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Seguidamente, o juiz informa o arguido:

No documento Medidas de coaco (páginas 40-42)

INTERROGATÓRIO JUDICIAL DE ARGUIDO DETIDO E O PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO DE MEDIDAS DE COACÇÃO

II. Anotações – artigos 141.º e 194.º

4. Seguidamente, o juiz informa o arguido:

a) Dos direitos referidos no n.º 1 do artigo 61.º, explicando-lhos se isso for necessário; b) Dos motivos da detenção;

c) Dos factos que lhe são concretamente imputados, incluindo, sempre que forem conhecidas, as circunstâncias de tempo, lugar e modo; e

d) Dos elementos do processo que indiciam os factos imputados, sempre que a sua comunicação não puser em causa a investigação, não dificultar a descoberta da verdade nem criar perigo para a vida, a integridade física ou psíquico ou a liberdade dos participantes processuais ou das vítimas do crime;

Ficando todas as informações, à excepção das previstas na alínea a), a constar do auto de interrogatório.

Numa manifestação do que chamei, no início, provocatoriamente, de princípio de desconfiança, o legislador não considera suficiente a inclusão no auto de interrogatório da fórmula "deu-se cumprimento ao disposto no artigo 141.º, n.º 4", pois a lei prescreve que "todas as informações", à excepção das relativas aos direitos referidos no n.º 1 do artigo 61.º, ficam a constar do auto de interrogatório.

O conteúdo do auto de interrogatório, nesta parte em que consigna os termos em que foi cumprido o dever de informação, tem o maior relevo, porquanto na fundamentação do despacho que venha a aplicar ao arguido, na sequência do interrogatório judicial, qualquer medida de coacção, à excepção do termo de identidade e residência, só podem ser considerados factos e elementos do processo que lhe tenham sido comunicados. Com a revisão do Código de Processo Penal, a fundamentação do despacho de aplicação de medidas de coacção exige, sob pena de nulidade e não de simples irregularidade por falta de fundamentação de acto decisório, a enunciação de determinado conteúdo que está previsto no n.º 4 do artigo 194.º e se encontra condicionado pelo dever de comunicação a que se reporta o citado artigo 141.º, n.º 4.

Verifica-se, porém, uma aparente incongruência na redacção dos dois preceitos, no que concerne à extensão dos deveres de comunicação e de fundamentação, ou mais precisamente, no que tange aos elementos do processo cujo conhecimento pode manter-se reservado no momento da comunicação e os que podem não ser revelados ao arguido na fundamentação do despacho de aplicação de medidas de coacção. Mais adiante, voltarei a esta questão.

MEDIDAS DE COAÇÃO

2. A Revisão do Código de Processo Penal: Breves nótulas sobre o 1.º interrogatório judicial de arguido detido e o procedimento de aplicação de medidas de coacção

1.7. A informação abrange todos os factos, mas não, necessariamente, todos os elementos de

prova – embora, em regra, estes também devam ser objecto da informação.

Antes da revisão de 2007, questionava-se se o arguido, na fase secreta do processo, tinha o direito de acesso aos autos e em que termos quando pretendia recorrer do despacho que lhe tivesse imposto ou mantido medida de coacção.

O Tribunal Constitucional, no Acórdão n.º 121/97, de 19 de Fevereiro, pronunciou-se no sentido da inconstitucionalidade das "normas conjugadas dos artigos 86.º, n.º 1, e 89.º, n.º 2, do CPP, na interpretação delas feita pela decisão recorrida, segundo a qual o juiz de instrução não pode autorizar, em caso algum e fora das situações tipificadas nesta última norma, o advogado do arguido a consultar o processo na fase de inquérito para poder impugnar a medida de coacção de prisão preventiva que foi aplicada ao arguido (...)". Considerou o Tribunal que tal solução impede o juiz de valorar em concreto os interesses conflituantes em presença, o do arguido (em conhecer os indícios que serviram de fundamento à decisão) e os do Estado (em assegurar as finalidades do processo penal, no plano da eficácia da investigação). Fez-se apelo, por conseguinte, a um critério de concordância prática, com ponderação em concreto dos valores e interesses conflituantes (e com eventuais cedências recíprocas), em vez de uma avaliação abstracta e rígida dos riscos do acesso do arguido aos autos.

