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Satisfação com o trabalho, características dos actores sociais e expectativas face ao trabalho

SATISFAÇÃO COM O TRABALHO

4.3. Satisfação com o trabalho, características dos actores sociais e expectativas face ao trabalho

4.3.1. Satisfação com o trabalho e características sócio-demográficas dos inquiridos

Um dos objectivos desta pesquisa consiste em relacionar a satisfação com o trabalho por parte dos actores sociais com os principais aspectos que os caracterizam.

Quadro. 4.12

Nível global de satisfação com o trabalho e características sócio-demográficas dos inquiridos x2

Género dos inquiridos

(n = 313>

Nível global de

Muito

insatisfeito Insatisfeito

satisfação com o trabalho

Nem sa ti sf.,

nem insatisf. Satisfeito Muito satisfeito

Total Feminino % linha % coluna 36,4 17,4 9,1 1,5 54,5 3,0 100,0 3,5 Masculino % linha % coluna 0,7 100,0 6,3 82,6 21,9 98,5 63,6 97,0 7,6 100,0 100,0 96,5 Idade dos inquiridos

(n = 313) 23 ou menos % linha % coluna 2,1 50,0 4,2 8,7 20,8 14,9 62,5 15,2 10,4 21,7 100,0 15,3 De 23 a 30 anos % linha % coluna 9,9 65,2 23,8 53,7 60,3 46,0 6,0 39,1 100,0 48,2 De 30 a 45 anos % linha % coluna 1,4 50,0 6,8 21,7 18,9 20,9 63,5 23,7 9,5 30,4 100,0 23,6 45 ou mais anos % linha % coluna 2,5 4,3 17,5 10,4 75,0 15,2 5,0 8,7 100,0 12,8 Grau de instrução (n : 308) Ensino primário % linha % coluna 5,9 1,5 88,2 7,7 5,9 4,3 100,0 5,5 Ensino básico (1°e2°cliclo) % linha % coluna 8,3 9,1 20,8 7,6 66,7 8,2 4,2 4,3 100,0 7,8 Ensino Secund. unif % linha % coluna 2,8 9,1 15,3 16,7 72,2 26,7 9,7 30,4 100,0 23,4 bnsino Sec. compl % linha % coluna 1,3 50,0 10,3 36,4 20,5 24,2 64,1 25,6 3,8 13,0 100,0 25,3 12° ano completo % linha % coluna 5,8 22,7 26,7 34,8 54,7 24,1 12,8 47,8 100,0 27,9 Ensino Médio / % linha

Superior % coluna 3,2 50,0 16,1 22,7 32,3 15,2 48,4 7,7 100,0 10,1 0,572 0,049 108

Em termos sócio-demográficos, e no que se refere ao género, verificamos que tanto os inquiridos do género feminino como masculino se sentem, na sua maioria, satisfeitos com o seu trabalho, no entanto e curiosamente, nenhuma mulher se considerou "muito satisfeita", enquanto 7,6% dos trabalhadores do género masculino expressaram esta opinião. Todavia, a percentagem de trabalhadoras que se consideram "insatisfeitas" com o trabalho é bastante superior à dos homens. Procuramos, também, aferir qual o nível de satisfação e a importância atribuída a cada um dos "factores de satisfação", tendo em consideração esta variável. Para tal, realizamos um teste Mann-Whithey e comparamos a média das respostas dadas.

Quadro 4.13

Teste Mann-Whitney U - Género dos inquiridos Satisf. com Factores pessoais Satisf. com Factores situacionais Satisf. com Factores de interacção social llmport. dos factores pessoais import dos factores situacionais Import, dos factores de Interacção Social

Asymp. Sig, (2-tailed) 0,071 0,547 0,665 0,059 0,007 0,000

Analisando os resultados do teste, podemos destacar significância a nível da importância atribuída aos factores de interacção social, situacionais e pessoais, mas também no que se refere à satisfação com os factores pessoais.

