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Serviço de Internamento de Cirurgia Pediátrica/ Unidade de Queimados

No documento Relatório de Estágio de Mariana Ferreira (páginas 56-59)

Entre 4 e 29 de novembro de 2013 desenvolvi atividades no mesmo hospital num Serviço de Internamento de Cirurgia Pediátrica/ Unidade de Queimados.

O percurso de estágio permitiu-me acompanhar o circuito efetuado pelos utentes e aperceber-me da continuidade de cuidados realizada entre serviços. No caso da criança submetida a cirurgia programada com consulta de preparação para a cirurgia prévia, foi curioso observar que no momento do acolhimento, muitas crianças perguntam onde é a sala de brinquedos e atividades, identificam a “cama com rodinhas” e durante a transferência para

o bloco operatório reconhecem os desenhos presentes no teto e nas paredes desde o serviço de internamento, até ao destino. Ao identificarem estes aspetos mencionados anteriormente pelo enfermeiro, reforçam a sua confiança nos profissionais de saúde e, ao mesmo tempo, sentem mais controlo sobre a realidade que já não lhes é completamente estranha.

No que se refere à continuidade da gestão da dor, os registos de enfermagem efetuados no processo clínico em ambulatório permitem-nos conhecer a história da dor da criança no acolhimento e, desta forma, antecipar a nossa intervenção junto da mesma. Verifiquei que muitas crianças reconhecem a régua de autoavaliação da intensidade da dor, o que favorece a sua correta utilização e contribui para uma adequada avaliação da dor. Comparativamente a crianças com cirurgias de urgência, que permanecem no serviço no período pré-operatório aguardando transferência, constatei que estas se encontram muito mais assustadas, uma vez que se veem rodeadas de pessoas estranhas num ambiente desconhecido, sem referências prévias, o que gera mais ansiedade e medo, aumentando a sua perceção de dor.

Colaborei com o grupo dinamizador deste serviço que integra o Grupo de Trabalho Contra a Dor deste hospital, apresentando uma proposta de questionário para identificar as necessidades formativas da equipa de enfermagem, visto que, esta, constava do seu plano de atividades (apêndice VIII). O questionário que elaborei nesta fase foi aplicado, posteriormente, no meu contexto de trabalho conforme descrevo mais adiante.

O referido grupo dinamizador é formado por três enfermeiras especialistas em ESCJ e tem como objetivo principal operacionalizar o “Procedimento Multissectorial – Avaliação da dor enquanto 5º Sinal Vital”. Baseando-me no referido procedimento, também colaborei com o grupo dinamizador na sensibilização da equipa de enfermagem para o seu cumprimento, nomeadamente a importância de avaliar e registar a dor nos seguintes momentos chave: de 8/8h se dor ligeira (intensidade ≤3); de 4/4 h, ou sempre que necessário, se dor moderada a

severa (intensidade ≥4 e ≤10); antes e após analgésico (1h se terapêutica oral ou retal e ½ h se

terapêutica intravenosa); no momento do procedimento e 5 minutos após o procedimento e no momento da alta (Grupo de Trabalho Contra a Dor, 2010). Através de conversas informais com a equipa de enfermagem e análise dos processos clínicos, constatei que os colegas procedem à avaliação da dor nos vários momentos chave, no entanto não efetuam o respetivo registo sistematicamente. O mesmo sucede com o uso e efeito das intervenções farmacológicas e não farmacológicas, pontualmente referido nas passagens de turno, o que compromete a continuidade dos cuidados. De acordo com o Código Deontológico dos

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as observações e intervenções realizadas” (OE, 2012, p.77). A existência de um sistema de registos está enunciada nos PQCEESCJ. O sistema de registos de enfermagem deve incorporar as necessidades de cuidados de ESCJ, as intervenções de enfermagem e os resultados sensíveis a essas intervenções obtidos pela criança/jovem (MCESIP, 2011, p.28). A importância dos registos decorre ainda da necessidade de obter dados para a avaliação da qualidade, análise epidemiológica e investigação (OE, 2008, p. 19).

Esta experiência de estágio proporcionou-me inúmeras situações de cuidados em que tive oportunidade de treinar habilidades em estratégias farmacológicas e não farmacológicas para prevenir e tratar a dor na criança, adequadas à sua idade e estádio de desenvolvimento. Efetivamente, a literatura proporciona uma sólida base de conhecimentos, mas é na prática que desenvolvemos habilidades nos diferentes tipos de terapias a oferecer à criança e família. Em apêndice, descrevo algumas destas situações que me possibilitaram desenvolver competências no âmbito da gestão diferenciada da dor e bem-estar da criança (apêndice IX).

Saliento que durante a prestação de cuidados tive a preocupação constante de valorizar os conhecimentos dos pais/pessoas significativas acerca da dor da criança e de os envolver nas estratégias adotadas, reforçando a importância de preparar a criança para situações aversivas e dolorosas. Barros (2003 p. 127) sublinha que “só com um envolvimento activo

dos pais se poderá obter um êxito simultaneamente rápido e prolongado no tempo”. A mesma

autora salienta que avaliar a interação parental com a criança, associada ao procedimento doloroso, é especialmente adequado para analisar o efeito das atitudes parentais na perturbação da criança, assim como para ajudar os pais/pessoas significativas a compreender a importância das suas atitudes. A intervenção direcionada aos pais deve assim abranger o reforço das atitudes mais cooperantes e facilitadoras do procedimento ou identificar, de forma não culpabilizante, as suas atitudes menos adequadas, de forma a minimizar o sofrimento da criança (Barros, 2003). Outro cuidado constante relacionou-se com a promoção do autocuidado e da autonomia da criança em idade escolar e adolescentes, procedendo ao ensino, instrução e treino da criança em idade escolar e adolescente sobre o autocontrolo da dor, perspetivando o seu progressivo autocuidado conduzindo-os à aquisição e assunção da sua autonomia.

As intervenções de enfermagem desenvolvidas vão ao encontro do previsto no Regulamento das Competências do EESCJ: “proporciona conhecimento e aprendizagem de habilidades especializadas e individuais às crianças/jovens e famílias facilitando o

“capacita a criança em idade escolar, o adolescente e a família para a adoção de estratégias de

copinge de adaptação” (Regulamento n.º 123/2011, D.R, 2.ª série, p. 8654-55).

No documento Relatório de Estágio de Mariana Ferreira (páginas 56-59)