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3- SÃO PAULO: SELJ, POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E ESPORTE

3.2 Secretaria de Esporte Lazer e Juventude

A constituição de uma pasta que tratasse dos assuntos relacionados ao esporte no Estado de São Paulo data de 1967. Criada pelo decreto nº 49.165, a então Secretaria de Turismo foi ampliada e recebeu a denominação de Secretaria da Cultura, Esportes e Turismo. Posteriormente, em 1975, foi desmembrada em Secretaria da Cultura Ciência e Tecnologia e Secretaria de Esportes e Turismo. Após sucessivas mudanças no cenário recente, mais

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precisamente no inicio do atual governo (2011), ela recebe a denominação de Secretaria de Esporte Lazer e Juventude.

Como o próprio nome diz é a Secretaria que cuida dos assuntos estaduais referentes ao esporte, ao lazer41e às ações governamentais concernentes à juventude42. Sua composição no período que compreende esta pesquisa passou por reformulações, a partir da mudança de gestão entre 2010 e 2011. Na gestão que compreende os anos de 2007-2010 a pasta era integrada pela composição das Coordenadorias de Esporte e Lazer e pela Coordenadoria de Turismo, concedendo a nominação de Secretaria de Esporte Lazer e Turismo (SELT). Na transição para o governo atual (2011-2014) que a pasta deixou de agregar a Coordenadoria do Turismo e passou a compor a Coordenadoria de Programas para a Juventude.

O financiamento correspondente à alteração das pastas pode ser observado a seguir:

TABELA 02- Receitas anuais da SELT e SELJ em reais (2009 a 2014)

Receita Prevista para SELT/SELJ Valores da exclusivos43 para o Turismo Valores da exclusivos43 para a Juventude

Valor total descontados os valores das coordenadorias de Turismo e Juventude 2009 126.702.807 11.163.891 - 115.538.916 2010 132.990.725 13.149.734 - 119.840.991 2011 179.583.567 12.740.030 - 166.843.537 2012 183.060.087 - 1.086.000 181.974.087 2013 174.250.659 - 4.672.000 169.598.659 2014 185.307.778 - 3.272.000 182.035.778

Fonte: Leis de diretrizes Orçamentárias para exercícios de 2009 a 2013 e Projeto de Lei Orçamentária Anual para exercício

de 2014.

41 O lazer, assim como em muitas outras pastas públicas dessa natureza é desdobrado a partir de ações, quase que exclusivamente, de cunho esportivo.

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A parte que tange à Juventude é representada pela Coordenadoria de Programas para Juventude que fez, desde sua criação até 2006, “parte da Secretaria da Juventude, Esportes e Lazer. Constituía uma instância realizadora de ações voltadas diretamente à população jovem, e tinha como público alvo pessoas entre 15 e 24 anos de idade. No governo passado (2007 – 2010) ocorreu uma transferência da Coordenadoria de Programas para a Juventude da pasta do Esporte para a pasta de Relações Institucionais, também com a expansão da faixa etária para 15 a 29 anos de idade. Agora, na gestão do atual Governo (2011 – 2014), a Coordenadoria da Juventude integra a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo e tem o objetivo de promover as mais diversas políticas públicas, atendendo as especificidades desse público específico, tanto nas suas características e potencialidades como nas suas necessidades” (SÃO PAULO, 2013c, s/p.).

43 Esses valores correspondem aos encargos direcionados a programas de responsabilidade das respectivas Coordenadoria de Turismo e Coordenadoria de Programas para Juventude. O que não quer dizer que entre os programas de tais coordenadorias fossem apartadas práticas esportivas e/ou de lazer, e também que o contrário não ocorresse.

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Os dados apresentados mostram que a priori, a modificação das pastas não representou um déficit para a Secretaria, nem mesmo para as dotações restantes, excluídos os valores destinados exclusivamente às coordenadorias de Turismo e de Programas para a Juventude. Atualmente a Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude apresenta o seguinte organograma:

Figura 1- Organograma da Secretaria de Esporte Lazer e Juventude

Fonte: SECRETARIA DE ESPORTE, LAZER E JUVENTUDE (2013b)

A SELJ possui, determinadas pelo atual PPA (SÃO PAULO, 2011), as atribuições de coordenação e implementação das políticas de esporte, lazer e juventude; formulação e proposição de políticas e diretrizes ao governo do estado, referentes às três áreas de atuação (esporte , lazer e juventude); elaboração e execução direta ou indireta de programas e projetos para as referidas áreas, por meio de parcerias com entidades públicas e privadas.

