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Secção típica do aterro do sistema viário retirada do projeto

locação do eixo do sistema viário e, consequentemente, o muro de arrimo e as rampas se projetaram 8 m sobre a água, aproximadamente. Como resultado do avanço no posicionamento do muro, duas das rampas de acesso à praia (Nova Rampa e a Rampa 1) apresentaram uma proximidade indesejada com relação à ação da maré, o que comprometeu a funcionalidade e estabilidade da estrutura (Figura 42).

Segundo Cativo (2009), a estrutura projetada não previa trabalhar com a ação direta da água e, após constatada a irreversibilidade do posicionamento, foi sugerida a solução de enchimento de pedras dentro do corpo da rampa para garantir sua estabilidade. Por questões de economia, a solução não foi executada; e no ponto de encontro entre a rampa e o muro, a ação da água provocou o solapamento da areia sob o paramento e o consequente afundamento da estrutura. É importante ressaltar que o problema de desmoronamento ocorreu na Rampa 1, embora tenham sido

constatadas, atualmente, problemas de perda de sedimentos na base da Nova Rampa e da Rampa 1, as duas estruturas mais próximas da linha de maré alta e que sofrem mais com a ação da energia das ondas.

Figura 42 – Vista geral do projeto. Sistema viário e muro de contenção paralelos à linha dos lotes. Posicionamento das Rampas 1, 2 e da Nova Rampa, construída posteriormente. Marudá, julho de 2006.

Figura 43 – Foto a partir da Rampa 1 no sentido oeste. A linha de preamar não afeta da mesma forma a Rampa 2. Marudá, julho de 2004.

Figura 44 - Foto a partir da Rampa 1 no sentido leste. Ao fundo a Nova Rampa também sofrendo com a ação da água. Marudá, julho de 2004.

Figura 45 – Calçada afetada pelo colapso do

paramento. Marudá, julho de 2004. Figura 46 – Rampa 1 destruída. Acúmulo de água denunciando o solapamento em sua base. Marudá, julho de 2004.

Figura 47 – Tentativa de contenção do solapamento na base das rampas com pedras. Marudá, julho de 2004

Figura 48 – Areia ainda no limite da fundação. Marudá, julho de 2004.

Figura 49 - Solução de enchimento de pedras no

Atualmente é importante observar o perfil longitudinal da praia de Marudá. Na porção oeste, nos pontos próximos à Nova Rampa e à Rampa 1, a praia apresenta maiores tendências à perda de sedimento. Nesses pontos, a areia sob as bases das duas rampas estão sendo retiradas deixando suas fundações aparentes (Figura 51), enquanto a porção mais à leste apresenta tendências de deposição de sedimentos devido, principalmente, à atividade eólica. A Rampa 2 está sendo aos poucos, coberta pela areia (Figura 52).

Figura 51 – Rampa 1 apresentando solapamento e acentuado desnível próximo a sua base. Marudá, maio de 2009.

Figura 52 – Deposição de sedimentos à base da Rampa 2 devido à ação eólica. Marudá, maio de 2009.

Devido à perda de sedimento, as fundações do muro já estão aparentes, principalmente nas rampas, apresentando algumas rachaduras e vãos sob o paramento. Esse tipo de patologia pode significar futuros problemas para a estrutura. Foram colocadas pedras na base do muro, longitudinalmente, com o objetivo de dissipar a energia e conter os efeitos nocivos das ondas (Figuras 53 e 54).

Figura 53 – Base da Rampa 1, apresentando solapamento em sua base com suas fundações aparentes. Aparecimento de vãos na estrutura. Marudá, maio de 2009.

Figura 54 – Tentativa de contenção do solapamento da base do muro com pedras. Marudá, maio de 2009.

No caso de Marudá, os lotes e edificações já estavam consolidados sobre a berma praial. Se se analisasse apenas o aspecto técnico, relacionado à manutenção do perfil praial, o ideal seria a remoção dessas edificações de cima do perfil. Porém isso não foi considerado, sobretudo devido aos valores a serem pagos aos moradores em indenizações.

Sendo assim, o Estado decidiu manter as edificações no local consolidado, e construir o sistema viário e o muro entre os lotes e a linha de preamar como forma de conter o avanço da ocupação sobre a água e reprimir novas ocupações na praia. Porém, isso significa edificar ainda mais sobre o perfil da praia, o que tecnicamente não é recomendável. Contudo, na prática, é a solução mais viável para atingir os objetivos estabelecidos e conter a degradação do local.

Portanto, o posicionamento do muro em Marudá, e em grande parte dos casos, fica entre o espaço necessário para o sistema viário (vias, calçadas, equipamentos, etc.) e a linha de preamar.

Figura 55 – Situação antes da intervenção, em

Marudá, novembro de 2003. Figura 56 – Situação após a intervenção em Marudá. Dia da inauguração em julho de 2004.

Figura 57 – Vista geral do paramento, em Marudá, julho 2004.

Figura 58 – Detalhe do muro, em Marudá, julho de 2004.

