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em segundo lugar, pode ser uma arma na luta contra a exploração e a extorsão, instrumento moral e intelectual das novas gerações da classe operária – e de todos os jovens de

EDUCAÇÃO UMA QUESTÃO CRUCIAL

E, em segundo lugar, pode ser uma arma na luta contra a exploração e a extorsão, instrumento moral e intelectual das novas gerações da classe operária – e de todos os jovens de

outras classes que se ponham ao lado da causa do proletariado e dos camponeses pobres, os sem- terra – enquanto base organizacional do movimento revolucionário para construir o futuro socialista e comunista da humanidade.

Posto isto, os intelectuais da educação oficial na Rússia haviam incorporada a ilusão de que estabeleciam arbitrariamente os ideais educativos. Não conseguiam compreender que a sua atividade intelectual dependia, em última instância, das relações de produção feudais dominantes. Não consideravam, portanto, que não estavam a falar para ‘jovens em si’, idealizados,

mesmo, cresceriam e se desenvolveriam sob determinadas relações sociais, sob as quais suas necessidades eram as necessidades da classe social à qual pertenciam.

Eles, simplesmente, acreditavam que educavam seres humanos, isto é, educavam indivíduos acima dos interesses e objetivos da classe social à qual pertenciam, e sem colocar diante de si mesmos um objetivo político claro e explícito. A partir de 1905, em virtude de um mudança substancial nas relações de poder, quer me parecer que de forma tênue, acanhada, este objetivo político passou a ser a reforma pedagógica. Porém, os educadores oficiais do Estado russo, não entendiam que uma autêntica reforma pedagógica não poderia acontecer antes que o proletariado e o campesinato pobre, as classes que a reivindicavam, não tomassem em suas mãos o poder estatal e o poder sobre os meios e instrumentos de produção material e intelectual.

A educação oficial na Rússia de ontem, estava sobrecarregada da ideologia da classe dominante que negava a luta de classes; defendia os interesses da monarquia-feudal e da burguesia; condenava todas as menções às formas de conflitos sociais por constituíam ameaça real à ordem; enfim, afirmava que o desenvolvimento capitalista, avançando sorrateiro em território russo, reduziria as desigualdades entre as classes e conduziria a todos ao “reino da liberdade”.

A educação do proletariado e dos camponeses pobres era vista por Lenin como uma questão crucial, posto que, no período czarista, até fevereiro de 1917, a educação oficial desvinculada da realidade em geral, tinha uma fugaz relevância para análise social à medida que estava voltada apenas à reprodução e perpetuação das relações de dominação do poder czarista.

Lenin (1981, t. 5, p. 359), fazendo uso de sua análise sobre a literatura, dizia não ser a educação oficial uma educação política, na verdadeira acepção desta palavra à medida que não continha

um programa político determinado, nem revelava convicções; possuindo, isto sim, habilidade para acomodar-se ao tom e ao estado de coisas do momento, para arrastar-se ante os poderosos, cumprir toda ordem que emanava deles e tratar de congraçar-se com algo que se assemelhe à opinião pública.

Para ele, não se podia dar o nome de política, no sentido estrito da palavra, a uma educação que no melhor das hipóteses se limitava “a recolher alguns pequenos feitos interessantes, porém não elaborados, e a lançar suspiros no lugar de filosofar. Não digo que não seja útil, porém não é política” (LENIN, 1981, t. 5, p. 358).

A educação política deveria estar calçada na realidade objetiva, vinculada aos interesses e demandas da classe operária e dos camponeses pobres, destarte, mantém sua linha e não teme marchar diante dos poderosos e do governo, é tremendamente útil, colaboradora insubstituível da agitação revolucionária contra a servidão imposta pelos latifundiários com o czar a frente e contra a nova servidão imposta pelos modernos ‘senhores’ capitalistas de escravos assalariados.

Enquanto a educação czarista e/ou oficial (feudal ou burguesa) acontecia por intermédio da escola oficial, a educação política era questão e tarefa do Partido revolucionário do proletariado erigido sobre fundamentos e bases ideológicas, científicas e filosóficas, elaboradas pelos bolcheviques. A rigor, a educação comunista estava indissociavelmente ligada à questão da ‘propaganda’ das idéias comunistas e dos ideais de Marx e Engels e dos democratas revolucionários russos do século XIX.

