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Sentido subjetivo e configurações subjetivas

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. TEORIA DA SUBJETIVIDADE: A SUA IMPORTÂNCIA PARA O

2.1.3. Sentido subjetivo e configurações subjetivas

Entendemos que a constituição do sujeito coordenador pedagógico transita pela complexidade interativa dos espaços sociais e pelas singularidades dos sujeitos que atuam e interferem nestes espaços. Investigar tais espaços pela lente da subjetividade confere maior inteligibilidade dos processos de expressão dos sujeitos concretos, protagonistas inacabados da dinâmica social.

O sentido subjetivo é uma categoria apresentada por González Rey que permite conhecer elementos da história do sujeito e dos cenários dos quais participa, pois é uma categoria que carrega a marca da singularidade em sua produção, por se tratar de uma qualidade que diferencia os indivíduos, pois mesmo que compartilhem as mesmas situações, cada indivíduo entende e sente a situação de forma diferenciada. Para ampliar tal ideia, González Rey explica que:

O sentido subjetivo nos permite conhecer elementos da história do sujeito e dos diferentes cenários de sua vida atual, o sujeito vira uma fonte importante de conhecimento da subjetividade social, pela possibilidade de conhecer o modo pelo qual os diferentes processos e formas de organização social se têm subjetivado nele. (GONZÁLEZ REY, 2005b, p.45-46)

Ainda conforme González Rey, os sentidos subjetivos representam a relação inseparável do emocional e do simbólico:

Os sentidos subjetivos representam a unidade do emocional e do simbólico sobre uma definição produzida pela cultura (ou seja, os sentidos sempre se organizam sobre espaços simbolicamente existentes e significam, justamente, a possibilidade diferenciada da ação humana dentro de tais espaços), unidade na qual um aspecto evoca o outro, sem se converter em sua causa. (GONZÁLEZ REY, 2007, p.136)

González Rey (2005b) enfatiza que o sentido subjetivo é uma produção histórica que sempre está envolvida com o sujeito, reafirmando que estudar a subjetividade implica dialogar com o sujeito concreto nos espaços sociais em que atua.

Assim, por exemplo, quando apresentamos em tópico anterior a estrutura da coordenação pedagógica, observamos que a dinâmica adotada se apresenta historicamente como um processo que se restringe a métodos, técnicas e a uma estrutura de base legal

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conferida pela SEDF na qual sempre se omitiu as singularidades dos espaços, dos sujeitos e a produção de sentidos subjetivos. Percebemos a ausência de sujeitos ativos e uma forte cultura voltada para a mera execução de atividades reprodutivas.

Assumir esse entendimento implica estimular no espaço da coordenação pedagógica a produção de novos sentidos subjetivos que conferem ao coordenador pedagógico um lugar de protagonista social, pois a produção de sentido subjetivo vinculada à criatividade e o compromisso com a gestão pedagógica é responsável pelo posicionamento do coordenador pedagógico e de professores atuando como sujeito.

Levando em consideração a qualidade processual e dinâmica dos sentidos subjetivos, é importante gerar atividades que envolvam de forma progressiva os participantes desse espaço, respeitando suas reflexões, expectativas e contradições. Tal processo deve levar ao desenvolvimento da curiosidade, do sentido de pertença, numa dinâmica viva da qual possam emergir sentidos subjetivos que permitam configurações subjetivas sociais e individuais, responsáveis por uma produção subjetiva condizente com esse espaço de ação.

Entretanto, cabe esclarecer que os sentidos subjetivos não se formam diretamente pelo tipo de atividade desenvolvida, mas pelos laços contraditórios, vivos, que criamos no desenvolvimento de uma atividade, ou seja, pelo engajamento progressivo dos participantes num processo dinâmico capaz de gerar infinitos desdobramentos.

Assim, explica González Rey:

O sentido subjetivo, como produção singular, pressupõe um posicionamento diferenciado da pessoa, que entra em tensão com as diferentes alternativas que a pressionam em direção distintas daquelas para as quais o sentido a orienta. (GONZÁLEZ REY, 2004a, p. 23)

Acredito que esse “posicionamento diferenciado” citado pelo autor permite causar mudanças diante do estabelecido, ou seja, de práticas cristalizadas que não permitem o desenvolvimento qualitativo dos agentes que participam do espaço da coordenação pedagógica.

A concepção defendida no presente trabalho entende o desenvolvimento como um processo integral que ocorre em torno de sistemas de sentidos subjetivos da pessoa (GONZÁLEZ REY, 2004a). Dessa forma, os sentidos subjetivos são produzidos processualmente em uma atividade concreta, sendo organizados em forma de configurações subjetivas.

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A categoria de configuração subjetiva tem caráter sistêmico e é definida por González Rey (2003) como a integração dos diferentes sentidos que se integram de forma relativamente estável na organização subjetiva de qualquer experiência. Tal categoria permite entender a maneira como são subjetivadas as experiências dos indivíduos na personalidade, definindo uma estabilidade relativa às posições adotadas pelos indivíduos dentro dos espaços sociais que atuam.

Nossa pesquisa visa apresentar os processos subjetivos dos coordenadores pedagógicos, além das características meramente institucionalizadas que sinalizam o coordenador pedagógico como “bombeiro”, “Bombril”, “profissional incompetente”. Ao contrário, acreditamos que a Teoria da Subjetividade possibilita desvelar as singularidades dos coordenadores pedagógicos, negando qualquer tipo de universalização relativa ao ato de coordenar.

Nesse sentido, as configurações subjetivas nos ajudam a compreender as construções individuais dos coordenadores pedagógicos no contexto da experiência social subjetivada, bem como sua constante tensão e compromisso com as ações atuais do sujeito coordenador pedagógico.

González Rey (2007) explica que as configurações subjetivas e os sentidos subjetivos se atravessam uns aos outros, de forma que esse atravessamento gera contradições e tensões causadoras de mudanças.

As configurações subjetivas expressam a organização subjetiva do sujeito (GONZÁLEZ REY, 2007) e desenvolvem-se a partir da variedade de sentidos subjetivos produzidos pelo sujeito no contexto de suas ações, por isso é que as configurações subjetivas se caracterizam como moveis e dinâmicas. Nessas condições, as configurações subjetivas se organizam de forma não repetitiva em cada sujeito concreto (GONZÁLEZ REY, 2003).

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