• Nenhum resultado encontrado

Antes de adentrar no tema de fato, é preciso fazer uma observação relacionada a todas as propostas que já foram concebidas a respeito da criação do IVA. Todas possuem em comum o fato de que advogam em relação a implantação do princípio do destino nas transações interestaduais. Essas transações, podem ser realizadas de quatro maneiras diferentes, que serão aqui apresentados de forma breve.

Desse modo, iremos abordar tanto as vantagens como as desvantagens em relação a cada uma delas.

8.1 IVA Centralizado

Nesse tipo de modelo, segundo SALDANHA (2001)100 o imposto é tanto administrado, quanto o seu produto de arrecadação, são de pertencimento do Governo Federal. Nesse tipo de diapasão, após essa aferição, essa receita é partilhada entre os Estados, pautando-se em critérios que estão definidos dentro da legislação que trata do imposto.

As vantagens desse modelo, estão relacionadas com o fato dele possibilitar que se coordene os problemas entre os Estados, além de possuirem uma relação entre o fisco-contribuinte muito mais simples, o que fica evidente quando se observa que a lei exige apenas uma declaração, uma fiscalização e apenas uma legislação para tratar do tema.

Porém a grande dificuldade que pode ser apontada nesse modelo, reside justamente na questão da partilha supramencionada. Porque, segundo SALDANHA (2001)101 O Governo Federal e os Estados devem conseguir encontrar um consenso em relação a parcela de receita do IVA. Porém, isso exige um grau de cooperação grande, de modo que tenta conciliar todos os interesses, o que é difícil por si só.

100 SALDANHA, Eduardo Imposto Sobre O Valor Agregado: O modelo da União Europeia e as perspectivas de harmonização legislativa para o Mercosul. Dissertação (mestrado). 215 f. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito.2001.

101 SALDANHA, Eduardo Imposto Sobre O Valor Agregado: O modelo da União Europeia e as perspectivas de harmonização legislativa para o Mercosul. Dissertação (mestrado). 215 f. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito.2001.

54

8.2 IVA na Origem com Repasse Integral ao Estado de Destino

Nesse segundo modelo, o sistema parte do fato de que o estado de origem, deva ser o responsável pela arrecadação do tributo, e que segundo REZENDE (1996)102 após essa arrecadação, se incumbiria de repassar integralmente para o estado de destino.

Desse modo, uma das principais vantagens desse sistema, é que ele elimina o incentivo á sonegação.

Além disso, é possível apontar a simplificação do sistema, justamente, pois segundo REZENDE (1996)103 por permitir a unificação da legislação, e a consequente eliminação dos postos de fronteira entre as divisas dos estados. Isso é importante, porque isso auxilia na redução dos custos para o fisco, e a consequente diminuição deles para as empresas.

Porém, o principal problema apontado em relação a esse modelo, é em relação a montagem de um sistema de câmaras, sofisticado, que permita a compensação entre os estados, tanto dos créditos, quanto dos débitos das operacionais interestaduais.

8.3 IVA no Destino

Esse sistema seria muito mais simples, caso não existissem muitos casos de sonegação fiscal. Segundo NAKAYAMA (2002)104 bastaria estipular uma alíquota zero para as transações interestaduais, e a cobrança relacionada ao IVA, seria feita no estado consumidor. Caso isso fosse possível, seria importante para a garantia dos entes federativos, pois assim como o modelo mencionado, reduziria os custos para as empresas.

Porém, segundo MANUEL DE JUANO (1999)105 a realidade fática nacional, é bem diferente, e demonstra que existe muita incidência de sonegação fiscal, quando a alíquota interna, é maior do que a interestadual. Desse modo, para que um sistema assim pudesse ser realizado, seria necessária uma fiscalização rigorosa, principalmente em relação às empresas exportadoras e importadoras.

8.4 IVA dual

102 REZENDE, F. Evolução da Estrutura Tributária: experiências recentes e tendências futuras, Planejamento e Políticas Públicas, v.13, p.4-32, junho 1996.

103 Idem. P. 54.

104 NAKAYAMA, Juliana Kiyosen. O Imposto sobre o Valor Agregado na União Europeia, 2002. Disponível em https://jus.com.br/artigos/3415/o-imposto-sobre-o-valor-agregado-na-uniao-europeia. Acesso em 06 de setembro de 2020.

105 MANUEL DE JUANO, Sistemas Tributários en el Mercosur, informe presentado en el Seminario ILDAT, Itália, 29 junio / 06 julio 1992) - Mencionado em DERZI, Misabel Abreu Machado. A necessidade de instituição do IVA no sistema constitucional tributário brasileiro, Belo Horizonte: Del Rey, 1999,

55

Por fim, cumpre-se falar a respeito do IVA Dual, que segundo PALMA (2014)106 consiste na cobrança de um IVA de cunho federal, que seria cobrado de modo paralelo ao IVA estadual, possuindo, no entanto, regra similares, e teriam, também, procedimentos administrativos harmonizados. Desse modo, não se trata de uma partilha tributária, justamente porque cada ente tributante, possuiria a sua própria autonomia para fazer, inclusive, a cobrança individual.

