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COMPILAÇÃO HISTÓRICA SOBRE O CONCEITO CIENTÍFICO DE ENERGIA

SER SENDO SIDO FINAL

Em Ser Sendo I, os estudantes de I grau entrevistados enunciam o conceito de energia não como Joule, Mayer ou Helmholtz, mas como alunos se engajando no processo de conhecer, chegando a um certo grau de organização interna. E é isso que é importante para o conceito de energia, cuja complexidade não permite uma única definição lógica, quantitativa ou qualitativa. O conceito de energia e a lei de sua conservação em sua complexidade traduzem um processo. Este aspecto, importante na aprendizagem, emergiu das interações com alunos, durante uma entrevista, colocadas no contexto da exposição, que acabavam de percorrer.

Realizamos a entrevista, que denominamos de pedagógica, no sentido de levar em conta esse processo e não apenas o resultado. O entrevistador participando do processo, conhecendo as características históricas das origens do conceito científico de energia e conhecendo também as características da Exposição Científica, incorpora sua atuação na complexidade do diálogo que se estabelece. Analisamos essa entrevista com a perspectiva, ampla, de um sistema dinâmico.

Na perspectiva do princípio de atribuição de significados usado na análise, a questão surge junto com a solução, pois, esses elementos opostos não se anulam, mas se complementam: interno e externo, indivíduo (representado por dado aluno) e social (representado no momento da entrevista pelo grupo, escola, exposição, entrevista, natureza, etc) sua atuação se constituem juntos, recíprocamente.Tivemos cuidado para não tentar simplificar o fenômeno enfatizando apenas fatores internos ou só externos da aprendizagem e do desenvolvimento.

O confronto das idéias entre Piaget e Vygotsky nos ajudou a esclarecer essa questão, que resume a interação indivíduo-social. Por que o debate Vygotsky x Piaget? Porque está no nosso contexto acadêmico de hoje: o efervescente confronto de idéias acaba aglutinando significações e favorecendo correlações. Vygotsky teve uma

compreensão da dimensão social do desenvolvimento, ao inventar o conceito de ZDP, (insatisfeito com a noção em Piaget de que o aprendizado tinha que vir a reboque do desenvolvimento). O conceito de ZDP teve origem nos estudos da relação entre aprendizagem e desenvolvimento, quando Vygotsy inverte a direção proposta por Piaget que o aprendizado tinha que vir antes do desenvolvimento. Para ele a aprendizagem sendo (imposta) primeiro pode adiantar o desenvolvimento que tem uma potencialidade.

O conceito de ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) se mostra significativo para uma compreensão da Entrevista Pedagógica. Num sistema dinâmico o processo está sempre interagindo com o resultado por estarem se constituindo reciprocamente. A ZDP é uma potencialidade de desenvolvimento: a aprendizagem, vindo antes, promove o desenvolvimento. A ZDP, como qualquer potencialidade emerge de uma diferença entre dois níveis e para poder aparecer, isto é, para podermos perceber a existência dessa potencialidade, devemos observar o processo de interação entre o sujeito que aprende e o objeto da aprendizagem em termos da diferença de significado que o conceito estudado tem para o estudante e o significado científico que ele deve (ou vai) alcançar. Na perspectiva de análise, os dois significados se opõem, mas não se anulam no processo: ao aprender o conceito científico o aluno não destroe o conceito que tinha antes, mas o incorpora no novo patamar de conhecimento.

A análise da entrevista foi antes de tudo, um trabalho de percepção. A entrevista tem características a serem destrinchadas, de um fenômeno complexo, típicas de situações de ensino-aprendizagem e das relações professor-aluno. Observamos a emergência do enunciado do conceito de energia no grupo de alunos na hora da entrevista. O conceito não é explícito na exposição. Nas falas dos monitores e nos painéis é eventual. Na pesquisa histórica que fizemos sobre as origens pudemos refletir sobre questões epistemológicas que a compreensão dele implica e pudemos conjeturar sobre zonas proximais possíveis. Pudemos avaliar as imprecisões dos momentos de origem da significação, antes do estabelecimento de significado preciso na expressão das leis que

compõem as teorias científicas, acompanhando o desenvolvimento até os significados mais recentes em teorias e experiências atuais. Ao decorrer essa evolução foi se modificando a relação dos conceitos com seu uso cotidiano através das transformações sociais, tecnológicas e culturais. (Império Hamburger 1991). Os estudos históricos elevam a nossa compreensão epistemológica, importante para a compreensão dos conceitos científicos. Após a emergência dessa lei, a partir de processos termodinâmicos, ficou mais evidente a existência de certas formas de energia, como a elétrica que se destacou na disseminação generalizada no uso doméstico.

Dos estudos históricos destacamos alguns pontos epistemológicos importantes para o ensino: 1) o conceito de energia é invisível, 2) confusão com o conceito de força, 3) a importância de ter considerado a teoria do calor como movimento em vez de calor como substância, 4) o contexto social e econômico, 5) formalismo matemático, 6) o conceito de energia teve origem no enunciado da lei de sua conservação, a partir da compreensão do processo de transformação.

Ao aprofundar esses pontos adquirimos sensibilidade para a compreensão pré- científica dos conceitos que os estudantes apresentam, desenvolvendo discernimento sobre as diferenças de significado que constituem a “zona proximal” de desenvolvimento cognitivo de Vygotsky. Os estudos das origens dos conceitos científicos permitiram a formação de uma ligação própria com a realidade desses conceitos nos diversos planos de significação (Império Hamburger 1991).

Na perspectiva da totalidade (Bohm, 1980), o processo da psicologia e física tem o mesmo sentido pois são ligados à natureza das coisas. O conceito de energia exemplifica. O conceito de energia e a lei de sua conservação é um processo. A energia na história constitui um espaço de significação. A tranformação de energia é um processo na psicologia também.

O princípio de atribuição de significados é um princípio geral, uma lei da natureza, está na história, na sala de aula e no cotidiano. O processo da elaboração desta dissertação

elevou minha compreensão dessa lei, que estava já presente no pensamento de Newton, D. Bohm e de minha orientadora, só para citar alguns pensadores.

SER SENDO