• Nenhum resultado encontrado

Senhores de Escravos Nº de escravos em São Gonçalo

Total

1. Manuel de Abreu Friellas 6 6

2. Maria Siqueira 6 6

3. Pascoal Gomes de Lima 5 5

4. Catarina da Rocha 4 5

5. Manuel de Abreu Soares 3 3

6. Francisco Borges Valadares 3 3

7. Inês Duarte (viúva) 3 4

8. Gonçalo da Costa Faleiro 1 24

9. João da Costa Almeida 1 11

10. Estevão Pestana 1 1

11. Esther Pereira 1 1

12. Francisco Gomes 1 1

13. Antônio Gonçalves 1 1

14. Manuel de Souza Cerne 1 4

15. Pedro da Costa 1 4

16. Manuel Rodrigues Santiago 1 1

17. Antônio Gomes de Lima 1 1

18. Manuel Pimentel 1 1

19. João Carvalho de Lima 1 1

20. Ana Domingues Gonçalves 1 1

21. Tomé Leitão Navarro333 1 3

22. Carlos da Rocha 1 1

Fonte: LIVRO de registro de batismos da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, sob a guarda do IAHGP (1681-1714).

A lista acima, assim como a feita para o caso da capela de Santo Antônio, contem o número que ocupa na lista, na primeira coluna, sendo organizada do senhor mais abastado, com maior número de escravos batizados no local, para o menor. A segunda coluna contem o nome dos senhores que batizaram seus escravos na capela de São Gonçalo do Potengi e, por fim, na terceira, o total de escravos que foram batizados na freguesia.

Contou-se, então, um total de 21 senhores (as) que tiveram o cuidado de batizar seus escravos. Conforme as “Constituições Primeiras”, cujas determinações foram sendo discutidas ao longo desse trabalho, sobretudo no capítulo 1, os escravos

333 Tomé Leitão Navarro possuía três escravos, todos indígenas: Prudência, já adulta, batizada em 1706; Rosa, batizada também em 1706, e sua mãe, uma “tapuia do sertão”, o que indica que Navarro estava recebendo os índios apanhados na Guerra dos Bárbaros. Tomé Navarro também estava envolvido na petição de terras no Siará Grande. Ver páginas 140-141, deste capítulo.

eram de responsabilidade de seus senhores, devendo estes cuidarem para que aqueles fossem batizados e que se ensinasse a doutrina católica, para que deixassem de ser infiéis – na visão do português/colonizador – passando a conhecer os preceitos de Deus.334

Desses senhores de escravos, um total de cinco mulheres, aproximadamente 25% do número geral, chamaram atenção. Esse percentual era significativo se comparado à Capela de Santo Antônio – esta tinha 29 senhores de escravos e apenas três eram mulheres, correspondendo a cerca de 10%. Uma possibilidade para esse aumento, como já mencionado aqui, seria que vários dos moradores dessa localidade estavam envolvidos na guerra e suas mulheres, muito provavelmente, ficavam responsáveis por atribuições que, costumeiramente, pertenciam aos homens. Outra possibilidade é que essas mulheres tenham ficado viúvas.

Das cinco mulheres que tinham escravos, pelo menos três se destacaram pela quantidade de escravos que tinham. Deve-se ressaltar que, em uma capitania periférica como a do Rio Grande, ter escravos, ainda que em número diminutos, já era um símbolo de distinção social. A que mais se sobressaia era Maria Siqueira, senhora de, pelo menos, seis escravos – Vital, batizado em 1699, e sua mãe Eusébia; Cosma;335 Manuel, batizado em 1703 e seus pais, Ventura e Domingas. A segunda mulher era Catarina da Rocha, tendo um total de quatro – Sebastiana, Mariana, Potenciana (1703) e Joana índia. A terceira senhora era Inês Duarte, que se sabe de dois de seus escravos – Arcângela e sua mãe, Ilária.

Conclui-se que a capela de São Gonçalo, embora de menor relevância que a de Santo Antônio, também foi uma localidade utilizada pelos agentes envolvidos na Guerra dos Bárbaros, o que atraiu pessoas de prestígio da capitania para o local. Nesse sentido, a guerra fez com que a capela recebesse diversas pessoas que, por sua vez, estavam em constante movimento na freguesia, sendo um espaço em permanente reelaboração.

334 VIDE, Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia/ feitas e ordenadas pelo ilustríssimo e reverendíssimo D. Sebastião Monteiro da Vide. Brasília: Senado Federal. Conselho Editorial, 2007.