Quadro .4.14

C o m p a r a ç ã o d e m é d i a s - G é n e r o d o s inquiridos

Género

Feminino Masculino Total Import, dos factores

Pessoais 4,482 4,239 4,248 Import, dos factores

Situacionais 4,537 4,138 4,152 Import, dos factores de

Interacção Social 4,716 4,174 4,192 Satisf. com Factores

Pessoais 3,400 3,603 3,596 Satisf. com Factores

Situacionais 3,472 3,539 3,537 Satisf. com Factores

de interacção social 3,784 3,819 3,818

A comparação da média das respostas, permite-nos concluir que as mulheres tendem a atribuir maior importância que os homens a todos os factores de satisfação, principalmente aos factores de interacção social, ou seja, valorizam mais a interacção com outras pessoas no

contexto de trabalho, nomeadamente o bom relacionamento com colegas, a entre-ajuda e o reconhecimento. Os trabalhadores não dão tanta importância a esta vertente do trabalho, talvez porque estão mais direccionados para outros aspectos, de pendor mais materialista, pelo que os relacionamentos e as sociabilidades em contexto de trabalho não assumem uma importância muito preponderante, uma vez que os aspectos instrumentais do trabalho se sobrepõem aos relacionais. De facto, a satisfação com os factores pessoais também permite estabelecer uma distinção entre homens e mulheres, desta vez destacando-se os homens, mais satisfeitos com este tipo de factores que as mulheres, logo, parecem estar mais satisfeitos com os aspectos de carácter extrínseco que o género oposto. Tal poderá dever-se ao facto de, apesar das evoluções sentidas na sociedade portuguesa, ainda prevalecer em contextos de trabalho a pratica de atribuição de melhores condições ao género masculino, nomeadamente a nível salarial.

A nossa primeira hipótese remete para a relação entre a satisfação com o trabalho e a idade dos trabalhadores, avançamos que "o nível global de satisfação dos indivíduos com o trabalho tende a aumentar com a idade. Em termos de satisfação parcial, este aumento de satisfação é visível nos três tipos de «factores de satisfação» considerados".

Esta hipótese tinha como pilar fundamental o facto de, na maior parte das vezes, os trabalhadores mais novos, muitas vezes em início de carreira, terem trabalhos com condições menos atractivas (a nível salarial, de segurança do emprego, entre outros aspectos), nem sempre estarem preparados (ou habituados) a lidar com a autoridade, por vezes imposta no mundo do trabalho, mas principalmente porque têm mais expectativas às quais as empresas nem sempre podem dar resposta. Foram essencialmente estes factores que nos levaram a pensar que os mais novos se poderiam sentir mais insatisfeitos com o trabalho.

No entanto, constatamos que o escalão etário cujos inquiridos apresentam uma maior representação de "muito satisfeitos" é o dos 23 anos ou menos e o que apresenta maior peso de "satisfeitos" é o dos mais velhos. No que se refere aos trabalhadores que se consideram "insatisfeitos", os níveis etários com maior peso de trabalhadores a expressarem esta opinião vai dos 23 aos 45 anos. Podemos, pois, concluir que os escalões etários com níveis de satisfação menos elevados são os intermédios, pelo que a hipótese avançada, de que o nível de satisfação global dos trabalhadores tende a aumentar com a idade não é totalmente verdadeira, uma vez que, apesar de encontrarmos os níveis de satisfação mais elevados entre os mais velhos, o escalão etário mais baixo também apresenta níveis de satisfação bastante positivos.

Quadro 4.15

Correlação entre o nível global de satisfação com o trabalho e idade dos inquiridos

Idade

Nível global de satisfação Correlation Coefficient ,046 com o trabalho Sig. (2-tailed) ,414

M | 313

Spearman's rho

Acresce que, a análise dos coeficientes de correlação entre o nível global de satisfação com o trabalho e a idade, leva-nos a concluir que esta não é significativa (p=0,414), ou seja, a idade não tem impacto no nível global de satisfação dos indivíduos, pelo que validar a nossa hipótese de aumento dos níveis de satisfação com o aumento da idade, não teria o apoio empírico desejado. Se observarmos o teste *2 apresentado no quadro 4.12, encontramos uma significância de 0,572, o que reforça a ideia de que não podemos tirar conclusões empiricamente fundamentadas relativamente à relação entre o nível global de satisfação e a idade dos inquiridos.

