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SEMINÁRIO DE INTRODUÇÃO À TEMÁTICA DA PESQUISA

SABERES DOCENTES E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: TEORIA DE MAURICE TARDIF

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 SEMINÁRIO DE INTRODUÇÃO À TEMÁTICA DA PESQUISA

No cenário A, de cinco dos participantes convidados compareceram três preceptores, os demais não estavam no plantão naquele dia. Também estiveram no Seminário três residentes, que estavam em treinamento em serviço no setor naquele mês.

A sala que estava disponível para a realização do seminário, continha uma mesa oval com cadeiras ao seu redor e foi selecionada pela própria pesquisadora por reunir características ambientais facilitadoras do diálogo. De início, foi distribuído um resumo do trabalho feito pela pesquisadora, que continha: título do trabalho, objetivos, objeto de estudo, referencial teórico escolhido, metodologia proposta, técnicas de investigação a serem utilizadas e importância de cada preceptor para o estudo (APÊNDICE B). O seminário estava programado para acontecer em 40 minutos, mas foi realizado em 30 minutos. A pesquisadora apresentou a proposta de forma sistemática, objetiva e didática, principalmente para discorrer sobre a metodologia e referencial do estudo.

Os participantes ficaram concentrados durante o seminário, não permaneceram em silêncio, pelo contrário, surgiram comentários sobre a pesquisa, interesse pelo autor estudado e sobre a pesquisa etnográfica, e no fim na explanação oral, ao abrir para esclarecimentos, os preceptores declaravam seu interesse em participar da pesquisa pelo incentivo que seria para preceptoria e para residência de enfermagem. E refletiram que por vezes não sabem no que estão errando e no que poderiam melhorar, já que nunca são questionados quanto ao trabalho preceptor, concluindo que a pesquisa poderia trazer mudanças boas para o ofício do preceptor. A disponibilidade dos preceptores em querer contribuir com a pesquisa, aparentemente, mostrou-se a nós como interesse em saber no que poderiam melhorar. E numa visão inicial, levando em consideração a preocupação de Tardif (2010) em estudar os saberes, serviu-nos de base para esse ofício do ensinar. Noutras palavras, fizemos um paralelo com os conhecimentos, habilidades e competências que esses preceptores não se importaram em mostrar-nos, revelando, então, que eles consideram a atividade educativa que exercem.

E como os residentes estavam presentes também no seminário, pois mesmo não sendo o objeto do estudo, considerou-se importante a participação deles para o entendimento o passo a passo da pesquisa, e soubessem exatamente os objetivos do pesquisador. As ideias expostas pelos residentes demonstravam claramente a insatisfação em relação à preceptoria, e não hesitaram em expor isso mesmo na presença de alguns preceptores.

Ao mesmo tempo em que os residentes apresentaram suas opiniões e indiretamente queixas aos preceptores, sem citar nomes, colocaram uma visão geral do que eles entendem que a preceptoria pode melhorar em função da residência. Os preceptores também

apresentaram sua opinião em relação aos residentes e aos problemas vividos durante a residência, sejam institucionais ou nas próprias relações. A pesquisadora moderou a discussão voltando a falar dos aspectos da pesquisa, e destacando a importância do estudo para iniciar a resolução de conflitos citados tanto pelos residentes quanto pelos preceptores.

Lembrando esse fato, Tardif reafirma que ensinar é agir com seres humanos, é saber agir com outros seres humanos. Os saberes são sociais por que fazem parte de práticas sociais, e conflitos com essa interação humana existirão (TARDIF, 2010). A relação com o outro para produção do trabalho interativo pede relações mediadas pelos atores sociais baseados na interação concreta, fato este não observado entre os preceptores e residentes nesse segundo contato.

O seminário foi válido para introduzir cada participante na pesquisa, facilitar a entrada da pesquisadora e principalmente sua aceitação e interação com os preceptores e com toda a equipe. Ao expor os objetivos da pesquisa, todos os preceptores se dispuseram a ajudar, mesmo que isso significasse a exposição de seu trabalho com o residente, ficando mais tranquilos em relação a outras coisas que a pesquisadora poderia observar. Entre essas, a preocupação maior deles era em relação a recursos materiais e físicos que, por vezes, contam com a improvisação e precarização do serviço. Eles não queriam que isso fosse “divulgado”, mas ao expor o objeto de estudo e os objetivos do trabalho, eles ficaram mais relaxados para participar da pesquisa.