335

c. Capela de Nossa Senhora do Ó

A Capela do aldeamento de Papary era de invocação à Nossa Senhora do Ó, ou de Nossa Senhora da Expectação. Essa santa tinha origem espanhola, e o nome faz alusão ao anseio de Maria em ter seu primogênito, Jesus, concebido pelo Espírito Santo, sem pecado, segundo a crença. As festas em celebração da santa ocorrem no dia 18 de dezembro, pouco antes da data convencionada do nascimento do menino Jesus (25 de dezembro).336

A capela de Nossa Senhora do Ó (Papary/Mipibu) contou com o segundo maior número de pessoas sendo batizadas - um total de 127, correspondente a 13,65% do total de pessoas batizadas na freguesia (930).337 Papary recebeu esse nome devido a uma lagoa de pesca abundante, sendo esta a maior atividade desenvolvida no local durante o período colonial.338 Segundo Ana Lunara da Silva Morais, teriam sido doadas, no ano de 1670, umas terras em sesmaria em Papary (Mipibu), cujo objetivo seria a atividade da pesca.339

Desse número total de batizados, de 127, tinha-se 85 brancos, 16 índios e 26 escravos que se acredita eram negros/pretos, ou tinham alguma descendência africana. Como os números demonstram, a grande maioria dos indivíduos batizados na capela de Nossa Senhora do Ó eram brancos, descendentes dos colonizadores, algo surpreendente, tendo em vista que, normalmente, o número de indígenas batizados deveria ser superior uma vez que a capela encontrava-se em uma aldeia indígena.

336

Informações retiradas do sítio eletrônico da Canção Nova. Disponível em: http://santo.cancaonova.com/santo/nossa-senhora-do-o-festa-catolica-de-origem-espanhola/ Acesso em: 11 de julho de 2015

337 Preferiu-se chamar de “pessoas batizadas” pelo fato de aparecerem alguns adultos na documentação, sendo inviável achar que eram todas crianças.

338 Informação extraída do site do IBGE, ver:

http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=240820&search=rio-grande-do- norte|nisia-floresta|infograficos:-historico

339Segundo Lunara Morais, “nesta carta, Francisco Lopes solicitou a confirmação dos títulos das terras que pertenciam ao avô de sua esposa, João Lostão Navarro.” Alvará de confirmação de umas datas de terras do sargento-mor Francisco Lopes Capitania do Rio Grande e por que se lhe dão de novo as sobras de outras que houver na vargem de Mipibu. Documentos Históricos, Códice 24, fls. 24-25”. Ver: MORAIS, Ana Lunara da Silva. Quanto peixe se compra com um vintém? Análise da atividade pesqueira e as querelas derivadas desta na capitania do Rio Grande, 1650-1750. Revista Ultramares, n. 5, vol. 1, Jan-Jul/2014. P. 196 – 221.

Algumas hipóteses podem ser levantadas em relação aos números encontrados, sendo mais plausível acreditar que as certidões dos índios ou não estavam sendo enviadas para a matriz, ou ainda que estas foram perdidas. Pode-se pensar também que esses índios estavam sendo utilizados como mão de obra – por mais tempo que o permitido pela legislação indigenista (seis meses) - em outras localidades, o que faria com que houvesse poucos batizados sendo feitos na capela de Nossa Senhora do Ó, dado que, geralmente, eram os homens enviados para realização de trabalhos, diminuindo o nascimento de curumins e, obviamente, reduzindo o número dos batismos. Da mesma forma, era possível que esses índios estivessem sendo utilizados também na Guerra dos Bárbaros e, além de diminuir o número de nascimentos, pode ter ocasionado a morte de muitos deles.

Em relação aos colonizadores que estavam batizando seus filhos na capela de Nossa Senhora do Ó, sobressaem-se pelo menos quatro figuras notáveis, a citar:340 Gonçalo Ribeiro Boto (3), casado com Izabel da Rosa; o sargento-mor Bento Teixeira Ribeiro (4), casado com Joana Camelo Valcacer; o capitão-mor da Capitania do Rio Grande – Bernardo Vieira de Melo;341 o senhor de escravos chamado João Marinho de Carvalho (5), casado com Ana de Macedo – ambos aparecem recorrentemente em diversos registros de batismo, fosse como senhores de escravos batizados, fosse apadrinhando; e por fim, mas não menos importante, o capitão José Barbosa Pimentel, casado com Mariana de Azevedo, ambos também presentes na documentação, dividindo-se entre apadrinhamentos e posse de alguns escravos, como se pode ver pela lista de senhores de escravos abaixo.342