Capítulo 1º : A SITUAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DA JUVENTUDE NO CAPITALISMO

Seria por demais imprudente perquirir as contribuições de Lenin à educação ignorando, por completo ou em absoluto, a realidade concreta da Rússia do século XIX. Portanto, impõe-se a necessidade de destacar o processo de desenvolvimento econômico no qual estava imersa a Rússia no final do século XIX, que gerava determinadas condições materiais e intelectuais – estas indispensáveis à compreensão e análise crítica da educação revolucionária –, assim como favorecia o desenvolvimento da luta de classe do proletariado consciente da imprescindibilidade de construção de uma organização partidária como elemento central na transformação da sociedade.

País atrasado, a Rússia encerrava um desenvolvimento que, ao final do século XIX, poderia ser apontado, tal como foi escrito por Lenin em 1899, quando toma como ponto de partida uma tese de Marx, lavrada no “O Capital, livro 1, vol. 1, seção sétima, capítulo. XXIV”, segundo a qual a tendência fundamental do capitalismo, para além de cindir as populações em duas classes sociais antagônicas – burguesia e proletariado, incrementava a miséria, a opressão, o

Tese contra a qual iriam jogar-se todos os ideólogos pequenos burgueses, oportunistas e críticos agrupados em torno do revisionismo da obra de Marx e Engels. Neste revisionismo eram explícitas as objeções liberais dos politicastros à teoria da depauperação claramente delineada n’“O Capital”. Com efeito, nessa obra Marx aponta e define a tendência incontornável e inexorável do modo de produção capitalista.

É certo que as palavras de Marx ou suas conclusões acerca da depauperação do proletariado sob as leis do mercado capitalista, demonstraram-se corretas ao longo dos últimos dois séculos à medida que o “incremento da miséria” mundial é incontestavelmente mais acentuado que o denunciado por Engels “Na Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”, ou em 1899 quando Lenin elabora suas denúncias: incremento da ausência de relação inversa entre a situação da burguesia e as condições desumanas em que vivia e vive o grosso do proletariado mundial.

A relação inversa, a qual me reporto, aumento de riqueza da burguesia e incremento da pobres do proletariado, ainda que possa parecer um paradoxo, na verdade refere-se ao aumento da riqueza e a redução das margens de pobreza. Eis que sob a atual política econômica a relação entre miséria e pobreza é direita, isto é, mais riqueza, menos ricos, mais pobreza, mais miseráveis.

Na verdade, a situação da classe operária e/ou dos países que vivem nas zonas limítrofes do capitalismo central e imperial está vazada por uma contradição insolúvel sob os marcos deste tipo de economia: o nível das exigências vai crescendo, mais e mais, ao par com o aumento da produtividade da força de trabalho e a ausência de perspectivas futuras para o conjunto dos operários e trabalhadores assalariados.

No “O censo de kustares de 1894-1895 na província de Perm e os problemas gerais da indústria kustar”, ou, simplesmente, censo sobre os problemas gerais da indústria kustar45, Lenin (1981, t. 2, p. 380) destacava que

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Este termo era empregado para designar o pequeno produtor de mercadorias ocupado na produção doméstica destinada à venda no mercado. Lenin ressaltou o caráter não científico deste termo tradicional russo, à medida que significava tanto o produtor que trabalha para o mercado como o artesão que o faz para o mercado. Todavia, os tradutores russos das Obras Completas optaram por manter a tradução do termo kustar (kustares, indústria kustar) designando, como o fez Lenin, o pequeno produtor de mercadorias e a pequena indústria que trabalhava unicamente para o mercado.

os ‘vínculos com a agricultura’, segundo os dados do censo, repercutem muito diretamente no nível de instrução elementar dos kustares; - lamentavelmente, não foi investigado o nível de instrução elementar dos operários assalariados. Resulta que entre a população não agrícola há mais pessoas alfabetizadas que entre a população agrícola, circunstância que se observa em todos os subgrupos sem exceção, tanto entre os homens como entre as mulheres.

Quando ele apresenta, in extenso, os dados do censo sobre esta questão, aqui resumidos, ele o faz dividindo a população russa em dois grupos, agricultores e não agricultores. O percentual de homens alfabetizados do primeiro grupo era de 36%, enquanto os do segundo correspondia a 49%. Por sua vez, as mulheres alfabetizadas do primeiro grupo eram de 10% e do segundo, 30%.