Secretaria de

Esporte, Lazer e

Juventude

Órgãos Colegiados

(Conselho Estadual de Desportos e Conselho Estadual de Juventude)

Secretária

Adjunta

Gabinete do Secretário

Coordenadoria de Esporte e Lazer Coordenadoria de Programas para Juventude Divisão de Esportes Divisão de Lazer

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A Secretaria é uma secretaria pequena, mas com grande ramificação no estado, em todos os municípios né. Ela tem 14 delegacias de esporte, 52 inspetorias nas principais cidades do estado (G4)44.

No intuito de aprofundar as atribuições designadas à SELJ e os objetivos constitutivos deste trabalho faço abaixo um descritivo das principais ações da SELJ direcionadas especificamente ao esporte.

Centros de Excelência Esportiva

É um programa que estabelece a seleção de atletas de 14 a 22 anos para que possam inserir-se em centros específicos de treinamento para o alto rendimento, custeados e mantidos pelo governo estadual. Garante também aos atletas selecionados atendimento fisioterápico, odontológico e psicológico, além de ajuda de custo com transportes e alojamento aos atletas de outras cidades, onde não existam Centros de Excelência.

Com a parceria das respectivas federações, na capital está alocado o Centro de Treinamento Base, nas modalidades: voleibol, basquetebol, futebol e tênis, onde 540 jovens são atendidos. Também na capital está um Núcleo de Atletismo e um de Judô. Em cidades do interior estão contemplados núcleos nas modalidades de atletismo, judô, ciclismo e voleibol. Ao total são destinadas 1450 vagas aos atletas destaque nas distintas competições promovidas pela SELJ e também por seletivas anuais.

Jogos Regionais, Jogos Abertos do Interior, e Jogos Regionais e Abertos do Idoso

Fazem parte das ações da SELJ os campeonatos esportivos em nível estadual, como os Jogos Regionais, Abertos e os Jogos Regionais e Abertos do idoso. Para a sua realização, o estado é dividido em oito regiões e todos os jogos respeitam essa mesma divisão.

Os Jogos Regionais são realizados anualmente em parceria com os municípios durante cerca de duas semanas no mês de julho. São disputadas 22 modalidades, com a participação de cerca de 90 mil atletas, entre as cidades em cada uma das oito regiões esportivas. Os primeiros colocados, em cada modalidade e prova, são classificados para os Jogos Abertos do Interior, realizados a partir da organização de uma competição similar. O limite de participação

44 As entrevistas foram transcritas fielmente de acordo com as falas dos entrevistados, incluindo erros de português, e pausas do discurso.

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por idade varia de acordo com cada modalidade, sendo 14 anos a idade mínima (Ginástica Artística) até a categoria livre. Os Jogos Regionais do Idoso (JORI) apresenta-se de forma similar aos Jogos Regionais, mas contemplam algumas modalidades diferentes e trata-se de um campeonato para atletas acima dos 60 anos de idade. E também se assemelha na seleção para a fase seguinte, os Jogos Abertos do Idoso (JAI).

Campeonatos (futsal, handebol, basquete, ginastica artística e rítmica)

A SELJ também promove campeonatos anuais esportivos para crianças e adolescentes e varia a possibilidade de participação dos 8 aos 17 anos. São eles: Campeonato Estadual de Futebol, Copa Basquetebol do Estado de São Paulo, Copa de Ginástica Rítmica, Copa Estadual de Ginástica Artística e Copa de Handebol do Estado de São Paulo. Tais campeonatos acontecem ao longo do ano e são destinados a Escolas, Entidades Religiosas e Entidades Comerciais e Clubes Esportivos, todos sediados no estado de São Paulo. Todos os participantes devem obrigatoriamente estar matriculados em estabelecimentos de ensino de Educação Básica no estado de São Paulo45.

