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Serviço Social e seus espaços sócio-ocupacionais

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS - UFAM (páginas 77-82)

CAPÍTULO 2 – PERSPECTIVAS DO TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO DA

2.1 A Inserção do Assistente Social nos Processos de Trabalho na Contemporaneidade

2.1.1 Serviço Social e seus espaços sócio-ocupacionais

Na atualidade, a discussão da categoria do Serviço Social sobre os novos espaços de trabalho e as novas competências profissionais, tem-se tornado pauta de reflexão sobre as questões que envolvem a qualidade do fazer profissional. Não se pode negar que as mudanças no mundo do trabalho, bem como o surgimento das novas expressões da questão social nos levam a fazer uma análise a partir das exigências do mercado de trabalho, sobre o surgimento de novos espaços sócio-ocupacionais dos assistentes sociais.

O serviço social é uma profissão que tem sua gênese atrelada às múltiplas determinações de enfrentamento da questão social, marcado pela relação de forças advindas da exploração entre capital e o trabalho. Devido à extrema exploração existente nesta relação, o proletariado passa a incomodar o capital, na sua luta por melhores condições de vida, sendo necessária a

intervenção do Estado para mediar esta situação de conflito, por meio da imposição de dispositivos legais, para regular a relação capital-trabalho. Verifica-se que à medida que o capitalismo se aprofunda, fica mais latente e gritante a questão social, na condição de vida da classe trabalhadora, o que exige um posicionamento do Estado.

A crise do capital trouxe rebatimentos para a classe trabalhadora, cada vez mais heterogênea na atualidade e as mudanças no mundo do trabalho dificultam a organização da classe trabalhadora, que nos últimos anos tem sido atingida não só na materialidade do trabalho, com a introdução de novas tecnologias por parte do capital, mas na subjetividade do trabalhador, que afetou sua forma de ser, principalmente com o recuo da organização sindical (ANTUNES, 2006).

A conjuntura atual é caracterizada pelo crescimento desenfreado do capitalismo globalizado, amparado pelo sistema neoliberal, que tem provocado diversas mudanças no mundo do trabalho, como já foi mencionado. Alteração estas, que atinge todas as categorias profissionais, inclusive vale destacar a categoria do(a) Assistente Social. Diante das mudanças que ocorre, o mercado de trabalho passa a exigir cada vez mais dos profissionais, o mesmo que no início na sua prática eram apenas executores terminais de políticas sociais, agora passam também a formular, programar a gestão dessas políticas, frente às “novas” demandas.

Estas mudanças repercutem no mercado de trabalho e no fazer profissional do assistente social. Nessa direção, novas expressões da questão social surgem como mais um desafio para o Serviço Social, que precisa dar respostas às novas demandas que são colocadas pela sociedade, pelo Estado e pelo capital. Nisto consiste o surgimento de novos espaços ocupacionais e competências profissionais que convivem com os tradicionais, revelando significativas alterações no mercado de trabalho, nas demandas e nos conteúdos das ações dos assistentes sociais.

Para compreender a inserção do assistente social nos diferentes espaços ocupacionais faz-se mister entender que o modo de produzir e reproduzir do sistema capitalista interfere diretamente no significado social da profissão e na sua necessidade nesse sistema. Trata-se de apreender o capital como uma relação social que se estabelece entre duas classes fundamentais, donde cabe aos trabalhadores a venda da sua força de trabalho e aos capitalistas a apropriação da riqueza produzida. Desta forma capital e trabalho, como apontam Iamamoto e Carvalho (2006, p. 31): “[...] são uma unidade de diversos; um se expressa no outro, um recria o outro, um nega o outro”.

Os tempos de mundialização do capital reafirmam o mercado como órgão regulador das relações sociais que impulsionam a competição e o individualismo de maneira que desarticula as formas de luta e negociação coletiva. E são essas mudanças que alocam os espaços ocupacionais do assistente social que possui raízes nos processos sociais que expressam a dinâmica da acumulação e disputas de interesses.

