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A globalização se explica com a contemporânea dinâmica de disputa pelo poder. Para Huntington,

O mundo está se tornando um lugar pequeno e, portanto, a interação entre as civilizações está aumentando, elevando também a consciência das diferenças civilizatórias e impulsionando a animosidade entre grupos. (HUNTINGTON, 1997 pg. 54)

Sendo assim, o mundo necessitará optar por um dos lados combatentes quando os diferentes ideais se opuserem, ou se chocarem, ou então a nação que se colocar como mais poderosa irá impor sua vontade e seus ideais sobre as outras. Esse fenômeno pode atingir as várias esferas do sistema, situação essa defendida por Landau (2001), que pontua o fenômeno como multifacetado, multidimensional e diretamente ligado às esferas econômica, política e cultural, influenciando pessoas, assuntos, organizações e empresas para além das fronteiras nacionais.

A maior parte da literatura impressa em sobre o tema de segurança nacional tem como base os conceitos de poder e paz. Existem aqueles a favor de uma abordagem baseada em poder, suas análises são oriundas da escola realista de relações internacionais, que tem como expoentes teóricos como E. H. Carr (1946), Hans Morgenthau (1973) e Kenneth Waltz (1979). Porem também temos os pensadores que favorecem a abordagem pela paz, estando estes mais ligados à escola idealista, que tem seu foco de análise primordialmente concentrado na segurança do sistema internacional, procurando alinhar essa perspectiva com a de segurança nacional. Segundo a perspectiva idealista, reduzindo-se as ameaças externas ao Estado, reduzem-se por conseqüência as ameaças ao próprio sistema internacional como um todo.

Martin Wight é certamente um dos teóricos que defende e se vale dessa linha de pensamento, nas palavras do mesmo; “se há uma sociedade internacional, então há um certo tipo de ordem a ser mantida, ou mesmo desenvolvida”. Interesse coletivo não é uma falácia, então, segurança pode adquirir um sentido maior, ela pode ser usufruída ou perseguida em comum acordo com diversos Estados. Durante o período da Guerra Fria, muitos acadêmicos tiveram que reforçar a perspectiva de

que vários segmentos do sistema internacional estavam interligados a de tal maneira que a segurança e bem-estar de cada um dependiam do outro.

Os teóricos do idealismo advogam que seu conceito os permite ver não somente o problema em termos holísticos, em oposição à fragmentada visão dos realistas, mas também os idealistas focam suas atenções diretamente na essência do problema da guerra. Sendo a guerra a maior ameaça relacionada ao problema de segurança nacional, a solução para tal problema diminuiria potencialmente este problema da agenda internacional. Portanto, os realistas tendem a observar a segurança como um derivativo do poder, mostrando-se como um ator com poder suficiente que alcança uma posição dominante, adquirindo como resultado sua própria segurança. Os idealistas, por outro lado tendem a ver a segurança como sendo uma conseqüência da paz. Assim uma paz duradoura teria capacidade de prover segurança para todos no sistema.

Barry Buzan, outro teórico que propões novas linhas de pensamento sobre o tema de segurança, para ele; segurança é sobrevivência, ou seja, somente se pode falar em segurança quando um assunto é apresentado como sendo uma ameaça real a algum objeto (tradicionalmente, mas não necessariamente o Estado, incorporando o governo, o território e sociedade) (Buzan, 1998, p. 21).

Valendo-se deste conceito afirma que a especial natureza da ameaça justifica o uso de medidas extraordinárias a fim de lidar com ela. Por essa razão, a invocação da segurança tem se tornado a peça chave para a legitimação do uso da força, pois a segurança legitimada tem servido de arcabouço para que o Estado possa mobilizar ou invocar poderes especiais com a finalidade de lidar com uma ameaça existente, sendo esta real ou ainda não concreta, como foi observado em relação à possível presença de armas de destruição em massa (ADMs) no Iraque de Saddam Hussein.

Buzan vai além realizando uma profunda análise de como esse processo ocorre, ao qual ele posteriormente denomina de securitização. Para Buzan, segurança é o movimento que conduz a política para além das regras do jogo estabelecidas e enquadra o assunto tanto como um tipo especial de política, como um conjunto de ações que se executam acima dela.