Esse modelo, apresenta muitas vantagens, principalmente, quando, segundo LAGEMANN (1995)107 se observa a implementação do chamado “princípio destino”, sem no entanto, abrir brechas para que sejam realizadas sonegações. Isso ocorre, porque existe uma uniformidade entre as alíquotas internas e interestaduais.

Segundo VARSANO (1999)108 a proposta para a implementação do IVA no Brasil, que pairou nos anos 2000, se pautava justamente nesse sistema, e era chamada de modelo do barquinho. Nela, os agentes deveriam separar suas vendas em quatro grupos distintos:

 Grupo 1 – são as vendas para dentro do próprio estado. Não implicam em qualquer mudança em relação ao que já é feito atualmente.

 Grupo 2 – são as vendas interestaduais para outros estabelecimentos comerciais. Aqui é que se operacionalizara o princípio do destino através do modelo do “barquinho”.

 Grupo 3 – são as vendas interestaduais para consumidores finais em outros estados. Também será necessária a utilização do modelo do “barquinho”.

 Grupo 4 – exportações para outros países. Não implicam em mudança em relação à situação atual.

O objetivo principal da proposta, segundo o autor, é o combate a sonegação, justamente devido ao seu mecanismo de funcionamento, que incentiva o trabalho em conjunto da Receita Federal com as fazendas estaduais. O autor, dá dois exemplos distintos, que auxiliam no esclarecimento de como essa proposta seria:

106 PALMA, Clotilde Celorico. Introdução ao imposto sobre o valor acrescentado - 6ª ed.; Grupo Almedina; Coimbra, 2014.

107 LAGEMANN, Eugenio. O Federalismo Fiscal Brasileiro em Questão. In: AFFONSO, Rui de Britto Alvares; SILVA, Pedro Luiz Barros. A Federação em perspectiva– ensaios selecionados. São Paulo: Fundap, 1995

108 VARSANO, R. Subnational taxation and treatment of interstate trade in Brazil: problems and a proposed solution. Valdivia/Chile: The World Bank Conference, 1999.

56

Tabela 5 – Tributação interestadual supondo alíquota do Estado da origem de 7%

Fonte: VARSANO (1995)

109

Tanto essa primeira tabela, quanto a segunda, são de criação de VARSANO (1995)110 e tem o objetivo de demonstrar como esse sistema pode ser introduzido de forma suave. Nesses dois exemplos, a alíquota interna do IVA que deve ser considerada, é a de 17%, a alíquota da COFINS, por outro lado, é a de 7,60%.

Dentro dos modelos, o moinho fica no estado de origem, e a padaria, se localizaria, no estado de destino.

109 VARSANO, R. A tributação do comércio interestadual ICMS atual versus ICMS partilhado. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão nº 382, 1995.

110 Idem

57

Tabela 6 – Tributação Interestadual supondo princípio de destino pleno

Fonte: VARSANO (1995)

111

Em suma, esse modelo propõe que a União teria apenas a incumbência de transportar por intermédio dos COFINS, o IVA estadual, que iria de uma unidade da federação para outra, desse modo, desapareceria o diferencial relacionado ás alíquotas internas e interestaduais, o que dentro do caso concreto, possui o objetivo de inibir a prática de sonegação.

Desse modo também, se preza pela autonomia estadual, em razão do fato de que esses entes estariam com a responsabilidade de administrar o IVA estadual, de modo que se permita a adoção do principio do destino.

Porém, segundo VASQUES (2015)112 contrário a essa proposta, é possível que seja apresentado o argumento de que existe a possibilidade de acumulação de créditos contra a União, principalmente provenientes de algumas empresas que mexam com importação, e algumas exportadoras contra o seu estado de origem.

9 ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DO IVA DUAL NO BRASIL

111 VARSANO, R. A tributação do comércio interestadual ICMS atual versus ICMS partilhado. Rio de Janeiro: IPEA, Texto para Discussão nº 382, 1995.

112 VASQUES, Sérgio. O Imposto Sobre o Valor Acrescentado. 1ª ed. Livraria Almedina. Coimbra, 2015.

58

O Brasil, segundo SCHOUERI (2012)113 adota o princípio da origem na tributação interestadual, porém não em sua totalidade. O princípio da origem, desse modo, é aplicado apenas em uma parte, já que segundo o autor possui um percentual da arrecadação que na realidade cabe ao estado onde está situada a indústria, além de outro percentual para o estado para onde serão destinados os produtos.

É necessário compreender porém, que para que seja adotado o referido princípio existem entraves que devem ser transponíveis, como a redistribuição da receita, de modo que se favoreça os estados importadores líquidos, porém, esses estados, também se consolidam como os mais pobres.

Desse modo, para que de fato, se consiga solucionar, ou ao menos diminuir a competição tributária, ou a chamada “guerra fiscal”, bem como os custos de empresas, e os custos de arrecadação dos estados, seria, diante de tudo que foi arguido, a adoção do principio do destino, o que significa dizer, que todos os produtos que de fato forem consumidos em determinado estado.

10 TRIBUTAÇÃO INDIRETA: TENDÊNCIAS E