• Nenhum resultado encontrado

4.3 Sistemas produtivos agrícolas

4.3.1 Segmentação do sistema produtivo de amendoim no Cariri cearense

A partir das diversas características de natureza social, econômica e tecnológica é possível fazer a segmentação dos produtores de determinados sistemas produtivos, como é o caso do sistema produtivo de amendoim analisado neste trabalho, o qual foi segmentado com base na metodologia proposta por Molina (1993).

A validação dos dados por informação primária permitiu identificar principalmente um segmento de produtores agrícolas de amendoim na região do Cariri (Sul Cearense - Crato, MissãoVelha), o da Pré - Empresa familiar. Este segmento se caracteriza como de transição e

46

apresenta condição necessária para se tornar um segmento de empresa familiar, no futuro, visto que parte da sua produção agrícola se destina para o mercado, mas ainda existe um volume expressivo de produção para subsistência. Além disso, os produtores possuem o nível tecnológico baixo com a prática da policultura, o que reforça a condição de pré-empresários familiares.

De acordo com a metodologia do Molina (1993), à medida que esses produtores do Cariri se especializarem cada vez mais em culturas voltadas para o mercado, comprarem artigos de consumo e de produção nas cidades e, ainda, tornarem sua produção tecnificada, se tornarão empresários familiares. No Quadro 3, é possível perceber as principais características deste tipo de segmento no que se refere: à residência, à questão de posse de terra, participação no mercado, o capital de exploração, tecnologias adotadas, especialização da produção e mão- de-obra utilizada.

Quadro 3 - Segmentação do elo agrícola da cadeia produtiva do amendoim no Cariri Sul Cearense, com base na metodologia de Molina Junior (1993)

Características Pré - Empresa Familiar Residência Residentes na própria fazenda

Posse da terra Pequenos proprietários, parceiros e arrendatários. Participação no

mercado

A produção de amendoim se destina principalmente para o mercado local. No entanto, o autoconsumo ainda existe para outras culturas alimentares (ex: feijão).

Capital de exploração

Baixo, crédito Pronaf

Nível tecnológico Baixo, com pouco uso de insumos, inadequado manejo do solo. Modelo colonial com uso de arados movidos a tração animal, matraca de plantio manual, pouca adubação e ocasionalmente aluga-se maquinário.

Especialização da produção

Policultura, com diversas culturas agrícolas para o autoconsumo e uma pequena parte destinada para o cultivo do amendoim.

Tipo de mão de obra

Predominantemente familiar, com pequena contratação de diaristas ou amigos no período do plantio e colheita.

Fonte: Elaborado pela autora com base na metodologia de Molina (1993) e dados primários.

A partir das entrevistas realizadas no Cariri Sul Cearense, o segmento Pré-empresa familiar do Cariri cearense representa significativamente o atual sistema produtivo de amendoim na região. Com base no último levantamento feito pela Emater Ceará em 2014, no distrito de Monte Alverne, localidade da zona rural do município do Crato (CE) que mais produz amendoim, havia 173 produtores de amendoim com o total de 136.8 hectares

47

plantados. Nesse levantamento o tamanho das propriedades varia entre 1 a 10 ha, entretanto, desse total apenas 0,3 a 3 ha são efetivamente cultivados com amendoim.

A partir dados primários obtidos nas propriedades visitadas, constatou-se a prática da policultura, entre elas a produção de milho, feijão, capim e uma pequena criação de gado. Como exceção, vale destacar que uma propriedade visitada possui 103 ha com 10 ha destinados para a produção de amendoim.

A média de produtividade de amendoim no regime sequeiro está em torno de 500 kg/ha a 600 kg/ha nos últimos cinco anos, pois devido à seca alcançou só um 1/3 do potencial, em um ano com chuva a produtividade fica em torno de 1500 kg/ha. Uma propriedade visitada que utiliza o regime de amendoim irrigado teve produtividade em torno de 2.070 kg/ha ficando acima da média da região.

No que se refere à posse de terra, verificou-se o predomínio de pequenos agricultores e arrendatários, com mão-de-obra essencialmente familiar e contratação sazonal de trabalhadores diaristas ou amigos em forma de mutirão, principalmente na época do plantio (preparo da terra) e colheita. A grande parte dos agricultores se dedica exclusivamente à atividade agrícola como fonte de renda.

A participação direta no mercado é pequena, visto que os produtores entregam sua produção para o atravessador que se encarrega de beneficiar o amendoim, descascar e fazer a torrefação, ou cozinhar o amendoim verde e comercializar. O produtor relatou: “Tem o atravessador que compra e leva para as feiras, comprador é o que não falta. Quando a produção de amendoim era grande, chegava os caminhões de Aracaju e João Pessoa para buscar o amendoim seco, alguns compravam o amendoim verde para cozinhar”.

Um caso específico de produtor que agrega valor ao seu produto foi identificado. Este produtor plantava e colhia o amendoim verde para cozinhar e distribuir para os bares da região, nesse caso não existia atravessador. Os principais compradores são os mercados pequenos de Juazeiro do Norte e bares dos vilarejos da região.

Quanto ao nível tecnológico, pode-se inferir que é baixo. O que pode ser visto na fala do técnico quando indagado sobre as tecnologias utilizadas: “É totalmente colonial, basicamente a tecnologia que utilizam são arados puxados à tração animal, matraca de plantio manual, adubação quase zero, às vezes esterco de curral/gado”. Além disso, os produtores entrevistados afirmaram não utilizar fertilizantes, corretivos e produtos para controle fitossanitários, a maior parte das sementes utilizadas não é certificada (crioula).

Vale destacar que a Embrapa doou sementes de amendoim BR1 e uma minoria de produtores já adotou essa cultivar, apontando para uma possível mudança de cenário quando

48

outros produtores perceberem os benefícios e maior produtividade a partir dessa cultivar adaptada para a região. Quanto ao maquinário utilizado, alguns são alugados para o preparo da terra. As outras ferramentas utilizadas são próprias e bastante rudimentares como é o caso da matraca e o arado.

Como já visto anteriormente, as propriedades possuem diferentes atividades agropecuárias e, em alguns casos o amendoim é consorciado, segundo o entrevistado: “temos casos de consórcio com milho, girassol, feijão. Mas, em sua maioria plantam apenas o amendoim, em outras áreas plantam as outras alimentares”.

No que se refere à forma como os produtores se organizam, cabe ressaltar que existe uma Associação dos Produtores e Produtoras de Amendoim e outras Oleaginosas do Distrito de Monte Alverne – APPAOODMA. A associação possui de cerca de 51 produtores na região do Crato. A participação dos produtores nessa associação traz benefícios como ter acesso ao banco de sementes que está sendo criado, além de ter apoio da Embrapa e Emater com orientações técnicas e participação em eventos, como dias de campo e eventos de transferência de tecnologia.