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SEGUNDO MOVIMENTO DE ANÁLISE

Atualmente, os discursos sobre o corpo tentam discipliná-lo e também puní-lo, como uma forma de controle da população, conforme nos mostrou Foucault em sua obra

Vigiar e Punir (1987). O autor considera que ―o corpo está preso no interior de poderes muito

apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações‖ (FOUCAULT, 1987, p. 126), e tais discursos são proliferados em qualquer sociedade do mundo. Atualmente essa relação de punição e controle é uma relação que permanece. Essas relações de poder continuam funcionando e definindo, não tão radicalmente quanto no mito de Procusto mostrado na introdução desta dissertação, mas de forma tão violenta quanto, porém de forma mais ―invisível‖ e perversa, pois os sujeitos os aceitam como sendo a ―sua própria verdade‖.

A atenção dedicada ao corpo e às práticas relacionadas a ele, apenas reforçam e solidificam seu controle e dominação. É contraditória a relação entre corpo e poder: pois quanto maior a atenção sobre o corpo, maior é o controle sobre ele. O corpo tem sobre si um grande exercício de poder, conforme nos afirma Milanez, a partir do pressuposto teórico foucaultiano:

[...] o corpo é o produto de uma subjetivação marcada por uma imagem que nos remete a uma forma temporal determinada, por isso, levo em conta os meios e as técnicas pelas quais elas se transmitem em nossa época em particular. O corpo subjetivado é a história de certa experiência do sujeito no mundo (MILANEZ, 2006,

p.13).

O corpo está inserido no social e desta forma é marcado pelo social. A imagem corporal é determinada pelos poderes e pelos saberes de cada época específica, ou seja, é através das experiências do sujeito em uma sociedade que seu corpo passa pelo processo de subjetivação. A incidência do poder, através dos procedimentos contínuos e ininterruptos, atua sobre uma multiplicidade de corpos e de forças, que produzem diferentes processos de identificação.

No primeiro capítulo do livro Vigiar e Punir- ―O corpo dos condenados‖ (FOUCAULT, 1987), o autor nos mostra como historicamente os dispositivos de poder marcaram no corpo tanto as relações de poder, quanto as relações de saber. Para um corpo ―ser útil‖, torna-se necessário aplicar sobre ele um sistema de dominação (no caso do nosso recorte, o corpo útil é o corpo que vende e ao mesmo tempo, o corpo que consome)e, para isso, impõem-se medidas disciplinares, sob forma de naturalizações, a partir de saberes estratégicos e eficazes.

O sujeito é submetido a um mecanismo social disciplinar sobre seu corpo em diferentes contextos e suas escolhas são impostas por estratégias de poder. Quando pensamos o corpo como discurso, percebemos que a mídia e a moda impõem sentidos de um corpo magro, jovem, branco, saudável, alicerçado por um discurso científico, e ao mesmo tempo, interdita outros, como o corpo gordo, o corpo anoréxico, o corpo negro, o corpo com deformidades.

Retomando as noções de nomeação e condição, compreendemos que ao mesmo tempo em que determina-se uma condição, condição de existência esta determinada pela possibilidade de visibilidade, esses corpos precisam ser nomeados, ou seja, os corpos cujas formas fogem do padrão estético podem aparecer, porém devem aparecer de uma forma ―específica‖ e para que isso aconteça, é preciso nomeá-los. Porém, para que todos esses mecanismos funcionem ao mesmo tempo, é necessário que este corpo seja desejado e que o mesmo também venda. Enfim, sempre há certas condições que determinam que este corpo pode ou não aparecer. Sabe-se que esse ato de nomear passa a ser um ato político, não no sentido de empoderamento, mas no sentindo de possibilidade de existência. É através desse sentido que as relações de poder continuam sempre em funcionamento.

