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3. O sítio Galheta IV

3.5 Os sepultamentos

O sítio Galheta IV possui claramente atividades voltadas às práticas mortuárias, com todo seu crescimento monticular relacionado à deposição de remanescentes esqueletais humanos e demais materiais associados (DeBlasis et al, 2014).

Considerando a matriz arenosa do sítio e os aspectos tafonômicos particulares, a maneira como alguns dos sepultamentos humanos foram encontrados pode não corresponder fielmente à forma pela qual os indivíduos eram depositados e o conjunto de elementos que compunham as práticas funerárias. Os fortes ventos, a vegetação, o intemperismo e os animais carniceiros e fossoriais do litoral catarinense podem ter influenciado na dispersão e preservação dos remanescentes esqueletais.

Após as escavações, o material esqueletal humano foi estudado inicialmente por dois alunos de iniciação científica do GRUPEP. Relatórios não publicados de Gilson Pereira e Bruna Zamparetti trazem algumas descrições, entre as quais Gilson tentou estabelecer deposição, sexo e idade dos indivíduos e Bruna fez uma análise dos dentes.

Em 2014, o material foi transferido para o MAE/USP para que fosse desenvolvida uma curadoria técnica dos sepultamentos por Marina DiGiusto e Renata Estevam sob orientação da Prof. Dra. Veronica Wesolowski. Para a curadoria, os esqueletos foram higienizados com o auxílio de algodão embebido em uma solução 50% água e 50% álcool. Em seguida, iniciou-se o processo de remontagem das peças ósseas, com cola de PVA pH neutro, e sua identificação por região anatômica. Após as identificações, estimativas de idade, o material foi recondicionado em embalagens de polietileno do tipo zip, com etiquetas de campo e etiquetas de laboratório.

Atualmente, o material está em análise e apresentam apenas resultados preliminares. Tais resultados apontam para a presença de pelo menos dez indivíduos, entre lactantes, adolescentes e adultos. Possuem sinais de queima generalizados, mas não aparentam corresponder à atividade de cremação propriamente dita.

A seguir estão descritas as informações existentes até o momento a respeito de cada um dos sepultamentos. Os dados foram obtidos a partir da documentação de campo e de curadoria:

Sepultamento 1: sepultamento primário localizado na área B do sítio, sobrepondo parcialmente o sepultamento 6. Corresponde a uma deposição primária, em decúbito lateral esquerdo, com ossos articulados. Idade estimada entre 14 e 17 anos de idade, e o sexo permaneceu indeterminado. Esse sepultamento apresenta uma datação de 861-659 cal AP. No

processo de curadoria foram observadas possibilidades de alterações térmicas em alguns ossos, devido a diferenças na coloração, peso e presença de fissuras longitudinais nos ossos longos.

Sepultamento 6: sepultamento primário localizado na área B do sítio, sendo encontrado parcialmente sob o sepultamento 1. Uma datação obtida recentemente desse sepultamento, de 875-664 cal AP, pode indicar que ambos os indivíduos tivessem sido sepultados concomitantemente. No registro constam duas fotos desse esqueleto: a primeira, mostrando o crânio, a região torácica e os membros superiores em posição caótica; e a segunda foto mostra ossos dos membros inferiores articulados em decúbito dorsal. Foi estimada uma idade superior a 25 anos, e o sexo permaneceu indeterminado. Alguns ossos possivelmente sofreram alterações térmicas, observadas a partir de diferentes colorações em determinadas estruturas.

Sepultamento 2: sepultamento localizado na área A do sítio, próximo aos sepultamentos 7 e 9. Foram encontrados apenas fragmentos de crânio e ossos longos, fêmur esquerdo e fíbula – todos desarticulados e descritos como possivelmente secundários. Não há fotos da escavação deste contexto. Não foi possível estimar sexo ou idade.

Sepultamento 3: sepultamento possivelmente secundário e múltiplo, localizado no perfil da estrada. Foram identificados dois indivíduos; fragmentos de crânio e fêmur avulsos; fragmento de ulna, vértebra e pelve de bebê (bebê encontrado nas amostras de material zooarqueológico). Os ossos que compõem esse sepultamento apresentam coloração mais enegrecida que os demais e também a datação mais antiga para o sítio: 1256-1031 cal AP. Apenas um dos indivíduos, denominado 3b, teve idade estimada de 14 a 16 anos, e os demais permaneceram indeterminados.

Sepultamento 4: sepultamento simples, primário, em decúbito lateral direito, semi- fletido, com ossos articulados. Encontrado no perfil da estrada, com parte do crânio destruído devido à erosão. Foi estimada uma idade superior a 20 anos, sexo indeterminado. Apresentou diferença em coloração possivelmente devido a alterações térmicas em fragmentos do crânio, costelas, vértebras, pelve, pé, mão e nos fragmentos de ossos longos. Esse sepultamento apresenta uma datação de 690-530 cal AP.

Sepultamento 5: sepultamento aparentemente secundário, com ossos desarticulados, localizado na área A, distante dos demais contextos funerários. Foram identificados um indivíduo (ossos do crânio e mandíbula, vértebras cervicais e ossos da mão) e um fragmento de áxis avulso. A idade estimada do indivíduo foi 21 anos, com sexo indeterminado. Foram observadas alterações na coloração dos ossos do crânio, maxila e mandíbula.

Figura 10 - Remanescentes esqueletais humanos do Galheta IV, campanhas de 2005-2007. Sepultamentos 1, 3, 4 e 6.

Fonte: DeBlasis & Farias, 2006 e 2007.

Sepultamento 7: sepultamento aparentemente secundário, com ossos desarticulados, localizado na área A, próximo aos sepultamentos 2 e 9. Foi identificado um indivíduo com ossos do crânio, pelve, maxila, mandíbula, costelas, úmero, fêmur e fíbula; e uma clavícula de indivíduo adulto. A idade estimada do sepultamento é de 21 anos, com sexo indeterminado. Esse sepultamento apresenta uma datação de 819-639 cal AP e também alteração na coloração dos ossos do crânio, maxila, mandíbula, costelas, pelve e ossos longos.

Sepultamento 8: foi detectado no perfil, porém não foi escavado.

Sep. 1 Sep. 3

Sep. 6 Sep. 6

Sepultamento 9: sepultamento localizado na área A, próximo aos sepultamentos 2 e 7. É composto apenas por ossos das pernas, articulados em posição dorsal (fragmentos de fêmur direito, tíbia direita e esquerda e fíbula esquerda), e todos os ossos apresentam alteração térmica (coloração). Não foi possível estimar idade e sexo.

Além destes contextos, fragmentos ósseos humanos foram recuperados nas amostras de material zooarqueológico durante o desenvolvimento das análises desse trabalho. Uma discussão será apresentada nos resultados.

Figura 11 – Remanescentes esqueletais humanos do Galheta IV, campanhas de 2005-2007. Sepultamentos 7 e 9. Fonte: DeBlasis & Farias, 2006 e 2007.