• Nenhum resultado encontrado

Seleção de genótipos de melancia quanto à resistência à mancha aquosa

No documento Download/Open (páginas 30-54)

Francisco C. Q. Carvalho • Liliana A. Santos• Rita C. S. Dias • Rosa L. R. Mariano •

Elineide B. Souza

Resumo A mancha aquosa, causada pela bactéria Acidovorax citrulli, é uma séria ameaça

para a cultura da melancia no Brasil. Até o momento não existem variedades resistentes à doença, sendo necessárias pesquisas buscando fontes de resistência. Visando selecionar genótipos com potencial de utilização no manejo da mancha aquosa, avaliou-se o nível de resistência de genótipos de melancia pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste Brasileiro (BAG) da Embrapa Semiárido, em diferentes estádios de desenvolvimento da planta: sementes (74 genótipos), plântulas e plantas antes da floração (29 genótipos) e plantas durante a floração e frutificação (7 genótipos). Os genótipos foram avaliados quanto a incidência ou severidade da doença, esta estimada com auxílio de escalas descritivas. Adicionalmente, foi determinada a transmissão de A. citrulli em sementes oriundas de frutos sintomáticos e assintomáticos. Nenhum genótipo de melancia foi imune à mancha aquosa, e a maioria apresentou variação nas reações de resistência. Porém, os genótipos BGCIA 979, BGCIA 34 e ‘Sugar Baby’ mostraram altos níveis de resistência na maioria dos estádios de desenvolvimento da planta, indicando possuírem genes para resistência à mancha aquosa que poderão ser utilizados em programas de melhoramento. Sementes de frutos sintomáticos e assintomáticos dos sete genótipos apresentaram transmissão de A. citrulli de até 35,3% e 8,7%, respectivamente, confirmando que frutos assintomáticos podem abrigar sementes contaminadas, responsáveis pela transmissão da bactéria.

Palavras-Chave: Citrullus lanatus, Acidovorax citrulli, resistência genética, pré-

Introdução

A melancia (Citrullus lanatus) vem se destacando como um importante produto do agronegócio nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil (Agrianual 2011), que ocupou em 2009 a quarta posição entre os principais países produtores (Fao 2010).

A mancha aquosa causada pela bactéria Acidovorax citrulli é uma doença destrutiva que tem sido responsável por significativas perdas econômicas em melancia, principalmente nos Estados Unidos (Hopkins et al. 1993). No Brasil, embora seja mais relevante para a cultura do meloeiro, foi detectada em plantios de melancia nos estados de Minas Gerais (Macagnan et al. 2003), Roraima (Halfeld-Vieira e Nechet 2007), Pernambuco, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, preocupando produtores e pesquisadores. As epidemias de mancha aquosa em melancia têm sido atribuídas ao plantio de sementes contaminadas e os prejuízos econômicos têm sido elevados devido às restrições de comercialização dos frutos. A mancha aquosa representa um risco potencial para a cultura da melancia no Brasil uma vez que, isolados de A. citrulli provenientes de meloeiro são patogênicos a melancia (Oliveira et al. 2007; Walcott et al. 2004), plantios dessas duas cucurbitáceas são frequentemente encontrados numa mesma área e a bactéria sobrevive em plântulas voluntárias e diversas hospedeiras alternativas encontradas em áreas de cultivo (Nascimento et al. 2004; Oliveira et al. 2003; Robbs et al. 1991).

A. citrulli pode afetar diferentes órgãos da planta de melancia, em diferentes estádios

de desenvolvimento. No entanto, os sintomas mais comuns e de fácil diagnose ocorrem nos frutos, onde pequenas manchas encharcadas com margens irregulares, medindo menos de 1 cm de diâmetro (Latin e Hopkins 1995), expandem-se e tornam-se necróticas. Posteriormente, a bactéria coloniza a polpa do fruto, contaminando a semente externa e internamente através da região do hilo, o que dificulta a erradicação (Isakeit 1999). Rachaduras são frequentemente visualizadas, o que acentua a podridão dos frutos pela entrada de patógenos secundários (Hopkins e Thompson 2002).

As diversas medidas de controle recomendadas para a mancha aquosa, incluindo tratamento químico e físico de sementes (Hopkins et al. 2003; Moraes et al. 2002; Rane e Latin 1990; Santos e Viana 2000; Silva Neto et al. 2003; Sowell e Schaad 1979) e tratamento químico no campo (Hopkins 1991; Latin e Hopkins 1995; Walcott et al. 2001), têm tido eficiência limitada. Dessa forma, outras medidas são necessárias para diminuir os danos causados por A. citrulli, sendo a resistência o controle ideal (Hopkins e Thompson 2002). No entanto, não existem variedades de cucurbitáceas com resistência à mancha aquosa.