Parece-nos, pois, que podemos concluir, tal como Paul Spector107, que poderá existir uma

relação entre a idade e a satisfação com o trabalho, no entanto, a natureza exacta desta relação não é clara, apesar deste autor também referir, tal como fizemos no modelo de análise desta pesquisa, uma certa inclinação para o nível de satisfação tender a aumentar com a idade.

Consideramos que a tendência para uma maior insatisfação dos grupos etários intermédios, poderá ser explicada pelo facto de já não terem o entusiasmo da entrada no mercado de trabalho e todas as expectativas com ele relacionadas, presente nos mais novos, nem a segurança e condições de trabalho mais sólidas, presente nos mais velhos, podendo ter sido muitas vezes confrontados com falta de resposta às suas ambições a nível profissional.

Estabelecemos, também, a relação entre a importância atribuída e a satisfação sentida com os três tipos de factores de satisfação considerados (pessoais, situacionais e de interacção social) e a idade dos inquiridos. Pelos resultados do teste Kruskal Wallis, podemos destacar significância a nível da satisfação com os factores pessoais e da importância atribuída aos mesmos, ou seja, a idade apenas exerce influência significativa nestas duas variáveis.

Paul E. Spector - Job satisfaction - application, assessment, cause and consequence. USA: Sage Publications, 1997

Quadro 4.16

Teste Kruskal Wallis - Idade dos inquiridos

Satisf. com Satisf. com Satisf. com Import, dos Import, dos Import, dos Factores Factores Factores de

Interacção factores factores

factores de Interacção Pessoais Situacionais social Pessoais Situacionais Social Asymp. Sig. (2- 0,038 0,109 0,613 0,055 0,300 0,888

Comparando a média das respostas dos inquiridos, os mais novos destacam-se na satisfação com os factores pessoais, seguindo-se os mais velhos, ou seja, para além de serem os homens os mais satisfeitos com este tipo de factores, são também, os mais velhos e os mais novos e não os níveis etários intermédios.

Os mais velhos destacam-se pela fraca importância atribuída aos factores pessoais, ou seja, apesar de satisfeitos com estes aspectos, não lhe dão muita importância, pelo que, o contributo deste tipo de factores para o seu nível global de satisfação poderá ser pouco acentuado. Esta satisfação e pouca preocupação com os factores pessoais poderá decorrer do facto de já terem asseguradas na sua vida algumas necessidades ou projectos pessoais (comprar uma casa, um carro, etc.) pelos quais os mais novos ainda lutam, atribuindo menos importância às condições que lhes permitirão alcançar esses objectivos. Ou seja, a menor importância atribuída não se deve apenas a já terem a sua satisfação (praticamente) assegurada, mas também à menor necessidade de verem garantidos estes aspectos comparativamente com os mais novos.

Esta tendência também poderá encontrar justificação na evolução recente do mercado de trabalho, pautado pela introdução de novas formas contratuais e na dificuldade de acesso a um emprego (principalmente a um emprego atractivo) para os jovens, conduzindo-os a valorizar aspectos de carácter mais básico do trabalho, como o salário e a estabilidade contratual, deixando para segundo plano o conteúdo e características das funções que executam.