É interessante assinalar que na população não agrícola, o número de pessoas alfabetizadas ou que sabiam ler e escrever, aumentava com maior rapidez entre as mulheres que entre os homens. Neste sentido,

a porcentagem de homens alfabetizados é, no grupo II, de 1.5 a 2 vezes maior que no I, enquanto que nas mulheres é de 2.5 a 5 vezes maior. Resumindo, as conclusões que o censo de kustares de 1894-1895 acerca da ‘agricultura em sua vinculação com a indústria’ oferecem, comprovam que os vínculos com a agricultura: 1. mantém as formas mais atrasadas da indústria e frenam o desenvolvimento econômico; 2. faz diminuir os salários e receitas dos

kustares, de modo que os subgrupos mais acomodados de agricultores patrões ganhem, em

conjunto e em média, menos que os subgrupos de operários assalariados que se encontram em pior situação entre os não agricultores, sem falar dos patrões não agricultores. Em comparação com os operários assalariados do grupo I, os patrões destes têm receitas muito baixas, que só em reduzidíssimas proporções são superiores ao salário dos operários e por vezes inferiores; 3. retarda o desenvolvimento cultural da população que tem um nível de necessidades mais baixo e está muito atrasado em relação aos não agricultores com instrução

elementar (LENIN, 1981, t. 2, p. 381).

Se por um lado, bolcheviques e comunistas revolucionários se propunham acabar ou libertar o ‘povo’ da miséria, por outro lado, consideravam imprescindível conhecer com

profundidade as causas determinantes da miséria, da penúria e da opressão sob as quais estava condenada a imensa massa do povo no presente sistema político, econômico, social.46

Esta era e é a moderna, cruel, dolorosa e hedionda realidade capitalista: camponeses expulsos da terra, morrendo de fome e operários vagueando pelas ruas sem trabalho, enquanto latifundiários exportam milhões de toneladas de trigo, milho, soja, carne de frango etc., e capitalistas, nas fábricas, demitam e ameacem parar (lockout) “porque não conseguem vender nenhuma parte de suas mercadorias?” (LENIN, 1981, t. 7, p. 148).

Oculto detrás de grandes discursos e efemérides, saraus e colóquios culturais, este quadro dantesco permanece crescendo incontido, sem freios, sem meias medidas, sem contraponto ou obstáculo concreto, antes de tudo,

é porque a totalidade absoluta das terras, das fábricas, das grandes indústrias, das máquinas (instrumentos de produção), dos trens, dos navios, dos aviões, dos bancos, etc., permanece nas mãos de uns poucos capitalistas. Exatamente por isto, os operários e trabalhadores assalariados continuam trabalhando para um punhado de ricos em troca de um ‘pedaço de pão ou de uma mísera cesta básica (adequada apenas a perpetuação da espécie e reprodução). E tudo o que produzem, depois de cobrir seus míseros salários, vai parar nas escarcelas dos ricos como lucro e renda (LENIN, 1981, t. 7, p. 148).

É correto dizer, em primeiro lugar, que “em todos os Estados atuais a miséria do povo nasce do fato de que os trabalhadores produzem todos os artigos com destino a venda (artigos com valor de troca e nem sempre com valor de uso), com destino ao mercado capitalista” (LENIN, 1981, t. 7, p. 149) (itálicos são meus).

E, em segundo lugar, que ano após ano, mais e mais camponeses pobres ou sem-terra são obrigados a abandonar suas casa e seu torrão natal, migrarem para as grandes ‘metropólis’ nas

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Penso ser possível fazer uma analogia do hoje brasileiro, com o ontem russo, tomando por base a lavra de Lenin, vejam: cresciam as ricas cidades ou, pelo menos, as partes ricas das cidades, novas máquinas e nova tecnologia eram investidas nas indústrias e na agricultura, enquanto milhões de trabalhadores, homens e mulheres do povo, camponeses sem-terra não conseguiam sair da miséria e seguiam trabalhando toda sua vida para sustentar a duras penas a sua família. O número de trabalhadores desempregados era / é cada vez maior. Aumentava / aumenta constantemente, na cidade e no campo, o contingente de pessoas que não lograva / não logra encontrar nenhum emprego. No campo, essas pessoas sofriam / sofrem fome e perseguições dos terratenentes, de suas terras são expulsas. Nas cidades, engordavam / engordam as estatísticas oficiais sobre grupos desocupados, moradores de rua e ‘criminosos’, sobrevivendo amontoados como animais em cubículos nos arrabaldes ou em ‘sótãos’ de tugúrios espantosos. Como é possível explicar que, ainda hoje, cento e dez anos depois que Lenin escreveu o texto acima, no Brasil milhões de homens e mulheres trabalhadores, que criam com seu trabalho as riquezas e o luxo que os ricos desfrutam no dolce far niente, permaneçam na pobreza e na penúria?

quais são convertidos em trabalhadores assalariados, operários, peões, jornaleiros, policiais, entregadores, desempregados, criminosos.