Várias seleções para resistência à mancha aquosa têm sido realizadas com diferentes acessos e variedades. No entanto, variações nos resultados frequentemente têm sido encontradas, devido principalmente a diferenças nas condições experimentais (Hopkins e Thompson 2002) e a alta variabilidade dos isolados utilizados (Hopkins 1993). Pioneiramente, Sowell e Schaad (1979) encontraram os genótipos de melancia PI 295843 e PI 299378, como potenciais fontes de resistência à mancha aquosa, embora esta resistência não tenha sido confirmada posteriormente em plântulas e frutos inoculados (Hopkins et al. 1993). Em 2002, um total de 1.344 acessos de Citrullus spp. e Praecitrullus fistulosus testados sob condições climáticas de inverno e verão, em casa vegetação e campo, e PI 482279 e PI 494817 foram aqueles que apresentaram a menor incidência da doença em folhas de melancia, em campo, e foram considerados as melhores fontes de resistência à mancha aquosa (Hopkins e Thompson 2002).

No Brasil, não existem trabalhos com seleção de fontes de resistência em melancia à mancha aquosa. Em meloeiro, Buso et al. (2004) avaliaram 76 acessos do Banco Ativo de Germoplasma de Melão da Embrapa Hortaliças e encontraram cinco genótipos com significativos graus de resistência à doença.

Considerando a importância socioeconômica da melancia para o Nordeste Brasileiro, a potencial ameaça da mancha aquosa para essa cultura e a inexistência de medidas de controle realmente eficazes para essa doença, este trabalho teve como objetivo selecionar genótipos de melancia com fonte de resistência à mancha aquosa em diferentes estádios de desenvolvimento da planta: sementes, plântulas e plantas.

Material e métodos

Obtenção do isolado de Acidovorax citrulli

Foi utilizado o isolado IBSBF1213 de A. citrulli, obtido de fruto de melancia de Presidente Prudente-SP e procedente da Coleção de Culturas de Fitobactérias do Instituto Biológico. O cultivo foi realizado em meio ágar nutritivo - extrato de levedura - dextrose (NYDA) (Pusey e Wilson 1984), realizando-se teste de patogenicidade em plântulas, plantas e frutos de melancia cv. Charleston Gray (Araújo et al. 2005; Silveira et al. 2003; Somodi et al. 1991).

Para utilização nos experimentos, o isolado foi cultivado em meio NYDA por 36-48 horas a uma temperatura de 25 ± 2°C. Após este período, água destilada esterilizada foi

adicionada a placa de Petri contendo o crescimento bacteriano e a concentração da suspensão foi ajustada em fotocolorímetro (Analyser®) a 570 nm de absorbância, onde A570 = 0,25 equivale a 3,4 x 107 UFC/ml. No momento das inoculações Tween 20 (0,005%) foi adicionado à suspensão bacteriana.

Genótipos de melancia

Nos ensaios foram avaliados 74 genótipos de melancia pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Cucurbitáceas para o Nordeste Brasileiro (BAG) da Embrapa Semiárido, em Petrolina-PE, sendo 11 cultivares: Crimson Select, Sugar Baby, Crimson Sweet, Pérola, Clarleston Gray, Riviera, BRS Opara, Mickelee, Hollar Premium, Peacock e BRS Kuarah; 41 variedades crioulas: 12 coletados em municípios da Bahia (BGCIA 2, BGCIA 8, BGCIA 12, BGCIA 26, BGCIA 28, BGCIA 30, BGCIA 34, BGCIA 36, BGCIA 43, BGCIA 64, BGCIA 115 e BGCIA 123), 3 provenientes de Pernambuco (BGCIA 951, BGCIA 973 e BGCIA 976) e 26 provenientes da multiplicação de acessos coletados na Bahia e no Maranhão (BGCIA 806, BGCIA 807, BGCIA 809, BGCIA 811, BGCIA 812, BGCIA 814, BGCIA 815, BGCIA 817, BGCIA 818, BGCIA 819, BGCIA 820, BGCIA 821, BGCIA 822, BGCIA 823, BGCIA 824, BGCIA 825, BGCIA 826, BGCIA 827, BGCIA 829, BGCIA 830, BGCIA 833, BGCIA 834, BGCIA 835, BGCIA 843, BGCIA 849 e BGCIA 856); e 22 progênies provenientes de programas de melhoramento da Embrapa Semiárido (BGCIA 40, BGCIA 219, BGCIA 225, BGCIA 226, BGCIA 227, BGCIA 240, BGCIA 857, BGCIA 952, BGCIA 953, BGCIA 954, BGCIA 955, BGCIA 957, BGCIA 959, BGCIA 960, BGCIA 961, BGCIA 962, BGCIA 963, BGCIA 964, BGCIA 967, BGCIA 975, BGCIA 979 e CPATSA 08.2214.001). Os genótipos se encontravam preservados em câmara fria a 10°C e 40% de umidade relativa.

