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4 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR DANOS PROVENIENTES DE

4.1 SERVIÇOS PÚBLICOS

Serviços públicos correspondem a prestações de serviços do Estado em prol do bem-estar social. Historicamente, os primeiros conceitos de serviço público surgiram na França com a Escola de Serviço Público. Nesse sentido, Grotti (s.a) apud Di Pietro (2012, p. 99), leciona sobre a expressão “serviço público”, visto que foi utilizada por Rousseu, no contrato social, que abrange dois aspectos: atividades destinadas ao serviço público para atender a coletividade e, uma atuação estatal submetida a vontade do Rei.

Nesse norte, o conceito de serviço público, ao longo do tempo, obteve mudanças na sua definição e ampliação daquilo que se entende por prestação de serviço público e, até mesmo, o conceito da própria sociedade. Nesse cenário, a questão que nasce com a evolução histórica é a ideia de que o serviço público é uma atuação estatal que se volta ao corpo social, ou seja, visa atender as necessidades da população em um todo. Logicamente, o rei não mais reina em nossas terras Tupis, mas o conceito subjetivo, que se trata do Estado, e o formal, sobre as regras de Direito público, se aplicam as atividades do Estado nos dias atuais. Para Marinela, (2017, p. 601), serviço público está relacionado com toda atividade que seja de utilidade pública, oferecida pelo Estado, destinada a satisfação da coletividade, que pode singularmente ser utilizada pelos administrados e que o Estado como atuante, presta-os por si mesmo, ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de direito público, total ou parcial.

Desta forma, serviços públicos apresentam-se em três aspectos que se ligam e juntos definem seu conceito, quais sejam: elemento subjetivo, formal e material. Nesse argumento Marinela (2017, p. 601/602), identifica o substrato material consistente na prestação de um serviço de interesse coletivo para o todo social; o elemento subjetivo, trata-se da exigência do Estado como atuante do serviço público; e, por sua vez, o elemento formal, traz sinônimo de prestação do serviço público em atenção ao interesse coletivo e se volta ao bem estar social. Portanto, serviço público é para o interesse público, é para o povo... Nesse contexto, o serviço público para atender a finalidade a que se destina deve funcionar, e funcionar bem.

Isso posto, surgem os princípios que são inerentes ao serviço público. Nessa linha de raciocínio, aponta Di Pietro (2012), o da continuidade do serviço público que decorre da ideia de uma prestação continuada do serviço oferecido pelo Estado de forma a satisfação do interesse coletivo, e traz subprincípios que se aplicam aos contratos administrativos e ao exercício da função pública; a mutabilidade do regime jurídico que “autoriza mudanças no regime de execução do serviço para adaptá-lo ao interesse público, que é sempre variável no tempo.” (DI PIETRO, 2012, p. 113). Pelo princípio da igualdade dos usuários perante o serviço público, em que todos satisfaçam às condições legais, fazem jus a prestação do serviço, sem sofrer qualquer distinção de caráter pessoal.

Por conseguinte, Marinela (2017, p. 615/618) leciona que os serviços públicos se classificam quanto a sua essencialidade e a possibilidade de sua delegação. Dessa maneira, aponta os serviços públicos como propriamente ditos e serviços de utilidade pública. Os serviços públicos estão relacionados com a atribuição do poder público e são considerados essenciais e indispensáveis à sobrevivência do próprio Estado, prestados pela administração que se vale de sua supremacia e não admite delegação, como segurança, higiene e a saúde pública. Os serviços de utilidade pública ou impróprios, de certa forma não são essenciais, pois não afetam substancialmente as necessidades da comunidade, como visam o bem-estar social, são prestados pela administração pública ou por terceiros por meio de concessão ou permissão, como energia elétrica e transporte coletivo. Com respeito, não se faz necessário restringir o sentido da prestação de serviços públicos.

Entretanto, nos dias atuais, praticamente todo serviço público se mostra essencial, todavia, alguns devem ser prestados com mais afinco pelo Estado, a exemplo de saúde e educação, ainda mais, quanto ao seu objeto, ou seja, sua prestação, ele se materializa nas formas administrativas, comerciais ou industriais e sociais. Conforme Meireles (2003) apud Di Pietro (2012, p. 114/115) os serviços administrativos “são os que a Administração Pública executa para atender às suas necessidades internas ou preparar outros serviços que serão prestados ao público, tais como os da imprensa oficial, das estações experimentais e outras dessa natureza”. A doutrina critica por dar uma ideia ampla que abrange as funções administrativas, distinguindo-as das funções legislativa e jurisdicional. No que se relaciona ao serviço público comercial ou industrial Di Pietro (2012, p. 115) conceitua como sendo:

[...] aquele que a Administração Pública executa, direta ou indiretamente, para atender as necessidades coletivas de ordem econômica, que não se confundem com serviços elencados no artigo 173 da Constituição, com natureza de atividade econômica que só podem ser prestados pelo Estado de forma suplementar da iniciativa privada.

Por último, o serviço público social é o que visa atender a necessidades coletivas em se verifica a atuação do Estado como essencial, mas pode partir da iniciativa privada, como a saúde e a educação.

É certo de que o Estado para atender sua finalidade, com atenção ao fim específico a que se submete e, para atender aos ditames da ordem e justiça social em prol da coletividade, essa forma de atuação estatal se materializa e se divide em ramificações que se concentram em setores administrativo, social e econômico. Logo, esta forma de atuação visa potencializar ao máximo a atuação do Estado para atender melhor a população. Nesse sentido, Marinela (2017, p. 650) destaca que constituem: serviço de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, “manter o serviço postal e o correio aéreo nacional” (art. 21 X, CF) (BRASIL, 1988); serviço de prestação obrigatória pelo Estado, sendo obrigatória sua delegação, “outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complementaridade dos sistemas privado, público e estatal” (art. 223, CF) (BRASIL, 1988); serviço de prestação obrigatória pelo Estado, mas sem exclusividade, nesse caso, tanto particular e Estado são titulares do serviço prestado; serviço de prestação obrigatória pelo Estado, sendo que o ente estatal não é necessariamente obrigado a prestar o serviço, mas se não o fazer, deve promover a sua prestação, como água, energia. Outro aspecto que se verifica nessas divisões de atribuições, além da sua eficiência, é a livre concorrência que o Estado fornece aos particulares para que eles prestem um serviço público, de forma condizente com a realidade, para que todos os tipos de serviços públicos se tornem mais acessíveis à população, mesmo partindo da iniciativa privada.

Ainda Mais, Marinela (2017, p. 618/619), destaca a importância na distinção quanto a titularidade do serviço e a titularidade de sua prestação. “A titularidade do serviço pode pertencer à Administração ou, excepcionalmente, ao particular, naqueles casos em que a Constituição Federal não atribui ao Poder Público, a exclusividade [...]” No último caso, não há o que se falar em transferência ao particular, isso porque a própria Constituição transfere tal titularidade ao particular. Nesse sentido, essas formas de iniciativa privada sob regime de Direito público visam atender as necessidades do Estado em prol de um todo. Isso porque sem o Estado não há população, e não há Estado sem população, o que mostra que toda atuação do Estado deve se voltar para um todo social.