As estratégias de poder e de resistência afetam as formas de exercício do poder da vida cotidiana e classificam os indivíduos em categorias. A gordura, símbolo de distinção social em determinados períodos históricos, como por exemplo, o século XV, era indicativo de riqueza e poder, atualmente perde seu simbolismo em função de ―riquezas qualitativas‖. Segundo Vigarello (2012), no século XVIII surgiram graus de gordura e a ideia de que os mais gordos não representavam apenas um excesso, mas uma desordem. O autor ainda afirma que, nessa época, o excesso de gordura passou a ser sinônimo de impotência e se transformou em ocorrência mórbida no século XIX, quando diversos problemas respiratórios, digestivos e

circulatórios foram associados ao obeso12. No século XX, o sentido da palavra obesidade passou a incluir fases avançadas do problema e também houve uma dominação do critério estético. Foi sobretudo a estética que transformou a obesidade em algo recusado socialmente.

É nessa sociedade que interdita os corpos cujas formas fogem a um padrão estético construído e legitimado pelas mais variadas instituições que, encontra-se o nosso segundo material de análise. A imagem a ser analisada é a capa da Revista Moda Moldes13: tamanhos grandes, edição de setembro de 2014, na qual a cantora Preta Gil foi protagonista do ensaio fotográfico que ilustrou a mesma.

Figura 35 –Revista Moda Moldes: tamanhos grandes- ed. nº15/ Set. 2014.

Disponível em: <http://www.purepeople.com.br/noticia/revista-comenta-alteracao-em-foto-de-preta-gil-nao- quisemos-desvalorizar_a25331/1>

Acesso: 15 de fevereiro de 2017.

12 O termo obeso está ligado a palavra obesidade, que deriva do latim obesitas. Essas palavras surgiram nos

dicionários franceses do século XVIII, já relacionado a Medicina. O corpo obeso para o século XX está ligado a uma doença, então ele não é um corpo saudável, portanto também não é um corpo possível, por isso não chega a nomeação de mercado.

13 A revista Moda Moldes foi lançada pela Editora Globo, tendo se destacado como uma publicação de grande

sucesso na década de 1990. Porém, após oito anos de circulação, as portas da mesma foram fechadas e ela foi relançada no mercado em 2009 sob a responsabilidade da On Line Editora. Voltada mais para o público/ universo feminino, a revista Moda Moldes tem suas edições publicadas mensalmente, contendo em suas páginas mais ou menos 50 moldes de peças de roupas fáceis de serem executadas, motivo este que atrai um público constituído de estudantes de moda, estilistas, costureiras e/ou alfaiates, empresários do ramo de confecção, entre outros. Entendemos então, que esta revista é mais direcionada para as classes mais baixas da sociedade, por exemplo, classes C e D.

Nesse segundo movimento de análise, nos deparemos com a possibilidade de pensar diferentes corpos ―exclusos‖ da sociedade, pois nos deparamos aqui também com o corpo negro14 e seus modos de significar no histórico social.

Ao observarmos a imagem, vimos em primeiro plano vários signos verbais, onde destacam- se os principais conteúdos da revista. Em segundo plano, vimos a fotografia da cantora Preta Gil, vestindo um vestido no modelo envelope15, estampado em branco e preto. Observando a posição do corpo da cantora, percebemos que a mesma está fazendo uma ―pose‖ com as mãos sobre seus quadris, nos remetendo a uma imagem de mulher feliz e bem resolvida com seu corpo e auto estima.

É nítido que esta fotografia ilustra uma capa de revista de moda, por isso devemos entender melhor para que serve uma capa em uma revista e quais suas ―intenções‖. A capa se caracteriza enquanto gênero multimodal, capaz de combinar variados signos em sua composição, como: cores, imagens gráficas, textos. Uma capa de revista pode se constituir em um vínculo manipulador que, interessado em vender, se dissimula por meio de uma organização textual aparentemente marcada pela neutralidade e objetividade. É possível afirmar que as capas de revista, fazem parte de uma indústria cultural capitalista que incentiva o consumo, criando obrigações, aspirações, aconselhamentos. A partir disso, costumam ainda oferecer uma variedade de produtos para solucionar os ―problemas‖ que as próprias revistas criam para as consumidoras.