Dimensionar o novo no trabalho profissional significa captar as inéditas mediações históricas que moldam os processos sociais e suas expressões nos vários campos em que opera o Serviço Social. Ao profissional é exigida uma bagagem teórico-metodológica que lhe permita elaborar uma interpretação crítica do seu contexto de trabalho, um atento acompanhamento conjuntural, que potencie o seu espaço ocupacional, o estabelecimento de estratégias de ação viáveis, negociando propostas de trabalho com a população e entidades empregadoras (IAMAMOTO, 2000, p. 80).

Na esfera sócio-ocupacional, a Constituição Cidadã de 1988, ao estabelecer o direito às políticas sociais, muito contribuiu para a expansão do mercado de trabalho dos assistentes sociais em função do incremento à rede socioassistencial, através da criação de importantes programas de atendimento a diversos segmentos da população. O espaço ocupacional ampliou-se também com atividades voltadas para implantação, orientação e repreampliou-sentação em Conampliou-selhos de Políticas Sociais e de Direitos, organização e mobilização popular, elaboração de planos de assistência social, acompanhamento e avaliação de programas e projetos, ampliação e interiorização dos cursos de Serviço Social; além de assessoria e consultoria e requisições no campo da pesquisa (DELGADO, 2013).

Em um contexto neoliberal, as políticas sociais estão cada vez mais focalistas e seletivas. O mercado de trabalho, por sua vez, exige aos assistentes sociais capacidade crítica, reflexiva e criativa, um profissional com um perfil cada vez mais qualificado que, se alimentado com uma atitude investigativa, estimula no seu exercício cotidiano

“as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida em sociedade” (IAMAMOTO, 1998, p. 49).

Observa-se que novos desafios são colocados para assistentes sociais, tanto no planejamento quanto na execução das políticas, uma vez que se trata de lócus privilegiado de atuação profissional. As crises cíclicas do capital afetam diretamente a classe trabalhadora com desemprego crescente, flexibilização das relações de trabalho e desmobilização das lutas coletivas, o que permite surgir diferentes demandas e requisições que podem ser levadas ao assistente social, pois, como sinaliza Iamamoto (2009, p. 26), a classe trabalhadora “também redimensiona as requisições dirigidas aos assistentes sociais, as bases materiais e organizacionais de suas atividades, e as condições e relações de trabalho”.

Os desafios são postos, exigem habilidades e competências para o profissional e, de acordo com Iamamoto (2009, p. 25), pressupõem superar as rotinas institucionais “para buscar

apreender, no movimento da realidade, as tendências e possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho”.

Segundo Delgado (2013), nas três últimas décadas a profissão passou por um processo de redimensionamento e renovação no âmbito de sua interpretação teórico-metodológica e ético-política, e melhor, qualificou-se, principalmente através da consolidação da pós graduação stricto sensu e da produção científica acumulada a partir da década de 1980, adequando-se às exigências da contemporaneidade.

Desta forma, compreender os espaços sócio-ocupacionais do assistente social exige a reflexão no movimento histórico da sociedade brasileira e mundial, considerando os processos sociopolíticos que condicionam o modo como o Serviço Social se insere na sociedade capitalista, como um tipo de especialização do trabalho inscrito na divisão social e técnica do trabalho, articulado aos processos de produção e reprodução das relações sociais, realizando ainda sua ação profissional no âmbito das políticas socioassistenciais, na esfera pública e privada.

Os diferentes espaços ocupacionais trazem para o assistente social a responsabilidade de responder com competência ética e técnica, na dinâmica da vida social, aspectos que compreendem as respostas estatais às lutas cotidianas pelos direitos sociais, econômicos, políticos, ambientais, dentre outros, e as políticas sociais são um exemplo dessas respostas.

De acordo com Iamamoto (2009), as alterações verificadas nos espaços ocupacionais do assistente social têm raízes nesses processos sociais, historicamente datados, expressando tanto a dinâmica da acumulação, sob a prevalência de interesses rentistas, quanto a composição do poder político e a correlação de forças no seu âmbito, capturando os Estado Nacionais, com resultados regressivos no âmbito da conquista e usufruto dos direitos para o universo dos trabalhadores.