Inoculação em sementes

Vinte sementes de cada um dos 74 genótipos de melancia foram imersas por duas horas sob agitação leve em 20 ml de suspensão de A. citrulli e postas para secar por 16 horas a temperatura ambiente (25 ± 2ºC). Em seguida, foram semeadas em bandejas de polietileno (JKS industrial LTDA®), contendo uma mistura de solo:húmus (1:1), e mantidas em casa de vegetação. Após a emergência, as plântulas foram submetidas à câmara úmida por 24 horas. A avaliação foi realizada 14 dias após o plantio, sendo determinada a severidade da doença, estimada com auxílio de uma escala descritiva com notas de 0 a 5, onde: 0 - plântulas sem

sintomas; 1 - plântulas com lesões marginais em até 50% de uma ou ambas as folhas cotiledonares; 2 - plântulas com lesões marginais em até 75% de ambas as folhas cotiledonares, poucas lesões no centro do limbo, deformação foliar leve; 3 - plântulas com lesões marginais em 100% de ambas as folhas cotiledonares, muitas lesões no centro do limbo, deformação foliar acentuada, enfezamento; 4 - plântulas com lesões marginais em 100% de ambas as folhas cotiledonares, muitas lesões no centro do limbo progredindo para o hipocótilo, deformação foliar total, enfezamento; 5 - necrose total das folhas cotiledonares e hipocótilo, tombamento e morte (Araújo et al. 2005). A cv. Charleston Gray foi utilizada como padrão de suscetibilidade (Hopkins e Thompson 2002). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições, sendo cada repetição constituída por quatro plântulas.

Inoculação em plântulas

Neste ensaio foram utilizados 29 genótipos de melancia, representando graus distintos de resistência à mancha aquosa, selecionados no ensaio de inoculação em sementes. As plântulas foram cultivadas em vasos de 300 ml, contendo a mistura solo:húmus (1:1), por 14 dias, quando as folhas cotiledonares foram pulverizadas com a suspensão do patógeno até o escorrimento (Araújo et al. 2005). As mudas foram submetidas à câmara úmida de pré e pós- inoculação por 24 horas, sendo mantidas em casa de vegetação. Seis dias após a inoculação, avaliou-se a severidade da doença, estimada com auxílio de uma escala descritiva com notas variando de 0 a 5, onde: 0 - plântulas sem sintomas; 1 - plântulas com lesões cobrindo até 25% de uma ou ambas as folhas cotiledonares, hipocótilo sem sintomas; 2 - plântulas com lesões cobrindo de 26 a 50% de uma ou ambas as folhas cotiledonares, hipocótilo sem sintomas; 3 - plântulas com lesões cobrindo de 51 a 75% de uma ou ambas as folhas cotiledonares, hipocótilo sem sintomas; 4 - plântulas com lesões cobrindo de 76 a 100% de uma ou ambas as folhas cotiledonares, hipocótilo sem sintomas; 5 - necrose total das folhas cotiledonares, lesões ou necrose total do hipocótilo, tombamento e morte da plântula (Araújo et al. 2005). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições, sendo cada repetição constituída por quatro plântulas.