Estes periódicos investem fortemente em estratégias discursivas para conquistarem suas leitoras, desde a escolha de celebridade para representar o público leitor em suas capas, como em recursos semióticos, como em discursos de inclusão social, principalmente, as revistas de moda para o público plus size. Percebe-se também, que as capas de revistas buscam criar, através de um discurso informal, uma proximidade e uma identificação com a leitora, como se ambas estivessem em uma mesma relação de poder.

Durante a escolha de uma celebridade para ilustrar uma capa de revista, são mobilizadas algumas noções, nas quais não nos damos conta ao ler e apreciar uma capa pois

14 O negro, é aquele que traz a marca do ―corpo negro‖, é aquele que a cultura afasta através da negativização. É

aquele que se marca na e pela dívida histórica das diásporas. Porém, nesta dissertação não trataremos do corpo negro, pois nosso objeto principal de estudo é o corpo plus size, embora, faça parte dos intentos futuros de pesquisa.

15 Criado na década de 1970 por Diane Von Furstenberg, uma estilista belga. Wrap Dress ou vestido envelope é

um vestido com um fecho frontal formado por envolvimento de um lado em outro, e amarrando os laços anexados que envolvem a volta na cintura ou botões de fixação. Isso forma um decote em forma de V e ―abraça as curvas da usuária‖.

estão imbricadas em nossa memória. Conforme afirma Orlandi (2015), para Análise do Discurso o que chamamos de memória discursiva é o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a forma de pré- construído, enfim, é definida como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente.

[...] Para que uma palavra tenha sentido é preciso que ela já faça sentido (efeito do já-dito, do interdiscurso, do Outro). A isso é que chamamos historicidade na Análise de Discurso. Chamaremos de efeito pré- construído, a impressão do sentido lá que deriva do já- dito, do interdiscurso e que faz com que o dizer já haja um efeito de dito sustentando todo o dizer (ORLANDI, 2006, p. 18).

Uma celebridade e seu corpo estão sempre envoltos no conceito de pré- construídos. Vivemos numa sociedade na qual a busca pela perfeição e pelo sucesso corporal é diária, onde nossas memórias nos remetem que os corpos ―famosos‖ estão sempre dentro dos padrões estéticos de beleza, que são na maioria das vezes ―perfeitos‖. Porém, quando nos deparamos com corpos famosos que fogem dos padrões, como um corpo gordo ou deficiente, isso nos causa um grande estranhamento, pois nossos pré-construídos nos dizem que o corpo que olha e que se expõe ao olhar do outro deve ser sempre próximo ou imerso totalmente no padrão hegemônico de beleza.

Por isso, quando pensamos no trabalho discursivo das revistas, sabemos que elas influem na construção dos corpos dos sujeitos leitores. Conforme Milanez (2006), a revista é entendida como um dispositivo de construção de identidades, porque serve à recriação de uma identidade que caracteriza uma experiência de alteridade para os leitores. Para o autor, a revista possibilita a constituição de corpos modelares e de objetos desejáveis, da maneira como nossos pré-construídos acreditam que sejam os corpos portadores de fama.

Sabemos que, a preocupação com a estética tem sido muito intensa na contemporaneidade. As mídias, em especial as capas de revistas, têm divulgado o corpo como algo manipulável, modificável, capaz de superar todas as expectativas e anseios, sem gordura, velhice ou marcas, logo, subentende-se que não é interessante para essas publicidades, estampar suas capas com mulheres e corpos que fogem a esses investimentos ideológicos, pois assim, não atrairia as leitoras, principalmente, as gordinhas.

O corpo é ―mutável e mutante‖ não apenas pelos fatores fisiológicos que sobre ele se operam, mas também pelos fatores sociais e culturais que a ele se atribui.

O corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos, etc., não é, portanto, algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante o desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem como suas leis, as representações que cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele produz e reproduz. [...] O corpo é

também o que dele se diz, o corpo é construído também pela linguagem. Ou seja, a linguagem não apenas reflete o que existe. Ela própria cria o existente e, com relação ao corpo, a linguagem tem o poder de nomeá-lo, classificá-lo, definir- lhe normalidades e anormalidades; instituir o que é considerado como corpo belo, jovem e saudável. Representações estas que não são universais nem mesmo fixas, são sempre temporárias, efêmeras, inconstantes e variam conforme o lugar/ tempo onde este corpo circula, vive, se expressa, se produz e é produzido (GOELLNER, 2003, p. 28 e 29).

Conforme Goellner, a linguagem tem o poder de nomear, classificar, definir os corpos que são possíveis, ou não, de circulação dentro das sociedades. Como vimos, os conceitos de nomeação e condição estão imbricados em se tratando do corpo plus size. Para que possamos especializar nosso gesto de análise voltamos as noções de nomeação e condição sobre o corpo feminino plus size.

Podemos afirmar que, um objeto aparece, toma existência discursiva apenas após ser nomeado, ou seja, são as condições de produção dos discursos que permitem a ―entrada‖ deste objeto em um campo do visível. Portanto, existe a nomeação do corpo plus size, mas que a condição dele não muda, ou seja, a nomeação produz um efeito de corpo ―incluso‖, produz um efeito de mercado que diz que este corpo é possível de consumir; porém, a moda é tão ditatorial nesse aspecto, que a condição feminina continua sendo aquela da história, onde diz que as mulheres devem permanecer apertadas, moldadas, modificadas de acordo com as regras de um mercado e de uma determinada época.

A mulher que vive em busca deste corpo dito ―perfeito‖ acaba sendo prisioneira de um padrão hegemônico de beleza feminina. Na sociedade contemporânea, baseada no consumo, qualquer pessoa pode ser transformada em um produto. Por isso, o sujeito que se ―molda‖ a este padrão vira um objeto de consumo aos olhos de leigos. Podemos afirmar que a história do corpo feminino é também a história de uma dominação na qual os simples critérios da estética já são reveladores: a exigência por uma beleza sempre pura e vigiada, impôs-se por muito tempo. Segundo Foucault (1987), o corpo está imerso em um lugar político, devido a sua ampliação econômica na atual sociedade. O corpo apenas será favorável à sociedade se for produtivo e submisso, simultaneamente. Ou como apontamos, um corpo que vende ao mesmo tempo que é um corpo que consome.

O corpo também está diretamente mergulhado num campo político [...] O corpo é investido por relações de poder e de dominação; mas em compensação sua constituição como força de trabalho só é possível se ele está preso num sistema de sujeitação (onde é necessário também um instrumento político cuidadosamente organizado, calculado e utilizado); o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo produtivo e corpo submisso. Essa sujeição não é obtida só pelos instrumentos da violência ou da ideologia: pode muito bem ser direta, física, usar a

força contra a força, agir sobre elementos materiais sem, no entanto, ser violenta; pode ser calculada, organizada, tecnicamente pensada, pode ser sutil, não fazer uso de armas nem do terror e no entanto continuar a ser de ordem física (FOUCAULT,

1987, p. 25-26).

Não há produção de verdade e de poder que não esteja perpassada pelas instituições de poder, ou melhor, pelos Aparelhos Ideológicos de Estado. Analisando a imagem da capa da revista Moda Moldes, vimos que este corpo está soterrado nos sentidos do capital, ele está imerso em informações que reforçam a produção capitalista, através das frases: ―Você é especial‖, ―Valorize seu corpo‖, ―Estilo sexy‖, ou seja, as noções de valor, de que as coisas são imperdíveis, são forças que nos mostram o trabalho do capital sobre os corpos de forma discreta e quase imperceptível, por isso, tal exposição midiática cria efeitos de sentido e opera na produção de verdades cristalizadas.

