• Nenhum resultado encontrado

As microbacias foram escolhidas em uma área que abrange o Complexo Metamórfico Bação e adjacências. Os fatores avaliados na seleção estão entre aqueles considerados essenciais no comportamento hídrico de uma bacia de drenagem: geologia, geomorfologia e o grau de degradação, incluindo neste, processos erosivos e cobertura vegetal (Castany 1971, Custodio & Llamas 1976, Fetter 1988, Moldan & Cerný 1994, Bacellar 2000, Lima & Zakia 2000).

Conforme exposto no capítulo 4, várias microbacias foram pré-selecionadas conforme possuíssem particularidades condizentes com o objetivo do trabalho. Estas foram então analisadas para averiguar se as condições eram adequadas para o monitoramento. Além de quesitos operacionais, foi observado o grau de influência antrópica, evitando-se bacias muito perturbadas pelo homem, uma vez que se busca o reflexo de condições naturais nos processos hidrológicos. Como exceção, propositalmente foram escolhidas duas microbacias com voçoroca (B8.1 e B3). Neste sentido, as principais questões observadas foram:

• A não-regularização da drenagem ou qualquer outro tipo de alteração artificial que pudesse modificar o comportamento natural do fluxo. Para que os dados de vazão possam ser usados como índices das condições hidrogeológicas locais, é necessário que estes sejam conseqüências apenas de fatores naturais. Um canal que possui uma barragem, por exemplo, apresentará um hidrograma de forma típica em conseqüência da regularização (Pinto et al. 1976).

• Microbacias com retiradas consideráveis de água, seja por poços tubulares ou por captação diretamente no canal, também foram evitadas, considerando que na escala de trabalho estas abstrações poderiam causar apreciáveis variações no deflúvio. Uma prática relativamente comum na região é o desvio artificial dos canais. Os produtores rurais desviam parte da água dos córregos, que passam a fluir por gravidade em canais artificialmente construídos até desaguar em açudes ou rodas d’água de moinho. Tal alteração também é indesejada frente à proposta do estudo.

• Em algumas microbacias pré-selecionadas foi constatada a prática de drenagem das áreas de várzea: são escavados canais para drenar a área pantanosa e adequá-la para plantio agrícola. Este tipo de interferência modifica a interação natural entre a água subterrânea, a água da várzea (armazenada nas margens, planície de inundação e pântanos) e a água do rio, podendo causar alterações no regime hídrico local (Winter et al. 1998). Um exemplo é a redução da possibilidade do fluxo superficial de saturação (item 3.4.1), que ocorre preferencialmente nas partes baixas, devido à subida do lençol freático na época das chuvas. Pode ainda haver conseqüências em relação à dinâmica hidroquímica local (Hewlett & Hibbert 1967 in Moldan & Cerný 1994).

• Algumas microbacias estavam localizadas próximas a povoados e sofriam os mais diversos tipos de interferências, desde captações até impermeabilizações de áreas consideráveis. São denominadas bacias urbanas e também não são indicadas para o estudo proposto.

• E ainda, uma vez que se pretendia usar vertedores portáteis para determinar a vazão, entre outras condições (vide anexo 1), era desejável que o canal: 1) tivesse paredes relativamente altas, permitindo a instalação da placa e a formação do remanso à montante; e 2) possuísse trecho retilíneo para instalação do vertedor. Os córregos de algumas microbacias pré-selecionadas encontravam-se intensamente assoreados e o canal nem sempre era bem definido, não apresentando assim condições de monitoramento.

• Houve ainda outras dificuldades, como a não autorização do proprietário do terreno para o monitoramento ou ausência de pessoas que morassem nas proximidades e se dispusessem a monitorar.

Assim, várias microbacias pré-selecionadas não puderam ser monitoradas e, a princípio, somente 10 foram instrumentadas. Cada microbacia recebeu uma numeração conforme foi sendo definida (B1, B2, B3, B3.1, B4, B5, B6, B7, B8 e B8.1) e, para facilitar a identificação, cada uma foi designada com nomes da drenagem local principal ou do povoado mais próximo (tabela 5.1).

