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CAPITULO II – A EDUCAÇÃO MORAL E RELIGIOSA CATÓLICA E O

4. Ser professor de EMRC, uma tarefa acrescida

A tarefa do professor hoje é bastante mais desafiante e complexa do que outrora, porque, embora os agentes educativos atribuam ao professor um estatuto de instrutor, ele é bem mais do que isso, assumindo o papel de um importante educador; capaz “de proporcionar aos alunos experiências pedagógicas promotoras da aquisição das mais variadas competências”251. Sendo

mais que um professor, o educador além de transmitir conhecimentos, também se compromete com a formação integral do seu aluno, preocupando-se com a sua interação com a família e com a sua integração na sociedade.

Em Portugal foi traçado um perfil do professor com base nas características próprias do sistema educativo português e na experiência de outros países, presente no Decreto-lei 240/2001, de 30 de Agosto.252 Desta forma, o perfil do professor encontra-se dividido em quatro

dimensões fundamentais:

a) Dimensão profissional, social e ética. No que concerne a esta dimensão, o professor deve ser um profissional “com a função específica de ensinar, pelo que recorre ao saber próprio da profissão, apoiado na investigação e na reflexão partilhada da prática educativa e enquadrado em orientações de política educativa para cuja definição contribui activamente”253; devem

promover a escola inclusiva, proporcionando a todos a aprendizagem necessária a um desenvolvimento integral.

b) Dimensão de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. No que respeita a esta dimensão, o professor utiliza os seus conhecimentos de acordo com o nível de ensino; promove aprendizagens com base em “opções pedagógicas e didácticas fundamentadas”254; utiliza de

uma forma correta a língua portuguesa e utiliza linguagens diversas, dependendo do contexto educativo; ajuda o aluno a desenvolver diferentes estratégias de organização do seu trabalho ao nível intelectual; utiliza diferentes estratégias pedagógicas, tendo em conta os diferentes alunos que encontra e a sua integração na sociedade.

c) Dimensão de participação na escola e de relação com a comunidade. Relativamente a esta dimensão o professor vê a escola como um espaço inclusivo e passível de intervenção social, na medida em que promove o desenvolvimento do aluno e a sua formação integral; ajuda ao desenvolvimento do projeto educativo da escola e noutras atividades administrativas ou de gestão; estabelece uma relação de respeito mútuo com a restante comunidade educativa, colaborando com todos; estabelece interações entre escola e família; promove uma escola aberta

251 Jorge PEREIRA, “Uma perspectiva sobre o perfil do professor”, in Pastoral Catequética, 5 (2006), 97. 252 Cf. ibidem, 110.

253 Decreto-lei 240/2001, de 30 de Agosto, Diário da República, I Série – A, nº. 201, 5570. 254 Ibidem, 5571.

57 às instituições da comunidade; participa em “projectos de intervenção integrados na escola e no seu contexto”255.

d) Dimensão de desenvolvimento profissional. Quanto a esta dimensão o professor deve ser reflexivo sobre a sua prática e avaliar o se próprio desenvolvimento profissional, condição necessária para o “seu próprio projecto de formação”256; valoriza o trabalho de equipa,

partilhando saberes e experiências e “desenvolve competências pessoais, sociais e profissionais, numa perspectiva de formação ao longo da vida”257.

Do resumo do perfil traçado para o professor, e da análise do mesmo, depreende-se que este tem um papel fundamental na formação dos alunos, ajudando-o no desenvolvimento intelectual, mas também na sua relação com a família e com a sociedade. Tem, também, a responsabilidade de desenvolver os seus próprios saberes, atualizando-se na sua área e noutras consideradas essenciais para a sua formação e para o desenvolvimento de atividades da escola. Pode afirmar-se que o professor de EMRC também se encaixa neste perfil; no entanto “o professor de Ensino Religioso, mais do que os das demais disciplinas, precisa aprimorar/atualizar continuamente o conhecimento, tanto do objeto de conhecimento (conteúdo), como do sujeito da aprendizagem (o aluno, enquanto sujeito social, epistémico, afetivo, ético e religioso)”258, porque, considerando que a disciplina de EMRC não é

obrigatória, o professor tem a tarefa acrescida de motivar os alunos para a sua frequência, investindo na sua formação e na relação com os alunos, superando-se a si próprio, sendo “aquilo que educa…a fé do educador enquanto vida”259. Este ato de educar é antes de tudo um ato de

comunicação e um ato de amor, levando a que o jovem aceda a um fenómeno cultural, que se torna caminho de crescimento e interesse por tudo o que o rodeia.260

