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Serviço de Urgência Pediátrica

4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO

4.2. Serviço de Urgência Pediátrica

O SUP onde estagiei pertence a um hospital de um Centro Hospitalar da Região de Lisboa. O mesmo funciona no Piso 0 do edifício central, pertencendo à dinâmica funcional do Departamento de Urgência/Emergência. Está dividido, em Urgência Médica e Urgência Cirúrgica, sendo a equipa de enfermagem comum, e é composta por diversos setores: a Triagem, a Sala de Tratamentos A e B, a Unidade de Internamento de Curta Duração (UICD), Sala de Reanimação e o apoio à Cirurgia/Ortopedia, Otorrinolaringologia e Pedopsiquiatria, pelos quais os enfermeiros se distribuem. O serviço recebe crianças e jovens desde o nascimento até aos 17 anos e 364 dias, indo ao encontro da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) ratificada por Portugal (1990), onde se institui que: “a criança é definida como todo o ser humano com menos de dezoito anos, excepto se a lei nacional confere a maioridade mais cedo” (UNICEF, 1990, p. 6). A unidade destina-se ao atendimento da criança/jovem, em situação de urgência, sendo esta definida como qualquer situação clínica de aparecimento súbito, na qual se verifica a existência de risco de compromisso ou falência das funções vitais (DGS, 2014).

Neste contexto, o período de estágio foi iniciado com as atividades que permitiram dar resposta ao objetivo específico: “conhecer a dinâmica do contexto,

na sua vertente estrutural, organizacional e funcional do Serviço de Urgência Pediátrica”. Assim, comecei por apresentar o Guia Orientador de Atividades de

Estágio (Apêndice II) à enfermeira orientadora, que concordou com a pertinência dos objetivos que tinha delineado para este estágio, contudo referiu que seria pertinente apresenta-lo, também, à Enf.ª Chefe e assim o fiz. Ao apresentar o guia à Enf.ª Chefe, a mesma sugeriu que direcionasse, ainda mais, as minhas atividades para a temática do meu trabalho, com a realização de uma entrevista a um enfermeiro perito, possivelmente a enfermeira que me estava a orientar, no sentido de identificar das estratégias utilizadas para minimizar a experiência emocionalmente intensa vivida

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pela criança e família, tendo especial atenção aos irmãos da criança em processo paliativo. Assim, acrescentei a atividade proposta ao guia pois considerei ser benéfica para o meu percurso formativo. Além disso, consultei os protocolos, normas e projetos existentes no serviço, nomeadamente procedimentos relativos ao atendimento da criança e do jovem, triagem canadiana, procedimento de atuação em caso de emergência, entre outros, permitindo que tomasse conhecimento da dinâmica organizacional e estrutural do SUP.

Ao longo do estágio tive oportunidade de participar ativamente na prestação

de cuidados de enfermagem nas diversas valências do SUP, em conjunto com a Enf.ª

orientadora, contribuindo, assim, para alcançar os objetivos definidos, particularmente o objetivo: “adquirir/consolidar conhecimentos sobre a prática de cuidados

especializados à criança e família em situação de urgência/emergência”. A

admissão no SUP é uma experiência emocional pautada, normalmente, por uma tonalidade negativa, uma vez que a criança/jovem permanece num ambiente estranho e ameaçador, onde está sujeito a experiências que podem causar medo e dor (Sanders, 2014).

A sala de triagem é onde acontece o primeiro contacto com a criança e família, mas também, onde é realizada a triagem das crianças e jovens que recorrem à urgência, através do sistema de Triagem Canadiana - Canadian Paediatric Triage and Acuity Scale. Este sistema constitui uma ferramenta que permite a identificação da prioridade clínica e a definição respetiva do tempo alvo recomendado até à observação médica caso a caso. A aquisição de competências foi evidente, pois exigiu de um vasto conjunto de conhecimentos sobre diversas doenças da idade pediátrica, para posteriormente implementar as respostas de enfermagem apropriadas, indo ao encontro da unidade de competência: “diagnostica precocemente e intervém nas doenças comuns e nas situações de risco que possam afetar negativamente a vida ou qualidade de vida da criança/jovem” (OE, 2010b, p. 3). A avaliação da criança/jovem implica uma colheita de dados o mais completa possível, como tal, exige capacidades comunicacionais e relacionais do enfermeiro, no sentido de rapidamente conseguir compreender o motivo de vinda à urgência e detetar situações de maior complexidade, indo ao encontro do preconizado pela OE (2010b, p. 5) como unidade de competência: “comunica com a criança e família de forma apropriada ao estádio de desenvolvimento e à cultura”. A comunicação estabelecida entre

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enfermeiro e a família é fundamental para a compreensão dos sinais e sintomas que motivaram o recurso a um serviço de urgência. Como referido, a sala de triagem é o local onde é estabelecido o primeiro contacto com os pais/acompanhantes, estes vêm, muitas vezes, munidos de sentimentos como ansiedade, insegurança, medo. Como tal, compete ao EE valorizar as queixas apresentadas pelos pais e tranquilizá-los, transmitindo-lhes, concomitantemente, segurança e confiança, permitindo, assim, atenuar a experiência possivelmente negativa. Além disso, sendo, também, o primeiro contacto com a criança, é fulcral estabelecer bases para uma relação de confiança. Assim, neste local, tive oportunidade de por em prática algumas das estratégias estudadas. Por exemplo, no caso de um toddler, permitir que a avaliação seja realizada sempre ao colo dos pais, e para, por exemplo, avaliar a temperatura timpânica, dizer “queres ouvir uma música no teu ouvido?”, fazendo referência ao sinal sonoro, ao passo que, numa criança em idade pré-escolar perguntava se queria falar ao telefone. Os toddlers e pré-escolares são egocêntricos, ou seja, veem as coisas em função de si e do seu ponto de vista, focando a comunicação nelas próprias (Hockenberry, 2014). Outro exemplo a salientar é aquando da colocação da pulseira de identificação na criança. No caso dos toddlers e pré-escolares compreendi que com a minha intenção de colocar a pulseira, começavam a chorar, ao passo que se fosse a mãe ou pai a coloca-la, a mesma era aceite. Já as crianças em idade escolar estendiam o braço sem medo, querendo ajudar na sua colocação. A triagem do adolescente requer a adoção de uma postura diferente, uma vez que o discurso é focado nele, sendo o mesmo quem fornece os dados e explica o que o levou a recorrer ao serviço de urgência. Os pais apenas o complementam se solicitados, permitindo que o adolescente se sinta valorizado. Também a explicação dos procedimentos é feita de uma forma mais pormenorizada, possibilitando, assim, a construção da relação.