Pintando a Liberdade

Programa de nível federal implantado no estado de São Paulo por uma parceria entre o Ministério do Esporte a SELJ, a Secretaria de Administração Penitenciária e a Fundação de Amparo ao Preso. O programa tem o objetivo de confeccionar materiais esportivos, utilizando a mão de obra dos internos do Sistema Penitenciário do Estado de São Paulo. O material produzido é distribuído gratuitamente aos órgãos públicos como creches, escolas, prefeituras e entidades que desempenhem trabalho sócio esportivo. Entre os beneficiários do material esportivo estão o Programa Escola da Família, o Navega São Paulo e o Esporte Social.

Projeto Navega São Paulo

É composto por núcleos formados por cerca de 200 jovens entre 12 a 15 anos, matriculados na rede pública de ensino preferencialmente em “áreas de risco social”46. Estes

45 O Campeonato Estadual de Futebol também exige bom rendimento escolar dos atletas da competição. Caso o atleta esteja em desacordo com os níveis estabelecidos como bom rendimento ele pode cumprir suspensão de jogos e até sua exclusão do campeonato.

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núcleos oferecem atividades sócio esportivas como vela, remo e canoagem, além de aulas de conscientização ambiental, aulas de segurança náutica, oficina de marcenaria, noções básicas de primeiros socorros e navegação. Para cada núcleo são repassadas embarcações a remo, de canoagem e à vela. Além de embarcações de apoio, coletes e uniformes, o aluno recebe reforço alimentar e há treinamento para instrutores e monitores.

A Bola da Vez

Projeto em parceria com a SE, tem o objetivo de capacitar educadores e monitores do programa Escola da Família47, para atuarem com diferentes públicos, no ensino e prática de modalidades esportivas.

Esporte Social

Programa que visa implantar e manter núcleos de prática esportiva para crianças e adolescentes entre 7 a 15 anos, prioritariamente matriculados na rede pública de ensino que estejam em situação de “risco social”48. Cada convênio prevê a implantação de núcleos para no mínimo 100 crianças e jovens com a realização de atividades formativas-educacionais de no mínimo três modalidades esportivas, três vezes na semana. E com atividades complementares49 no mínimo uma vez por semana.

Jogos Escolares do Estado de São Paulo -JEESP

O JEESP é o campeonato estadual destinado aos alunos das Unidades Escolares de Ensino fundamental e médio das escolas municipais, estaduais, técnicas (estaduais e federais) e particulares no estado de São Paulo. O evento é realizado anualmente, por meio de uma parceria entre a SELJ, SE, Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SDPcD) e Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT). Os jogos são realizados anualmente em quatro etapas: rede pública estadual e escolas técnicas estaduais; rede pública

47 O Programa Escola da Família é um programa da SE e tem por finalidade a abertura das escolas da Rede Estadual de Ensino, aos finais de semana, para as comunidades ao entorno, para que possam usufruir do espaço como momento de lazer, socialização e de aprendizado em oficinas.

48 (SECRETARIA DE ESPORTE, LAZER E JUVENTUDE, 2013d).

49 Por atividades complementares são entendidas: ações educativas de caráter transversal que promovam a reflexão dos atendidos acerca de temas como saúde, nutrição, relacionamento familiar, lazer, o corpo, solidariedade, direitos e deveres, etc. (SECRETARIA DE ESPORTE, LAZER E JUVENTUDE, 2013d).

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municipal, rede particular e escolas técnicas federais; seletivas regionais; e seletivas estaduais. Os alunos dos ensinos fundamental e médio poderão competir em treze modalidades. Os melhores colocados em cada modalidade são selecionados a representarem o estado de São Paulo nos Jogos Escolares da Juventude (JEJ) – Etapa Nacional50.

Bolsa Talento Esportivo

Programa que garante apoio financeiro aos atletas paulistas destaques em diversas competições e que não se favorecem de patrocínio ou outros benefícios. Os valores destinados são estabelecidos de forma crescente de acordo com a adequação dos atletas nas seguintes categorias: Estudantil para atletas de 14 a 17 anos com resultados expressivos em competições escolares estaduais ou nacionais; Juniores para atletas entre 17 e 21 anos com resultados expressivos em nível estadual ou nacional; Nacional para atletas a partir de 21 anos com participação em seleções nacionais; Internacional para atletas de qualquer faixa etária, com participação em Campeonatos Mundiais, Pan Americanos, Parapan Americanos, Olímpicos e Paralímpicos.

