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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 Sequência Fedathi: uma proposta metodológica de ensino

A Sequência Fedathi é uma proposta metodológica desenvolvida com o intuito de melhorar o ensino da Matemática. Ela é fruto do trabalho de professores, pesquisadores e alunos de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (FACED). Estas pessoas constituem o chamado Grupo Fedathi, criado no início dos anos 90 para tratar de questões relativas à Didática da Matemática (SATANA, 2006, p.133).

Na SF, o professor assume a chamada “postura mão no bolso”, termo usado para definir a postura que o professor deve assumir durante a aula. Essa postura baseia-se numa

ação mediadora durante o processo de construção do conhecimento, onde o professor evita explicar tudo ao aluno, dar respostas prontas, enfim, fazer pelo aluno. Em vez disso utiliza o recurso da pergunta. Ou seja, quando o aluno tem uma dúvida sobre o conteúdo e pergunta ao professor, este responde com outra pergunta. Sendo que a pergunta utilizada pelo professor tem um caráter de estímulo, esclarecimento e orientação. O professor também pode utilizar contra exemplos.

“A SF é composta de quatro etapas sequenciais e interdependentes que são: Tomada de posição, maturação, solução e prova”. (SOUZA, 2013 p.18).

Na tomada de posição, o professor propõe um problema ou uma situação desafiadora relacionada ao conteúdo que pretende ensinar. Porém, antes de apresentar o problema, é recomendável que o professor defina quais conhecimentos prévios os alunos devem ter para apreender o novo conhecimento e em seguida realize um diagnóstico junto a estes para averiguar se os estudantes são detentores destes conceitos (SOUZA, 2013 p.20).

O objetivo da tomada de posição consiste em criar os elementos necessários a imersão cultural do aluno na estrutura de saber que se pretende ensinar, como se o mesmo fosse o pesquisador, neste sentido, cabe ao professor colocar-se em uma postura de colaboração, enquanto um “pesquisador” mais experiente e não como o detentor único do saber que se pretende estudar (SATANA, 2006, p.135).

É nessa etapa que o professor apresenta o acordo didático, que define o que se espera de cada parte envolvida nos processos de ensino e aprendizagem, ou seja, do professor e do aluno. Na Sequência Fedathi geralmente se define que:

 O professor espera dos alunos que eles participem ativamente das ações didáticas em todos os momentos.

 O aluno espera que o professor os oriente na atividade, de forma didática que os possibilite avançar na atividade proposta, apontando-lhe ferramentas didáticas que os possibilite chegar à solução do problema ou situação desafiadora propostos.

Na maturação (2ª etapa) acontece o debruçamento dos alunos em relação ao problema, que juntamente com o professor discutem os possíveis caminhos que podem levar a solução. É altamente recomendável que o professor, a partir deste momento, utilize a chamada “postura mão-no-bolso” (SANTANA, 2006, p.322), evitando fazer pelo aluno ou fornecer as respostas prontas.

O recurso mais “valioso” da Sequência Fedathi pode ser usado neste momento. Trata-se dos questionamentos. Estes podem ser propostos pelos alunos expressando principalmente dúvidas, ou pelo professor através de perguntas esclarecedoras, estimuladoras

e orientadoras. A pergunta consiste num recurso extraordinário porque induz os alunos a pensarem, raciocinarem e construírem de forma participativa o conhecimento. “A maturação requer um tempo significativo da aula para o trabalho dos alunos” (SOUZA, 2013, p.28).

Na solução (3ª etapa), os alunos deverão organizar e apresentar modelos que possam conduzi-lo a encontrar o que está sendo solicitado pelo problema (SOUZA, 2013, p.29). Esses modelos podem ser apresentados de diversas maneiras como, por exemplo, através de um desenho, um esquema, um gráfico, verbalmente e é claro (como se almeja) usando a linguagem matemática. Também é uma etapa que requer bastante tempo para que os alunos testem suas hipóteses, reelaborem suas respostas para, através de ensaios e erros, validar os modelos criados e construir de forma autônoma o conhecimento. O professor continua atuando como mediador, porém acompanhando e participando ativamente da construção do conhecimento. É recomendável estimular atividades colaborativas promovendo as interações multilaterais.

A prova (3ª etapa) é a hora da formalização dos conceitos. A partir das soluções apresentadas pelos alunos após um considerável (talvez longo) processo de construção, o professor apresenta o novo conhecimento mostrando os modelos matemáticos cientificamente aceitos. Deve-se ressaltar que os modelos apresentados pelos alunos são válidos, porém em algumas situações (talvez muitas) limitados para generalização das soluções. Os alunos ao mesmo tempo em que valorizados pelas proposições devem ser induzidos a reconhecer a importância da formalização dos conceitos.

De modo geral a Sequência Fedathi sugere que o conteúdo não seja exposto ou apresentado diretamente ao aluno, sem que antes seja dada a este a oportunidade de pensar, raciocinar, refletir e propor soluções. Mesmo que os modelos apresentados pelos alunos estejam, em sua maioria, distantes do conceito formalizado, a experiência de construção revela-se altamente significativa para a aprendizagem. Contrapondo a realidade com a qual nos deparamos atualmente, onde os professores explicam exclusiva e exaustivamente os conteúdos, e os alunos passivamente „assistem‟ às aulas, porém raramente assimilam e retêm de forma significativa os conceitos abordados.

Outro aspecto que merece análise com relação a esta metodologia, diz respeito à relação conteúdo trabalhado versus tempo gasto. É inegável que a abordagem de determinado conteúdo feita através da Sequência Fedathi leva provavelmente bem mais tempo que uma abordagem puramente expositiva. Portanto a quantidade de conteúdo trabalhado por meio da Sequência Fedathi é possivelmente menor que a quantidade de conteúdo trabalhado de forma puramente expositiva e não interativa se considerarmos o mesmo intervalo de tempo. No

entanto, vale um questionamento. O que é mais relevante: utilizar um intervalo de tempo para explorar uma quantidade de conteúdo x e proporcionar uma Aprendizagem Significativa do mesmo, ou utilizar o mesmo intervalo para explorar uma quantidade de conteúdo 3x sem que se alcance a Aprendizagem Significativa? A pergunta é polêmica se considerarmos o cenário educacional composto por currículos „engessados‟ e com „grades curriculares‟ extensas que têm que ser cumpridas.