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CAPÍTULO 2 – A CAMPANHA ELEITORAL À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA EM

2.5 Segundo turno: Dilma (PT) e Aécio (PSDB)

Guardadas as devidas proporções, a angústia sobre a definição do objeto de pesquisa foi de tamanha expectativa quanto à definição dos candidatos para o segundo turno às Eleições Presidenciais de 2014. Às vésperas da votação para o primeiro turno, as pesquisas ainda apontavam para a “novidade”, uma disputa entre o fenômeno Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT), o que excluiria o otimismo e mais uma disputa ao cargo máximo do país, polarizado entre o PT e o PSDB, representado naquele pleito pelo candidato Aécio Neves. Ao PT só restava aceitar um segundo turno, uma probabilidade que chegou a ser descartada por algumas pesquisas no início da campanha.

Até o dia das eleições para o primeiro turno, o que se tinha eram incertezas e um peso de responsabilidade histórica. Até então o debate eleitoral e as formas de manipulação da opinião pública foram diversas, dos boatos às medidas impopulares. As ideologias discursivamente distorcidas e o convencimento sobre a certeza de que, tudo que vem sendo feito está certo, levaram à soberba e à cooptação política sobre o que realmente seria necessário.

Como nenhum dos candidatos atingiu mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno para a eleição Presidencial, os dois mais votados, reforçando mais uma vez a polarização PT e PSDB, chegaram ao segundo turno, ancorados pelo jogo discursivo em que travavam um embate ora polarizado, ora não. Em consequência, criou-se um clima grave entre os militantes que em diversos momentos defenderam de modo voraz suas opções partidárias e estas

manifestações foram usadas durante o HGPE, fortalecidas pelos próprios candidatos. O processo de campanha eleitoral se desenvolveu num clima de cobrança e acusações ao atual governo devido aos indícios de corrupção, investigação e até a condenação de alguns petistas. A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, se empenhou a rebater as acusações, baseada no discurso de que o Brasil mudou e de que mudará ainda mais graças ao fortalecimento econômico que proporcionou a ampliação dos programas sociais.

O candidato, Aécio Neves, por sua vez, manteve-se à sombra de uma imagem política que se pode chamar de positiva, construída basicamente por Fernando Henrique Cardoso (FHC) enquanto Ministro da Fazenda e coordenador do bem-sucedido “Plano Real” no governo Itamar Franco, e, posteriormente ao assumir a Presidência da República por duas vezes.

Na década de 1990, a estabilidade da economia brasileira somou pontos para o PSDB, depois de décadas e inúmeros planos econômicos fracassados, na tentativa de controlar a hiperinflação. Mas, o enfraquecimento popular do partido foi se mostrando progressivo e o discurso de embate nas campanhas não tem dado o retorno esperado nas últimas eleições à Presidência. O PT logrou êxito nas urnas com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e 2006, revelando uma boa estabilidade política e “elegendo” sua sucessora, Dilma Rousseff, em 2010.

O ar de grandeza gerou um clima de ilusão. O modo de governar levou a divergências, comprometendo a credibilidade institucional e a expansão das políticas sociais e econômicas, em consequência perderam o rumo. A campanha eleitoral viveu momentos diferentes, oscilando entre a polaridade típica existente nas eleições presidenciais do Brasil e a aparente dissolução dessa polaridade, quando pareceram defender um mesmo projeto de futuro para o país.

2.6 Considerações

Conforme vimos o candidato Eduardo Campos (PSB) deixou sua marca discursiva logo na primeira entrevista, que oficializava o início da campanha para o grande público e para a imprensa. O lema “não vamos desistir do Brasil”, é um registro de que havia uma vontade anterior a esta formação discursiva, uma constituição de identidade e um processo constituído de momentos.

Tratar da política é falar de algo que vai além de uma realidade, que não se resume a um limite de demandas, pois sempre haverá uma falta em que as vontades tornam-se relações tensas, que geram uma incompletude, e por isso, sempre ideias parciais. O grande dilema está entre o que prevalece, se a bandeira de luta ou as complexas sociedades contemporâneas, pois qualquer projeto de mudança tem que passar pela transformação interna das instituições.

Sem, extraordinariamente algo novo para apresentar PT e PSDB lançam-se à guerra de posições políticas mais uma vez e, passam sobre quaisquer obstáculos de modo voraz, “doa a quem doer”, pois, em uma “campanha faz-se o diabo”, como se as instituições, o estado e a política não existissem sem estes ímpetos representantes.

Ainda que, mantidas as formas e o ritual democrático, cada vez mais nos sentimos afastados do seu real significado. A luta foi travada, as consequências poderiam ser perversas, mas tão significativa quanto às diferenças entre os polos antagônicos estiveram às divergências, que romperam o equilíbrio, o modo de entender o fazer democrático e o alargamento da participação política.

Na política sempre haverá um inimigo constituído, uma relação de poder que não tem um lugar próprio, mas se constitui na produção hegemônica de um processo de representação em que os governados são presença através de seus representantes, o que nem sempre garante a sua vontade. Para Laclau, importa a democracia que promove a construção da vontade popular, logo, não importa o regime político perante um vazio em que tudo é contingente.

Na ofensiva agenda temos o debate político e a procura da diferença que sustente uma hegemonia proveniente da legitimidade democrática do voto. Nos próximos capítulos veremos como a política se transformou em uma luta de construções de sentidos que promoveu, acima de tudo, a desconstrução do outro, do adversário, do inimigo político.