Lei Paulista de Incentivo ao Esporte

Possibilita que empresas apoiem projetos esportivos elaborados pela sociedade civil, por meio de patrocínio ou doação financeira provenientes de renúncia fiscal de 0,01% a 3% do Imposto de Circulação de Mercadorias (ICMS) por parte do Estado de São Paulo. Os Projetos são encaminhados e analisados pela SELJ de acordo com as seguintes áreas: educacional, formação desportiva, rendimento, sócio desportiva, gestão e desenvolvimento desportivo, e infraestrutura.

A descrição dessas ações mostra como as políticas de esporte de São Paulo são gestadas e quais as principais características aqui assumidas. Primeiramente nota-se a forte presença da realização de jogos e campeonatos que abarcam praticamente todas as faixas etárias, desde o JEESP até o JORI.

JEESP e as Copas e Campeonatos estaduais nas modalidades de futsal, handebol, basquete, ginástica artística e rítmica, pelo que se adotou como referencial de análise, são

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classificados como práticas de esporte educacional. Jogos Regionais e Abertos do Interior, além dos JORI e JAI são considerados práticas de rendimento.

Embora, grande parte dos campeonatos referenciados como de esporte educacional, eles baseiam-se na realização de uma prática seletiva e marcada pela comparação de desempenhos e resultados. Assim nota-se uma propensão de tais iniciativas ao incentivo e prática do esporte de rendimento. Além dos campeonatos, os Centros de Excelência e o Programa Bolsa Talento Esportivo referem-se (esses sim explicitamente) ao incentivo à prática esportiva do alto rendimento, atrelando as ações como mecanismos de fomento ao desenvolvimento esportivo no estado.

Mas, a perspectiva política também abarca iniciativas de cunho social e participativo, entre eles está o Programa Pintando a Liberdade e o Projeto A Bola da Vez. Embora enveredem iniciativas de âmbito social e participativo, tais ações são restritas à produção de materiais e a capacitação de professores, não estando diretamente associadas ao aspecto prático do esporte.

O Navega São Paulo e o Esporte Social são caraterizadas como iniciativas de esporte educacional, que partilham de uma característica de ações participativas. O que se salienta nestas ações, assim como no Pintando a Liberdade, é a focalização a um determinado tipo de público. No Pintando a Liberdade as atividades são direcionadas ao público carcerário, já os outros se destinam às crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.

Assim temos a seguinte perspectiva, o esporte de participação é suprimido a iniciativas de capacitação, não envolvendo inciativas práticas. O esporte educacional, também aqui assume características das duas vertentes, com projetos tendencialmente de rendimento e outros de cunho participativo, porém quando assume as características deste último canaliza as atividades para população em risco social. O esporte de rendimento, portanto, aparece mais vigoroso que todas as outras manifestações. Estas constatações refletem o modo neoliberal da governança paulista tanto pelo incentivo maior ao rendimento, quanto pela canalização de ações participativas ao público em vulnerabilidade social.

A focalização de políticas sociais, dessa forma é detectada pelas iniciativas destinadas às atividades esportivas, tanto do esporte educacional (quando não sob a perspectiva de campeonatos e jogos), quanto de participação. Já o incentivo ao esporte de rendimento se dá principalmente por sua visibilidade, ou seja, sua característica de espetacularização e a sua utilização na esfera mercantil. O esporte-espetáculo casa com os princípios neoliberais na ordem

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de “consumo” dos direitos na esfera do mercado, na ideia do cidadão consumidor. Neste cenário se vê amplamente a assistência televisiva. Sem falar na crescente indústria de materiais esportivos que, atrelada a grandes marcas multinacionais, complexificam esta relação entre mercado, Estado e sociedade, no sentido da definição dos limites do direito.

A partir desta identificação mais geral do esporte no estado, partiremos para a identificação das características do esporte educacional na SELJ, ao aprofundar suas concepções nos textos normativos e na constituição de alguns programas deste segmento.