios e na Teoria Ecológica do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner, Alison Henderson desenvolveu em 2006 o modelo

ecológico da satisfação sexual, o qual considera a importância das condições

ambientais e sociais na forma como o indivíduo interage com outros indivíduos e com o contexto no qual está inserido, permitindo a conceptualização da satisfação sexual em vários níveis referente a uma determinada variável, que vão dos fatores mais próximos do indivíduo aos mais distantes (Henderson et al., 2009).

No modelo ecológico referido, o primeiro nível é o individual, o microsistema, que analisa as diferenças individuais, as emoções, os valores e as crenças; o segundo nível é o mesositema, inclui as relações íntimas, frequentemente com um conjugue ou um parceiro; o terceiro nível é o exosistema, reflete os fatores que poderão influenciar diretamente o mesosistema, como a rede familiar e o apoio social; o quarto nível é o macrosistema, que abrange os fatores sociais e institucionais, incluindo leis, ideologias e culturas (Henderson et al., 2009).

Apoiado, em grande parte, na literatura sobre a terapêutica e o aconselhamento na área da saúde sexual, Stulhofer, Busko e Brouillard (2010) desenvolveram a conceptualização da teoria sobre a satisfação sexual de suporte para uma nova escala de avaliação da mesma, composta por três níveis, nomeadamente, o nível individual, que é referente às características e hábitos do indivíduo, o nível interpessoal, que tem em consideração as trocas emocionais, e o nível comportamental, que classifica as características das experiências sexuais.

Numa segunda etapa, os autores subdividiram os três níveis em cinco dimensões: a primeira dimensão (individual), as sensações sexuais, aborda o domínio do prazer sexual, a qualidade do toque e do sentir, qualidade da excitação sexual, frequência da excitação, qualidade do orgasmo, frequência do orgasmo; a segunda dimensão (individual), presença e consciência sexual, ou a habilidade em estar focado nas sensações sexuais e eróticas e da reação sexual do parceiro (Stulhofer et al., 2010).

A nível interpessoal, a terceira dimensão, trocas sexuais, realça a importância da reciprocidade do toque e contacto sexual, tais como receber prazer, dar prazer, disponibilidade sexual do parceiro, iniciativa sexual do parceiro, criatividade sexual do parceiro, balanço entre dar e receber; a quarta dimensão, a conexão e proximidade emocional, também associado à felicidade, refere que a intimidade e um forte vínculo emocional podem originar um interesse sexual a longo prazo, inclui aspetos como a confiança, abertura emocional, rendição emocional do parceiro, proximidade emocional no sexo e este como contributo do vínculo emocional (Stulhofer et al., 2010).

Ao nível comportamental, surge a quinta dimensão, atividade sexual, que realça a importância da variedade, frequência, intensidade, paixão e duração das experiências sexuais para a satisfação sexual de homens e mulheres (Stulhofer et al., 2010). No modelo conceptual, os autores salientaram a significância dos múltiplos domínios do comportamento sexual, valorizando a satisfação sexual como sendo uma experiência humana universal, de homens e mulheres, tendo em atenção a diversidade das medidas de avaliação da satisfação sexual.

Tendo em mente tudo o que foi referido até ao momento, torna-se relevante ir para lá dos modelos e focar os resultados que a investigação tem vindo a revelar nesta área.