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Fonte: Arquidiocese de Diamantina (2011).

O primeiro padre que administrou o Seminário como reitor foi o Reverendo Padre Bartolomeu Sípolis, tendo permanecido na administração até o ano de 1886 (MINAS GERAIS, 1983). Segundo consta do Estatuto de 1867, com a principal finalidade de formar o indivíduo para carreira eclesiástica, a Congregação da Missão se estabeleceu na cidade de Diamantina e assumiu a direção do Seminário Sagrado Coração de Jesus. “1 Este seminário é dirigido pelos padres da Congregação da Missão, tem por fim educar os alumnos na piedade e sciencia e forma-los principalmente para o estado eclesiástico” (SEMINÁRIO PROVINCIAL SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS - SPSCJ, 1867, p. 1). No Quadro 2 é apresentada a quantidade de padres vicentinos europeus que migraram para o Brasil a partir do ano de 1853:

Quadro 2 - Migração de Lazaristas para o Brasil a partir do ano de 1853

Nacionalidade Padres e Irmãos

Vicentinos França 100 Itália 34 Brasil* 38 Alemanha e Prússia 26 Portugal 12 Bélgica 04 Holanda 04 Áustria 02 Suíça 02 Polônia 01 Turquia 01 Inglaterra 01 Albânia 01 Pérsia 01 Argentina 01

Total de Ordenados Lazaristas na Província Brasileira de Congregação da Missão

228 Fonte: A autora a partir de Souza (1999, p. 63).

* Desconhecemos o motivo de o Brasil aparecer nas anotações do escritor, já que esse quadro refere-se à imigração de estrangeiros para o Brasil. Acreditamos que possa ser pela formação de brasileiros na Europa que depois retornavam ao Brasil como padres.

Esses missionários se estabeleciam em terras brasileiras para pregação em estabelecimentos de ensinos situados em cidades como Mariana - MG, Salvador - BA, Curitiba - PR, Fortaleza - CE, Diamantina - MG, Catas Altas - MG, Campo Belo - MG, entre outras, e sua pregação baseava-se em cinco virtudes desenvolvidas por São Vicente de Paulo, quais sejam: simplicidade, humildade, mortificação, mansidão e zelo.

Essas virtudes tem uma orientação missionária, são a fonte das virtudes que Jesus Cristo teve para com o Pai e os pobres. São Virtudes que não só aperfeiçoam o missionário, mas também o dispõem para ser um verdadeiro evangelizador dos pobres.

A simplicidade cria a retidão de intenção e a veracidade em nossos modos de falar e de agir e torna o missionário transparente diante de Deus e dos pobres.

A humildade faz do missionário um homem que depende de Deus, aberto à sua graça, próximo dos pobres e solidário com os humilhados e capaz de deixar-se evangelizar por eles.

A mansidão cria no missionário a paz interior, fá-lo cordial e paciente com os outros, especialmente com os pobres.

A mortificação une o missionário com Cristo sofredor liberta-o de procurar de si mesmo e o torna disponível para os pobres, apesar das dificuldades e obstáculos da missão.

O zelo suscita a energia para promover o Reino de Deus; desperta um entusiasmo afetivo e efetivo pela evangelização dos pobres (CONGREGAÇÃO DA MISSÃO, 1996, p.14).

Além disso, os padres da Congregação da Missão, que se motivavam por evangelizar os pobres, pensavam também que, com o esforço e solidariedade por meio da pregação, poderiam ajudar a fortalecer a fé em Cristo e, assim, aprofundar não só sua solidariedade para com os pobres, mas também sua missão de levar e pregar a palavra de Cristo para esses.

Missionário – Caro Irmão, quisera saber o fim que vos propusestes, entrando para a Comunidade.

Irmão – Folgo muito em responder. Agrada-me a lembrança de que entrei para a Comunidade, a fim de cumprir a vontade de Deus, corresponder a minha vocação e assegurar minha salvação.

Missionário - Vossa resposta é sublime, meu Irmão. Abraçastes a vida de Comunidade, para agradar a Deus, corresponder a vossa vocação, assegurar a salvação, isto é, com este tríplice, [fim] renunciastes a quanto possuis de mais querido no mundo: vossos parentes, amigos, pais e vos pusestes sob o jugo da obediência, tende por certo que Deus não deixará vencer-se em generosidade (CONGREGAÇÃO DA MISSÃO, 1950, p. 227).

Os votos de Pobreza, Castidade, Obediência e Estabilidade desenvolvidos por São Vicente de Paulo, asseguravam o compromisso do membro da Congregação a dedicar-se durante toda a vida à evangelização dos pobres, e implicariam o viver e morrer na Congregação da Missão.

A partir de um diálogo entre irmão Vicentino e um Missionário extraído do livro “O Espelho do Irmão Coadjuntor”, produzido pela própria Congregação da Missão do Brasil, torna-se mais clara a compreensão do significado de cada um desses votos.

Irmão – Ora, Senhor Padre, esta asserção de São Vicente, acerca da pobreza, me parece bastante singular; desejaria conhecer motivos, sobre que vos apoiais, para assim falar.