Para os preceptores que não participaram do seminário, o pesquisador realizou uma explanação oral individual com cada um, em outro dia de disponibilidade, entregando o mesmo resumo da pesquisa utilizado no seminário, para que assim, todos estivessem integrados na pesquisa.

Até esse segundo contato, foi visto que a coleta seria um desafio, pois conhecemos os sujeitos da pesquisa. Na primeira impressão dos participantes, fora percebido que os preceptores reconhecem suas ações preceptoras, mas ainda não detém a importância desse trabalho para formação profissional continuada, além de não identificarem seus saberes e o compromisso com a prática pedagógica.

Essa representação inicial foi ponto de partida para observação, partindo de pressupostos identificados, porém sem ideias formadas de cada preceptor, apenas como hipóteses dos saberes e da prática pedagógica desses preceptores, a serem confrontadas com os dados da observação e complementar a entrevista.

No cenário B, compareceram 4 dos 7 participantes, tendo em vista que os que não participaram não se encontravam no HE no dia do seminário. A disposição do setor escolhido foi um desafio, contava com pouco espaço físico e o seminário foi desenvolvido no posto de enfermagem por ser o lugar amplo e que tinha cadeiras para os enfermeiros se acomodarem melhor.

Participaram do seminário a enfermeira chefe do setor, a enfermeira diarista da rotina e duas plantonistas, e apenas uma residente que estava em treinamento em serviço no setor naquele mês. Foi distribuído um material de resumo da pesquisa, o mesmo utilizado no outro cenário, e foi realizada a explanação oral do estudo, pontuando cada tópico destacado no resumo. O seminário teve duração de 20 minutos.

Uma limitação do seminário no cenário B foi à interrupção que aconteceu algumas vezes por parte de outros profissionais da equipe multidisciplinar, que não foram informados sobre o seminário e como este aconteceu no posto de enfermagem devido à falta de espaço físico no setor, a circulação de pessoas era inevitável. Mas ainda assim os preceptores se esforçaram para atentar-se ao que estava sendo explicado, somente a residente interrompeu por vezes a pesquisadora durante a explanação do estudo para fazer alguma pergunta, e ao final, após explicar toda a pesquisa, foi disponibilizado um tempo de 10 minutos para que cada um pudesse esclarecer suas dúvidas ou expor ideias, opiniões e sugestões.

O seminário trouxe uma nova ideia em relação aos objetivos da pesquisa para os preceptores, pois quando se falou em um estudo sobre a preceptoria na residência de enfermagem, os próprios preceptores da unidade não se reconheciam como sujeitos da pesquisa, e não entendiam como seria essa participação no estudo. Ao explicar sobre a figura do preceptor, o que estaríamos buscando, como traçamos nosso objeto de estudo e a metodologia da pesquisa, os preceptores foram perdendo a estranheza à temática e foram entendendo sua importância no estudo.

O pouco conhecimento a cerca do papel educativo do preceptor e a expressão de dúvida e de estranheza no decorrer da explanação oral ao falar da temática central do trabalho, foram encontradas nesses preceptores. Não houve interrupções por parte dos preceptores, e acreditamos que isso possa ser consequência da identidade de preceptores não estarem tão claras no cotidiano do processo de trabalho com o residente.

Como os preceptores eram maioria, e o seminário contou com a participação de apenas uma residente, que se pronunciou sobre a importância do estudo para melhora tanto da

preceptoria quanto da residência como um todo, sem especificar situações conflituosas ou insatisfação com os preceptores, não houve discussão relacionada a esse assunto.

Uma preceptora no fim da explicação da pesquisa também pronunciou suas considerações sobre o estudo, apresentando uma crítica à preceptoria responsabilizada ao enfermeiro plantonista, que para ela, com toda sobrecarga do próprio plantão não consegue “dar atenção” ao residente, e que isso não seria culpa dos próprios, mas que deveria haver preceptores que não ficassem diretamente responsáveis pela assistência.

Entendemos que o trabalho de um preceptor, levando em consideração suas atribuições, os saberes que o constituem e a prática pedagógica necessária, não são conceitos organizados e reconhecidos por esses preceptores. Correlacionando com o discurso tardifiano, os saberes experienciais são necessários para impulsionar a relação de exterioridade com os outros saberes, e o preceptor que está cada vez mais engajado na prática profissional contribui para própria construção dos diversos saberes, relacionados ao saber-fazer em seu papel educativo.