Quadro 4.17

Comparação de médias - Idade dos inquiridos

Idade dos Inquiridos

23 ou De 23 a 30 De 30 a 45 ou

menos anos 45 anos mais anos Total

Satisf. com Factores

Pessoais 3,740 3,561 3,525 3,689 3,596

Satisf. com Factores

Situacionais 3,516 3,489 3,554 3,707 3,537

Satisf. com Factores

de Interacção social 3,847 3,790 3,821 3,881 3,818

Import, dos factores

Pessoais 4,286 4,326 4,261 3,886 4,248

Import, dos factores

Situacionais 4,078 4,216 4,254 3,813 4,152

Import, dos factores de

Interacção Social 4,168 4,250 4,249 3,903 4,192

Realizando uma análise mais pormenorizada, que vai além de cada factor de satisfação, pois analisa cada um dos indicadores que deles fazem parte, constatamos, pela análise do Quadro A.2 em anexo, que, no que se refere à importância atribuída a cada um deles, tendo em consideração a idade, apenas existem correlações significativas com a remuneração, o estatuto social decorrente do trabalho e as condições físicas de trabalho, cuja importância atribuída tende a diminuir com a idade, mas também com a criatividade do trabalho, cuja satisfação atribuída tende a aumentar. Relativamente à relação da idade com a satisfação com cada um dos 29 indicadores, encontramos correlações significativas com a criatividade do trabalho, estabilidade contratual, participação na tomada de decisões, reconhecimento por parte dos superiores hierárquicos, oportunidade de ajudar os outros no trabalho, variedade do trabalho e oportunidades de usar habilidades e aplicar conhecimentos. Relativamente a todos eles, a satisfação dos inquiridos tende a aumentar com a idade. De salientar que o aspecto mais importante para os mais velhos - a criatividade do trabalho - também se correlaciona significativamente com o nível global de satisfação com o trabalho. Sendo a grande maioria destes factores de carácter situacional e de interacção social, podemos concluir que estes se sentem mais realizados em muitos aspectos de carácter mais intrínsecos e de relacionamento com os outros em contexto de trabalho, que os mais novos. Tal poderá dever-se à necessidade de verem assegurada a sua auto-realização e reconhecimento em contexto de trabalho, que consideram merecer até pela própria idade e anos de trabalho na empresa.

Parece-nos que neste contexto organizacional, não encontramos resposta a uma tendência actualmente defendida de que os jovens estarão numa posição privilegiada para a defesa de valores pós-materialistas e para a emergência de novos valores (mais expressivos). Os jovens da Continental Mabor ainda atribuem muita importância aos aspectos materiais e básicas do trabalho. De facto, a importância atribuída à remuneração tende a diminuir com a idade. São os mais novos que maior relevância atribuem a este aspecto, assim como às condições físicas de trabalho e ao estatuto social decorrente do mesmo, ou seja, maioritariamente aspectos pertencentes aos factores pessoais. Os mais velhos tendem a atribuir maior importância à criatividade, um indicador que classificamos como fazendo parte dos factores situacionais.

Estes resultados conduzem-nos, uma vez mais, a concluir que não existe na empresa uma tendência para a população mais jovem, potencialmente mais pautada por valores pós- materialistas, ser mais sensível a dimensões que se relacionam com o perfil da função e condições de trabalho. Parecem sim, mais atentos a aspectos extrínsecos do trabalho que os mais velhos, talvez não pelos factores em si, mas pela possibilidade que lhes abrem de realizar projectos associados ao início da vida adulta (comprar carro, casa, demonstrações de status).

No que diz respeito à hipótese relacionada com o grau de instrução dos indivíduos, avançamos que "o nível global de satisfação com o trabalho tende a ser maior entre os indivíduos mais escolarizados, principalmente a satisfação com os factores pessoais". Partimos do princípio que os trabalhadores menos qualificados, porque têm, geralmente, empregos de pior qualidade, tanto a nível de remuneração e segurança, como formação e possibilidades de evolução na carreira, teriam tendência a expressar um nível de satisfação com o trabalho mais baixo que os restantes e que trabalhadores com níveis de educação superiores, que, geralmente, têm trabalhos com maior autonomia, um lugar mais elevado na hierarquia e um salário superior, tenderiam a estar mais satisfeitos com o seu trabalho. Consideramos também que estes apresentariam uma maior satisfação com os factores pessoais, pois dado a sua posição na empresa e todos os benefícios a ela associados, os veriam mais facilmente assegurados. Apesar de considerarmos que os trabalhadores mais escolarizados atribuírem muita importância aos factores situacionais, sabemos que estes são mais difíceis de satisfazer, causam maiores expectativas e conduzem a não sentir o nível de satisfação desejado com estes aspectos de carácter mais intrínseco do trabalho.

