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CAPÍTULO 2. ECONOMIA POLÍTICA DO TERRÍTORIO E A PRODUÇÃO SUCROENERGÉTICA NA REGIÃO DE ITURAMA (MG)

2.2. Seletividade espacial do setor sucroenergético

O setor sucroenergético está compartimentado em três estágios principais: plantação e cultivo; produção e comercialização. Cada estágio tem a participação de vários agentes, na maioria das vezes independentes. A Figura 4 ilustra os estágios e elementos que compõem o setor sucroenergético brasileiro.

58 Figura 4: Estágios e elementos do setor sucroenergético.

Fonte: Elaboração própria.

O Plano Nacional de Agroenergia (PNA) (2006) definiu que o Brasil tem uma série de vantagens que pode qualificar e liderar o mercado de biocombustíveis no mundo, e que a expansão pode-se fundamentar em quatro principais vantagens comparativas:

- A primeira é a possibilidade de dedicar novas terras à agricultura de energia, sem necessidade de reduzir a área utilizada na agricultura de alimentos. Além disso, em muitas áreas do País, é possível fazer múltiplos cultivos sem irrigação, em um ano. Com irrigação, essa possibilidade amplia-se muito;

- Situa-se, predominantemente, nas faixas tropical e subtropical, faz com o que o Brasil receba durante todo o ano intensa radiação solar, que é base da produção de bioenergia. Além disso, possui um quarto das reservas de água doce do mundo;

59 - O Brasil assumiu a liderança mundial na geração e na implantação de moderna tecnologia de agricultura tropical e possui pujante agroindústria. Destaca-se a cadeia produtiva do etanol, reconhecida como a mais eficiente do mundo;

- Finalmente, o mercado consumidor tem tamanho suficiente para permitir ganhos de escala que reforçam a competitividade do negócio da bioenergia em sua escalada rumo ao biomercado mundial.

Essas foram às estratégias definidas pelo PNA (2006), calcadas, principalmente nas condições ambientais e disponibilidades de recursos naturais para promover a expansão produtiva do setor sucroenergético. Porém, na realidade sabe-se que as escolhas dos lugares que vão atender a agroindústria sucroenergética não restringem apenas às condições ambientais e de disponibilidade de recursos naturais, mas também, a critérios econômicos, infraestruturais e políticos.

No Quadro 1 têm-se os critérios que pautam a escolha das empresas do setor sucroenergético para os aspectos das categorias físicas; econômicas; infraestruturais e políticas. Esses critérios vão atender a seletividade espacial que as corporações controladoras do setor utilizam para a expansão de suas áreas.

60 Quadro 1: Categorias e Critérios de seletividade espacial do setor sucroenergético.

Categorias Critérios

Físicos

♦ Disponibilidade de terras agricultáveis;

♦ Adequação dos solos às necessidades das plantas;

♦ Disponibilidade de condições topográficas que viabilizem a colheita mecanizada;

♦ Clima e disponibilidade hídricos adequados ao uso das variedades de cana;

Econômicos

♦ Custos envolvidos na aquisição ou arrendamento de terras;

♦ Existência de estrutura mínima voltada ao fornecimento de insumos e serviços;

♦ Disponibilidade de força de trabalho para a colheita;

Infraestruturais e Políticos

♦ Boa condição logística;

♦ Disponibilidade de variedades de cana;

♦ Legislação ambiental que não ofereça empecilhos; ♦ Iniciativas de restrição das áreas de plantio;

♦ Obtenção de vantagens em que os estados e municípios oferecem incentivos em troca de investimentos.

Fonte: CAMELINI (2011, p. 46, 47 e 48) Org.: Elaboração própria.

Diante dessas possibilidades, conforme Camelini (2011, p. 48), a região do bioma Cerrado foi o local mais adequado à expansão do setor, já que os recursos técnicos atualmente disponíveis permitem a compensação das deficiências químicas do solo a custos aceitáveis, os terrenos possuem declividades muito baixas, que favorecem a mecanização, e a proximidade com grandes centros consumidores, em particular o interior paulista, facilita o escoamento da produção.

O aumento da produção de cana-de-açúcar no Brasil ocorreu a partir do estado de São Paulo – maior produtor, com cerca de 60% do total10 nacional, no qual se constituiu dois eixos principais de expansão: um no sentido Noroeste adentrando o Triângulo Mineiro e o Sul de Goiás; e outro no sentido Leste, em direção ao estado de Mato Grosso do Sul e ao Norte do Paraná.

10 Nas safras da década de 1980 a produção média do estado de São Paulo foi de 93.103,45 milhões de toneladas,

a do Brasil foi de 174.328,84 milhões. Na década de 1990 a média de São Paulo foi de 158.219,74 milhões de toneladas e a do Brasil foi de 258.632,42 milhões. E dos anos de 2000 a 2012 a média de produção por safra em São Paulo foi de 260.832,60 milhões de toneladas, e a do Brasil foi 439.501,11 milhões de toneladas. (UNICADATA, 2014).

61 Esses eixos de expansão são consolidados a partir de incentivos, principalmente, da iniciativa governamental. No início dos anos 2000, o estado de São Paulo apresentava saturação em sua área produtiva com cana-de-açúcar, daí então, áreas com potencial produtivo, que agregavam qualidades técnicas, qualidade de solo, infraestrutura, etc., relativamente próximas ao estado de São Paulo passaram a atender tal demanda produtiva.

Em períodos de globalização, essa seletividade espacial se torna bem mais comum, a fim de atender as estratégias empresarias. Conforme Santos e Silveira (2001, p. 299) ressaltam,

[...] algumas zonas mais propícias para sediar atividades de nível global se tornam autênticos espaços da globalização. Como as exigências produtivas são diferentes segundo os produtos, a expressão espaço da globalização acaba por ser genérica. Na verdade, essas áreas constituem os espaços de eleição global para certos produtos. É por isso que há uma tendência à agregação de atividades similares ou complementares sobre um mesmo lugar, criando verdadeiras especializações produtivas, seja no campo, com novos lençóis agrícolas globalizados, monoprodutores ou não, seja nas cidades consagradas a certo tipo de produção industrial ou a um conjunto de produções.

A produção de cana-de-açúcar na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, ao longo das duas últimas décadas obteve forte aumento na área plantada. Entre os anos de 1990 ao de 1999, a área com cana-de-açúcar apresentou crescimento de 6,5%, em números passou de 104 mil hectares para pouco mais de 110 mil. Já no período, entre os anos de 2000 a 2012, o aumento da área foi de 345%, passando de 126 mil para 564 mil hectares (IBGE/SIDRA, 2014).

Esse aumento vertiginoso da produção e área com cana-de-açúcar é consequência da ampliação das unidades produtivas. Até o ano de 1999 a região supracitada abrigava 10 usinas, sendo que apenas 2 unidades foram implantadas na década de 1990. Atualmente a região tem 22 usinas (UDOP, 2014).

A região de Iturama (MG) encontra-se exatamente neste eixo de expansão, próxima às divisas dos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Dessa forma, ela atende a seletividade espacial do setor sucroenergético, e ainda, conforme Castillo e Camelini (2012, p. 11) conta com a vantagem da contiguidade do estado de São Paulo.