O monitoramento da microbacia B7 teve que ser interrompido logo após iniciado o monitoramento. Localizada nas margens do Córrego Holanda, constitui-se em sua maior parte por uma voçoroca de porte considerável e em avançado estágio de evolução. Inicialmente, nesta microbacia foi instalado um vertedor, e embora este instrumento não fosse o mais adequado para medições em canais com grandes aportes de sedimentos (Custodio & LLamas 1976, Rantz 1982), esperava-se que alguns ajustes viabilizassem o seu uso, como as alças fixas no vertedor para facilitar a limpeza periódica do material assoreado (ABNT 1995) (Figura 5.1). Porém, ainda assim, o volume de sedimento carreado após picos de chuva foi tal que chegou a arrancar várias vezes e amassar a placa de metal, tornando impraticáveis as medições com um mínimo de acurácia. Decidiu-se então parar o monitoramento nesta microbacia, considerando que o objetivo geral do trabalho não seria prejudicado, uma vez que se tem outra microbacia com características semelhantes (microbacia B3, em região de gnaisse, com voçoroca).

A

B

Figura 5.1 – A = Vertedor instalado na microbacia B7, constituída em grande parte por uma voçoroca. Notar a

expressiva quantidade de sedimento em suspensão e assoreamento à montante do vertedor. B = Canal da microbacia B7, assoreado em conseqüência da voçoroca. (Fotografado em outubro/2003).

As nove microbacias então definidas para o estudo foram detalhadamente caracterizadas, (resumo na tabela 5.1).

A microbacia B1 possui uma peculiaridade. Seu córrego principal teve uma parcela do fluxo desviada, e assim, a partir de certo ponto a água flui por dois canais aproximadamente paralelos, dentro da mesma microbacia. Segundo moradores, este desvio foi feito há décadas. Como discutido no início deste item, tal interferência pode alterar características hidrológicas locais. Porém, como nesta microbacia o desvio é antigo e ocorre em um trecho relativamente pequeno quando comparado com o tamanho da bacia, acredita-se que já se tenha estabelecido condições permanentes quanto ao fluxo subterrâneo e assim decidiu-se monitorá-la, julgando não haver interferências significativas nos resultados. Exclusivamente neste caso foi necessária a instalação de dois vertedores. Assim, o deflúvio desta microbacia foi obtido a partir da soma da vazão medida nos dois vertedores. Por vezes o canal principal é referido como B1 e o desvio como B1.1.

Em relação às microbacias conjugadas B3 e B3.1, é importante destacar que são contíguas e independentes entre si, correspondendo a duas drenagens distintas. Possuem características muito semelhantes, se diferenciando pela presença da feição erosiva. A microbacia B3 constitui-se em grande parte (cerca de 40%) por uma voçoroca com dígitos bem desenvolvidos, responsáveis por contínua produção de sedimentos, embora apresente alguns setores mais estáveis, inclusive com a regeneração parcial da vegetação. Por outro lado, a microbacia B3.1 está totalmente livre de erosão em canais, possuindo cerca de 60% em área de mata preservada. Desta forma, estas microbacias foram monitoradas na expectativa de se detectar eventual comportamento hidrológico anômalo que seria conseqüência direta da presença de feição erosiva, assim como quantificar o grau de influência desta variável. Algo semelhante ocorre na microbacia B8.1, que se constitui em grande parte por uma voçoroca, e na B8, que se encontra livre de processos de erosão acanalada (Figura 5.2) (Costa & Bacellar 2005).

Tabela 5.1 – Síntese das características das microbacias monitoradas.