Segundo Lenin (1981, t. 7, p. 150), só há um meio de acabar com a penúria e a opressão econômica,

para por um fim à miséria do povo não há outro caminho senão trocar de cima para baixo o regime existente (...) e implantar o regime socialista, é dizer, quitar, arrebatar dos latifundiários suas propriedades, aos industriais suas fábricas e aos banqueiros seus capitais, suprimir sua propriedade privada e colocá-la nas mãos de todo o povo trabalhador.

Lamentavelmente, desde que Lenin (1981, t. 7, p. 174) escreveu “Aos Pobres do Campo”, a burguesia – industrial, financeira e fundiária – procura difundir e inculcar no maior número de proletários a crença na possibilidade de livrar-se “da pobreza sem necessidade de lutar contra a burguesia, confie em sua diligência, em sua frugalidade, em sua possibilidade de enriquecer”. Os capitalistas empenham-se, com a ajuda clara de governos reacionários, em alentar no proletariado, nos trabalhadores assalariados e nos camponeses pobres “fé e esperança enganosas, para enganá- los com todo o gênero de palavras melosas” (LENIN, 1981, t. 7, p. 174).

Como descobrir se a classe burguesa engana os trabalhadores urbanos e rurais? É simples, fazendo apenas três perguntas que, a meu julgamento, deveriam ser repetidas, anos após ano como conteúdo programático de ‘estudos sociais’ nas mais diversas escolas e/ou instituições de ensino:

1) Podem os trabalhadores urbanos e rurais, o povo em geral, livrar-se definitivamente do fenômeno da fome quando quatro quintos das terras cultiváveis deste país estão nas mãos de umas poucas famílias de latifundiários?

2) Podem livrar-se da fome e da penúria quando a burguesia fundiária continua cada vez mais oprimindo os camponeses pobres e enriquecendo-se com o trabalho alheio?

3) Podem livrar-se da fome e da penúria quando a principal força que impulsiona a sociedade é “o dinheiro”, onde tudo pode ser comprado com dinheiro, inclusive os homens convertidos em escravos assalariados?

Como admoestava Lenin (1981, t. 7, p. 175), estas perguntas não são possíveis de responder e não poderão ser evitadas com doces palavras sobre, por exemplo, a ‘cooperação’

aliança dos pobres do campo com os operários (os pobres) das cidades, para lutar contra toda a burguesia. E quanto mais cedo ocorrer esta aliança, mais cedo se darão conta quão enganosas são as promessas burguesas”.

Mas disto a educação oficial não trata. É cultura inútil, fora de moda. Discurso extemporâneo! É extemporâneo afirmar, mutatis mutandis, que ‘os pobres do campo’ e os pobres das cidades ainda vivem “humilhados pela pobreza e pela miséria, embotados por eternos trabalhos forçados que realizam para os capitalistas e latifundiários; a miúdo nem sequer dispõem de tempo para pensar por que vivem condenados à perpétua privação e como poderiam livrar-se dela” (LENIN, 1981, t. 7, p. 146).

Por todos os meios políticos os operários e camponeses pobres ou sem-terra são impedidos de efetivar sua união numa única organização partidária revolucionária. Mediante a ‘política do látego e do pão doce’, os oprimidos são mantidos dispersos e entorpecidos, ‘embriagados’, mediante, também, o uso adicional da violência descarada e brutal”, inclusive negando trabalho a quem predica / pratica a doutrina socialista.

Mas, o otimismo da razão proclama: “Nem a violência nem a perseguição serão capazes de deter os operários proletários (sic!) que lutam pela grandiosa causa de libertar a todo o povo trabalhador da miséria e da opressão” (LENIN, 1981, t. 7, p. 146).

