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SENTIDOS E SIGNIFICADOS NA BUSCA DA POTÊNCIA IDENTITÁRIA: NARRATIVAS DE ARTISTAS

A EDUCAÇÃO PARA O CORPO LIVRE

3 SENTIDOS E SIGNIFICADOS NA BUSCA DA POTÊNCIA IDENTITÁRIA: NARRATIVAS DE ARTISTAS

RESUMO

Este artigo se propõe a investigar a percepção do artista sobre os sentidos e significados da tatuagem para os sujeitos que a buscam, intencionando compreender se este ritual leva, ou ainda se é impulsionado, por uma potência de raiz identitária. A fim de alcançar esse objetivo entrevistamos 8 tatuadores de 4 estados brasileiros, utilizando de um roteiro de entrevista semiestruturada. Os artistas entrevistados estão em momentos diversos de sua experiência no ofício, assim como suas idades também variam, numa abrangência de 24 a 52 anos. Em termos de fundamentação teórica, realizamos uma busca nas mais conhecidas bases de dados acadêmicas, sem restrição de datas, mas não encontramos nenhum resultado linkando a tatuagem à educação, tampouco as marcas corporais (de modo mais abrangente) à educação. Assim, trouxemos como marcos teóricos fundamentais as pesquisas de David Le Breton e Jerome Bruner. Trata-se de um artigo advindo de pesquisa qualitativa tendo como delineamento escolhido o estudo de casos únicos. Nossa metodologia envolveu, além da pesquisa bibliográfica com os marcadores sentido, significado, marcas corporais, tatuagem e identidade, para dar suporte à discussão e à compreensão do fenômeno estudado; a análise de dados obtidos nas entrevistas foi realizada com base em categorias temáticas organizadas a partir das narrativas. Esclarecemos que a escolha dos participantes ocorreu através da disponibilidade e facilidade de acesso, encerrando-se num total de 8 tatuadores, sendo 3 de Salvador/Ba, 3 de Florianópolis/SC, 1 de São Paulo/SP e 1 de Porto Alegre/RS. Vale considerar que em todas as etapas da pesquisa foram respeitadas as questões éticas indicadas para pesquisas com seres humanos.

INTRODUÇÃO

Desde o primeiro registro histórico da existência de tatuagens, datada de mais de 3500 anos atrás, essa arte vem ganhando novas roupagens, se firmando como um discurso que comunica a identidade de si para o mundo. Seja quando adquirida de maneira imposta, tal qual as tatuagens de numerações de prisioneiros do nazismo em campos de concentração, ou quando escolhidas autonomamente após um longo processo de maturação da ideia, a tatuagem revela esteticamente uma história do corpo que a carrega.

Um importante ator neste ritual é o artista, o tatuador, que torna possível a marca corporal idealizada. Assim, este artigo é motivado pela intenção de investigar a percepção do artista sobre os sentidos e significados da tatuagem para os sujeitos

que a buscam, intencionando compreender se este ritual leva, ou ainda se é impulsionado, por uma recém descoberta, ou busca, de potência5 de si, de identidade.

Para tornar possível esta investigação entrevistamos 8 tatuadores de 4 estados brasileiros, utilizando de um roteiro de entrevista semiestruturada. Os artistas entrevistados estão em momentos diversos de sua experiência no ofício, assim como suas idades também variam, numa abrangência entre 24 a 52 anos.

O corpo é um fenômeno que transcende as barreiras da biologia, e deve ser entendido como mais do que um acontecimento natural, mas principalmente, um fenômeno histórico, cultural e social; ele é uma potência comunicativa, podendo ser compreendido como a mídia mais completa que existe (Leitão, 2004). Leitão (2004) aponta que muitos dos comportamentos corporais tidos como naturais são, na realidade, alicerçados na cultura, afirmação esta passível de verificação nas diferenças no uso do corpo de uma sociedade para outra. A cultura, portanto, tem papel central nas questões ligadas ao corpo, sendo a cultura corporal uma educação em si mesma (Mauss, 2003). Deste modo, as marcas que o sujeito carrega em si, os adereços que leva, bem como a maneira de se colocar, caracterizam um rico discurso a ser investigado na área da educação, mais especificamente para discutir a temática da identidade.

Este assunto, embora muito significativo e amplamente discutido na sociologia, antropologia, artes e, mais recentemente na psicologia, não figura entre as pesquisas educacionais. Foi realizada uma busca nas mais conhecidas bases de dados acadêmicas6 sem restrição de datas, mas não encontramos nenhum resultado

linkando a tatuagem à educação, tampouco as marcas corporais (de modo mais

abrangente) à educação.

Contudo, sobre a relação da educação com as marcas corporais, Brandão (1981) esclarece que o percurso de vida e o percurso educacional se confundem, pois não há lugar, nem tempo, específicos para a educação ocorrer, ela é um fenômeno constante imerso em símbolos e seus sentidos e significados. Transitando essas educações ininterruptas a que o sujeito vivencia, está a (re)construção identitária, esta também constante e ininterrupta, e carregada de tensões.

5 A ideia de potência adotada neste artigo, bem como em toda construção da tese de doutoramento a que se

refere, é aquela desenvolvida por Spinoza ao longo de sua obra, sobretudo na Ética (nossa obra de referência é a tradução de Tomaz Tadeu, da editora Autêntica [2007]).

Assim, pensando sobre o lugar do corpo nesta construção, Le Breton (2004) esclarece que desde a Renascença o corpo é uma fronteira. Ele limita e demarca o espaço de um e de outro, separando-os tanto uns dos outros, quanto da natureza – o homem já não é o cosmos, mas vive dentro dele – e de si mesmo – o dualismo citado anteriormente. Deste modo, o corpo na atualidade é marcado pela separação.

Com o intuito de esclarecer e caracterizar o corpo sobre o qual nos debruçamos nesta discussão, destaca-se as ideias de Le Breton (2004, 2007, 2011), nas quais o corpo é definido como uma instância moldada na relação com a cultura e seus signos, símbolos e significados. Neste sistema, o corpo é produto e produtor da cultura, mas é, prioritariamente, lugar de mediação entre si e o mundo.

Este artigo trata de uma pesquisa qualitativa tendo como delineamento escolhido o estudo de casos únicos, para que um aprofundamento no tratamento dos dados fosse possível. Num primeiro momento foi realizada uma pesquisa bibliográfica com os marcadores sentido, significado, marcas corporais, tatuagem e identidade, para dar suporte à discussão e à compreensão do fenômeno estudado. Em seguida, ocorreu a escolha dos participantes através da disponibilidade e facilidade de acesso. 8 tatuadores, sendo 3 de Salvador/Ba, 3 de Florianópolis/SC, 1 de São Paulo/SP e 1 de Porto Alegre/RS se disponibilizaram a participar. Vale considerar que em todas as etapas da pesquisa foram respeitadas as questões éticas indicadas para pesquisas com seres humanos.

A análise dos dados obtidos nesta pesquisa foi realizada com base em categorias temáticas organizadas a partir das narrativas. A presente discussão explora a categoria tatuagem, assim, o objetivo desta é analisar o ritual de modificação corporal através da tatuagem no tempo presente como um diálogo de si para si e de si para o mundo, configurando uma ferramenta da potência, expressão da mesma, e que age como método de reinvenção da identidade do tatuado, e revela, como um reflexo, nuances de sua educação.

SENTIDO E SIGNIFICADO NA (RE)CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA A PARTIR