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Semelhanças e diferenças entre as interações dos tipos de moradores

No documento Raquel de Jesus Costa. Um conhecido estranho : (páginas 108-111)

3 EM BUSCA DE TRABALHO: MIGRAÇÕES E TRABALHO NA

4.2 Semelhanças e diferenças entre as interações dos tipos de moradores

Na maioria das vezes, os moradores entrevistados apresentam alguma semelhança, como origem de famílias agricultoras e residência em comunidades. No entanto, essa semelhança pesa pouco quando comparada à condição de ter vindo de outro lugar para residir onde há moradores mais antigos estabelecidos e com relações estreitadas por laços fortes. As diferenças, por sua vez, são muitas e influenciam nos laços de interação. Cetrulo Neto (1999) alerta sobre essas diferenças, ao pontuar que, quanto mais profundas elas forem entre as pessoas, menor chance haverá para a sociabilidade entre elas acontecer.

O padrão de interações entre os três tipos nos mostra que os moradores apresentam características intrínsecas no ato da sociação, no qual, quanto mais semelhanças os moradores apresentarem, maior sociabilidade haverá e mais fortes e estreitados os laços serão.

Em se tratando dos tipos de interação, o que os diferencia é a forma de participação dos entrevistados de cada tipo na vida social. Moraes Filho (1983, p. 23-24) enfatiza que "tanto mais rica é a participação do indivíduo na vida social, tanto maior o número de círculos sociais a que pertença, quanto mais forte é a sua independência, quanto mais nítida se destaca a sua personalidade", e quanto mais sociável ele se torna. Como argumenta Baechler (1995, p. 78),

“se já é difícil reunir dados empíricos sobre as relações de um único indivíduo, mais difícil o será no imenso emaranhado de vínculos criados entre um conjunto de indivíduos”.

A relação entre os dois tipos de moradores é fragilizada devido às inúmeras limitações ocasionadas pelo distanciamento social, pouca participação de um na vida do outro, da ideia preconcebida de que as pessoas “de fora” são difíceis para se socializarem e que os “daqui” os vêm com superioridade. Tanto os “daqui” como os “de fora” sugerem seguir o afastamento para evitar problemas. Há estranhamento de ambas as partes.

Os moradores “daqui” exercitam a sociabilidade pelo grau de conhecimento que um tem do outro, confiança, similaridade na origem e tempo de moradia. Já os “de fora”, se identificam pela condição de migrantes e de residências próximas, pela identificação no trabalho e pelo reconhecimento de estarem na mesma condição em que tendem a viver situações semelhantes em um novo lugar de morada.

Os lugares de encontro mais frequentados pelos dois tipos de moradores são os igarapés, campo de futebol, bares e botecos, os quais mais de 70% dos participantes afirmaram frequentar. O lugar menos frequentado é a praça e, apesar de a periodicidade ser considerada regular para ambos os moradores, a prática foi observada com menos frequência para os “de fora” (47%).

Para ambos os moradores, a convivência está associada aos lugares de lazer e há limitação quanto a isso na Forquilha. No entanto, é preciso levar em consideração o fato de que tanto um quanto o outro frequentam esses espaços, porém interagem mais com aqueles que já conhecem ou estão em condições semelhantes, ser ou não da vila.

Outro ponto é que os “de fora”, em sua maioria (69%), visitam os campos de futebol, e os “daqui”, ainda que frequentem, apresentam preferências e, por vezes, não se trata do mesmo local. A ida aos igarapés se assemelha entre eles, porém a visita aos amigos é maior entre os “de fora”, o que pode ser explicado pelas relações tecidas no trabalho e estendem-se para além da empresa.

Na concepção de um morador mais antigo, os “daqui” convivem mais em “ambiente fechado, já as pessoas que chegaram são mais livres e andam e se encontram mais. Os de fora ficam à vontade” (J. F., 44 anos). Já a opinião de um morador “de fora” sobre a situação é contrária: “devido ao momento atual, é difícil sair para prosear, os antigos é que fazem ainda” (M. B., 34 anos). Em qualquer um desses espaços, a conversa é o ingrediente central.

Ficar em casa com a família não se restringe aos “daqui”. Os moradores mais recentes que têm filhos também optam por isso, exceto quando recebem o salário e aproveitam para levar a família ao restaurante e à praça para lanchar e tomar sorvete.

Do mesmo modo que Mota (2005), também observei a diferença na preferência de lugares e de comum acesso. Dois espaços foram citados como preferenciais dos moradores “de fora”: o campo de futebol e os bares, nos quais o movimento se dá todo fim de semana. Segundo eles e os donos desses estabelecimentos, no fim do mês a quantidade é bem maior devido ao pagamento.

É consenso entre os dois tipos de moradores que a igreja é lugar de maior interação entre os “daqui”. No entanto, os “de fora” que frequentam a igreja, argumentaram ter melhor convívio após a participação nas reuniões religiosas, pois esta organização permite conhecer melhor as pessoas. Os que não têm hábito de ir às programações (71%), justificam pelo fato de não se sentirem bem, porque acham que os antigos são “esnobes e metidos a rico”.

Como vimos, é perceptível a fluidez da interação entre um mesmo tipo de morador, mas entre os diferentes tipos, é mais difícil. Essas diferenças são causa da impraticabilidade da sociabilidade, de acordo com Cetrulo Neto (1999). O autor pontua que, justamente por se tratar de grupos diferentes em que a coesão não é forte, cada tipo de morador corresponde a uma comunidade, as quais estão mais ligadas entre si. Quando se trata de ambos, se torna o que ele chama de um grupo mais amplo, uma sociedade. Portanto, entre grupos diferentes é mais difícil que ocorra uma relação recíproca sem que haja diferenças intrínsecas à relação superficial, principalmente se ambos os moradores deixam as dessemelhanças se sobressaírem.

No documento Raquel de Jesus Costa. Um conhecido estranho : (páginas 108-111)