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3 GÊNERO E ESPAÇO AGRÁRIO: CAMINHOS E DESCAMINHOS DO

3.4 Acampamento e Assentamento 10 de abril: do espaço estranhado à

4.1.1 Senhora A

“As mulheres, eram 23 mulheres e nóis entremo em conflito com os próprios assentados. Começaram vendo que as mulheres tavam tomando… o primeiro projeto foi delas e eu não sei se eram todos homens, eu sei que tudo entrou porque eles faziam a reunião deles, pra fazer o planejamento deles e nóis comecemo a trabalhar aqui, plantando muita batata, macaxeira, arroz, jerimum, só que a ACB não tinha essa feira, nóis não sabia como fazer gerar dinheiro. Aí o que era

46Essa frase foi utilizada por um dos homens moradores do assentamento, ao se referir as mulheres, nas pesquisas do IDACE.

que nóis fazia, nóis arrancava e despachava pra todas casas das mulher que trabalhava, saia dividindo de acordo com o trabalho porque nóis tinha um coletivo aqui, que era assim, dividia as coisas de acordo com o trabalho. Se fosse partir as coisas no dia trinta no mês, se você tivesse naquele mês dois dias e eu tivesse só meio dia, eu só ia receber meio dia e você ia receber seus três dias. Assim nóis fazia pra partir as coisas lá. Os homens começou a crescendo o olho que nóis fomos já arrumando coisa pra partir e eles como não tinha esse planejamento, se ajuntou um grupo de homem minha filha, nóis tinha o planejamento que todo domingo a gente se sentava pra fazer o planejamento do trabalho, e os homem também se sentava pra fazer o dele, só que o raciocínio dele era diferente que o das mulher, as mulher tem o pensamento de melhorar mais, de crescer mais, aí os homem foram vendo que nóis ia... se eles não atrapalhassem, nóis tava crescendo mais do que eles, né? Nesse dia que nóis fizemo o planejamento, as mulher dos homem acho que chegaram em casa dizendo o planejamento, se ajuntou acho que de 15 a 20 homem, não sei, sei que as 23 mulher tava lá tudo de enxada na mão, menina, e foi uma guerra feia quando eles chegaram lá. Nóis trabalhando, e os homem chegaram lá e emendavam enxada contra as mulher, e puxava pra lá e puxava pra cá e foi uma briga medonha. O presidente ainda era o primeiro que tinha entrado ou era o segundo ainda, Pedro Crispim, muito compridão, não tinha carne, não tinha nada, só osso, mas era muito atrevido. E nóis dizia “Pedro vai caçar outro trabalho que aqui é o nosso, que tu vai perder essa guerra, vai caçar outro trabalho”. E ele “mas menina, não perde não”. “Pedro, tu vai perder”, “se eu perder uma luta dessa eu danço uma mazurca no meio do barracão vestido de saia”, foi uma briga feia. Se juntou duas menina que tinha aqui que era Tereza e outra que tá em São Paulo e pegaram um carro e foram chamar a ACB. A ACB veio e aí foram fazer reunião por cima de reunião e quem tava certo, quem tava errado... nesse meio nóis ganhemo e aí o menino da ACB ainda fizeram... não deixaram nóis vestir a saia, era pra ele ter dançado de saia, o certo era aquilo, ele não disse que vestia se perdesse? Ele não perdeu? Era pra ele dançar é de saia. Ainda hoje tenho raiva que ele não dançou vestido na saia.”

“o grupo de mulheres tava se mantendo em pé até...eu sei que nós vendemos as criação e compremo o gado, aumentemo o gado, nóis tinha de doze cabeça pra lá de gado. Aí começou um conflito de novo entre os homem e as mulher.

aí começou a briga, não era só os homem. Tinha mulher contra mulher. Tinha uma mulher que toda semana fazia reunião. Ou nóis vendia o gado, ou a associação ia tomar. Nesse tempo ela era presidente. Aí a mulher disse “vocês vão passar o gado pros homem, pra associação ou vocês vão cuidar?”, “não vocês dividem uma manguinha e vamo cuidar”, “não, tem que passar é pra associação”. Pra associação não ficar com o gado, que já tinha gado, muito, a associação nesse tempo tinha muito gado. Aí nós resolvemos vender o gado. Aí, desse tempo pra cá, eu mesmo fui duas, não nego, eu acabei o gosto que eu tinha de ter grupo de mulher, sei que o grupo de mulher é muito importante, mas a gente sofreu tanto pra chegar aonde tava e a mulher fazer, acabar o grupo, até que nós chegamo a posição de vender nosso gado todinho. O único recurso que tinha era o gado.

porque diz que as mulher não trabalhava, não conhecia mulher com enxada na mão ou com foice, não via mulher pregando arame, não via mulher fazendo não sei o que, foi tanta coisa que eu não quero nem saber essa guerra. Eu sei que findou nóis acabando com o gado, eu mesmo cheguei a chorar, eu fiquei com muito desgosto porque nóis sofremo muito pra chegar onde tava e ser obrigada a acabar. E o grupo de mulher acabou, de lá pra cá não teve mais grupo de mulher, não teve mais reunião de mulher, não teve mais nada. Tem reunião das mulher, mas um grupão só que é da associação. Mas pra dizer que tem um grupo de mulher, não se criou mais. Nós pelejemo, perdemo os gosto.”

Podemos notar nas palavras da Senhora A o momento de um conflito entre homens e mulheres e mulheres e mulheres, sobre o desenvolvimento de uma questão

produtiva do Assentamento. A discussão sobre a criação do gado que o grupo de mulheres possuía se encontra no âmbito político, na organização produtiva do Assentamento, se questiona o domínio do trabalho da pecuária, entre o grupo de mulheres e a associação de moradores do A\ssssentamento. Sem dúvida poderia ter uma discussão política sobre a temática, porém podemos notar que atrelado a esse debate temos a utilização da desqualificação do trabalho das mulheres e na imposição de uma divisão sexual do trabalho, como percebemos no trecho: “não conhecia mulher de enxada na mão ou com foice, não via pregando arame”.

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