Relativamente ao grau de instrução, o teste N2 (Quadro 4.12) aponta para uma significância de 0,049, logo existe uma relação entre as duas variáveis, ou seja, o grau de instrução dos inquiridos tem influência sobre o seu nível global de satisfação com o trabalho.

Verificamos que o grupo que apresenta maior peso de "muito satisfeitos" é o dos indivíduos com o 12° ano completo, seguindo-se os que têm o ensino secundário unificado. Acresce que nenhum trabalhador com o ensino médio/superior se considera "muito satisfeito" com o trabalho e que o peso dos trabalhadores "satisfeitos" tende a diminuir com o aumento do grau de instrução. Os trabalhadores mais escolarizados (ensino médio/superior) são precisamente os que têm maior representação no que se refere à resposta "muito insatisfeito" e "insatisfeito". Dos resultados decorre que os trabalhadores mais escolarizados são os que apresentam níveis de satisfação mais baixos e os menos escolarizados os níveis mais altos, o que nos conduz a refutar a hipótese teórica de que o nível global de satisfação dos trabalhadores tende a aumentar à medida que avançamos para indivíduos com níveis de instrução mais elevados. Há pois, uma tendência na empresa para, à medida que aumenta o grau de instrução, diminuir o nível de satisfação com o trabalho, não existindo uma relação positiva, mas sim negativa, entre as duas variáveis consideradas. De referir que esta também foi a tendência encontrada no Estudo de Satisfação realizado junto de todos os trabalhadores da empresa em 2003, o que acentua ainda mais esta realidade. Parece-nos que a educação não representa, pelo menos tanto como consideramos, uma certeza de melhor status, de mais poder, de melhores condições de trabalho, nem tão pouco assegura um trabalho capaz de proporcionar em si desafios ou oportunidades de actuação criativa ou de auto-expressão.

Esta realidade, acrescida da existência de maiores expectativas por parte dos mais escolarizados relativamente ao trabalho, desenvolvimento profissional e carreira, pode conduzir a esta relação entre grau de instrução e satisfação com o trabalho. Acresce que, devido a estas expectativas serem marcadamente de realização pessoal através do trabalho e conteúdo das funções que executam, a resposta obtida não é tão facilmente a desejada, dado que está muito dependente de factores externos à vontade do actor social dependendo, por exemplo, da estrutura e política da empresa e da própria organização do processo produtivo.

A explicação para estes resultados poderá, ainda, passar pelo facto de os trabalhadores menos escolarizados verem mais facilmente satisfeitos os aspectos que mais valorizam relativamente ao trabalho (factores pessoais), decorrente, nomeadamente, dos bons níveis salariais praticados junto dos operadores desta empresa, principalmente quando comparados com os das indústrias vizinhas (na sua maioria têxteis), enquanto os mais escolarizados (tendencialmente técnicos, administrativos e quadros superiores), para além de não auferirem salários muito acima dos praticados no mercado de trabalho, não vêm muitas vezes satisfeitos os aspectos relativamente aos quais atribuem maior importância (factores situacionais).

Quadro 4.18

Nível global de satisfação com o trabalho e o grau de instrução dos inquiridos (correlação) Grau de

instrução do próprio

Nível global de satisfação Correlation Coefficient -,168**

com o trabalho Sig. (2-tailed) ,003

N 308

'correlation insignificant at the .01 level (2-tailed).

Serve para reforçar esta conclusão o facto de a correlação entre o nível global de satisfação com o trabalho e o grau de instrução dos inquiridos ser significativa (p=0,003) e a relação entre estas duas variáveis assumir um sentido negativo, ou seja, confirma-se a tendência para o nível global de satisfação diminuir à medida que avançamos para níveis de instrução mais elevados.

Ainda no que se refere ao nível de instrução, através do teste Kruskal Wallis, verificamos que as variáveis com significância quando relacionadas com esta característica dos inquiridos são a satisfação com os factores pessoais e com os factores situacionais.