Missionário – Meu caro Irmão, São Vicente não é o único a falar desta maneira; todos os fundadores de ordens religiosas pensaram e falaram como ele, e, não há dúvida, este unanimidade de sentimentos dá a esta doutrina uma autoridade tal que não pode ser balançada, nem pelas objecções da sabedoria humana, nem pelos pretextos imaginários do amor-próprio. A pobreza é a salvaguarda das Comunidades. Eis as razões: 1ª: - A abundância dos bens da fortuna e o apego às riquezas são para as Comunidades, mais ainda que para os indivíduos, uma causa de tentações, de abusos e de desordens. “O amor das riquezas, diz São Paulo, é a raiz de todos os males”. 2ª: - As Comunidades, onde se não pratica, religiosamente, a pobreza, tornam-se impróprias

aos desígnios de Deus, em as suscitando; desde então, Ele as deixa e elas de si mesmas, precipitam-se, rapidamente na ruina. 3ª: - A violação da Pobreza- naqueles que fizeram votos – é muitíssimo injuriosa a Deus, porque, depois de o terem escolhido como única partilha, se apegam, como os seculares, os bens perecedouros. Mais ainda: Deus não somente costuma a abandoná-los, senão também castigá-los de modo exemplar. Pode mesmo suceder que a falta de um ou muitos membros provoque a cólera de Deus sobre todo o corpo (CONGREGAÇÃO DA MISSÃO, 1950, p.252-253).

De acordo com o trecho acima, podemos perceber que o voto de pobreza implicaria a própria fé de quem optasse por se tornar padre, exaltando a solidariedade com o pobre como sendo a chave principal para firmar seu compromisso de entrega de sua vida a Deus.

Irmão – Donde vem, Senhor Padre, a importância capital da castidade?

Missionário – De muitas causas, meu caro Irmão, de muitas causas que, em poucas palavras, vos exporei. Esta importância procede: 1ª: - da estima e amor particulares, que Nosso Senhor Jesus Cristo consagrou a essa virtude, durante sua vida mortal; 2ª – Dos admiráveis efeitos que ela produz nas almas, que tem a felicidade de a possuir, integralmente; 3ª – De suas angustias prerrogativas (CONGREGAÇÃO DA MISSÃO, 1950, p. 267).

Por sua vez, e de um modo geral, o voto de castidade implicaria a renúncia ao matrimônio e às práticas sexuais. Este voto, para aquele que quisesse se converter, deveria ser entendido não como uma recusa da responsabilidade familiar, mas sim como uma aceitação da responsabilidade enviada por Deus para se entregar a servir ao pobre.

Da Obediência

“Tudo que uma criatura pode fazer de bem consiste em cumprir a vontade de Deus e nunca ela a cumpre melhor do que quando pratica a obediência”. (Máxima de São Vicente)

Missionário – Esta máxima de nosso santo fundador, meu caro Irmão, nos mostre uma das mais preciosas vantagens da obediência. Praticando-a, temos certeza de fazer a vontade de Deus, como é certo que nos opomos a esta adorável vontade, quando resistimos àqueles que têm a missão de nos guiar. As palavras de Nosso Senhor aos Apóstolos: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza”, se aplicam, de facto a todos aqueles que, constituídos em autoridade, a exercem nos limites de suas limitações (CONGREGAÇÃO DA MISSÃO, 1950, p.274).

No tocante à obediência, quando São Vicente de Paulo desenvolveu este voto, sua intenção foi a de que seus missionários fossem obedientes tal como Jesus Cristo o foi perante as vontades de Deus. Além disso, este voto repercutia em uma busca para se tomar decisões sobre planos pessoais e comunitários, entregando-se a Deus.

Irmão – Senhor Padre, não consegui ainda compreender bem as obrigações do voto de estabilidade.

Missionário – Para julgar estas obrigações, meu caro Irmão, bastará reflectir na fórmula de que nos servimos ao proferir este voto: “Faço voto de aplicar-me, todo o tempo de minha vida, na salvação dos pobres camponeses, da dita Congregação”. Dai resulta que o voto de estabilidade determina o fim principal da pequena Companhia e nos estabelece, para sempre, em seu seio (CONGREGAÇÃO DA MISSÃO, 1950, p.283).

E, por fim, o voto de estabilidade implicaria na convicção profunda de que o missionário estava sendo assistido por Deus. Sendo assim, deveria estudar e conhecer a tradição da Congregação da Missão, manter relação de amizade com seus membros, bem como colaborar com outras pessoas que não fossem da Congregação, mas que estivessem comprometidas com o trabalho junto aos pobres. Além disso, com esse voto buscava-se garantir o contato direto com o pobre, para assim fortalecer a principal missão da Congregação, que seria o atendimento aos pobres por meio da evangelização. Esses votos nortearão o trabalho dos Padres Lazaristas à frente do Seminário Sagrado Coração de Jesus na cidade de Diamantina.

1.3 A Presença da Arquidiocese na Cidade de Diamantina

Diamantina, primeiramente denominada Arraial do Tijuco, foi (e é até hoje) relevante como um centro da história mineira em virtude da fertilidade de episódios épicos, pitorescos, religiosos e educacionais. Essa cidade é considerada histórica pela sua tradição em arte, por estar inserida em um circuito turístico-histórico e por ser reconhecida como uma das principais cidades da colonização brasileira, principalmente em decorrência do acúmulo de riquezas - oriundas da extração de pedras preciosas - que proporcionou à Portugal, à Europa e ao Brasil, então colônia. Como resultado dessa importância, Diamantina foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938, e, no ano de 1999, por sua importância histórica, recebeu da United Nations Educational Scientific and Cultural Organization (UNESCO), título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Essa cidade localiza-se a 1113m de altitude, com uma distância de 292 km de Belo Horizonte, atual capital do Estado de Minas Gerais, e sua área total é de 3.870km² (DIAMANTINA, 2013). Pelos Mapas 1 e 2, apresentados na sequência, é possível

localizar a cidade de Diamantina no Estado de Minas Gerais e também se ter uma noção de seus contornos geográficos.