Inoculação em plantas antes da floração

Os mesmos 29 genótipos utilizados no ensaio anterior, foram cultivados em vasos de 500 ml, contendo a mistura solo:húmus (1:1), por cinco semanas, quando as folhas definitivas foram pulverizadas com a suspensão do patógeno até o escorrimento (Silveira et al. 2003). As plantas foram submetidas à câmara úmida de pré e pós-inoculação por 24 horas, sendo mantidas em casa de vegetação. Dez dias após a inoculação avaliou-se a severidade da doença, estimada com auxílio de uma escala descritiva adaptada de Azevedo (1997), com notas variando de 0 a 6, onde: 0, sem sintomas; 1 - 1 a 5% de área foliar infectada; 2 - 6 a 12% de área foliar infectada; 3 - 13 a 37% de área foliar infectada; 4 - 38 a 62% de área foliar infectada; 5 - 63 a 87% de área foliar infectada; 6 - 88 a 100% de área foliar infectada. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco repetições, sendo cada repetição constituída por quatro plantas, avaliando-se duas folhas por planta.

Inoculação em plantas em estádios de floração e frutificação

O experimento foi conduzido em telado (50% de luminosidade) do Campo Experimental de Bebedouro da Embrapa Semiárido, Petrolina-PE, com sete genótipos de melancia, sendo seis (BGCIA 979, BGCIA 34, ‘Peacock’, BGCIA 849, BGCIA 28 e ‘Sugar ‘Baby’) selecionados entre os mais resistentes e um (‘Charleston Gray’), entre os mais suscetíveis. O semeio foi realizado em bandejas de poliestireno, preenchidas com substrato comercial para hortaliças (Plantmax®). O transplantio ocorreu aos 12 dias após o semeio para vasos preenchidos com cinco litros de mistura de solo natural:esterco (3:1) e 30 g da fórmula 6-24-12. Em cobertura, houve a aplicação parcelada de 10 g de N e 8 g de K por planta, utilizando as formulações nitrato de cálcio e sulfato de potássio, aos 20, 30 e 40 dias após o plantio. As plantas foram tutoradas e irrigadas por gotejamento.

Durante a emissão das flores femininas (sete semanas após o plantio), as plantas (folhas e flores) foram inoculadas com auxílio de um pulverizador costal (Guarany®), até o escorrimento da suspensão do patógeno. Quinze dias após a inoculação, avaliou-se a severidade da doença, estimada com auxílio de uma escala descritiva com notas variando de 0 a 6, onde: 0 - 0% de folhas sintomáticas; 1 - 10% ou menos de folhas sintomáticas; 2 - 11 a 25% de folhas sintomáticas; 3 - 26 a 50% de folhas sintomáticas; 4 - 51 a 75% de folhas sintomáticas; 5 - 76 a 90% de folhas sintomáticas; 6 - mais de 90% de folhas sintomáticas

(Bahar et al. 2009). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições, sendo cada repetição constituída por quatro plantas.

As plantas em estádio inicial de frutificação (oito semanas após plantio) foram novamente inoculadas (frutos), e os frutos próximos do ponto de colheita foram avaliados quanto à incidência da doença.

Teste de transmissão em sementes

Frutos com sintomas da mancha aquosa e frutos assintomáticos foram coletados dos sete genótipos testados no ensaio anterior. As sementes foram lavadas e postas para secar a temperatura ambiente (25 ± 2°C) por 20 dias e 40 sementes de cada fruto foram semeadas em bandejas de polietileno, contendo a mistura solo:húmus (1:1). As plântulas emergidas foram submetidas à câmara úmida por 24 horas e 14 dias após o plantio, avaliadas quanto à incidência da doença.

Análises estatísticas

Todos os experimentos foram conduzidos duas vezes. Os dados obtidos foram analisados quanto aos pressupostos da análise de variância (ANOVA) e submetidos a testes de comparação de média (Tukey) ou teste de agrupamento (Scott-Knott) ao nível de 5% de probabilidade, com o auxílio dos programas STATISTIX® (versão 9.0, Analytical Software, Tallahassee) e SISVAR® (Ferreira 1992), respectivamente. Para o experimento que não atendeu aos pressupostos da ANOVA, foi realizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis ao nível de 5% de probabilidade com auxílio do programa STATISTIX®.

Resultados

Inoculação em sementes

Os resultados dos dois experimentos para seleção de 74 genótipos de melancia quanto à resistência à mancha aquosa através da inoculação de A. citrulli em sementes diferiram significativamente entre si, sendo os dados analisados separadamente. As médias de temperatura e umidade relativa do ar foram de 31,6°C e 64,6% e de 28,1°C e 51,2% para os experimentos 1 e 2, respectivamente.

Os genótipos apresentaram variabilidade significativa (P ≤ 0,05) quanto à resistência à mancha aquosa em ambos os experimentos. As médias de severidade representaram praticamente todos os níveis da doença no experimento 1, variando de 1,2 a 4,8 observando-se menor severidade no experimento 2 (0,2 a 3,1) (Tabela 1).