A sala de tratamentos é o local onde existe maior proximidade entre o enfermeiro e a criança e família. É neste local que se realizam procedimentos, tais como, colheitas de espécimes, realização de aerossóis, colocação de cateteres venosos periféricos, administração de terapêutica, entre outros. Aqui tive a oportunidade de observar e colaborar com a Enf.ª na gestão diferenciada da dor, indo ao encontro da competência do EEESCJ (OE, 2010b) e tendo em mente um cuidar não traumático, utilizando, para tal, estratégias como a sucção não nutritiva, o

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uso de anestésicos tópicos, o recurso ao brinquedo, o uso de técnicas de distração, a presença dos pais, entre outros. Explicar o procedimento e pedir a colaboração da criança são duas estratégias que foram fundamentais na prestação de cuidados, atendendo ao estádio de desenvolvimento da criança. Por exemplo, quando foi necessário efetuar uma colheita de sangue a uma criança de 10 anos, explicar-lhe o procedimento e deixa-la ver o material, permitiu tranquilizar a mesma. Além disso, pedir a sua colaboração possibilitou que a mesma sentisse algum controlo na situação, pois foi exequível dar-lhe tempo para que a mesma se sentisse preparada.

Apesar de não ter sido referido, a triagem permite, também, o reconhecimento de situações de instabilidade das funções vitais e risco de morte, sendo necessária a prestação de cuidados de enfermagem apropriados (OE, 2010b). Nestas situações, as crianças são imediatamente transferidas para a sala de reanimação ou para a UICD, de acordo com a gravidade da situação. Como tal, procurei ir ao encontro do referido por Phaneuf (2005) adotando estratégias com o objetivo de ajudar o outro, manifestando interesse e atenção pelo mesmo, dando-lhe um sentido mais profundo. Assim, nestas situações procurei ir transmitindo informações aos pais, sempre que possível, assegurando que a equipa estava a prestar cuidados de excelência, com o objetivo de os tranquilizar e de promover a confiança na equipa.

Na UICD tive, também, oportunidade de realizar ensinos previamente à alta

hospitalar da criança e confirmar as orientações dadas relativamente a sinais de agravamento e à vigilância de saúde posterior, permitindo que os pais se sintam

mais seguros no cuidar da criança, bem como a aquisição de novas competências por parte dos mesmos, indo ao encontro da unidade de competência “implementa e gere, em parceria, um plano de saúde, promotor da parentalidade, da capacidade para gerir o regime e da reinserção social da criança/jovem” preconizada pela OE (2011b, p. 3). Além disso, pude colaborar na preparação da criança e família para o internamento ou para a intervenção cirúrgica, minimizando as consequências da doença e da hospitalização na criança e família.

Por último, defini como terceiro objetivo para este estágio: “desenvolver

estratégias de gestão emocional da criança e família”. Ao longo do estágio foi

possível identificar as necessidades emocionais da criança e sua família, quer pela observação da EE, quer pela prestação cuidados de enfermagem, tendo sido descritas ao longo do presente capítulo. Contudo, tornou-se pertinente a análise mais

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pormenorizada de uma experiência emocionalmente intensa, sob a forma de jornal

de aprendizagem, onde fossem mobilizadas estratégias e instrumentos terapêuticos,

de forma a promover a gestão emocional dos clientes (Apêndice VII), possibilitando a modificação de estados emocionais perturbadores e negativos para estados de tranquilidade e bem-estar, potenciando o autocontrolo emocional e a conquista da confiança da criança e família nos enfermeiros (Diogo, 2015).

No sentido de promover a reflexão e a aquisição e consolidação de competências, conhecimentos e habilidades especializadas, na área do trabalho emocional em enfermagem pediátrica, e indo ao encontro do sugerido pela Enf.ª Chefe, optei por realizar uma entrevista semiestruturada a um enfermeiro perito, no sentido de identificar das estratégias utilizadas para minimizar a experiência emocionalmente intensa vivida pela criança e família, tendo especial atenção aos irmãos da criança em processo paliativo (Apêndice VIII).

Como última atividade planeada para dar resposta ao objetivo delineado, e de forma a ir ao encontro do meu trabalho, direcionado para os irmãos das crianças doentes, proporcionou-se a criação de um espaço de partilha com intencionalidade

terapêutica com 3 irmãos de crianças que recorreram ao SUP (Apêndice IX), através

do qual foi possível a gestão de sentimento negativos, transformando a ida ao SUP numa experiência não-perturbadora. A atividade foi extremamente relevante para o meu percurso enquanto EE, pois permitiu aprofundar conhecimentos e habilidades especializadas, na área do TEEP, nomeadamente acerca das estratégias de enfermagem utilizadas para minimizar a experiência emocionalmente intensa vivida pela criança e família, tendo especial atenção aos irmãos da criança doente.

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