Quadro 4.19

Teste Kruskal Wallis - Nível de instrução dos inquiridos

Satisf. com Satisf. com Satisf. com Import, dos Import, dos Import, dos Factores Factores de factores factores de Factores Pessoais Situacionais Interacção social factores Pessoais Situacionais Interacção Social

Asymp. Sig. (2- o 010 0,045 0,203 0,125 0,368 0,325

Comparando a média de respostas relativamente a estes factores, constatamos que os trabalhadores com o ensino secundário unificado e com o ensino primário tendem a estar mais satisfeitos com os factores pessoais e com os factores situacionais que os restantes. No entanto, apesar de não ser significativa, também existe uma tendência para a importância com os factores situacionais e de interacção social ser superior entre os mais escolarizados, o que poderá ir a par com as explicações anteriormente avançadas relativamente à relação entre o grau de instrução e o nível global de satisfação com o trabalho.

Quadro 4.20

Comparação de Médias - Nível de Instrução dos Inquiridos

Nível de Instrução dos Inquiridos

Ensino Ens. básico (1o e Ens. sec. unificado Ens.sec.comple.(1 12" ano completo Ens. Médio/ Total

primário 2° ciclo) (9°ano) 0" e 11" ano) Superior

Import, dos factores

pessoais 3,541 4,246 4,310 4,231 4,289 4,394 4,243

Import, dos factores

situacionais 3,640 3,973 4,213 4,116 4,180 4,422 4,149

Import, dos factores

de interacção social 3,674 4,005 4,267 4,165 4,211 4,431 4,187

Satisfação com factores

pessoais 3,702 3,459 3,736 3,521 3,628 3,437 3,598 Satisfação com factores

situacionais 3,695 3,530 3,640 3,442 3,553 3,414 3,538 Satisfação com factores

de interacção social 3,978 3,755 3,852 3,762 3,837 3,778 3,817

Em termos dos indicadores consideradas, apenas existe correlação significativa com o grau de instrução, mas de sentido negativo. Os mais instruídos são os menos satisfeitos com a carreira profissional, a criatividade do trabalho, a participação na tomada de decisões, o reconhecimento por parte dos superiores hierárquicos, o estatuto social decorrente do trabalho e a organização e funcionamento do departamento e da empresa. Confirma-se, uma vez mais, que a maior parte dos indicadores são de carácter situacional e de interacção social, sentindo-se os mais instruídos menos satisfeitos com estes aspectos, talvez por lhes atribuírem maior importância, serem mais exigentes e terem expectativas superiores relativamente aos mesmos. Na realidade, as empresas não têm, muitas vezes, capacidade para dar resposta ao crescente número de pessoas com formação superior. Muitas vezes a sua estrutura e organização não se adequa a esta realidade, criando frustração a nível profissional, principalmente nos jovens licenciados que chegam ao mercado de trabalho com expectativas de desenvolvimento e enriquecimento pessoal através da função que vão realizar e deparam-se com trabalhos pobres em conteúdo, com poucas oportunidades de aprendizagem e aplicação de conhecimentos e sem perspectivas de evolução.

De facto, os nossos resultados confirmam que são os mais instruídos que maior relevância atribuem à carreira, ao respeito por parte das pessoas com que trabalham, à participação na tomada de decisões, ao reconhecimento por parte dos superiores hierárquicos, à variedade do trabalho e à oportunidade de aplicar habilidades e conhecimentos. Apesar de menos satisfeitos com o seu trabalho, tendem a atribuir grande importância a estes aspectos, confirmando a crescente preponderância de valorização de valores pós-materialistas entre os mais instruídos. Na verdade, quanto mais elevado o nível da instrução mais as preocupações dos trabalhadores

se afastam de questões materialistas para se aproximarem de valores mais expressivos associados ao trabalho. A possibilidade de realização pessoal através do trabalho ganha peso e, quando bem aproveitada, poderá permitir potenciar o empenho colocado no trabalho.

A Continental Mabor segue, em parte, a tendência constatada por Genoveva Borges e Leonor Pires108, para o prestígio no emprego, a segurança e a estabilidade serem valorizados por

indivíduos com níveis de instrução mais baixos, porque mais vulneráveis às crises do mercado