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Seleção e Análise Qualitativa das Obras

O terceiro momento da pesquisa representa a seleção e análise de cinco obras de Montez Magno – cada uma pertencente a uma década diferente, que possuam elementos e processos que permitam ao pesquisador discutir o conceito de Montagem proposto por Peter Bürger.

Para tanto, fez-se necessário acessar o acervo de obras identificadas 588 obras

(produzidas entre 1957 e 2015) para efetuar uma seleção preliminar com a finalidade de

separar as obras que tangenciam os anseios do presente estudo das que não atendem. Deste modo, à luz do referencial teórico, fez-se necessário adotar o critério proposto por Bürger de ‘Fragmentação da Realidade’, pois o autor afirma o mesmo como característica inerente à definição do que vem a ser montagem: “[...] a montagem pressupõe a fragmentação da realidade e descreve a fase da constituição da obra” (BÜRGER, 2012, p.134, grifo nosso). O conceito também aparece na discussão da alegoria de Benjamin, como já discutido no primeiro capítulo. Relembrando: a alegoria: "[...] une dois conceitos relativos à estética da produção - dos quais um diz respeito à manipulação do material (o arrancar os elementos a um contexto); o outro, à constituição da obra (aglutinação de fragmentos e atribuição de sentido)" (BÜRGER, 2012, p. 128). A estes fragmentos coletados Bürger denomina “Fragmentação da Realidade”.

Logo, para que a obra de arte pudesse ser incluída na amostra de análise ela precisaria apresentar, como procedimento constitutivo, a Fragmentação da Realidade acima descrita. Ou seja, ter sido confeccionada a partir de materiais não produzidos pelo artista, mas coletado por este. Assim, a partir das obras presentes no livro de Diniz, Herkenhoff e Monteiro (2010); nos

catálogos da exposição Montez Magno: 55 anos de arte (2011); no catálogo da exposição da Série Branca; no acervo já catalogado do pesquisador Itamar Morgado; e com os registros efetuados em visita ao atelier do artista estudado foi possível alcançar o total determinado acima. Em seguida, após a aplicação do critério Fragmentação da Realidade proposto por

Bürger chegou-se ao quantitativo de 78 obras (para maiores detalhes ver APÊNDICE B),

(Tabela 02).

OBRAS

Identificação de: 588 obras

1) CRITÉRIO 1: Fragmentação da realidade (objetos

extraídos de seu contexto); 78 obras

Tabela 02: Processo de seleção das cinco obras. Fonte: o autor mediante pesquisa.

Levando em consideração apenas essas 78 obras, pôde-se visualizar uma mudança de prioridade na prática artística de Montez. Enquanto na década de 50 não há registros de obras confeccionadas segundo o critério acima, os fragmentos da realidade, o final da década de 60 e início dos anos 70 (até 1973) revelam uma maior frequência deste tipo de obra. Já no final dos anos 70 (a partir de 1974), por toda a década de 80 e início dos anos 90, nota-se uma dedicação de Magno à pintura e aos seus Readymade prontos, sem intervenções: enquanto estes aparecem em grande número, a ocorrência das peças criadas e “montadas” a partir da fragmentação da realidade se reduz a zero. Em 1994, porém, Montez retoma gradualmente a regularidade das obras que apresentam Fragmentação da Realidade e estas passam a figurar o acervo constantemente a partir dos anos 2000 (ver APÊNDICE B).

Assim, a análise de uma obra por década para debater a produção de Montez, segundo a montagem de Bürger, do início aos dias atuais apresenta uma lacuna: a década de 1980 não dispõe de material para estudo. Logo, das quase seis décadas de trabalho (58 anos), cinco serão discutidas nesta pesquisa. Deste modo, definiu-se um quantitativo de cinco obras, para serem analisadas qualitativamente no estudo em questão. Para escolha das cinco obras, a princípio foi necessário:

 Classificar as 78 obras por década em que foram concebidas, com o intuito que cada obra representasse individualmente uma década distinta no universo de exploração;

Posteriormente, para cada grupo de obras por ordem cronológica, efetuou-se uma análise qualitativa levando em consideração o referencial teórico do estudo com relação à vanguarda, vanguarda e neovanguarda no Brasil e montagem segundo Peter Bürger. Deste modo, o critério proposto por Bürger de Fragmentação da Realidade, soma-se aos que serão descritos adiante, para enfim selecionar as cinco obras que serão analisadas no estudo em questão:

Obras de Vanguarda: leva em consideração obras que possuem ou não possuem

sentido Vanguardista. Ou seja, que permitam explanar a questão de autonomia da arte e questionem a própria instituição arte através da técnica da montagem. Tais conceitos foram aprofundados no Capítulo 1;

Evidenciar a ideia de “contemplação ativa”, conforme o referencial teórico abordado no Capítulo 3: ou seja, apresentar como princípio norteador não um choque gerado no espectador através de sua denegação de sentido, mas que o levam a um estado de contemplação e reflexão. Para serem selecionadas as obras precisariam levantar a discussão sobre as semelhanças, as diferenças e as ambiguidades entre a teoria de Bürger e a arte monteziana, isto é, entre a vanguarda de Peter Bürger e a neovanguarda de Montez. Este critério fora proposto pelo pesquisador, em face das particularidades da obra de Magno, e possui o objetivo de se contrapor ao critério anterior. Deste modo, as obras analisadas serão discutidas não apenas segundo a teoria de Peter Bürger, mas também com base no referencial teórico apresentado no capítulo 2.

A Tabela 03 explicita o processo desenvolvido para a seleção da amostra de cinco obras para serem analisadas no estudo em questão. Contudo, vale ressaltar que o processo de escolha aconteceu de modo qualitativo com a finalidade de discutir a montagem em Montez, sobretudo à luz de Bürger.

OBRAS

Identificação de: 588 obras

1) CRITÉRIO 1: Fragmentação da realidade (objetos extraídos de

seu contexto);

Classificação temporal das 78 obras

Ordem conforme a década em que

foram produzidas

2) CRITÉRIO 2: Obras de Vanguarda (Possuem ou não possuem

sentido Vanguardista);

5 obras sob análise qualitativa (uma de cada década)

3) CRITÉRIO 3: Contemplação ativa (obras que provocassem uma contemplação no espectador mas que o levasse - internamente - a um estado de grande movimentação);

Tabela 03: Processo de seleção das cinco obras. Fonte: o autor mediante pesquisa.

A seguir serão explicitadas sucintamente as obras a serem analisadas. Posteriormente será apresentado como deverá acontecer a análise das mesmas e em seguida ocorrerá a análise propriamente dita das obras em maiores detalhes, tomando por base o referencial teórico abordado.

Amostra de Pesquisa

A primeira obra a ser discutida data de 1967, princípio de seus trabalhos com base em materiais recolhidos, sendo utilizada como exemplo de seu período inicial. Como afirmado acima, entre 1973 e 1994 houve um intervalo na produção segundo este princípio construtivo. Portanto, com o intuito de oferecer uma visualização destes momentos, uma obra de cada década (uma dos anos 1970 e outra dos 1990), foi selecionada para fazer parte da amostra de estudo. Em seguida, para representar o quarto grupo da amostragem, a obra selecionada para exemplo dos anos 2000 data de 2001. E, para finalizar, uma quinta obra bastante recente, de 2015, foi identificada para observação e debate como símbolo do momento presente (a última década).

Vale salientar que o presente estudo visa identificar pontos de convergência e divergência entre a teoria da vanguarda de Bürger e a obra de Montez Magno, e a aplicabilidade da técnica da montagem na sua produção artística. Justificando, portanto, uma análise qualitativa caso a caso que evidencie os pormenores de cada obra. Assim, as conclusões aqui apontadas refletem a realidade viável da pesquisa. A análise da amostra foi

efetuada a fim de assinalar os elementos estéticos e que aparecem em cada obra, levando-se em consideração os processos da montagem, segundo Peter Bürger.

O reconhecimento dos elementos estéticos e dos processos de produção na obra de Montez foi determinante para o julgamento da amostra. Representou a tentativa de averiguar o processo constitutivo da montagem sob a ótica de Montez Magno, com o objetivo de indagar como foram realizadas as obras, ou seja, quais elementos e processos foram utilizados para concepção das obras selecionadas e quais os sentidos das mesmas, se vanguardistas (contra a autonomia da arte) ou não. A partir deste ponto, identificar e apontar as diferenças de aplicação entre a arte de Montez e a teoria de Bürger.

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