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Serviços de nutricionismo prestados pelos ginásios

No documento Temas de Direito Tributrio IRS e IVA 2019 (páginas 30-33)

TEMAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO – IRS E IVA

3. Alguns casos práticos

3.1 Serviços de nutricionismo prestados pelos ginásios

Há diversos ginásios que têm vindo a adoptar sistemas integrados de saúde aos seus utentes proporcionando serviços de aconselhamento/consultas de nutricionismo e de educação física de acordo com os padrões internacionais e nacionais de um conceito integrado de saúde e bem estar.

A questão que se suscita consiste em saber se se impõe considerar a relevância própria e a autonomia das actividades de nutricionismo e de educação física, embora sejam complementares na óptica da promoção da saúde pública.

À partida, a prestação de serviços de nutricionismo é um fim em si mesmo, existindo inclusive utentes de ginásios que apenas frequentam consultas de nutricionismo, sendo livres de escolher qual a entidade a quem devem recorrer para o efeito. Assim, há utentes que apenas praticam actividades físicas, outros que apenas frequentam as consultas de nutricionismo e outros que frequentam ambas. O facto de o ginásio eventualmente incluir num pacote único ambas as prestações de serviços em nada poderá alterar tal conclusão.

Importa ter em consideração que a prestação de serviços de nutricionismo se distingue claramente das prestações de serviços de prática de actividades físicas.

Tais actividades são complementares. A prestação de serviços de nutricionismo não é indispensável para a realização de prestações de serviços relativas à prática de actividades físicas e vice versa Na realidade, tais prestações de serviços existem, nas palavras do TJUE, independentemente uma da outra, pelo que não deverão, em regra, ser vistas nunca óptica de acessoriedade.

TEMAS DE DIREITO TRIBUTÁRIO – IRS E IVA 2019

2. Prestações principais e acessórias em IVA

Como vimos, importa aferir se a apreciação separada dessas prestações não pode constituir, em si mesma, uma decomposição artificial de uma operação económica única, susceptível de alterar a funcionalidade do sistema do IVA.

Assim sendo, importa casuisticamente averiguar se há razões específicas que levem a considerar que os elementos em causa constituem uma operação única, aferindo, designadamente, da importância de cada uma das prestações de serviços. Obviamente tal conclusão será sempre independente de considerações subjectivas, mormente as relacionadas com eventuais preocupações de garantir, através da realização dos serviços de aconselhamento nutricional, o incremento da retenção de clientes ou do tempo disponibilizado para o efeito.

Interessa pois aferir se a prestação de serviços de aconselhamento/consultas de nutricionionismo se distingue ou não da prática de actividade física. Em princípio sim.

Na prática importa aferir casuisticamente, sendo a nosso ver fortes indícios a favor da sua individualidade e consequente tratamento distinto em sede de IVA (aplicação da taxa normal às prestações de serviços de actividades físicas e da isenção às prestações de serviços de nutricionismo):

(i) A contratação de nutricionistas inscritos na respectiva Ordem legalmente habilitados para o exercício de tal profissão;

(ii) A existência de instalações adequadas à prática da actividade de nutricionismo, nomeadamente de gabinetes devidamente apetrechados para as consultas;

(iii) A prática de facturação separada, individualizando especificamente as prestações de serviços de nutricionismo das prestações de serviços relativas à prática de actividades físicas.

A este propósito o Tribunal Arbitral, no Proc. n.º 454/2017-T, com decisão de 2 de Abril de 2018, apreciou a situação de uma entidade que se dedicava à prestação de serviços relacionados com o desporto, disponibilizando aos seus clientes um espaço para a prática desportiva, composto por várias máquinas cardiovasculares e de musculação, estúdios, uma zona de piscina para a prática da natação e de hidroginástica, uma área com jacuzzi, saunas, banho turco, bem como um espaço dedicado a serviços não desportivos como centro de estética, gabinetes médicos, zonas de relaxamento, solários, bar/restaurante, babysitting e estacionamento privado.

A principal questão em causa consistiu em decidir se os serviços de nutrição prestados pela Requerente deveriam ser considerados uma prestação acessória em relação à prestação principal (ginásio), formando com esta uma “operação complexa única”, e por esse motivo, tributados como uma prestação única à taxa normal de IVA de 23%, como sustenta a AT, ou se se tratavam de prestações cindíveis, individualmente tributáveis, conforme entende a Requerente. As correcções sub iudice assentam na conclusão de que a prestação de serviços

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2. Prestações principais e acessórias em IVA

de nutrição “é uma prestação de serviços acessória, o que não constitui para a clientela um fim

em si, mas um meio de beneficiar nas melhores condições do serviço principal do prestador”.

O Tribunal concluiu que a prestação de serviços de nutrição pela Requerente era, no caso, autonomizável das prestações que integram a sua actividade principal, tendo em conta que:

• A Requerente colocou efectivamente à disposição dos seus clientes serviços de acompanhamento nutricional/nutrição;

• Tais serviços foram essencialmente prestados nas instalações da Requerente;

• A Requerente tinha tarifários onde incluía uma consulta de acompanhamento nutricional mensal, e outros onde não incluía tal acompanhamento;

• Neste segundo grupo de tarifários a Requerente oferecia uma consulta gratuita de acompanhamento nutricional aos seus clientes, sendo a factura da mensalidade relativa ao mês onde aquela ocorria idêntica à dos restantes, ou seja, não fazendo qualquer menção a serviços de nutrição e liquidando IVA a 23% sobre a totalidade do valor facturado;

• A Requerente disponibilizou também consultas de nutrição avulso para sócios e para não sócios;

• Na facturação relativa aos tarifários que incluíam uma consulta de acompanhamento nutricional, a Requerente discriminou um valor relativo a serviços de nutrição, sobre o qual não liquidou IVA, e liquidou IVA a 23% sobre o remanescente.

• Para prestação dos serviços de nutrição aos seus clientes, a Requerente subcontratou os serviços de uma nutricionista a uma sociedade que se dedica à prestação de serviços de cuidados de saúde;

• Pelos referidos serviços acordou o pagamento de uma quantia fixa mensal à referida sociedade que lhe cedeu os serviços da nutricionista;

• A referida sociedade as consultas, nas suas instalações, com a mesma nutricionista;

• A referida nutricionista auferia ao serviço da sua entidade empregadora um salário mensal. Concluiu igualmente o Tribunal que a actuação da Requerente não era abusiva, ou por qualquer outra forma fiscalmente censurável – “Com efeito, sendo certo que a Requerente

poderia, no quadro promocional dos “pacotes” que comercializa proceder a uma distribuição de preços distinta, não se pode deixar de considerar que aquela que efectivou se situa ainda dentro da sua margem de liberdade de actuação comercial.”

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2. Prestações principais e acessórias em IVA

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