No seu Acórdão 416/2003, o mesmo Tribunal julgou inconstitucional, por violação dos artigos 28.º, n.º 1, e 32.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa (preceitos que consagram as garantias de defesa processual do arguido, de modo particular, face a uma detenção), a norma do artigo 141.º, n.º 4, do CPP, interpretada no sentido de que, no decurso do interrogatório do arguido detido, a exposição dos factos que lhe são imputados "pode consistir na formulação de perguntas gerais e abstractas, sem concretização das circunstâncias de tempo, modo e lugar em que ocorreram os factos que integram a prática desses crimes nem comunicação ao arguido dos elementos de prova que sustentam aquelas imputações e na ausência da apreciação em concreto da existência de inconveniente grave naquela concretização e na comunicação dos específicos elementos probatórios".

Enquanto o acórdão de 1997 se reportava ao acesso do arguido a elementos probatórios necessários para interpor recurso visando corrigir eventual erro da decisão que decretara a prisão preventiva, o de 2003 refere-se a esse acesso na fase do interrogatório judicial, de forma a facultar ao arguido a possibilidade de argumentar sobre as provas que fundamentam a imputação dos crimes, em momento anterior à decisão do juiz de instrução.

Lê-se, no mencionado Ac. 416/2003:

"Refira-se, por último, que, tendo a protecção do segredo de justiça a mesma intensidade na fase do interrogatório do arguido e na fase de recurso do decretamento da prisão preventiva, a admissibilidade do seu afastamento quando tal for necessário para assegurar o direito de defesa do arguido deve valer nas duas fases. Não faria, de facto, sentido que se reconhecesse o direito do arguido de acesso a elementos probatórios necessários para interpor recurso visando corrigir eventual erro da decisão que decretou a prisão preventiva e não se lhe

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2. A Revisão do Código de Processo Penal: Breves nótulas sobre o 1.º interrogatório judicial de arguido detido e o procedimento de aplicação de medidas de coacção

facultasse esse acesso num momento em que poderia evitar o cometimento desse erro, argumentando junto do juiz de instrução, no decurso do seu interrogatório, no sentido da inconsistência das provas que fundamentam a imputação dos crimes”.

No seu propósito de adequação à jurisprudência constitucional, a revisão de 2007 prescreve que a informação sobre os factos concretamente imputados (todos) e sobre os elementos de prova (não necessariamente todos) que indiciam esses factos antecede o momento das declarações do arguido, o que lhe permite exercer, em termos efectivos, o seu direito de defesa.

1.8. Esquematizando os diversos passos do interrogatório judicial, temos:

1. Identificação do arguido, nos termos do artigo 141.º, n.º 3, com perguntas de resposta obrigatória, sob pena de responsabilidade criminal caso não sejam respondidas ou o sejam com falsidade.

2. Informação ao arguido dos direitos referidos no artigo 61.º, n.º 1, que lhe serão explicados se isso for necessário.

3. Informação dos motivos da detenção.

4. Informação dos factos que lhe são concretamente imputados, incluindo, sempre que forem conhecidas, as circunstâncias de tempo, lugar e modo. Repare-se que a informação abrange todos os factos, pois a lei não consente que não se comuniquem alguns factos, diversamente do que ocorre com a informação dos elementos de prova. 5. Informação dos elementos do processo que indiciam os factos imputados. Quanto a

esta informação, a lei admite que nem todos os elementos de prova sejam comunicados.

6. Declarações do arguido, dependendo da vontade deste, já que não está obrigado a prestá-las.

7. Findo o interrogatório, Ministério Público e defensor podem requerer ao juiz a formulação de perguntas, decidindo o juiz, por despacho irrecorrível, se o requerimento há-de ser feito na presença do arguido e sobre a relevância das perguntas.

No documento Medidas de coaco (páginas 40-42)