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Seridó potiguar: uma caracterização ambiental e econômica

3. FLUXOS MIGRATÓRIOS NO SERIDÓ POTIGUAR: UMA ANÁLISE DA

3.1 Seridó potiguar: uma caracterização ambiental e econômica

O Seridó potiguar é composto por duas microrregiões, o Seridó Oriental e Ocidental, que juntas correspondem a um total de 17 municípios, sendo eles: Acari, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São José do Seridó, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas, abrangendo uma área total, segundo o IBGE, de 9.122,789 km², o que, em comparação com a área total do estado do RN, representa 17,27 %. Toda a região estudada, segundo Ab’saber (1967), está inserida no Geocomplexo dos sertões do Seridó potiguar.

Nesse sentido, tais municípios se enquadram dentro da área batizada, pelo Ministério da Integração Nacional – MI, de polígono das secas, por apresentarem um forte déficit hídrico, com chuvas irregulares e concentradas em 3 meses do ano, mais precisamente entre os meses de fevereiro, março e abril, com uma precipitação média que varia entre 500mm e 800mm a.a. Tal conjuntura acarreta a predominância de rios intermitentes. Ademais, como dito anteriormente, a região que compreende o Seridó potiguar está inserida dentro do sertão setentrional (ver figura 10).

Figura 10: Mapa de localização dos municípios do Seridó Potiguar

Fonte: Pedrosa e Rocha (2006).

No tocante às suas características socioeconômicas, a região em destaque, assim como o restante do território brasileiro/nordestino, passou por uma série de ciclos que foram se desenvolvendo e declinando ao longo do tempo, o que nos remete ao que já foi defendido por Barbieri (2011) e Ojima (2014), em relação aos fluxos migratórios nordestinos como sendo produzidos e estimulados a partir de um três vertentes: o declínio de um ciclo econômico local, o desenvolvimento ou crescimento de outro em uma região diferente e um sucessivo período de estiagem. Destarte, deve-se ressaltar a atividade pecuarista como o primeiro ciclo econômico e o responsável pela ocupação territorial desse espaço. Contudo, de acordo com Morais (2006, p. 4), “o algodão foi fator de consolidação desse processo inicial, extremamente eficiente no fortalecimento da construção do espaço enquanto região”. Outro ponto destacado pela autora é a importância que a atividade algodoeira teve sobre o início do processo de urbanização de sua população graças à instalação de

indústrias de beneficiamento desse produto em locais citadinos e no fomento do setor terciário em cidades como Caicó e Currais Novos.

Corroborando com a discussão e ressaltando as características e atividades econômicas presentes no Seridó, Azevedo (2013) aponta que até a década de 1970 a economia do Rio Grande do Norte era de base essencialmente rural, com a presença da cana-de-açúcar no litoral leste, o feijão e a mandioca (ou seja, a economia de subsistência) por todo o estado, e a atividade da cotonicultura e pecuária por todo o sertão.

Outro ciclo econômico de grande importância foi o extrativismo mineral (tungstênio) realizado no Seridó oriental, mais precisamente na cidade de Currais Novos. Tal circuito econômico possibilitou o desenvolvimento da região por meio da disseminação das atividades industriais, da absorção de mão de obra e da ampliação do comércio (MORAIS, 2005).

Contudo, o binômio cotonicultura-mineração entra em declínio na década de 1970/1980. Nesse sentido, sobre a atividade algodoeira, Morais (2005, p. 6) destaca:

Os fatores que explicam a decadência do algodão remetem a falta de competitividade do produto no mercado em função do baixo nível técnico de produção, baixa produtividade, alto custo de produção, difícil acesso a linhas oficiais de crédito, juros elevados, preços pouco compensadores no mercado e a estrutura produtiva regional, marcada pela tradição. Acrescenta-se ainda a modernização e a desconcentração geográfica da indústria têxtil paulista; os melhoramentos em termos de fibra e de produtividade do algodão herbáceo; o surgimento e proliferação do bicudo do algodoeiro. Tal conjuntura de declínio econômico foi intensificada pela crise da mineração vivenciada na década de 1980, devido à oscilação nos preços do produto, concorrência com o mercado chinês e o desenvolvimento técnico científico.

Agravando essa “inércia econômica”, Azevedo (2013), por meio da utilização de dados provenientes do IBGE (2011), destaca que o setor industrial do estado do RN representa apenas 0,8% do valor da produção industrial brasileira, ou seja, pode-se perceber que a atividade industrial potiguar é pouco expressiva. Além disso, ao se analisar a espacialização desses centros fabris pelo estado, percebe-se que a capital Natal abarca 42,98% dos estabelecimentos e, junto com mais 4 municípios da região metropolitana – RMN

(Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Ceará-Mirim), esse percentual sobe para 57,15% das empresas e 59,94% da mão de obra ocupada pelo setor (FIERN, 2012).

Diante dessas perspectivas, é importante frisar que as fortes transformações em termos econômicos, políticos e demográficos que aconteceram no Seridó potiguar, aliada a essa concentração industrial presente nesse espaço, intensificaram os processos que levaram à migração rural/urbana, acarretando um maior aglomerado urbano da sua população, como também a produção da emigração da região para as zonas mais desenvolvidas do estado, em especial a RMN, ou para outras regiões do país.

Nesse sentido, Morais (2005, p. 6) aponta que

nas cidades, as vivências, os desafios e os problemas eram justamente com o inusitado crescimento, principalmente de suas áreas periféricas. Em decorrência, novos espaços foram ocupados, aumentando a demanda por trabalho, habitação, saúde e educação e pela ampliação da infra-estrutura urbana. O mercado de trabalho, insuficiente para absorver essa oferta de mão-de-obra, deu margem à proliferação do setor informal.

Partindo dessas informações, a partir da análise da figura 11 abaixo, observa-se que o processo de urbanização na região apresentou um padrão de crescimento similar ao observado no estado do Rio Grande do Norte, com taxas contínuas de crescimento populacional urbano e apresentando um maior percentual de concentração em solo citadino.

Essa conjuntura se explica devido, como citado anteriormente, ao dinamismo econômico histórico que municípios como Caicó e Currais Novos detêm frente aos outros munícipios dessa microrregião. São os chamados por Santos (2003) de polos de atração populacional, por apresentarem maior produção do que aquelas áreas com um maior potencial de aridez.

Partindo dessas premissas, Ojima (2015) chama a atenção para a construção de uma cidade/população com forte vulnerabilidade socioambiental, já que a maioria desses municípios brasileiros não dispõem dos recursos financeiros e humanos para se adaptar aos possíveis problemas ambientais como, por exemplo, os longos períodos de estiagem.

Ademais, essa conjuntura que une características de semiaridez com baixa pluviosidade concentrada em poucos meses do ano, aliada a uma

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 1970 1980 1991 2000 2010

Rio Grande do Norte Seridó do Rio Grande do Norte

economia essencialmente agrária pouco ou sem nenhuma marca de mecanização e baixo poder aquisitivo das famílias, corrobora para a formação de uma população vulnerável socioambientalmente, que busca variadas formas de adaptação.

Figura 11: Distribuição percentual da população em área urbana, Rio Grande do Norte e do Seridó do RN.

Fonte: IBGE (2010), organizado pelo autor.

Desse modo, depois da realização de explanações envolvendo elementos históricos, políticos, econômicos e físico-climáticos presentes na região mencionada, faz-se necessário agora, de fato, investigar os aspectos ligados aos perfis socioeconômicos dos imigrantes que permitiram com que esses sobrevivessem ao processo de migração.

3.2 Dinâmica migratória do Seridó potiguar: uma análise sobre o perfil do