A espetacularização do conteúdo midiático fez com que a mercadoria e o corpo se aproximassem cada vez mais, convertendo o mesmo em um bem de consumo. Se tomarmos as capas, como lugares de memória, elas refletem as representações sociais sobre o corpo, indicam, difundem, sedimentam e legitimam os modos de pensar o corpo na sociedade em que são divulgadas.

As capas de revistas representam um ideal de beleza feminino. Porém, o ideal de beleza apresentado afasta-se dos corpos das mulheres reais que necessariamente não vão ao encontro dos parâmetros e critérios impostos na sociedade midiática atual. As fotografias apresentam corpos que encarnam uma beleza irreal, uma beleza que foi produzida para circular e que foi construída e modificada para isto. A fotografia de moda faz parte da construção ideal e da padronização do corpo apresentando frequentemente o corpo perfeito, ―o corpo que todos deveriam ter‖. Esta construção contamina o olhar e assim cada vez mais intervenções de todas as naturezas são a ilusão do alcance deste corpo. No entanto, este corpo ideal é apenas uma projeção de uma imagem, imagem esta que pode nunca ser alcançada, pois este corpo que se apresenta nas imagens midiáticas é um corpo frequentemente manipulado e ajustado para se constituir enquanto aparência. E esta é a marca da terceira parte de nossa análise, que trata-se da modificação da fotografia protagonizada por Preta Gil para a Revista Moda Moldes, onde a transformação corporal foi tão grande que o próprio sujeito da foto não se reconhece nela. Fato este marcado pela frase: ―Infelizmente essa que está na capa da

revista não sou eu!!!‖.

Preta Gil divulgou em suas redes sociais sua indignação perante a foto escolhida para a capa e perante a conduta da revista, mostrando um comparativo entre a foto original e a

foto ―montada‖ para a circulação na mídia impressa. A escolha de uma celebridade para protagonizar uma capa de revista é bem importante, pois o que temos embutido no termo celebridade é um corpo-imagem, ou seja, não é o corpo do sujeito empírico, mas um corpo criado pelas mídias. Um corpo que não corresponde e não se reconhece como um sujeito existente.

Fonte: Página da rede social Facebook da própria cantora Disponível em: <https://www.facebook.com/pretagiloficial/photos/>

Acesso em 10 de junho de 2016

Em sua página na rede social Facebook, no dia 10 de setembro de 2014, a cantora Preta Gil posta em seu perfil às fotos mostradas anteriormente e declara: ―Em estado de

choque! Não tem como não me indignar, pois fiz essas fotos para capa dessa revista e a mesma foi publicada sem minha aprovação e do fotógrafo. O Photoshop foi feito por conta própria. Aí está o resultado!!! A foto original está linda, nem precisava de grandes ajustes. Pra que isso? Que vergonha!!! O trabalho de todos os profissionais envolvidos foi comprometido. Infelizmente essa que está na capa da Revista não sou eu!!!”.

Para compreendermos esse não-reconhecimento do sujeito, precisamos visitar noções sobre o processo de reconhecimento ideológico estudado por Althusser (1983). Para tanto, o filósofo procura entender como se dá a filiação dos indivíduos aos Aparelhos Ideológicos. A afirmação de Althusser é que "a ideologia interpela os indivíduos como

sujeitos" (1983, p. 93). O autor aponta que é através da ideologia que acontece o processo de "reconhecimento" que transforma um indivíduo (alguém perdido na massa sem maiores identificações), em um sujeito (alguém afirmado, reconhecido). A constituição do sujeito deriva da sujeição do indivíduo concreto ao esquema ideológico.

[...] não são as condições de existência reais, o seu mundo real, que ―os homens‖ ―se representam‖ na ideologia, mas é a relação dos homens com estas condições de existência que lhes é representada na ideologia. É esta relação que está no centro de toda a representação ideológica, portanto imaginária, do mundo real. É nesta relação que está contida a ―causa‖ que deve dar conta da deformação imaginária da representação ideológica do mundo real (ALTHUSSER, 1983, p.81).

Ser um sujeito concreto só é possível no plano do reconhecimento ideológico, ou

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