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2.1 MOVIMENTOS FEMINISTAS E DEMOCRATIZAÇÃO: A LUTA PELO

2.1.1 Movimentos e teorias feministas, novas e velhas tendências

2.1.1.2 A Segunda Onda Feminista

De acordo com Rodrigues (2002) a segunda onda feminista surge ―nos anos sessenta e setenta do século XX, tendo como referência o Ano Internacional da Mulher (1975) e a Década da Mulher (1976-85), ambos promovidos pela Organização das Nações Unidas – ONU‖. O ano de 1968 é tido como um marco de contestações e rebeldias, diferentes grupos expressaram sua inconformidade em relação aos tradicionais arranjos sociais e políticos, neste contexto que ressurge o movimento feminista contemporâneo, expressando-se de várias formas, sejam elas faladas ou escritas, seja em praça pública ou dentro de grupos fechados. Militantes feministas que participam do mundo acadêmico trazem para dentro das universidades o tema e acabam por ―contaminar‖ o fazer intelectual. Surgem, assim, os estudos da mulher, trazendo para a luz aquele ser até então oculto. Os estudos iniciais se restringem muitas vezes a um texto descritivo das condições de vida e de trabalho das mulheres, e com o objetivo de avançar nestas análises e acreditando na potencialidade dos empreendimentos coletivos, algumas mulheres fundam revistas, promovem eventos e organizam-se em grupos ou núcleos de estudos, fazendo com que seja comum a tendência de deixar que ―apenas‖ nestes espaços sejam tratadas as questões femininas, fazendo com que as propostas tenham muitas dificuldades de se impor.

Segundo Granados (2006), esta segunda onda se caracteriza por uma mudança nas prioridades de luta. A busca da igualdade já não era o objeto principal, não se pretendia mais ser considerada igual aos homens, e sim, ser reconhecida como um gênero diferente, com necessidades distintas e com direito às mesmas oportunidades. Em muitos sentidos, esta onda surgiu como resposta ao feminismo da primeira onda, que não reconhecia essas diferenças, pelo contrário, afirmava que a mulher era igual ao homem.

Seguindo a análise sobre as teorias feministas, Joan Scott (1995) faz uma crítica ao que ela chama de ―teorias do patriarcado‖, segundo ela estas teorias

não mostram o que a desigualdade de gênero tem a ver com as outras desigualdades. Em segundo lugar, a análise continua baseada na diferença

física, quer a dominação tome a forma da apropriação do trabalho reprodutivo (...) quer tome a forma da objetificação sexual das mulheres. Uma teoria que se baseia na variável única da diferença física é problemática para os/as historiadores/as: ela pressupõe um significado permanente ou inerente para o corpo humano – fora de uma construção social ou cultural – e, em conseqüência, a a-historicidade do próprio gênero (p. 78).

A teoria psicanalítica constitui-se outra importante tentativa de explicar as desigualdades entre homens e mulheres. Esta teoria vai refutar a idéia existencialista de que as mulheres escolhem ser oprimidas. Aqui o determinismo biológico é refutado, as diferenças de sexo são agora diferenças pensadas, diferenças significadas, e compreende-se que a vontade pode mudar apenas comportamentos superficiais, conscientes, ―mas, se essas mudanças deslizam para as profundas fontes de emoção da infância, serão cada vez mais difíceis de sustentar‖ (NYE, 1988, p. 143).

As escolas psicanalíticas, tanto anglo-americana, quanto a francesa estiveram preocupadas com os processos pelos quais a identidade do sujeito é criada, ambas se detêm nas primeiras etapas do desenvolvimento da criança a fim de encontrar pistas sobre a formação da identidade de gênero. As teóricas das relações de objeto focam a influência da experiência concreta, da socialização primária infantil (a criança vê, ouve, tem relações com aqueles que se ocupam dela, em particular, com seus pais), ―enquanto os/as pós-estruturalistas enfatizam o papel central da linguagem na comunicação, na interpretação e na representação do gênero‖ (SCOTT, 1995, p. 80-1). Scott alerta que ―esta interpretação limita o conceito de gênero à esfera da família e à experiência doméstica e (...), ela não deixa meios para ligar esse conceito (nem o indivíduo) a outros sistemas sociais, econômicos, políticos ou de poder‖ (1995, p.81).

A última teoria explorada por Andrea Nye (1988) é a teoria estruturalista da linguagem. Esta teoria baseia-se na idéia de que a linguagem é estruturada em torno da presença masculina e da ausência feminina. Seria necessária uma desconstrução do texto do patriarcado, e

neste caso as feministas tomam o termo desconstrução como categoria, utilizando as análises de Derrida. Segundo Joan Scott (1995, p.84),

Devemos nos tornar mais auto-conscientes da distinção entre nosso vocabulário analítico e o material que queremos analisar. Devemos encontrar formas (mesmo que imperfeitas) de submeter sem cessar nossas categorias à crítica e nossas análises à auto-crítica. Se utilizamos a definição de desconstrução de Jacques Derrida, essa crítica significa analisar, levando em conta o contexto, a forma pela qual opera qualquer oposição binária, revertendo e deslocando sua construção hierárquica, em vez de aceitá-la como real ou auto-evidente ou como fazendo parte da natureza das coisas.

Porém, para Nye esta desconstrução seguida da criação de um contratexto feminino só poderia oferecer uma imagem espelhada do pensamento masculinista (NYE, 1988, p. 254).

Desde então, grande parte do debate feminista tem consistido em demonstrar como o discurso sociológico, político, filosófico, moral, cultural, educativo e religioso tem sido formulado a partir da primeira pessoa do masculino. Em outras palavras, os modos de pensar em todos os âmbitos das sociedades estão descritos por e para as pessoas do sexo masculino.

Poderíamos ainda, falar em uma terceira onda, que para Lisboa (2007)10, tem relação com a contribuição dos estudos sobre a Pós- Modernidade e sobre o Pós Estruturalismo para o Feminismo que a partir de autores como Derrida e Foucault propõe a desconstrução de todos os papéis que foram impostos pela sociedade ao longo dos séculos. Também se inclina mais para os estudos sobre a plasticidade (Giddens) e sobre performance (Buttler), além de aprofundar os estudos sobre homoafetividade e homofobia.

10 LISBOA, Teresa Kleba. Terceira Onda [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por

Vale destacar que se entende como algo complicado falar em ondas, se considerarmos que em alguns países em desenvolvimento, ainda não foram superados nem sequer os dilemas do que se convencionou chamar ―primeira onda‖ e em países como a França, os Estados Unidos e a Inglaterra, os dilemas da primeira e segunda onda são ainda motivos de intensos debates11.

2.1.2 Brasileiras em movimento: A trajetória do feminismo