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SENAI/SESI: o Pensamento Educacional Patronal Paranaense Atual

No documento Castro (páginas 78-84)

4.1 EMPRESÁRIOS PARANAENSES – PENSAMENTO EDUCACIONAL

4.1.1 SENAI/SESI: o Pensamento Educacional Patronal Paranaense Atual

As ações que podemos presenciar nos dias atuais quanto às entidades acima mencionadas é a busca e a aproximação incessante dos empresários quanto ao seu envolvimento e intervenção na formação educacional da sociedade brasileira, a busca por apresentar-se uma relação de proximidade no que tange à formação humana no ensino básico e no profissional. O pensamento do mundo da tecnologia associada à era do conhecimento tem levado certa inquietação quanto à mão de obra que tem sido formada no Brasil. A “qualificação” tem sido “alvo” do empresariado brasileiro, e até podemos citar do empresariado paranaense se configura em exigência de formação “ampla” e “completa” que alicerce o profissional dentro dos padrões flexíveis de produção de trabalho. O discurso do empresariado paranaense está impregnado pelo pensamento de ensino de “qualidade”, tema discutido com ênfase neste trabalho (SENAI, 2001).

O SENAI, desde a década de 1970 (RELATÓRIO ANUAL, 1977, p. 1), revela ser a sua ideologia “transmitir conhecimento aos que carecem”, e busca, na pesquisa e no planejamento junto às indústrias, a formação que atenda às reais necessidades da indústria, tanto na mão de obra quanto na organização.

O SENAI surge com o objetivo de formar profissionais para a indústria nacional no período desenvolvimentista, uma formação alicerçada pela base taylorista de produção. Todavia, as mudanças que têm ocorrido no interior do setor produtivo mundial e o discurso de que o “conhecimento” e a tecnologia são fontes de desempenho econômico

têm provocado reflexões da instituição SENAI quanto ao seu papel. Reflexões que buscam conciliar o desenvolvimento da tecnologia e a formação de qualidade dos trabalhadores desse setor. De acordo com Manfredi (2002), os documentos que retratam a história da entidade SENAI/SESI revelam um processo de “metamorfose” institucional no âmago dessas instituições no processo de formação profissional, que é o nosso objeto de estudo.

O final da década de 1980 e início da década de 1990 apresentam um novo perfil de trabalhador. As exigências de produção (re)alimentam a ideologia de que o conhecimento é o principal recurso para o acesso ao trabalho, e que o mesmo está ao alcance de todos através da educação de qualidade. Essa crença manipula e conduz à defesa do trabalhador polivalente e flexível, capaz de atender às mudanças no trabalho, com aptidão nas habilidades cognitivas e competências sociais e pessoais, envolvendo a análise, síntese e criatividade diante de situações desconhecidas, comunicação clara e precisa, trabalho em equipe, gerência de processos, estudo contínuo (OLIVEIRA, 2000).

Partindo desse pressuposto, é pertinente salientarmos que a educação e o conhecimento “novamente” adquirem posição de valor, quando o “alvo” é o investimento no capital humano no cenário produtivo, e assunto não apenas do Estado, mas também de homens de negócios. Entretanto, observamos que, apesar desta busca por qualificação do trabalhador, que o coloca no hall da “empregabilidade”, a incerteza do emprego em uma sociedade com crescente desemprego e subempregos é concreta. Segundo Antunes (1995), é contraditório o discurso segundo o qual o conhecimento gera diretamente o trabalho, se este é escasso e de baixa qualidade. Saviani (2007, p. 4) afirma que:

num contexto como o atual, no qual o indivíduo não pode esperar, das oportunidades escolares, acesso ao emprego, mas apenas a conquista do Status de empregabilidade, a educação passa a ser entendida como investimento em capital humano individual que habilita as pessoas para a competição pelos empregos disponíveis.

Saviani (2007, p. 4) critica esta perspectiva educacional ao dizer que para o setor produtivo, “o importante não é estar empregado, mas ser empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e capacidade de adaptação”.

