3. METODOLOGIA
3.5 Seleção da Amostra, Coleta e Análise de Dados
De acordo com Bell (1989), os métodos de coleta de dados e informações devem
ser escolhidos de acordo com a tarefa a ser cumprida. Dentro da ampla estratégia de pesquisa
do estudo de caso, vários métodos podem ser empregados, sendo que os mais utilizados
geralmente valem-se da abordagem qualitativa do problema e consistem em entrevistas ou
questionários complementados por entrevistas, conforme Hartley (2004), que afirma
adicionalmente que a observação e a análise documental também são bons métodos aplicáveis
a pesquisas qualitativas.
Conforme observa Cardoso (2001), as etapas de coleta e análise de dados podem
ocorrer em conjunto, originando novas conversas com os entrevistados, de modo a aprofundar
o tema da pesquisa e confirmar o entendimento de aspectos que se mostraram importantes ao
longo do processo de coleta e análise. Tal interação pode determinar inclusive algumas
alterações na abordagem de coleta.
Múltiplas fontes e métodos de coleta de dados foram utilizados, permitindo a
triangulação dos dados e outros aspectos relevantes recomendados por Yin (2005) para a
construção do estudo de caso ideal. A coleta de dados ocorreu por meio de questionários,
entrevistas semi-estruturadas, análise documental, análise de conteúdo e observação
participante.
3.5.1Análise das práticas percebidas da auditoria interna: questionários, entrevistas, análise
documental e observação participante
A dinâmica do processo de auditoria interna da empresa foi analisada em detalhes
por meio de entrevistas, questionários, análise documental e observação participante.
Os processos de gestão de risco, controle e governança foram conhecidos por
meio de análise documental e entrevistas semi-estruturadas com analistas. Para avaliar o
processo de auditoria, previamente à aplicação do questionário, foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas com o superintendente e o gerente da área e análise documental.
Os questionários para avaliação da percepção das práticas de auditoria interna
foram aplicados junto aos gerentes de auditoria (profissionais com atribuições de gestão,
coordenação e revisão de trabalhos), aos auditores internos (profissionais com atribuições de
execução e coordenação em alguns níveis) e aos auditados (gerentes, interlocutores e
responsáveis por controles das áreas auditadas) e enviados por meio de link para resposta a
survey na internet, de modo a garantir o anonimato do respondente, obtendo assim maior
fidedignidade nas respostas.
As perguntas tiveram o objetivo de verificar a percepção dos auditores e dos
auditados sobre a atividade de auditoria interna, avaliando diversos aspectos, tais como a real
capacidade da auditoria de contribuir para (i) a melhoria dos processos de negócio, (ii) a
melhoria do ambiente de controle da empresa e (iii) o controle dos riscos corporativos e
financeiros, atendendo às exigências da SOX.
O questionário foi composto de perguntas fechadas e uma pergunta final aberta, as
primeiras para reduzir a ambigüidade na interpretação das respostas e permitir a utilização da
estatística como método de análise e a última para propiciar um melhor entendimento das
características inerentes à pesquisa e permitir manifestação voluntária do respondente sobre
aspectos que julgasse relevantes. As perguntas permitiram ainda identificar os processos
principais nos quais atuam o respondente, quando auditado, e as áreas que habitualmente
auditam e o tipo de trabalho que realizam (auditoria de controles ou auditoria interna), quando
auditor, com o intuito de permitir verificar se divergências na percepção dos respondentes
podem decorrer de aspectos da auditoria, tais como o tipo de auditoria realizada –
operacional, de sistemas, financeira, gestão ou controle interno – e o processo avaliado.
Também foram considerados aspectos relativos à competência do auditor. Foram elaborados
questionários distintos para auditores e auditados, embora com algumas perguntas
coincidentes, tendo por base as características e atributos da área de auditoria, da empresa e
dos auditores discutidas no referencial teórico.
O questionário aplicado foi submetido previamente a um teste piloto, realizado
com uma pequena amostra de auditores e auditados, com o objetivo de identificar falhas no
instrumento de coleta. Somente após feitas as correções e melhorias nos questionários
submetidos ao piloto, eles foram encaminhados à população da pesquisa.
Após a tabulação das respostas aos questionários, foi realizado procedimento de
triangulação, através de entrevistas, análise documental e observação participante, uma vez
que o pesquisador trabalha na empresa pesquisada. De acordo com Yin (2005), essas são
fontes adequadas de evidências para triangulação no estudo de caso. O roteiro das entrevistas
semi-estruturadas realizadas junto aos auditores foi elaborado considerando-se os objetivos da
pesquisa. A escolha dos entrevistados ocorreu em duas etapas: a primeira, pela identificação
de grupos de respondentes em que se desejava confirmar alguma informação; a segunda se
deu por meio da seleção aleatória de um ou mais componentes do grupo. Conforme Triviños
(1987), a entrevista semi-estruturada é um dos instrumentos de pesquisa mais decisivos para
analisar os processos de interesse do pesquisador qualitativo. Os resultados das entrevistas
foram comparados aos dos questionários, dando mais sinergia à análise de dados.
A análise documental abrangeu diversos tipos de documentos relevantes para a
compreensão da dinâmica da auditoria interna, tais como o estatuto da área, seu planejamento
periódico, programas de testes, relatórios de auditoria, indicadores de desempenho da
auditoria interna e outras comunicações. Por meio dessa análise, informações relevantes sobre
o contexto da auditoria interna foram levantadas e dados apurados nos questionários e
entrevistas foram confirmados e puderam ser mais bem esclarecidos.
A observação participante ocorreu durante toda a pesquisa. Conforme Valladares
(2007), a observação participante implica, necessariamente, em um processo longo. Muitas
vezes, o processo começa com a negociação do pesquisador para poder acompanhar o grupo.
No entanto, independente dessa etapa, o tempo é um pré-requisito importantíssimo para a
observação participante porque a compreensão do comportamento de pessoas e processos
exige que eles sejam observados por um longo período, e não apenas num momento único.
O pesquisador atua na área de auditoria interna da empresa pesquisada desde
2003. No início de 2009, ao ter definida sua pesquisa, passou a observar com maior
imparcialidade os fenômenos que ocorriam dentro da empresa e da área estudada. Desde o
início do levantamento preliminar de informações para a pesquisa, seguido pela análise de
conteúdo de seu aparato normativo até os procedimentos finais de triangulação do estudo de
caso, decorreram quinze meses. Nesse tipo de observação, Valladares (2007) ressalta que as
entrevistas formais muitas vezes não são necessárias, com os dados podendo chegar ao ao
pesquisador sem que ele faça qualquer esforço para obtê-los.
No que tange à qualidade do serviço de auditoria, foram identificados e analisados
indicadores de desempenho em uso e em implantação, relativos à qualidade, aos prazos e aos
resultados das auditorias, que mensuram os principais objetivos da auditoria interna da
empresa pesquisada.
As conclusões da pesquisa foram orientadas pelo conteúdo das respostas aos
questionários e entrevistas e pela análise documental e observação participante, sendo
também embasadas pelos estudos e teorias existentes sobre o tema pesquisado.
No documento
Belo Horizonte 2010
(páginas 72-75)