Microbacias Referência (KmÁrea 2) predominante Geologia

Domínio Geomorfo- lógico Erosão Classe de degradação Início do monitora- mento B 1 Soledade Cór. 1,023 Gnaisse 2 voçoroca sem preservada abr/03

B 2 Barrero 0,098 Gnaisse 2 voçoroca sem preservada abr/03

B 3 Maracujá Cór. 0,399 Gnaisse e granito 1B voçoroca com degradada muito mai/03

B 3.1 Maracujá Cór. 0,146 Gnaisse e granito 1 B voçoroca sem preservada mai/03

B 4 Cór. do Canal 0,861 Gnaisse 1B e 2 voçoroca sem degradada pouco mai/03

B 5 CDB 0,271 Gnaisse e granito 3 voçoroca sem preservada mai/03

B 6 Peixoto Cór. 0,915 Gnaisse e outras 3 voçoroca sem preservada mai/03

B 8 Sg Minas 0,178 Xistos e filitos 4A voçoroca sem degradada pouco jul/03

Figura 5.2 – Microbacia B8: sem processo erosivo atual instalado; Microbacia B8.1: com destaque para a

voçoroca presente (Fotografia de outubro/2003).

As nove microbacias instrumentadas localizam-se na bacia do rio Maracujá (BRM), entre os meridianos 43º 37’ 30’’ e 44º 45’ 00’’ W e os paralelos 20º 14’ 30’’ e 20º 25’ 30’’ E (Figura 5.3), estando distribuídas em uma região compreendida entre Ouro Preto e Itabirito, especificamente nos distritos de Cachoeira do Campo, Amarantina e Glaura, integrantes do primeiro município. O acesso se dá por vias secundárias a partir da rodovia BR356 (OP à Br040), desde as proximidades do Centro Dom Bosco, em Cachoeira do Campo, até o trevo de acesso à mina de Capanema (CVRD). A região possui razoável número de estradas vicinais que levam às áreas das microbacias. A tabela 5.2 contém a localização precisa de cada microbacia, indicando o posicionamento em relação à rede de drenagem local (rio Maracujá), assim como a identificação por coordenadas UTM dos locais de instalação do vertedor. Por razões logísticas (conforme exposto no capítulo 4), na maioria das microbacias o vertedor foi instalado à montante do exutório.

Mar acujá C anal do C órrego B 3 0 2000m Bacia do Alto rio das Velhas Brasil Rio São Fran cisco MG Microbacias Drenagens Bacia do rio Maracujá B 3.1 B 6 B 4 B 2 B 5 B1 B 8.1 B 8 B 7

Figura 5.3 – Localização das microbacias monitoradas

Tabela 5.2 – Localização das microbacias e dos pontos de instalação dos respectivos vertedores.

Micro

bacia Drenagem principal/Localização

Ponto de instalação do vertedor (coordenadas UTM)

B1 Córrego Soledade: afluente esquerdo do Rio Maracujá, entre o córrego Holanda e rio da Prata. Porção central da BRM.

Vertedores do desvio e do canal principal próximos a UTM 7751240N – 636230E

B2 Sua drenagem deságua no rio da Prata, próximo à confluência deste com o Rio Maracujá. Localiza-se imediatamente a noroeste da microbacia B1, no povoado de Barreiro.

UTM 7751402N – 635396E

B3 B3.1

As drenagens destas duas microbacias se juntam para formar o último afluente esquerdo do Córrego Maracujá antes deste desaguar no rio Maracujá, na porção norte da bacia homônima

Vertedores imediatamente à montante da confluência destas duas drenagens: UTM 7757000N – 635540E

B4 É drenada pelo Córrego do Canal, tributário do Córrego dos Padres que deságua no rio Maracujá na porção nordeste da

BRM. UTM 7756748N – 639914E

B5 Afluente do rio Maracujá na parte sudeste da bacia. Está localizada nos terrenos do Centro Dom Bosco (CDB), no

distrito de Cachoeira do Campo. UTM 7746899N – 641472E B6 Córrego do Peixoto, tributário direito do Rio Maracujá, na porção centro-leste da bacia homônima. UTM 7752000N – 638734E B8

B8.1

As microbacias B8 e B8.1 localizam-se na porção sul da BRM. São bacias contíguas, com drenagens independentes, que deságuam diretamente no rio Maracujá.