Segundo Oliveira (2000, p. 173), “existe um discurso articulado entre os setores do empresariado brasileiro sobre a necessidade de se investir em uma maior base educacional dos trabalhadores”. Continuando, a autora acrescenta:

a demanda por um perfil que tem como referência o novo paradigma tecnológico sugere um trabalhador mais adaptativo, com maiores conhecimentos gerais, com menos especialização e habilidades específicas, com maior atenção às atitudes e com capacidades de iniciativa e decisão (OLIVEIRA, 2000, p. 174). A indústria brasileira, por meio das suas instituições patronais, no século XXI, se apoia na busca por uma indústria que agrega valores e inovação na tecnologia, fomentando o empreendedorismo e a criatividade em uma indústria competitiva. No Documento Educação para a Nova Indústria – uma ação para o desenvolvimento sustentável, o empresariado da indústria brasileira revela uma proposta do sistema industrial em consonância com o mapa estratégico produtivo da indústria nacional, uma educação adequada à nova indústria, para ser desenvolvida e executada pelo SESI e SENAI, com abrangência nacional com oferta de formação de recursos humanos com alta qualidade para fortalecer a indústria na sua amplitude brasileira e na sua mobilidade para novos pólos industriais regionais. O lema da proposta educacional é investir na identificação das competências dos “perfis profissionais desenhados para atender às novas demandas da indústria” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2007, p. 41). Criticamos a postura do empresariado que revela na prática a preocupação para a formação com fins para o setor produtivo, não visando em momento algum a formação para a cidadania, para o desenvolvimento da autonomia e da criticidade do indivíduo. Apesar de pregarem uma proposta de educação “democrática”.

É pertinente lembrarmos que o discurso do empresariado está alicerçado pela dualidade, prega a qualidade da educação básica e sua importância, mas ao mesmo tempo dá relevância a uma formação profissional que atenda em primeiro lugar, à necessidade da produção industrial, expansão e diversificação da oferta de educação básica, continuada e profissional ajustada às necessidades atuais e futuras da indústria. As chamadas competências básicas, formadas pela educação básica e a continuada, são condições para o desenvolvimento das demais competências, inclusive as profissionais, na medida em que possibilitam continuar aprendendo e aperfeiçoando-se durante toda a vida.

Tais aspectos têm adquirido crescente importância nas ações voltadas para o desenvolvimento socioeconômico e a melhoria da qualificação do perfil dos trabalhadores da indústria. A indústria competitiva depende de força de trabalho capacitada, o que implica melhorar os índices de escolaridade do trabalhador (CNI, 2007).

No texto de apresentação, o Presidente da CNI Armando de Queiroz Monteiro Neto (2007), define o papel da educação na concepção da indústria como “um pilar para o desenvolvimento sustentável do Brasil, fonte de crescimento e uma das bases da elevação da produtividade” (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2007, p. 15). Há a busca por uma indústria brasileira capaz de se inserir nos padrões competitivos do mercado global por meio da tecnologia de produção e, inseridos nesse processo, se encontram o trabalhador e a sua força de produção. Percebemos, assim, um setor produtivo que requer trabalhadores mais capacitados e qualificados.

Para o Mapa Estratégico da Indústria, documento (CNI, 2007, p. 1),

[a] educação é uma das vertentes fundamentais para o crescimento da economia, seja pelo efeito direto sobre a melhoria da produtividade do trabalho – formação dos trabalhadores mais eficientes, capital humano – seja pelo aumento da capacidade do país de absorção e geração de novas tecnologias.

Para o pensamento da indústria o baixo nível de escolaridade do trabalhador brasileiro continua a ser um dos principais limitadores do crescimento no país. As ações propostas neste documento (CNI, 2007), visam à elevação da escolaridade básica, da educação continuada e da capacidade profissional para os trabalhadores da indústria. De acordo com a proposta pelo Documento acima citado (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2007, p. 3), “nova territorialidade da indústria + novos conteúdos + atualização tecnológica + modernização + aprendizagem flexível + inovação = indústria competitiva”.

Os dois eixos da proposta contemplam: educação básica e continuada, sob a responsabilidade do SESI, e educação profissional, sob a condução do SENAI. De acordo com o pensamento pedagógico dos “homens de negócios”, a educação básica é condição para o desenvolvimento das demais competências, entre elas, a educação profissional. Evidenciamos, portanto, que o pensamento pedagógico dos empresários no

atual século concebe a união inter-relação de “dependência” entre a educação básica e profissional para uma formação de qualidade. De acordo com o pensamento pedagógico dos empresários, a educação básica é condição para o desenvolvimento das demais competências, entre elas a profissional.

É neste contexto de pensamento educacional que a partir da idealização surge em 2005 o Colégio SESI-Paraná, com a proposta de uma formação da educação básica, inicialmente, dos dependentes dos empregados da indústria, mas que, nos dias atuais, está aberta à sociedade e atualmente se ramificou pelas principais sedes da Instituição no Estado. Uma proposta de colégio voltado para a formação de qualidade do ensino básico em nível de Ensino Médio atrelado ao ensino profissionalizante do SENAI no Estado do Paraná que tem um discurso de preparação para a vida com cidadania e trabalho. (PROPOSTA PEDAGÓGICA COLÉGIO SESI-PARANÁ. FIEP/Paraná, 2005). “Aprender para a vida” tem sido a filosofia norteadora das reformas que vêm sendo implementadas no Ensino Médio pelo Ministério da Educação no Brasil, a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, 1996.