Ao longo do processo sócio histórico de desenvolvimento do Serviço Social, em meio à realidade brasileira, a partir da década de 1930, o campo das atribuições profissionais constituiu-se do modo bastante amplo. A fragmentação das políticas sociais e a expansão setorizada de ações voltadas para os mais diversos campos da atuação profissional (como saúde, previdência, assistência, habitação, etc.), oferecem ao assistente social um mercado de trabalho multifacetado, que lhe apresenta uma variada gama de requisições. As requisições que se apresentam aos assistentes sociais podem estar direcionadas à prestação de um serviço, à execução de projetos e/ou programas sócio assistenciais, ou a própria realização do trabalho

profissional. Segundo Guerra et al (2016, p. 04), “na linguagem jurídica, requisitar é requerer com autoridade ou exigir”.

Nesse sentido, a requisição é a exigência legal, emanada de autoridade competente para que se cumpra, se preste ou se faça o que está sendo ordenado. Nessa direção, percebemos que a requisição é, geralmente, institucionalizada, pois ela emana da instituição que contrata o assistente social. Entretanto, essa requisição pode ser acolhida ou não, pelo profissional, a depender da sua natureza.

Nesta historicidade que é atribuído novos contornos ao mercado de trabalho que faz emergir novos espaços que requer respostas as demandas apresentadas e um conjunto de habilidades diversificadas. Para Iamamoto (2004) o espaço de atuação profissional é um produto histórico.

A profissão registra, ao longo da sua conformação, uma progressiva ampliação do mercado de trabalho, condicionada pelos determinantes sócio-históricos inerentes a cada período. A partir dos anos de 1980, com as significativas mudanças no mundo do trabalho, os espaços ocupacionais do Serviço Social também são reformulados e outros são inaugurados, a partir das novas roupagens de antigas demandas ou mesmo de novas expressões do objeto de ação do assistente social, a questão social (BRAVO e MATOS, 2010, p. 110).

Assim, o profissional do Serviço Social possui autonomia (embora essa sempre seja relativa), para identificar se as requisições apresentadas pela instituição são compatíveis ou não com o seu exercício profissional, ou seja, com aquilo que compõe o conjunto de competências e atribuições dos assistentes sociais.

Nos diferentes espaços ocupacionais do assistente social, é de suma importância impulsionar pesquisas e projetos que favoreçam o conhecimento do modo de vida e de trabalho – e correspondentes expressões culturais – dos segmentos populacionais atendidos, criando um acervo de dados sobre os sujeitos e as expressões da questão social que as vivenciam (IAMAMOTO, 2009).

Os profissionais do serviço social atuam em diferentes espaços sócio-ocupacionais, como: Instituições públicas estatais; Empresas capitalistas e Terceiro Setor. A atuação do assistente social realiza-se em organizações públicas e privadas e em diferentes áreas e temáticas, como: proteção social, educação, programas socioeducativos e de comunidade, habitação, gestão de pessoas, segurança pública, justiça e direitos humanos, gerenciamento participativo, direitos sociais, movimentos sociais, comunicação, responsabilidade social, meio ambiente, assessoria e consultoria, que variam de acordo com o lugar que o profissional ocupa

no mercado de trabalho, exigindo deste um conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo.

De acordo com Iamamoto (2009), tais inserções são acompanhadas de novas exigências de qualificação, tais como: o domínio de conhecimentos para realizar diagnósticos socioeconômicos de municípios, para a leitura e análise dos orçamentos públicos, identificando seus alvos e compromissos, assim como os recursos disponíveis para projetar ações; o domínio do processo de planejamento; a competência no gerenciamento e avaliação de programas e projetos sociais; a capacidade de negociação, o conhecimento e o know-how na área de recursos humanos e relações no trabalho, entre outros. Somam-se possibilidades de trabalho nos níveis de assessoria e consultoria para profissionais mais experientes e altamente qualificados em determinadas áreas de especialização.

2.2 Atribuições e Competências do profissional de Serviço Social na

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