Diferentes níveis de resistência à mancha aquosa foram apresentados pelos genótipos e variações foram observadas entre os dois experimentos. No experimento 1, os genótipos ‘Crimson Select’, BGCIA 843, BGCIA 979, BGCIA 952 e BGCIA 8 foram os mais resistentes à mancha aquosa (grupo A), no entanto, só diferiram significativamente de BGCIA 959 (grupo B). No experimento 2, com exceção de BGCIA 952 (grupo A), esses mesmos genótipos apresentaram uma maior suscetibilidade a doença que os demais (grupos B e C).

Inoculação em plântulas

Similarmente ao que ocorreu na inoculação em sementes, os resultados obtidos nos dois experimentos não foram significativos entre si, sendo as análises realizadas separadamente. No decorrer dos experimentos, as médias de temperatura e umidade relativa do ar foram de 29,6°C e 62,5%, respectivamente.

Em ambos os experimentos, as médias da severidade da doença variaram de 2,3 a 4,0 (Tabela 2). Fixando a média máxima da severidade em 3,7, 11 genótipos (38%) classificados nos grupos A e B do experimento 1 e 17 genótipos (58%) distribuídos nos grupos A, B, C, D, E e F do experimento 2, mostraram algum potencial para resistência à mancha aquosa em relação aos demais (Tabela 2). Comparando-se estes resultados, verificou-se que os genótipos BGCIA 962, BGCIA 28, BGCIA 34, BGCIA 979, BGCIA 849, BGCIA 952, BGCIA 8, ‘Peacock’ e ‘Sugar Baby’ mantiveram os padrões de resistência, estando entre os grupos A e B do experimento 1 e A, B, C, D, E e F do experimento 2. Em contraste, alguns genótipos apresentaram variações, como é o caso do BGCIA 812 e ‘Pérola’, com algum grau de resistência no experimento 1 e altamente suscetíveis no experimento 2. Por outro lado, os genótipos BGCIA 2, BGCIA 40 e BGCIA 12 apresentaram comportamento inverso. A cv. Charleston Gray, considerada como padrão de suscetibilidade, apresentou alta severidade da doença nos dois experimentos.

Inoculação em plantas antes da floração

Os resultados dos dois experimentos conduzidos para avaliar resistência de 29 genótipos de melancia antes da floração foram similares e significativos entre si, sendo os dados analisados conjuntamente. No decorrer dos experimentos as médias de temperatura e umidade relativa do ar foram de 27,7°C e 67,6%, respectivamente.

Os genótipos foram separados em sete grupos, com a severidade da mancha aquosa variando de 1,5 para BGCIA 979 a 4,2 para BGCIA 843 (Tabela 3). Esses mesmos genótipos, no ensaio de inoculação em plântulas (experimento 2) (Tabela 2), também representaram os extremos de resistência e suscetibilidade. Nesse estádio de desenvolvimento da planta, 69% dos genótipos foram incluídos dentro dos grupos com maior resistência (A, B, C e D).

Inoculação em plantas em estádios de floração e frutificação

Os resultados dos dois experimentos conduzidos para avaliar resistência de 7 genótipos de melancia em estádio de floração e frutificação foram significativos entre si, sendo os dados analisados conjuntamente. As médias de temperatura ambiente e umidade relativa do ar em telado foram de 34,3°C e 46,3%, respectivamente.

Plantas durante a floração apresentaram baixa severidade da doença, com média máxima de 2,1 (Tabela 4) em uma escala de 1-6, com base na porcentagem de folhas sintomáticas (Bahar et al. 2009). Os 2 genótipos mais resistentes nesse estádio, ‘Sugar Baby’ e BGCIA 979, diferiram significativamente (P ≤ 0,05) dos 4 mais susceptíveis, ‘Peacock’, BGCIA 34, BGCIA 28 e BGCIA 849, os quais não deferiram entre si (Tabela 4). ‘Sugar Baby’ e BGCIA 979 também estavam entre os genótipos mais resistentes nos ensaios de inoculação em plântulas (Tabela 2) e plantas antes da floração (Tabela 3). A cv. Charleston Gray diferiu significativamente do genótipo mais resistente (‘Sugar Baby’) e mais suscetível (BGCIA 849), entretanto sem diferir dos demais tratamentos.