Então, o professor não pode ser um simples transmissor de conhecimentos, o seu envolvimento no ato de ensino/aprendizagem dever ser total, a fim de despertar “no espírito e no coração dos educandos um movimento interior que favoreça o desabrochar das próprias qualidades, desperte o desejo de aperfeiçoamento e correcção pessoal e leve a acolher os contributos que a família, a escola, os grupos e a Igreja oferecem”261. Para que isso aconteça,

o educador deve ser exemplo de vida e testemunho de fé, onde “o ser é o processo mais eficaz e o suporte didáctico mais autêntico do aprender a ser”262. Assim, a sua identidade radica neste

255 Ibidem.

256 Ibidem, 5572. 257 Ibidem.

258 Sérgio JUNQUEIRA, Ensino Religioso: aspectos práticos, in Eulálio FIGUEIRA; Sérgio JUNQUEIRA (org.),

Teologia e Educação. Educar para a Caridade e a solidariedade, Paulinas, São Paulo, 2012, 332.

259 Luigi Giussani, Educar…, op. cit., 164. 260 Cf. ibidem, 168.

261 CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Educação…, op. cit., nº 13. 262 Ibidem, nº 14.

58 testemunho, inspirando confiança e levando ao “desenvolvimento intelectual e moral dos alunos”263, num relacionamento único, que compreende uma relação de respeito e

cumplicidade; onde a disponibilidade é total.

Neste papel de educador, há uma vocação e um chamamento de Deus que implica doação e generosidade, pois a sua tarefa exige mais do que o simples ensinar; “a sua tarefa é sobretudo dar”264. Estando ao serviço da formação integral dos alunos, deve transmitir a fé cristã com

todas as potencialidades que ela envolve; possibilitando e oferecendo as respostas às questões mais complexas do ser humano; orientando para um sentido de vida, onde o fenómeno religioso assume valor indiscutível, pois é parte integrante da dimensão da pessoa.265

Também Bento XVI refere a importância do papel do professor de EMRC e a sua presença fundamental na escola afirmando:

“Com a plena e reconhecida dignidade escolástica do vosso ensinamento, vós contribuís, por um lado, para dar uma alma à escola e, por outro, para garantir à fé cristã plena cidadania nos lugares de educação e de cultura em geral. Por conseguinte, graças ao ensinamento da religião católica, a escola e a sociedade enriquecem-se de verdadeiros laboratórios de cultura e de humanidade, nos quais, decifrando a contribuição do cristianismo, habilita-se a pessoa a descobrir o bem e a crescer na responsabilidade, a procurar o confronto e a apurar o sentido crítico, a inspirar-se nos dons do passado para compreender melhor o presente e projectar-se conscientemente para o futuro”266.

O professor de EMRC é, neste sentido, o orientador de uma educação integral, fazendo da escola terreno fértil para o “conhecimento completo e variado”; onde se privilegia o enriquecimento dos alunos a nível cultural, em que o Cristianismo tem valor fundamental, e onde se aborda e propõe a questão de Deus, “independentemente da resposta pessoal de cada um”267. Esta pedagogia diferenciada exige um espírito missionário e um investimento sério

numa “relação pedagógica de qualidade porque tudo o que é racional também deve ser relacional”268.

Este aspeto relacional é de grande importância e leva tantas vezes o aluno a optar pela disciplina, proporcionando uma ligação interpessoal única, onde se desenvolvem vínculos de amizade que permitem um adequado processo de ajuda à construção da cidadania. A qualidade

263 Fernando MOITA, “A missão do professor de EMRC no contexto da escola atual”, in Pastoral Catequética, 26

(2013), 67.

264 Ibidem. 265 Cf. ibidem, 70.

266 BENTO XVI, Discurso aos Professores de Religião Católica nas Escolas Italianas (25 de abril de 2009), in

L’Osservatore Romano, 18 (2009), 9.

267 Fernando MOITA, “A missão do professor…”, op. cit., 71. 268 Ibidem.

59 desta relação marca a diferença, levando a um melhor desenvolvimento das competências cognitivas e sociais do aluno.269 Para que isto seja possível, o professor deve envolver os alunos

pelo fascínio que comunica, tornando a educação a comunicação de si. “ Este diálogo, encontro de experiências, gera diálogo, produz conhecimento, provoca mudança e transforma”270; aqui a

tarefa do professor é gerir um acontecimento que une a fé e a racionalidade, permitindo ao aluno uma formação integral da sua personalidade.

