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SEGUNDO MOMENTO DA PESQUISA: GRAVAÇÃO DIRIGIDA

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 SEGUNDO MOMENTO DA PESQUISA: GRAVAÇÃO DIRIGIDA

Nosso segundo momento de coleta constituiu de duas pequenas gravações com dados da fala de dois adolescentes de 13 anos de idade, um menino identificado pela letra M., e uma menina identificada pela letra E.

Neste segundo momento, buscávamos, mesmo sem nenhuma certeza, as situações em que as estruturas estar+gerúndio emergisse no discurso em uma situação de entrevista. A princípio, julgamos que a formalidade comum às situações de entrevistas fosse fator que determinasse a ocorrência ou a não ocorrência desse fenômeno.

Nossa missão seria buscar, ainda que na fala monitorada, ‘aquela em que o falante está respondendo a perguntas’, situações em que as estruturas estar+gerúndio pudessem surgir. Portanto, recorremos à metodologia da entrevista laboviana na

tentativa de controlar o contexto e definir a partir do estilo de fala formal um grau de espontaneidade ou entusiasmo nas respostas que fizesse com que o falante variasse seu estilo de fala e se engajasse numa conversa capaz de elicitar o uso natural das estruturas que nesta pesquisa analisamos.

Nesta coleta, consideramos também os momentos anteriores à entrevista e assim como nos exemplos labovianos (cf. Labov, 2008, p. 104, 112, 113, e 119), elaboramos perguntas de forma que direcionássemos respostas condizentes a alguns gêneros discursivos. Notem-se as perguntas:

1) Você e sua irmã se dão bem? Quando se desentendem?

2) Em que momento você se LEMBRA de se DAR muito bem com ela?(sua irmã)

3) Qual é o melhor filme de ação que você já viu? Como era este filme? 4) De que tipo de matéria você mais gosta? Por quê?

5) Quando você faz uma nova amizade, o que sua mãe COSTUMA DIZER?

Para a primeira pergunta, esperávamos uma resposta que contivesse um relato de

opinião; para a segunda pergunta, uma resposta que contivesse um relato de experiência vivida; para a terceira pergunta, um relato de acontecimento; para a

quarta pergunta, outro discurso de opinião; para a quinta pergunta, um relato de

procedimento.

a) Entrevista do informante M.

O Informante M. é filho de pais capixabas, moradores do bairro de Lourdes, porém, passou oito meses na capital do Rio de Janeiro, na ocasião do nascimento de M., e, logo em seguida, retornou a Vitória, onde permanece até hoje.

Em nosso primeiro contato, M. se mostrou entusiasmado e bastante curioso, porém, no momento da gravação, M. se tornou extremamente tímido, sentado em uma mesma posição, sempre olhando para o gravador.

Em relação à fala, M. respondeu às 89 perguntas com a menor resposta possível, conforme podemos notar no exemplo abaixo (para leitura dos exemplos, considere N para entrevistador e W para entrevistado):

N- De que tipo de filme você gosta? W- Filmes de ação e comédia

N- E qual é o melhor filme de ação que você já viu?

W- O melhor filme de ação que eu já vi...hum:::foi o "007"... N- Como era este filme?

W- Era o filme de um espião...

N- O que acontecia com o espião? Pode contar mais ou menos ai... W- Era um espião que tinha que PROCURAR umas pessoas.

A respeito da fala que se obtém pelo método empregado nessa coleta, Labov afirma que: “A fala da entrevista é fala formal – não por qualquer medida absoluta, mas em comparação com o vernáculo da vida cotidiana. Em seu conjunto, a entrevista é uma fala pública – monitorada e controlada em resposta a presença de um observador externo”. (LABOV 2008, p. 63).

Entrevista da informante E.

A informante E. é filha mais velha de pais capixabas nascidos em Vitória, permanentes no município. E. é estudante do nível fundamental, também tem 13 anos e, assim como M, se mostrou inibida diante da entrevista, e se limitou apenas responder aos questionamentos da entrevista, porém demonstrou alguns indícios de momentos de descontração, uma das pistas apresentadas por Labov (2008, p. 121) como o canal para a fala casual.

O riso representa uma modulação da produção vocal que, nos termos labovianos, pode acompanhar o tipo mais casual da fala,

Uma vez que o riso implica uma expiração mais rápida do que na fala normal, ele é sempre acompanhado de uma súbita inspiração na pausa seguinte. Embora essa inspiração nem sempre seja óbvia para o ouvinte na situação de entrevista, as técnicas de gravação usadas no estudo detectam estes efeitos com bastante precisão; é possível, portanto, considerar o riso como um tipo variante de mudanças na respiração, a quarta pista do canal7. (LABOV, 2008, p. 122)

7

Labov (2008, p. 121 - 126) apresenta cinco Pistas do canal para a fala casual: mudanças nas modulações da voz, alterações no ritmo da fala, mudança na altura da voz, na intensidade da respiração e no riso.

Nesta entrevista, a informante E. produziu pequenos risos, porém, ofereceu respostas curtas sem muitos detalhes, conforme podemos perceber no segmento abaixo:

N- Qual é o melhor filme que você já viu? W- O melhor que eu já vi?

N- É?. W- Eh::::

N- Você se lembra de algum?

W- Lembro... Lembro... é::: “Um casal quase perfeito 2” N- Como era esse filme?

W- Ah legal,..uma comédia romântica mesmo... R- Conta um pedaço do filme...

W- Um pedaço do filme....é uma mulher, ela era...ela dançava patinação artística

N- Ah.... Fazia dança no gelo?

W- É:::é isso, muito legal, muito legal.

De igual modo, fizemos para E. 89 perguntas com vários assuntos. Cuidamos para que na entrevista ocorressem vários gêneros discursivos, seguindo a mesma metodologia da seleção de perguntas da entrevista de M.

Em geral, o conteúdo das perguntas que compuseram as entrevistas de M. e E. lhes oferecia um estímulo para o desenvolvimento de fala desde formal a mais espontânea e coloquial. Mesmo buscando uma produção discursiva que oferecesse a oportunidade da realização de vários estilos de fala, as estruturas de estar+gerúndio não emergiram.

O fato de estar prestando mais ou menos atenção à própria fala, no contexto da entrevista laboviana, não configura a situação em que as estruturas de estar+gerúndio ocorrem.

Identificamos, então, um problema metodológico diferente das dificuldades tratadas na metodologia laboviana.

Apesar de termos um fenômeno de uso frequente notamos que precisávamos tomar algumas medidas no ato desta coleta de dados, e fazer alguns direcionamentos nessa investigação. Ficou evidenciado que estávamos diante de uma estrutura de forma gramatical rara em alguns gêneros discursivos, como o da entrevista laboviana.