A incidência da doença em frutos variou entre os genótipos de 43,3 a 100%. Os 3 genótipos com menor incidência da doença, BGCIA 979, ‘Sugar Baby’ e BGCIA 34, apresentaram resultados significativos (P ≤ 0,05) quando comparado com os 3 genótipos com maior incidência, ‘Peacock’, ‘Charleston Gray’ e BGCIA 849. Conforme observado em outros estádios de desenvolvimento da melancia, as cvs. Sugar Baby e Charleston Gray comportaram-se como mais resistente e suscetível à mancha aquosa, respectivamente (Tabela 4).

Teste de transmissão em sementes

Os frutos sintomáticos e assintomáticos dos 7 genótipos apresentaram sementes contaminadas que originaram plântulas com sintomas típicos da mancha aquosa. A incidência da doença em frutos sintomáticos variou de 7,3% para o genótipo BGCIA 34 a 35,3% para o genótipo ‘Charleston Gray’; enquanto nos frutos assintomáticos variou de 3,3% (‘Charleston Gray’) a 8,7% (‘Sugar Baby’) (Tabela 5).

Discussão

A mancha aquosa é uma doença responsável por elevadas perdas econômicas na cultura do meloeiro no Brasil (Sales Júnior e Menezes 2001) e uma grande ameaça para a melancia. Isto justifica o desenvolvimento de programas de melhoramento visando à obtenção de variedades dessa olerícola com resistência a doença, sendo necessárias pesquisas em busca de fontes de resistência.

Cucurbitáceas são suscetíveis à mancha aquosa em vários estádios de desenvolvimento da planta, sendo este um obstáculo na seleção para resistência (Bahar et al. 2009). A combinação de resultados obtidos em ensaios realizados em diferentes estádios de desenvolvimento da planta tornará a seleção de fontes de resistência à mancha aquosa mais confiável em condições de ocorrência natural da doença.

A seleção de fontes de resistência através da inoculação em sementes é importante porque A. citrulli é habitante desse órgão, tendo sobrevivido em sementes de melancia procedentes de frutos infectados durante 12 meses, em condições de laboratório (Hopkins et al. 1996). Além disso, a transmissão deste patógeno por sementes é muito eficiente, variando de 33 a 91% e de 10 a 69%, respectivamente, segundo O'Brien e Martin (1999) e Oliveira et al. (2001). Em lotes de sementes contendo uma semente contaminada com a bactéria em concentrações diversas (1 × 101 a 1 × 107 UFC/ml), foram obtidos níveis de transmissão de

A. citrulli variando de 16,7 a 100% (Dutta et al. 2011).

No ensaio de inoculação em sementes, a umidade e, principalmente, a temperatura foram fatores que provavelmente contribuíram para maior severidade da mancha aquosa no experimento 1 (temperatura de 31,6°C e umidade relativa do ar de 64,6%) em comparação com o experimento 2 (temperatura de 28,1°C e umidade relativa do ar de 51,2%), bem como para uma maior variação nos resultados dos experimentos. Genótipos resistentes a doença em um experimento, como ‘Crimson Select’, BGCIA 843, BGCIA 979 e BGCIA 8 comportaram-

se como suscetíveis no outro. Influência de fatores ambientais já foi relatada como responsável pela variação na resposta de resistência à mancha aquosa.

Hopkins e Thompson (2002) trabalhando com 1.344 acessos das espécies Citrullus e

P. fistulosus verificaram que alguns apresentaram níveis mais baixos de resistência à mancha

aquosa em condições de verão e outros no inverno. Bahar et al. (2009) observaram que a quantidade de luz também pode contribuir diretamente na intensidade da doença. Na estação de outono (maior parte do dia nublado) os genótipos apresentaram maiores níveis de severidade, enquanto que na primavera (maior parte do dia ensolarado) foram observados menores níveis de severidade.

Quando A. citrulli foi inoculada em plântulas de melancia, observou-se uma maior severidade da mancha aquosa para a maioria dos genótipos, com médias variando entre 2,3 e 4,0 (Tabela 2) em comparação com a inoculação em sementes, cuja severidade variou de 0,2 a 4,8 (Tabela 1), considerando-se que ambos os ensaios foram avaliados com escalas diagramáticas de 1-5. Essa alta suscetibilidade à mancha aquosa também foi relatada em meloeiro nos estádios iniciais e finais de desenvolvimento, ou seja, plântulas e frutos (Bahar

No documento Download/Open (páginas 30-54)

Documentos relacionados