É neste contexto de luta entre a miséria real do proletariado e a sua necessária libertação deste estado caótico de desesperança que a educação revolucionária deve ter montada ou remontada sua estrutura ou, como diria Marx, que se deve injetar “sangue” no esqueleto e por à discussão sua função política no intestino de uma sociedade reacionária como a sociedade brasileira.

Em cima da realidade que se agigantava, os operários lutavam unidos por uma vida melhor, mesmo porque, como diziam, já haviam permitido que os saqueassem por muito tempo. Se esta era a realidade concreta da Rússia de Lenin (1981, t. 7, p. 138), também era real e concreto que os operários quisessem

lograr uma organização nova e melhor da sociedade, na qual não haja ricos e nem pobres e na qual todos tenham que trabalhar. Que não seja um punhado de ricaços, senão todos os trabalhadores que se aproveitem dos frutos do trabalho de todos. Que as máquinas e outros aperfeiçoamentos facilitem o trabalho de todos e não sirvam para enriquecer a uns poucos às

custas de milhões e milhões de homens do povo. Esta sociedade nova e melhor se chama

sociedade socialista. A doutrina que trata desta sociedade se chama socialismo. Os

agrupamentos de operários constituídos para lutar por esta organização melhor da sociedade se denominam partidos social-democratas.

Essa era a realidade daquela sociedade e do movimento operário que nela estava organizado no sentido de suprimir a exploração do homem pelo homem, sem prescindir da educação como meio indispensável à apropriação do conhecimento que os dominadores dominavam e sem o qual, também a meu julgamento, os dominados não conseguirão pôr a termo a dominação burguesa e a dominação em geral.

Há uma tese de Lenin, ainda hoje incômoda aos donos do poder, na qual ele postula ser uma conquista muito importante para os operários e trabalhadores assalariados, especialmente para os camponeses pobres, a educação pública e gratuita de todas as crianças e de todos os adolescentes.

Ainda hoje, há menos escolas na área rural que nas grandes cidades, além disto, tanto nas cidades como no campo, apenas os ricos, a burguesia e os latifundiários possuem as condições materiais, financeiras, indispensáveis à aquisição de uma educação de qualidade para seus filhos. É justo dizer, então, que apenas a educação pública, gratuita e de qualidade, para todas as crianças e adolescentes – filhos e filhas da classe operária, dos trabalhadores assalariados e dos camponeses pobres – pode fazer com que o grosso da população saia do estádio de ignorância em que se encontra.

A realidade russa da época em questão é apresentada como sendo tão crítica e caótica e tomando corpo de tal forma que a burguesia, supostamente superior a autocracia, demonstrava ser tão velhaca e venal como nos tempos da servidão; a incapacidade política, a incultura, a carência de preparação eram traços indeléveis da “oficialidade russa ao passo com o atraso, a ignorância, o analfabetismo e a ‘embriaguez’ da massa camponesa” (LENIN, 1982, t. 9, p. 157).

Desta realidade depreende-se outra certeza solidamente arraigada: na Rússia não se podia esperar nenhuma revolução em virtude (i) da inércia dos camponeses, de sua fé no czar e da fé no padroado; (ii) do fato de que “os descontentes não passavam de um punhado, capaz de provocar putchs (pequenos barulhos) e atentados terroristas, porém não uma insurreição geral” (Id. ibid., p.

passados os quais se sentia muito à vontade no aprazível retiro de um posto de Estado e a maior parte dos turbulentos acabam por converter-se em funcionários de escasso mérito” (Id. ibid.).

Com efeito, o somatório destes traços era uma decorrência ‘natural’, como já disse, da situação ou do estado de insciência da maioria da população e da falta de uma teoria integral, coerente e conseqüente. Sem sombra de dúvidas, ‘nas zonas limítrofes’ do capitalismo, isto é, nos países onde o capitalismo cresce sem peias, o incremento da miséria assume proporções massivas e dantes inimagináveis, com uma particularidade “não se trata apenas de ‘miséria social’, senão da mais terrível miséria física, chegando inclusive à fome e à morte por inanição” (LENIN, 1981, t. 4, p. 233). Todo mundo sabe que isto tanto se aplicava à Rússia do século XIX, quanto se aplica a qualquer outro país capitalista do século XXI..

Certo de que a situação da Rússia no plano econômico e social não diferia em muito da situação dos países periféricos do capitalismo central, Lenin (1981, t. 4, p. 233) culmina por dizer: As palavras incremento da miséria, da opressão, do subjugamento, de humilhações e de

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