Securitização deve então ser entendida enquanto uma versão extremada da politização, teoricamente, qualquer assunto público pode ser observado no amplo espectro que vai do não-politizado (onde o Estado não lida com ele e de nenhum modo é tido como um tópico de debate público e de decisões), passando por politizado (significando que o tópico é parte de uma política pública requerendo uma decisão governamental e alocação de recursos), e chegando até o status de securitizado (aqui o tópico é apresentado como sendo uma ameaça existente e confirmada, requerendo medidas de emergência, o que justificaria ações fora dos limites normais do processo político). (Buzan, 1998)

É importante ressaltar, segundo os estudos de Buzan, que todos os Estados estão imersos em uma teia global de interdependência de segurança. Porém como a maior parte das ameaças políticas, e principalmente militares, pode ser mais facilmente percebida em curtas distâncias, a insegurança é mais freqüentemente associada com a proximidade geográfica entre os Estados.

Buzan aprimorou a teoria da segurança regional (Buzan, 1991). Definindo que em termos de segurança, “região” representa um subsistema distinto e significativo de relações de segurança existe entre um grupo de Estados, que tem seu destino alinhado positivamente ou de forma negativa devido a proximidade geográfica de suas fronteiras.

Em decorrência de uma suscetibilidade às influências externas, a elaboração de análises sobre equilíbrio de poderes locais acaba por se tornar menos confiável para a compreensão das relações de segurança existentes na periferia do sistema internacional, em relação ao que ocorre no centro do sistema (Buzan, 1991). Com sua análise o teórico afirma que ao se definir segurança regional, o elemento de maior destaque que deve ser adicionado às relações de poder é o padrão de relações entre os Estados, sendo estas de inimizade ou amistosas.

Estes padrões de relações amistosas ou de inimizade afloram segundo uma variedade de tópicos que não poderiam ser preditos a partir de uma simples consideração de distribuição de poder. Estes padrões variam de eventos específicos como disputas de fronteiras, interesses com populações étnicas afins e alinhamentos ideológicos a ligações históricas existentes há muito tempo, tanto positivas quanto negativas, tais como árabes e judeus, americanos e ingleses e

vietnamitas e chineses. Então quando se adiciona estes eventos ao quadro a dimensão de amistosidade ou inimizade, pode-se ter a uma visão mais clara dos padrões de relacionamento e as características de insegurança ao invés do ponto de vista bruto do equilíbrio de poder. Buzan e Wæver (2003)

O termo complexo de segurança (security complex) é utilizado por Buzan para rotular as formações que são resultadas neste processo. E ele define um complexo de segurança como um grupo de Estados cujas principais preocupações de segurança estão unidas de tal maneira que a segurança nacional de cada um não pode realisticamente ser considerada separada das outras (Buzan, 1991). Afirma que a denominação, complexo de segurança, apresenta a vantagem de indicar tanto uma característica do atributo que define o grupo (segurança), quanto a intensidade da interdependência que distingue um grupo dos seus vizinhos. Finaliza explanado que complexos de segurança dão maior ênfase a interdependência tanto de rivais como de interesses compartilhados. Buzan e Wæver definem um Complexo Regional de Segurança como;

A set of units whose major processes of securitization, desecuritisation, or

both are so interlinked that their security problems cannot reasonably be analysed or resolved apart from one another. (Buzan e Wæver 2003, p. 44) Buzan se vale da teoria de Huntignton para abordar uma questão importante, quando trata dos laços culturais, assim como raciais que poderiam ser um fator para a identificação de complexos de segurança. Porém Buzan afirma que parece não ser provável que estas características culturais ou raciais de um determinado grupo de Estados poderiam levá-los a preocupar-se mais com uns do que com outros, ou então a legitimar intervenções mútuas nos assuntos de segurança uns dos outros. Entretanto, afirma que é possível encontrar evidências de que culturas, tais como a árabe e a latino-americana, provavelmente facilitam e legitimam a interdependência de segurança em um grande grupo de Estados (Buzan, 1991, p. 196-7). Porém conclui que, ao se definir a forma e estrutura de complexos de segurança, estas duas variáveis são padrões secundários, e não os primordiais.

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