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4. O QUE ME FAZ JOVEM AINDA TAMBÉM É: 3º ANO; TERMINAR O

4.1. Ser jovem é complicado

Ao tratarmos do conceito de juventude, é preciso manter em vista o pluralismo inerente a esse termo, uma vez que os jovens, individualmente ou inseridos nos grupos juvenis, têm vivências diferentes, em condições também diferenciadas. Assim como as identidades, a cultura também precisa ser pensada no plural, a exemplo do conceito de juventude. (NOVAES apud OLIVEIRA et allli, 2006,

p.62).

O conceito de juventude varia de acordo com a área do conhecimento que se debruça sobre esse tema. No âmbito das ciências jurídicas, a faixa etária delimita a diferença entre criança, jovem e adulto; já para a Psicologia e a Biologia há outros critérios de delimitação.

Segundo Feixa (1999, p.16), a juventude geralmente é entendida como a fase da vida individual compreendida entre a puberdade fisiológica (uma condição “natural”) e o reconhecimento do status adulto (uma condição “cultural”), a juventude tem sido vista como uma condição universal, uma fase do desenvolvimento humano que se encontra em todas as sociedades e momentos históricos. Ainda segundo esse autor, em uma perspectiva antropológica, a juventude como condição universal dever ser questionada, uma vez que se trata de uma “construção cultural” no tempo e no espaço. Para ele, cada sociedade organiza a passagem da infância para a vida adulta embora as formas e conteúdos dessa passagem são enormemente variáveis (FEIXA, 1999, p.18)

Helena W. Abramo aponta o termo “condição juvenil” ao tratar deste tema. Segundo ela, há duas dimensões presentes nessa condição:

a juventude refere-se ao modo como uma sociedade constitui e atribui significado a esse momento do ciclo da vida, no contexto de uma dimensão histórico-geracional, mas também à sua situação, ou seja, o modo como tal condição é vivida a partir dos diversos recortes referidos às diferenças sociais – classe, gênero, etnia etc. Na análise, permite - se levar em conta tanto a dimensão simbólica quanto os aspectos fáticos, materiais, históricos e políticos, nos quais a produção social da juventude se desenvolve (ABRAMO, apud DAYRELL, 2007).

Segundo a autora, as políticas públicas deveriam considerar não somente a dimensão da juventude como fase de formação do indivíduo, mas também, no sentido de “possibilidade de vivência e experimentação diferenciada” (ABRAMO, 2005, p. 69), aquela que se refere à experimentação e à participação nos diversos campos da vida – sexualidade, educação, direitos e deveres.

Para Pais, é cada vez mais difícil a definição de uma idade a partir da qual um jovem se reconhece como adulto, para ele “a juventude aparece cada vez menos associada a uma categoria de idade, e cada vez mais a um conjunto diversificado de

modos de vida” (PAIS, 2003, p.378). Portanto, é importante considerar as juventudes, tendo como referência seus modos de vida, suas expressividades.

Porém, mesmo considerando a complexidade do conceito, para fins de delimitação do universo na aplicação da minha pesquisa, tomei por base a faixa etária de 15 a 29 anos de idade, posposta nos textos do Estatuto da Juventude, em fase de aprovação no Congresso Nacional. Essa delimitação etária foi necessária, uma vez que apliquei a pesquisa também em turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde havia alunos com, mais de 50 anos de idade.

Ao pesquisar o que havia, no âmbito da legislação voltada à juventude, que me ajudasse a delimitar a idade dos sujeitos deste estudo. Para minha surpresa, obtive a informação de que somente no ano de 2010 a categoria “jovem” foi incluída na Constituição Federal Brasileira, através da emenda n.º 65 – também conhecida como PEC da Juventude – que alterou o capítulo VI do Título VIII da Constituição, para incluir, ali a juventude, ao lado das já existentes categorias da família, da criança, do adolescente e do idoso. Somente a partir dessa alteração, a juventude passou a constituir uma categoria constitucional específica. Até a referida emenda, a Constituição Federal somente fazia referência à juventude em dois trechos: 1º. no Art. 24, inciso XV, que se limita a prever a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre proteção à infância “e à juventude”; e 2º. no 4° parágrafo do inciso XII, Art. 60, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (norma inserida pela emenda constitucional n° 53/2006), que faz referência a aporte de recursos para a educação de “jovens e adultos”.

A emenda n.° 65 incluiu, nos parágrafos do Art. 227, referências à juventude, onde antes somente havia referências a crianças e adolescentes. Destaque-se, em especial, a obrigatoriedade de adoção, pelo Estado, de políticas públicas: a) de assistência integral à saúde do jovem; b) de integração social do jovem portador de deficiência; c) de garantia do acesso do trabalhador jovem à escola; d) de prevenção e atendimento especializado ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. Além disso, a emenda impôs a elaboração de um estatuto dos jovens, à semelhança do estatuto que já existia para regular as especificidades e direitos de crianças e adolescentes, e a elaboração de um plano

nacional de juventude, de duração decenal.

A Constituição já possuía o capítulo VI do Título VIII, para cuidar da família, da criança, do adolescente e do idoso, embora não definisse com maior precisão, para fins da proteção jurídica especial, quem se enquadraria nessas categorias. Por isso o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso fixam, por lei, a faixa etária na qual se enquadram os segmentos os quais contemplam. Essa determinação foi feita com uso de critérios razoáveis que levaram em conta estudos científicos da ONU (Organização das Nações Unidas). Assim, criança é “a pessoa até doze anos de idade incompletos” (Art. 2° do ECA – Lei n° 8.609/1990); adolescente é a pessoa “entre doze e dezoito anos de idade” (Art. 2° do ECA); alguns dispositivos do ECA aplicam-se excepcionalmente às pessoas entre 18 e 21 anos de idade (parágrafo único do Art. 2°); idoso é a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos de idade (Art. 1° do Estatuto do Idoso – Lei n° 10.741/2003).

No Estatuto da Juventude14, que já foi elaborado e atualmente está em fase de aprovação no Congresso Nacional, define com maior precisão os marcos da juventude, para os fins da proteção legal específica. Nele utiliza-se a idade de 15 a 29 anos para jovens. Para esta pesquisa, adotei essa classificação, que foi definida anteriormente pela UNESCO e tem sido utilizada em todos os estudos atualmente.

Apesar de considerar o conceito de juventude como uma construção histórico-social e de que há juventudes e não juventude. Precisei adotar esse recorte de faixa etária para fins de delimitação dos participantes da pesquisa, em razão de estar realizando pesquisa em uma escola de ensino médio, também com turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), compostas por alunos de variadas faixas etárias.