Por tudo o acima referido, pode afirmar-se que o professor de EMRC tem uma tarefa acrescida na formação das crianças e jovens, mantendo uma relação de comunhão com eles que nenhum outro professor consegue atingir. A sua forma de cativar para o saber e para a cultura, vem do amor e entrega com que comunicam. Então, educar na afetividade e pela afetividade é tarefa essencial que o professor não pode descurar, numa interação positiva que, normalmente, leva, como afirma Bento XVI, a que “tantos jovens mantenham contacto com ele depois dos cursos terem terminado”271. Podemos concluir com as palavras sábias do Papa Francisco sobre

o perfil do professor:

“Educar é um gesto de amor, é dar vida. E o amor é exigente, requer que utilizemos os melhores recursos, que despertemos a paixão e que nos coloquemos a caminho com paciência, juntamente com os jovens. Nas escolas católicas, o educador deve ser antes de tudo muito competente, qualificado e, ao mesmo tempo, rico de humanidade, capaz de permanecer no meio dos jovens com um estilo pedagógico, para promover o seu crescimento humano e espiritual. Os jovens têm necessidade de qualidade do ensino e igualmente de valores, não apenas enunciados, mas testemunhados. A coerência é um factor indispensável na educação dos jovens. Coerência! Não se consegue fazer crescer, não se pode educar, sem coerência: coerência e testemunho”272.

269 Cf. Fátima LOPES, “Evangelizar na escola: comentário”, in Pastoral Catequética, 26 (2013), 35. 270 Ibidem, 36.

271 BENTO XVI, Discurso aos Professores…, op. cit., 9.

272 FRANCISCO, Discurso aos Participantes na Plenária da Congregação para a Educação Católica (13 de

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5. Síntese conclusiva

Verificamos que a disciplina de EMRC cumpre na íntegra as finalidades da educação, que visa, essencialmente, a formação integral do aluno. Assim se justifica a importância da implementação da mesma no espaço escolar; pois, para além de ajudar a desenvolver a dimensão cognitiva do aluno, ela permite uma formação fundamental das suas dimensões emocionais e espirituais. Porque se baseia no estudo da problemática religiosa, permite um questionamento da existência humana e oferece propostas de leitura para essa mesma existência; contribuindo para a formação da consciência num processo de construção da personalidade e da própria identidade. Assim, o aluno, responsável e livre nas suas escolhas, vai assimilando valores e princípios morais de cariz afetivo e solidário que os prepara para assumir o seu papel na sociedade, num clima de doação e abertura aos outros; tão necessária nos dias de hoje.

Para este processo muito contribui o professor da disciplina, porque mais do que uma profissão, ser professor de EMRC é uma missão. A relação de afetividade e proximidade que estabelece com os educandos, aliada à especificidade da disciplina, leva a que seja professor, testemunha e educador. Um tarefa acrescida e tão pertinente, que se torna ainda mais fundamental na sociedade individualista e materialista em que vivemos, em que a sede de afeto é cada vez mais o fator dominante.

61 CAPITULOIII – CONCEÇÃOE PLANIFICAÇÃO DA UNIDADELETIVA“RIQUEZA E

SENTIDODOSAFETOS”,DO7º ANO

Depois de uma abordagem das inteligências (intelectual, emocional e espiritual), numa perspetiva psicológica e das neurociências, apresentaram-se, no segundo capítulo, as razões justificativas da inclusão da disciplina de EMRC na escola, como promotora do desenvolvimento dessas mesmas inteligências, como promotora dum desenvolvimento integral e harmonioso do ser humano. Este capítulo pretende dar consistência aos conteúdos abordados anteriormente através da elaboração de uma proposta de planificação da Unidade Letiva “Riqueza e Sentido dos Afetos”.

Num primeiro momento apresentar-se-ão as razões da escolha desta unidade: a importância dos afetos, essencialmente, numa fase da vida que é caracterizada por mudanças fundamentais que podem perturbar o jovem a vários níveis. Na fase da adolescência torna-se ainda mais fundamental o acompanhamento e a ajuda no desenvolvimento da dimensão espiritual e emocional do aluno.

Seguidamente, passar-se-á, então, para o contexto escolar, apresentando-se a proposta da Unidade a lecionar, operacionalizando as metas, objetivos, conteúdos; explorando atividades e recursos pedagógico-didáticos que são passíveis de desenvolver as inteligências do aluno; das quais se fará o balanço das interações, levando à avaliação da lecionação.