Este discurso do Colégio SESI, aparentemente “novo” e voltado para a formação e cidadania, reflete a velha ideologia do capitalismo de formação de indivíduos completos, produtivos e conectados aos processos de mudanças, Capazes de adequarem-se às novas situações do mercado de trabalho através da suplementação dos limites da empregabilidade e do empreendedorismo.

O projeto do Colégio SESI, no contexto do investimento dos empresários, é inovador por atender o Ensino Básico em nível de Ensino Médio e apresentar-se atrelado à formação profissional oferecida pelo SENAI, uma parceria que proporciona ao aluno do Colégio uma formação profissional juntamente como o Ensino Médio e sem custo para o aprendiz. O aluno SESI do 3º ano é instigado a inserir-se em um curso profissionalizante oferecido pelo SENAI no contraturno e tal postura evidencia a intenção da junção da educação formal e profissionalizante na formação de indivíduos, para atender ao mercado de trabalho da indústria.

Portanto, após o final do Ensino Médio, o aprendiz deve ser um cidadão preparado para participar do mundo do trabalho, conhecendo suas potencialidades: “[...] deve ser um indivíduo integrado ao mundo contemporâneo nas dimensões fundamentais da

cidadania e do trabalho” (PROPOSTA PEDAGÓGICA COLÉGIO SESI-PARANÁ, 2005, p. 1).

O Colégio SESI (2005), vinculado à formação profissionalizante do SENAI, propõe formar um trabalhador com uma educação básica sólida, capacitando-o a se moldar a um mercado de trabalho em constante transformação. De acordo com a proposta, a metodologia promove a formação de novos indivíduos empreendedores.

O Colégio SESI-Paraná atenderá um currículo como instrumento de compreensão de mundo, de transformação social e de cunho político, com transversalidade dos conteúdos, concretos, indissociáveis das realidades sociais e permeados pelo empreendedorismo e a cidadania (PROPOSTA PEDAGÓGICA COLÉGIO SESI-PARANÁ, 2005, p. 4).

De acordo com essa proposta pedagógica, os conteúdos ministrados no Colégio envolvem gestão e novos conceitos empresariais (empreendedorismo), habilidade e capacidades cíveis tais como: respeito pelos outros e por si próprio, honestidade e integridade, compreensão multicultural, resolução de conflitos e negociação. Observamos, portanto, que os objetivos e metas do Colégio SESI estão alinhados às políticas públicas para educação no contexto internacional e revelam a intenção do empresariado industrial para a educação no Brasil, seguindo os padrões do capitalismo contemporâneo. Exigem do profissional, além do saber ler e escrever, se expressar, trabalhar em equipe e participar das tomadas de decisões.

Como podemos observar, se antes o SESI era uma instituição atrelada ao SENAI para proporcionar o bem estar dos trabalhadores da indústria e possuía o caráter assistencialista, nos dias atuais ele se tornou instrumento de promoção do Ensino Médio de qualidade, com o surgimento do Colégio SESI-Paraná. (PROPOSTA PEDAGÓGICA COLÉGIO SESI-PARANÁ, 2005)

O SESI-Paraná e a sua educação em nível médio propõem preparar os indivíduos com o conhecimento geral, para enfrentar as novas exigências do processo de reestruturação produtiva e organizacional impostas pelo “tempo” da globalização.

O conceito de “ponte” que a sociedade capitalista tem estabelecido entre escolaridade e oportunidade de inserção no mundo do trabalho não garante ao indivíduo um trabalho formal, tornando aquele um desempregado escolarizado.

Uma formação para atender a uma indústria tecnológica e com um pensamento empreendedor e flexível na formação do indivíduo pode ser observada no Ensino Superior com a implantação da Universidade da Indústria – UNINDUS, na busca da formação de indivíduos no nível superior em áreas de formação para atender à demanda de uma indústria tecnológica – SENAI e SESI – parceiros em uma mesma ideologia.

Este pensamento pedagógico que permeia a instituição SENAI-Paraná, nos dias atuais, deve ser entendido a partir de uma análise da sua progressiva estruturação. Segundo Molli (1983, p. 84), o SENAI-Paraná “não se restringe à pura e simples formação de mão de obra, o verdadeiro objetivo da casa: educar para o trabalho”.

Como já citado anteriormente, se inicialmente o projeto SENAI de educação profissional era “parte da estratégia da classe industrial paulista” (MANFREDI, 2002, p. 4), nos dias atuais ele apresenta uma releitura da formação do trabalhador, uma formação com “qualidade”.

No documento Castro (páginas 78-84)