Figura 59 – Rampa de acesso. Ausência do empedramento, em Marudá, julho de 2004.

Figura 60 – Secção trapezoidal do paramento, em Marudá, junho de 2004.

Figura 61 – Situação atual da base da Nova Rampa. Deposição de lixo e solapamento da areia sob a rampa. Acentuado desnível. Marudá, abril de 2009.

Figura 62 – Perfil do sistema viário. Lotes e edificações à esquerda. Marudá, julho de 2004.

Na situação descrita acima, ficou claro que o posicionamento do muro de contenção não depende apenas de questões técnicas, mas de questões sociais, econômicas e, sobretudo, políticas. Por isso, a seguir, abordaremos os princípios de limites de proteção costeira, ou seja, afastamentos pré-determinados para construções de obras em orlas, com objetivo de proteger as edificações e principalmente proteger o ambiente praial. Esse tipo de cuidado pode evitar, de forma efetiva, problemas com erosão e inundações, resguardar as edificações e atividades sociais e econômicas resultantes das ações antrópicas, além de proteger o perfil praial e o ambiente costeiro das mudanças nocivas que a proximidade com as obras pode ocasionar.

5.7 O PROCESSO EROSIVO E O ESTABELECIMENTO DE LIMITES DE PROTEÇÃO DA ORLA

A dinâmica da faixa costeira está submetida tanto a processos naturais como antrópicos, que potencializam os efeitos da erosão. Limites de proteção ou mesmo a proibição do uso de partes dessas áreas estão sendo estabelecidos como forma de manter as características paisagísticas e prevenir as perdas materiais por meio da erosão costeira. As perdas de sedimento podem ter variados motivos, entre eles: exaustão das fontes supridoras, retenção de sedimentos por obras de engenharia,

readaptação do perfil de equilíbrio a uma elevação do nível do mar ou a uma modificação do clima de ondas (MUEHE, 2004).

Segundo Muehe (2004), pode-se estabelecer limites do perfil ativo da orla, levando em conta alguns critérios, entre eles, os hidrodinâmicos e os morfodinâmicos. Os critérios hidrodinâmicos tratam da exposição ou não da praia às ondas de tempestade. Ou seja, as praias são abrigadas quando estão protegidas da ação direta das ondas e não abrigadas quando estão expostas a esta ação. Quanto aos critérios morfodinâmicos, estes são caracterizados pela variabilidade topográfica do fundo marinho associada ao movimento de ondas.

Limites legais também foram estabelecidos para fins de gerenciamento, e representam um passo importante para controlar e, por vezes, restringir os usos nocivos em áreas de orlas, especialmente as praias (MUEHE, 2004).

O limite de 33 m a partir da linha de preamar de 1831, estabelecido pelo

Decreto-lei n. 9.760/46, além de difícil delimitação, com frequência não ultrapassa os limites da berma de praias mais largas. Muehe (2004) cita o exemplo:

Se tomarmos como exemplo uma praia dissipativa, sujeita a ondas de tempestade com altura na arrebentação frequentemente superior a 3 m, veremos que a adoção de um limite, por exemplo, de 100 m, medido a partir da posição do nível de baixa do mar, ultrapassaria apenas ligeiramente a crista das dunas frontais. Não representaria, por conseguinte, segurança contra eventos associados a mudanças globais, como elevação do nível do mar e intensificação das tempestades. Em vista desse exemplo, seria razoável o estabelecimento de um limite de 200 m, ou mesmo superior. Entretanto, 200 m poderia ser um limite excessivo para a região Nordeste e Norte, considerando o clima de ondas menos agressivo que o do Sul e Sudeste (MUEHE, p. 24).

A elevação do nível do mar ao longo do tempo também deve ser considerada na definição dos limites terrestres, uma vez que o derretimento das calotas polares provoca o aumento do volume nos corpos hídricos.

Portanto, para a definição dos limites terrestres deverão ser considerados dois aspectos: o alcance do processo morfodinâmico atual e o efeito da elevação do nível do mar.

No primeiro caso, o limite dinâmico da parte emersa será o do alcance máximo do processo deposicional de sedimentos provenientes da praia. Portanto, será a porção mais interiorizada da berma mais elevada ou, no caso de cordões

litorâneos7 submetidos à transposição por ondas (overwash), o limite do reverso desse cordão. No caso onde predomina o transporte eólico, o limite será a base do flanco reverso do campo de dunas frontais (MUEHE, 2004).

Quanto à hipótese de aumento do nível do mar, define-se o limite adotando a situação mais pessimista segundo o Intergovernmental Panel of Climate Change (IPCC), que considera a elevação em 1 metro até o ano de 2100; “devendo a faixa de absorção desse impacto ser estabelecida no sentido de evitar perda de propriedades” (MUEHE, 2004, p. 16).

Os efeitos de uma elevação do nível do mar sobre diferentes tipologias costeiras também estão apresentados no Desenho 11.

Desenho 11 - Resposta geomorfológica de diferentes tipos de costa a uma elevação do nível do mar

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